39_ Vestido Vermelho.

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Qual o seu pensamento mais frequente?

Algumas pessoas tem seus trabalhos como grandes donos de suas mentes. Outros, a família; como mães que precisam ficar o tempo todo atentas com seus filhos. Outros tem um evento na qual estão ansiosos e tudo mais. Não sei dizer ao certo qual era o meu pensamento mais frequente antes de vir para cá. Eu já acordava esgotada e ia dormir pior ainda.

Durante minha infância e adolescência, o meu pensamento mais frequente era o da possibilidade de ser adotada. Todos os dias eram oportunidades de isso acontecer. Mas, sempre doía o fato de não acontecer.

Depois que vim para cá, o meu pensamento mais frequente foi a maravilhosa cidade de Nova Iorque. Tudo em que eu pensava era em explorar tudo, conhecer tudo, aproveitar tudo. Mas... De um tempo para cá, me espanto com o quão esse rapaz tem tomado conta da minha cabeça.

Ontem, depois que terminamos de assistir ao filme e ele foi treinar, me tranquei em meu quarto feito uma garota boba e apaixonada. Eu fiquei um bom tempo encarando o teto apenas relembrando do nosso beijo. Dos nossos beijos.

Durante o dia de hoje eu fiquei tão nervosa e tão cheia com essa coisa de audição e com as implicâncias da Charlie, mas só de vê-lo... Parecia que tudo ficava mais colorido. Eu não sei dizer ao certo.

Mason era como uma música para mim. A música tem o poder de nos transportar para um lugar diferente, de nos fazer sentir algo diferente e de transformar tudo a nossa volta. Era isso que eu sentia com ele. Era como ouvir música. Tudo ficava diferente.

ㅡ Aqui está. ㅡ Leonard apareceu ao meu lado segurando a minha mochila.

ㅡ Obrigada. ㅡ Peguei de sua mão. Ele olhou na direção do Mason e acenou com a mão. Mason acenou de volta apenas assentindo uma vez.

ㅡ Bem, nos vemos depois. Preciso ajudar a Amelka que está enlouquecendo. ㅡ Ele riu e entrou novamente no teatro.

Segui na direção de Mason sentindo finalmente o peso de estar desarrumada enquanto ele estava super bem vestido e cheiroso. Muito cheiroso, eu quase fechei os olhos apenas para sentir o seu aroma.

ㅡ Isso não é justo. ㅡ Resmunguei.

ㅡ O que não é justo? ㅡ Ele pegou a mochila das minhas mãos e a colocou no banco de trás do carro.

ㅡ Você está todo elegante e eu estou só o caco. ㅡ Mason riu.

ㅡ Só entra no carro. ㅡ Ele balançou a cabeça como se achasse um absurdo o fato de eu estar me achando um caco.

Mason dirigiu algumas quadras e parou em frente a uma loja que eu não conhecia. O que não era novidade, claro, eu não conhecia nem 20% de todas as lojas daquela cidade enorme.

Após sair do carro e, estranhamente, abrir a porta para mim feito um chofer, ele entrou comigo no lugar. Era uma loja de roupas. Uma loja de roupas finas e caras.

ㅡ O que fazemos aqui, exatamente? ㅡ Se tinha como eu me sentir mais mal vestida, era entrando naquele lugar chique. ㅡ Eu estou passando vergonha aqui.

ㅡ Você não passaria vergonha nem se quisesse. ㅡ Ele parou numa sessão, uma sessão repleta de vestidos. ㅡ Escolha algum, sem pressa.

ㅡ Escolher um vestido? ㅡ Arregalei os olhos. A etiqueta de cada vestido daquele continha de três digitos para cima, com certeza!

ㅡ Pode escolher outro tipo de roupa também. O que achar mais a sua cara. ㅡ Ele foi na direção de um banco, um banco que parecia proposital para homens esperarem. ㅡ Como eu disse: sem pressa. ㅡ Ele abriu um sorriso após se sentar de maneira largada naquele banco e me observar com um sorriso.

Senti um frio na barriga e parei de encara-lo. Observei aqueles numerosos vestidos e me senti como num daqueles filmes românticos que passam na televisão.

Observei a maioria dos vestidos, mas não tinha ideia de para onde íamos, então não sabia que tipo escolher. Acabei voltando para a vista dele, percebendo que ele observava a tela do celular com um sorriso.

ㅡ Mason? ㅡ De imediato, ele olhou para mim e deixou o celular de lado. ㅡ Para onde vamos? Quero ter uma noção de que tipo de vestido escolher.

ㅡ Escolha o que achar que combina mais com você, Ari. O lugar para onde vamos não importa, contando que você esteja se sentindo bem. ㅡ Ele disse com sua calma.

Concordei com a cabeça e voltei a olhar os vestidos. Haviam muitos de várias cores e várias formas. Vestidos azuis, brancos, pretos, amarelos, lilás, brilhantes, lisos, estampados, curtos, longos... Eram tantas opções que eu já estava quase desistindo, porém, um vestido me chamou atenção. Um vestido de um tom de vermelho vivo, da mesma cor dos corações que eu colava em minhas cartas.

Ele era apertado até cintura e rodado dela para baixo. Seu cumprimento iá até um pouquinho abaixo dos joelhos. Também tinha umas mangas bufantes bem discretas que terminavam muito antes dos cotovelos. Ele era lindo e tão sofisticado. Seu vermelho era tão vivo que chamaria atenção onde fosse.

Juro que quase perdi o ar quando o vi. Ele era perfeito!

Notei o provador, que era bem perto de onde Mason estava. Peguei o vestido com o cabide e passei escondendo-o atrás de mim. O que não foi muito necessário, porque Mason continuava olhando para a tela do celular.

Acho que nunca o vi sorrir tanto. Nem parecia o rabugento que conheci na sala da minha casa.

Entrei no provador e troquei a roupa que eu vestia. Devo dizer que eu calçava um all-star preto cano longo que fiquei com preguiça de tirar.

Assim que vesti o vestido, que caiu como uma luva no meu corpo, soltei o meu cabelo que estava num coque e respirei fundo antes de abrir a porta do provador.

Cocei a garganta para atrair o olhar de Mason. Assim que os olhos dele se focaram em mim, seu sorriso se desmanchou aos poucos dando lugar a uma expressão meio... Sem expressão?

Ele me encarou por longos segundos, me observou dos pés a cabeça e logo depois se colocou em pé. Mason me fez sentir a mulher mais bonita do mundo naquele momento... Novamente.

ㅡ Vo... Você está linda... ㅡ Ele gaguejou ainda sem demonstrar expressão alguma.

ㅡ Você gostou? ㅡ Dei uma voltinha e sorri pendendo a cabeça pro lado. ㅡ Eu achei ele tão lindo.

ㅡ Eu... ㅡ Ele parou de falar ainda me encarando. Arqueei uma sobrancelha esperando que ele continuasse a falar. ㅡ Eu gostei, sim. ㅡ Mason balançou a cabeça. ㅡ Eu vou chamar o atendente para pagar... Eu... Eu já volto. ㅡ Ele saiu dali meio... Sem jeito?

Sorri com sua reação e olhei para trás para me ver novamente no espelho. Eu estava me sentindo tão bonita...

O celular de Mason, que ele havia deixado sobre o banco, começou a tocar chamando a minha atenção. Caminhei até ele com o intuito de levar o celular até onde o mesmo estava, mas assim que cheguei perto, a chamada caiu.

Pude ver o nome Pai no visor antes da chamada desaparecer dando lugar uma foto. Nossa foto. Foto em que eu o estava abraçando na frente de seu prédio aguardando a entrega da árvore de Natal.

Era isso que ele estava olhando com aquele sorriso o tempo inteiro?

Deixei que um sorriso enorme tomasse conta do meu rosto e corri para dentro do provador dando uns pulinhos de alegria.

•••
Continua...

Sobrevivendo ao meu Clichê IOnde histórias criam vida. Descubra agora