Para falar a verdade, eu não vinha muito pensando nessa frase ou no que ela poderia significar. Certamente era algo que ela dizia a quem entrava no Montgomery, talvez um aviso, mas, para falar a verdade novamente, não quis me preocupar com isso agora. Minha preocupação era Mason. O deixei sozinho para pensar e não sabia o que esperar agora.
Enquanto voltava para a casa de seu pai, tive medo que ele pudesse pensar bem e concluir que não queria algo assim para ele, tive medo de continuarmos juntos mas as coisas não serem como antes. Tive medo de coisas que nem consegui imaginar.
Parada na frente da porta da casa de seu pai, respirei fundo antes de abrir e porta de madeira e entrar no lugar quente e com cheiro de comida. De cara, vi o pai dele na cozinha ocupado demais cozinhando enquanto ouvia músicas em um outro idioma, deduzi ser coreano. Ele cantarolava enquanto balançava seu corpo de um lado para o outro e cozinhava algo.
Após entrar totalmente na casa, pude ver Mason sentado na ponta do sofá. Ele estava com os cotovelos apoiados em sua perna enquanto encarava a janela com o olhar fixo. Quando me ouviu fechar a porta atrás de mim, seus olhos vieram na minha direção e ele ajeitou a postura, tocando as costas no sofá.
Caminhei devagar para perto dele e me sentei ao seu lado. Fiquei em silêncio, apenas observando suas expressões.
Mason respirou fundo, fundo o bastante para eu escutar o ar saindo de sua boca. Ele pendeu a cabeça para trás e tocou sua cabeça no sofá. Em seguida, virou o rosto para mim.
ㅡ Você tinha razão. Essa história é muito louca. ㅡ Foi a primeira coisa que ele disse, o que não era o bastante para me deixar tranquila ou apavorada. ㅡ Mas, sabe o que é mais louco? ㅡ Ergui meu olhar sentindo a expectativa. ㅡ Você precisou sair de outra realidade para me ensinar o que era estar apaixonado. Você... Veio de outra realidade para me fazer feliz. Veio com o intuito de viver o romance dos seus sonhos, mas acabou me fazendo viver a vida dos sonhos. ㅡ Não sei dizer como o sorriso dele me fez bem naquele momento. O meu coração pulsou de uma maneira tão forte que eu senti algo em mim que nunca havia sentido antes.
ㅡ Mason... ㅡ Minha voz falhou, minha garganta fechou com o choro e eu abaixei a cabeça sentindo as lágrimas quentes molharem o meu rosto.
ㅡ O que foi? Pensou que eu desistiria de você? Arizona, eu não quero ficar sem você. Não consigo. ㅡ Ele se aproximou e ergueu o meu queixo com seu dedo indicador. Meus olhos estavam embaçados, mas ainda assim era possível ver os seus olhos, seu sorriso carinhoso e sua expressão apaixonada. ㅡ É claro que toda essa situação é estranha e eu vou demorar a me acostumar com isso. Na verdade, parece que a ficha meio que não caiu, mas nada vai afetar o que estou sentindo por você. Eu fiquei meio confuso, porque pensei que eu só sentisse o que sinto por você por causa dessa coisa toda de romance, mas... ㅡ Ele olhou nos meus olhos. ㅡ É inútil pensar Isso. Afinal, não consigo olhar para você e pensar na possibilidade de não me apaixonar.
Eu não consegui expressar nada em palavras naquela tarde, mas pulei nos braços de Mason num abraço apertado. Um abraço que passasse todo amor que eu estava sentindo. Porque era isso que eu sentia. Talvez pela primeira vez, mas realmente me senti amada por alguém.
[...]
Deviam ser quase onze da noite. Mason e eu estávamos num quarto, quarto que costumava ser o dele quando criança. Estávamos deitados, um ao lado do outro. Seu braço estava me rodeando enquanto minha cabeça estava apoiada em seu peito. O frio havia aumentado, então estávamos cobertos por dois cobertores felpudos muito quentinhos. Diria que eu não sairia dali por nada.
ㅡ E... Como era lá? Digo, se for desconfortável para você, não precisa contar. É só que... Quero saber mais sobre a verdadeira você. ㅡ Deixei um sorriso escapar ouvindo sua pergunta.
ㅡ Quando eu era criança, não era tão ruim. Eu brincava, corria por todos aqueles corredores e ia a escola. Mas, cada dia era um dia de esperança. Sempre tentei ser comportada, educada e limpa. Queria que pensassem que eu era perfeita, assim alguém gostaria de mim. Depois fui ficando adolescente e essa tal esperança começou a morrer. Houve um dia em que aconteceu uma grande divulgação do orfanato por parte de um político e isso atraiu muitos casais querendo adotar crianças. Muitos mesmo. Para mim, seria aquele dia, não tinha como não ser. ㅡ Foquei meus olhos na janela. Já estava nevando novamente. ㅡ Mas, chegar no fim do dia vendo que muitas crianças tinham sido adotadas, mas eu não... Aquilo terminou de vez com a esperança que eu tinha. Na escola, eu não tinha amigos. Eu era tímida e nunca consegui chegar em alguém para tentar fazer amizade, e ninguém parecia fazer força para sentar comigo no almoço. Na verdade, eu sofria era muito bullying. Não sei o que se passavam na cabeça dos adolescentes de acharem o fato de alguém ser órfão engraçado e motivo de piadas, mas eu tentava ignorar. Bem... Como eu já disse, o que me salvava eram os livros. Essa era a única parte boa de se morar num orfanato: eu tinha toda uma biblioteca a minha disposição com livros de graça.
ㅡ Eu... Sinto muito por tudo isso. Deve ter sido muito difícil.
ㅡ É, mas acho que só fiquei mais forte. Talvez. ㅡ Sorri.
ㅡ E sobre o Mont... ㅡ Ri dele tentando se lembrar do nome do livro.
ㅡ Montgomery.
ㅡ Isso. Você... Tem como voltar?
ㅡ Tenho, eu só preciso dizer o nome do livro e a frase fim da história. ㅡ Expliquei. ㅡ Mas, também posso ficar o tempo que eu quiser.
Mason assentiu e um silêncio tomou o quarto por um tempo. Eu não conseguia pensar em motivos que iriam me fazer querer voltar para a minha realidade. Eu não tenho nada lá.
ㅡ Ari? ㅡ Mason saiu da posição que estava e se deitou de lado, virado para mim. Nossos rostos ficaram de frente um para o outro enquanto os cobertores nos aqueciam. ㅡ Quero que me prometa uma coisa.
ㅡ O que?
ㅡ Que vai sair do Montgomery se eles te pegarem. ㅡ Meus olhos se alarmaram com seu pedido.
ㅡ O que? Mas... ㅡ Ele me interrompeu.
ㅡ Eu não quero que te façam nada. Não... Não gosto nem de imaginar o que aqueles babacas fariam se te pegassem. É claro que eu vou dar minha vida para te proteger, mas... Se eu falhar... Por favor, não deixe que te façam nada. Não sofra mais. Só peça para sair. ㅡ Mason dizia aquilo com dor em sua voz.
ㅡ Mas, Mason... Se... Se eu sair, você não vai mais se lembrar de mim. ㅡ Ele quem arregalou os olhos dessa vez. ㅡ Para todos daqui, vai ser como se eu nunca tivesse existido. ㅡ Mason mordeu o lábio inferior com força, como se segurasse um possível choro.
ㅡ Por que as coisas tinham que ser assim? ㅡ Sua voz falhou. ㅡ Por que não podíamos nos conhecer num dia normal sem essas circunstâncias?
ㅡ Porque a Molly é criativa demais e gosta de complicar tudo. ㅡ Meu comentário o fez rir fraco em meio a todos os sentimentos ruins.
ㅡ Você é adulta, é inteligente e sei que vai tomar as melhores escolhas para você, só... Não se permita sofrer mais, está bem? Enquanto eu puder, vou estar aqui para você. Vou te proteger com a minha vida e... Não acredito que exista algo que possa me fazer esquecer de você. ㅡ Ele tocou a palma de sua mão na minha bochecha e trouxe o seu rosto para mais perto de mim, logo em seguida me beijou. Me beijou com dor, com sofrimento, com a angústia de quem sabia de que tudo poderia dar errado de uma hora para a outra, mas também com carinho, com paixão, com amor. Com o desejo de quem me queria.
•••
Continua...
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Sobrevivendo ao meu Clichê I
RomancePRIMEIRO LIVRO DA SÉRIE MONTGOMERY E se você tivesse a oportunidade de entrar num livro de romance e conhecer sua própria autora? E se essa autora fosse uma garota super indecisa que estaria ali para escrever o SEU romance? E se, como num passe de...