32_ O beijo.

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O resto do dia foi bem silencioso no teatro. Lisa deixou o resto da tarde livre para ensaiarmos as falas para a audição de amanhã, o que deixou Amelka meio pirada, já que ela também tinha uma peça amanhã, então precisava decorar ambas as falas sem se confundir.

Eu até tentei me concentrar nas falas, mas estava com tanta raiva que minha personagem não estava num clima certo. Minha personagem deveria ser uma mulher cansada de seu trabalho e meio solitária por ter que passar o Natal sozinha. Sua família mora em outro país e, devido a nevasca, seu vôo foi cancelado e ela precisaria passar seu Natal sozinha. Mas, enquanto eu interpretava, ela parecia mais uma mulher revoltada que queria virar a mesa do restaurante.

Eu precisava me acalmar.

Olhei no celular, já eram 18h13. Me despedi de Amelka, peguei minha mochila e corri para a entrada do teatro.

Suspirei quando vi Mason parado dentro do carro. Os últimos dias estavam sendo tão tranquilos com ele, tirando o fato de meus sentimentos estarem mais claros. Ele parecia estar mesmo se esforçando, já que assistia filmes natalinos comigo, cozinhava comida coreana quando eu pedia e me deixava ficar com ele em seu quarto quando me sentia sozinha. Era legal vê-lo treinar.

A raiva que eu sentia ainda me incomodava quando entrei no carro.

ㅡ O que foi? Quem morreu? ㅡ Me encarou espantado.

ㅡ Por que acha que alguém morreu?

ㅡ Porque você não está toda sorridente ou empolgada. Parece até... ㅡ Ele chegou o rosto mais perto do meu, certamente para analisar minha expressão, mas isso fez o meu coração dar uns pulinhos. ㅡ Está brava? Eu não acredito! ㅡ Mason sorriu, como se estivesse contente em me ver brava. Talvez eu estivesse parecida com o modo que ele fica sempre. ㅡ Está brava mesmo.

Eu acabei não conseguindo segurar minha expressão brava por muito tempo e soltei uma risada.

ㅡ Dá para você parar? Eu estou com raiva, sim. ㅡ Voltei ao meu jeito brava, mas ele continuou me encarando com um sorriso. ㅡ Para de me olhar assim, Mason! Dirige!

ㅡ Sim, senhora. ㅡ Ele concordou ainda sorrindo e deu partida no carro.

O caminho foi silencioso, eu estava com raiva demais para contar sobre as novidades do teatro e ele pareceu perceber, apesar de ainda parecer orgulhoso pelo fato de eu estar brava.

Quando chegamos, fui direto para o quarto e me joguei na cama com a cara no travesseiro.

ㅡ Sabe que estou aqui se quiser conversar. ㅡ Ouvi a voz de Mason. ㅡ E também estou curioso para saber o que te deixou assim.

ㅡ Charlie. ㅡ Minha voz saiu abafada pelo travesseiro.

ㅡ Que? ㅡ Virei-me para cima e encarei o teto.

ㅡ Charlie. Ela me deixou assim. ㅡ Mason estava parado na porta do quarto, com o ombro encostado na ombreira.

ㅡ E o que ela fez?

ㅡ Vamos ter uma peça natalina na semana que vem. ㅡ Me sentei para encara-lo. ㅡ Ela me subestimou. Disse que eu não seria capaz de ganhar dela na audição ou fazer o papel. De qualquer forma me senti como na escola, quando me zoavam por ser... ㅡ Parei de falar quando me lembrei que Mason não sabia desse fato da minha vida.

ㅡ Espera... Você era zoada na escola? Pensei que todos gostassem de meninas ricas. O que? Você era metida? ㅡ Ele perguntou curioso e ao mesmo tempo confuso.

ㅡ Não, eu... ㅡ Fiquei sem saber o que dizer. ㅡ Eu... Eu só tinha umas garotas que não gostavam de mim, assim como a Charlie. Sofri muito Bullying e hoje me senti como no Ensino Médio de novo. E estou com tanta raiva... Mas, eu preciso ensaiar as falas porque, graças ao comentário de Charlie, peguei o roteiro da protagonista. ㅡ Respirei fundo. ㅡ Mas, não consigo estudar as falas porque não consigo acabar com essa raiva.

Sobrevivendo ao meu Clichê IOnde histórias criam vida. Descubra agora