12_ Droga!

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Após comer e terminar o café, a mesma garçonete trouxe a conta e levou o prato e os copos sujos. Era notório o quanto ela ainda estava chateada. E quem não ficaria? Ela foi humilhada na frente de outras pessoas por fazer algo que todo mundo faz, que é errar.

Mason puxou a conta para si e abriu o pequeno caderno de couro marrom. Pegando a carteira em seu bolso, ele deixou o dinheiro dentro e fechou o caderno.

ㅡ Eu vou ao banheiro. ㅡ Peguei minha bolsa e me afastei da mesa sem obter uma resposta dele. Provavelmente porque saí tão rápido que ele não teve tempo. Certamente pensaria que eu estava com uma dor de barriga ou algo do tipo, mas eu tinha pressa para outra coisa.

Após encontrar o banheiro, me tranquei dentro de uma das cabines e abri minha bolsa. Puxei a carta de papel branco, uma caneta e um papel pequeno para guardar dentro. Ali escrevi:

" Nem todos os dias são dias bons, as vezes a gente precisa de dias cinzas para ver o arco-íris. Mas, não deixe esses dias nublados tirarem o brilho que você tem. Nada responde melhor á uma atitude negativa que um sorriso. Não desanime. Você é capaz. Você consegue. "

Guardei o papel dentro da carta e a fechei com o adesivo de coração. Coloquei tudo de volta na bolsa e voltei à mesa como se nada tivesse acontecido. Mason estava mexendo em seu celular, que tinha aquelas capinhas pretas antichoque.

Sorri ao notar que a conta ainda estava ali. Puxei-a para mim e abri vendo as notas que Mason havia colocado.

ㅡ O que está fazendo? ㅡ Perguntou confuso.

ㅡ Vou colocar uma gorjeta. ㅡ Inventei uma desculpa. Puxei uma gorjeta da bolsa e coloquei na conta junto com a carta. Fechei logo em seguida impedindo que Mason visse.

A garçonete veio logo depois e eu entreguei em suas mãos. Ela agradeceu e nós saímos do local.

ㅡ Pra onde vamos agora? ㅡ Perguntei empolgada enquanto ainda estávamos parados na frente da cafeteria. Mason parecia com preguiça de enfrentar a multidão que tomava a calçada.

ㅡ Er... ㅡ Ele olhou em volta. ㅡ O Central Park não é muito longe, se quiser, podemos ir. Não acho que vamos conseguir ir à Estátua da Liberdade agora, vai estar lotado. E a Times Square fica melhor a noite. ㅡ Ele falou tudo aquilo tão rápido que eu mal pode acompanhar. ㅡ Do que você gosta?

ㅡ Eu? ㅡ Ta, eu sei que é uma pergunta idiota. Com quem mais ele estaria falando? Mas é que ele estava falando tão rápido que eu mal tive tempo de racionar na hora de responder.

ㅡ Não. ㅡ Sua ironia praticamente me deu um tapa na cara. Tapa que eu já estava esperando após fazer a pergunta idiota. Fiz uma careta de tédio para ele.

ㅡ Eu gosto de... ㅡ Também olhei em volta tentando pensar.

ㅡ Museus? ㅡ Sugeriu, visto que haviam muitos museus interessantes em Nova Iorque.

ㅡ Não! ㅡ Neguei de imediato. Eu cresci num orfanato que parecia um museu antigo e empoeirado. Eu não queria ver um museu tão cedo. ㅡ Não curto muito.

ㅡ Lincoln Center? ㅡ Voltei a olha-lo.

ㅡ Lincoln Center é onde tem os teatros da Broadway? ㅡ Minha empolgação voltou, o que deixou Mason confuso. Provavelmente, para ele, eu devia ser uma garota bem bipolar.

ㅡ Alguns, por que? ㅡ Deu com os ombros.

ㅡ É que eu gosto muito de teatro. Tipo, muito mesmo. ㅡ Meu sorriso sonhador brilhou em meu rosto.

ㅡ Não acredito que tenha alguma peça passando a essa hora, mas podemos visitar.

ㅡ Eu vou adorar! ㅡ E assim foi aquele diálogo. Mason falando as palavras como se cada uma delas o cansasse, como se, se ele pudesse, ficaria quieto o dia inteiro. E eu num tom bem mais alto e animado, dizia tudo com empolgação e entusiasmo.

Após finalmente decidirmos para onde iríamos, agora era a hora de enfrentarmos a calçada. Dessa vez, Mason me disse para ir em sua frente, assim ele me veria e eu não me perderia. Como se eu fosse me perder numa calçada, ele está pensando que eu sou o que?

Sem que eu ao menos percebesse, no meio da multidão que se espremia para passar, alguém puxou a minha bolsa. Coisa que eu só senti quando a alça saiu totalmente do meu braço.

Me virei para trás desesperada, já que nela estavam meu celular, meu dinheiro e minhas cartas, mas vi Mason segurar o pulso do rapaz, o fazendo erguer minha bolsa. O olhar de Mason para o homem foi assustador. Do tipo que o usaria para treinar o seu kung fu da madrugada.

O homem entregou minha bolsa para ele e saiu correndo e esbarrando em todo mundo após Mason quase virar o braço do cara ao contrário sem demonstrar dificuldade.

Mason segurou a alça da minha bolsa e acenou com o queixo indicando que era para seguir em frente. Assim eu fiz.

Assim que entramos no carro, já me preparei para a bronca que eu levaria.

ㅡ Não vou nem falar nada. ㅡ Ele me entregou a bolsa já dando partida no carro.

ㅡ O que? Vai perder essa oportunidade de brigar comigo e ser rabugento? ㅡ O encarei.

ㅡ Eu não sou rabugento. ㅡ Disse com os olhos fixos na rua.

ㅡ Ah, não, eu me enganei. ㅡ Após zoa-lo, ele realmente brigou comigo por ter descuidado da minha bolsa, o que me fez zoa-lo mais, já que provou ser rabugento.

Do caminho do café até a Broadway, nós dois discutimos por vários motivos, muitos deles bobos, como, por exemplo, qual a melhor cor de carro. Sim, discutimos uns bons vinte minutos só por isso. No fim, fiquei emburrada e ele convencido de que havia ganhado a discussão. Mas, meu sorriso voltou ao meu rosto quando meus olhos viram aqueles teatros tão grandes e belos.

Fiquei feliz também de ver que as calçadas dali não estavam cheias, poderíamos andar tranquilamente.

Novamente abri a janela para admirar o quão lindo aquilo era. Os teatros eram exatamente como nos filmes. As placas em suas fachadas falavam das peças daquele dia, dos atores e diretores. As luzes já brilhavam em volta das placas, mesmo ainda sendo dia.

ㅡ Você parece aqueles cachorros que ficam nas janelas dos carros pegando vento. ㅡ A frase de Mason me fez encara-lo com uma expressão tediante.

ㅡ Eu me sentiria insultada se não fosse pelo fato de eu amar cachorros. ㅡ O respondi voltando a olhar pela janela.

ㅡ Não foi um insulto. ㅡ Perdi o foco por um momento e olhei para ele, mas o mesmo seguiu olhando para rua enquanto uma de suas mãos segurava o volante.

[...]

A noite, me joguei em minha cama e fechei os olhos com um sorriso imenso nos lábios. Era difícil de acreditar que eu havia acabado de turistar em Nova Iorque. É claro que eu ainda não tinha feito tudo o que queria, como visitar a estátua da liberdade, ver a Times Square a noite e assistir a uma peça de teatro na Broadway. Pretendíamos fazer isso hoje, mas acabamos ficando cansados de andar o dia inteiro e Mason precisava se trancar em seu quarto para treinar.

Decidimos deixar o resto das coisas para fazer algum outro dia. Certamente amanhã, que seria sábado.

Me levantei da cama quando decidi tomar um banho, mas antes deixei um miojo cozinhando na cozinha. Mason havia dito que não iria jantar, então coloquei apenas um no fogo. Para mim, daria bastante tempo de eu tomar banho e ele não ter pegado fogo na cozinha inteira.

Porém, não pensei nisso quando coloquei músicas para tocar durante o banho. Aquela água estava tão quentinha e as músicas tão boas, que só me lembrei do miojo quando estava me secando.

ㅡ Droga! ㅡ Me enrolei na toalha e saí do banheiro apressada, o que não me permitiu ver que Mason saía da cozinha naquele exato momento. Resumindo: o fiz cair no chão e ainda caí por cima dele, só de toalha.

•••
Continua...

Sobrevivendo ao meu Clichê IOnde histórias criam vida. Descubra agora