Talvez, por mais impensada que tenha sido, aquela deve ter sido a escolha com mais certeza que já fiz na vida. Para mim, foi como se tudo tivesse acontecido em câmera lenta. Os gritos, os palavrões, o sangue, o gatilho, meu pedido para sair do livro. Tudo isso sem contar as lembranças.
Eu numa escola em que todos gostavam de mim, eu com um pai, eu fugindo do Mason e me trancando no banheiro, eu indo para Nova Iorque, eu entrando para uma companhia de teatro, eu enfeitando um apartamento para o Natal, eu me apaixonando por Mason, nosso primeiro beijo, o dia em que assistimos vários filmes natalinos num cinema ao ar livre, o dia em que saí para comer pizza com amigos, o dia em que comemorei o Natal em família, o dia em que protagonizei uma peça, o dia em que decidi viver minha vida... Tudo aquilo passou pela minha cabeça, como dizem que acontece quando morremos.
Alguns dizem que, segundos antes da morte, a nossa vida passa diante dos nossos olhos, e foi isso que aconteceu. Tudo o que vivi no Montgomery passou diante de meus olhos, como se eu estivesse morrendo para aquela realidade. Para aquele mundo.
A dor no meu peito era tão forte que eu conseguia senti-la como se fosse física. Minha garganta estava tão fechada que eu mal conseguia respirar. Meus olhos já não tinham mais lágrimas para chorar, pois todas estavam no meu rosto, algumas já secas.
ㅡ Não, não, não, não... ㅡ Cai sentada no chão da biblioteca do meu orfanato com um livro em mãos. Comecei a chorar sem lágrimas, só com dor e soluços.
A minha ficha de que eu havia voltado tinha caído muito rápido. Toda a minha realidade veio a tona e eu me senti esmagada. Me senti esmagada por uma perda tão dolorosa que parecia ter perdido parte de mim. Foi como um luto, mas não por uma única pessoa, mas todo um mundo que eu tinha perdido.
ㅡ NÃO! ㅡ Gritei com todas as forças que me restavam. Eu não queria aceitar que tinha voltado. Não queria acreditar que já não estava mais lá, que já não estava mais com Mason.
Apoiei as costas na estante de livros e deixei o livro que estava na minha mão de lado, no chão, ao lado do meu corpo.
ㅡ Arizona? ㅡ Ouvi a voz familiar de April e ergui minha cabeça. Mal consegui enxergar alguma coisa, apenas borrões. ㅡ Arizona, o que foi??? ㅡ Ouvi seus passos apressados e senti suas mãos tocarem o meu ombro. ㅡ O que foi?? Fala comigo? Ari!!! ㅡ Ela me sacudiu parecendo preocupada, mas não consegui responde-la. Apenas pulei nos seus braços tentando encontrar consolo.
April ficou me abraçando por um tempo sem perguntar mais nada. Estava um silêncio tremendo naquela biblioteca, mas, na minha cabeça, estava bem diferente.
Por mais que eu estivesse sofrendo, não conseguia me arrepender da decisão que tomei. Molly havia dito que, se eu saísse do livro, seria como se eu nunca tivesse existido lá. Ninguém se lembraria de mim. Ou seja... Mason nunca teria tomado conta de mim, então nenhum daqueles homens teriam ido atrás dele, o que significa que ele não seria colocado na frente de uma bala.
Por mais que eu amasse muito aquela vida e não estivesse disposta a sair, não gostaria de viver lá sem o Mason. Não seria feliz após vê-lo morrer na minha frente. Então, por mais que meu peito esteja doendo como se eu tivesse levado aquele tiro, não me arrependo de ter voltado.
Mesmo que agora o Mason nem lembre mais de mim.
Senti mais lágrimas descerem ao pensar nisso. Pensar que, para ele, eu já não existo mais.
Depois de finalmente me convencer a me levantar e ir tomar um pouco d'água, April me deixou ir ao banheiro para que eu lavasse o meu rosto. Contudo, era nítido a preocupação em seus olhos. Ela queria saber o que tinha acontecido, mas parecia saber que eu não estava preparada para dizer.
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Sobrevivendo ao meu Clichê I
RomancePRIMEIRO LIVRO DA SÉRIE MONTGOMERY E se você tivesse a oportunidade de entrar num livro de romance e conhecer sua própria autora? E se essa autora fosse uma garota super indecisa que estaria ali para escrever o SEU romance? E se, como num passe de...