37_ Charlie...

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ㅡ Eu nasci em Denver, no Colorado. ㅡ Mattew foi o primeiro a responder um quiz que havia nos cardápios do Rizzo's. Era um quiz para amigos, com perguntas aleatórias.

ㅡ Washington. ㅡ Amelka respondeu logo depois.

ㅡ Connecticut. ㅡ Outra garota falou logo depois.

ㅡ Boone, na Carolina do Norte. ㅡ Leonard.

ㅡ Manhattan. ㅡ Charlie disse com um sorriso convencido. O convencido propositalmente entre amigos.

ㅡ Hm... Rica que já nasceu em Nova Iorque. ㅡ Mattew a zoou. De repente, todos me olharam. Era a minha vez. Em ocasiões normais, eu diria Atlanta. Mas, eu precisava seguir o roteiro da história.

ㅡ Rio de janeiro, Brasil. ㅡ Todos pareceram surpresos.

ㅡ Sério? Você é do Brasil? ㅡ Mattew perguntou.

ㅡ Você fala muito bem o nosso idioma. Quantos anos de curso fez? ㅡ Uma das garotas perguntou.

Por um momento, fiquei sem saber o que dizer.

ㅡ Ahn... Er... ㅡ Cocei a cabeça. Estava entrando numa crise quando Molly apareceu atrás da garota. Meus olhos se arregalaram na hora, o que fez a garota olhar para trás. Obviamente, ela não viu nada, então olhou para mim com uma careta.

ㅡ Fala que você nasceu aqui nos Estados Unidos, em Atlanta. ㅡ Molly explicou. ㅡ Por isso seu sobrenome é McBride. Mas, que se mudou para o Brasil com seu pai ainda criança, por isso sabe os dois idiomas com fluência.

ㅡ Bem, na verdade eu nasci em Atlanta. ㅡ Tentei explicar. ㅡ Mas, me mudei para o Brasil com meu pai ainda criança.

ㅡ Ah... ㅡ Todos assentiram.

ㅡ E por que teve que ir pro Brasil? Problemas financeiros? ㅡ Charlie perguntou. Ela era mesmo uma boa atriz, ela conseguiu fazer aquela pergunta com intuito de me provocar, mas com tom de inocência e ingenuidade, para que ninguém notasse.

ㅡ Por que você não dá um tapa nessa garota? ㅡ Molly perguntou. ㅡ Joga esse cardápio na cabeça dela. ㅡ A encarei esperando que ela me dissesse o que falar. ㅡ Ah.. ta. ㅡ Molly coçou a garganta. ㅡ Diga assim: Pelo contrário, meu pai só precisava de um ambiente melhor para fundar sua empresa multimilionária, um ambiente despoluído de mal amadas como você.

Meu pai fundou a empresa dele no Brasil e por isso fomos para lá. Uma empresa bem sucedida. ㅡ Expliquei sem a parte em que Molly chama a garota de mal amada.

ㅡ Ah, sim. Entendo. ㅡ Charlie assentiu com um sorriso. ㅡ E você não tem mãe? ㅡ Era nítido que ela não estava perguntando apenas por curiosidade, era mais para me atacar. Todos ao redor da mesa começaram a perceber o clima estranho após a pergunta. Pareceram ficar desconfortáveis.

ㅡ Pergunta se ela não tem uma vida para tomar conta. ㅡ Molly disse encarando a garota.

ㅡ Não, ela faleceu há alguns meses. ㅡ Respondi, o que deixou todos ainda mais desconfortáveis.

ㅡ Ah, sinto muito. ㅡ Charlie assentiu. ㅡ E você vive o seu luto tirando férias em Nova Iorque?

Leonard deixou o guardanapo bater na mesa assim que ouviu a pergunta dela. Pergunta que me fez puxar o ar com tanta força que senti doer.

ㅡ Você já está invadindo a privacidade dela, Charlie. ㅡ Leonard disse olhando sem paciência para a amiga.

ㅡ Como assim? Eu só estou fazendo perguntas normais. Não era disso que estávamos brincando? ㅡ A garota os encarou com uma expressão de inocente.

ㅡ Mas, isso são perguntas que façam? Cada um vive a dor da maneira que acha melhor. Você não tem que se intrometer na vida pessoal dela. ㅡ Amelka disse logo em seguida. Charlie apenas deu de ombros.

ㅡ Além do mais, ela disse que já fazem meses. Sei que tem pessoas que precisam de muito tempo para conseguir voltar suas vidas ao normal e que a aquela dor sempre vai estar com ela, mas ela está mais do que certa em seguir em frente. Em seguir os sonhos. Afinal, acredito que isso o que a mãe iria querer para ela. ㅡ Mattew explicou pelo seu ponto de vista.

ㅡ Ta bom, gente. Desculpa. Eu não queria ser insensível, só fiquei curiosa. ㅡ Charlie ergueu as mãos.

Tudo ficou em silêncio por um momento, até que percebi que Molly continuava ali.

ㅡ Joga esse cardápio nela, Arizona! ㅡ Ela sugeriu de novo e eu precisei me segurar para não rir. Seria completamente estranho eu rir numa situação daquela.

Molly bufou quando viu que eu não jogaria nada na garota e olhou em volta. Ela pareceu notar que o garçom finalmente vinha com a nossa pizza e sorriu de uma maneira bem maléfica.

O homem deixou a pizza sobre a mesa e voltou com uma garrafa de Coca-Cola. No momento em que ele estava servindo Charlie, Molly fez um gesto com a mão para o lado. A garrafa que o garçom segurava seguiu o gesto dele até Charlie, molhando-a.

ㅡ Ai! Minha roupa, seu idiota! ㅡ A garota gritou se colocando de pé.

ㅡ Me desculpa. ㅡ O rapaz pediu com um olhar preocupado. ㅡ Eu não sei o que... Eu não sei o que aconteceu eu...

ㅡ Olha só o que fez com a minha roupa! ㅡ Ela gritou passando um guardanapo na calça.

ㅡ Calma, Charlie. Foi sem querer. ㅡ Leonard disse com as sobrancelhas franzidas.

ㅡ É. O que está dando em você hoje? ㅡ Mattew perguntou confuso.

Charlie olhou para nós e logo depois balançou a cabeça.

ㅡ Me desculpa. ㅡ Pediu ao garçom. ㅡ Eu to nervosa por causa da Audição e acho que ainda estou te tpm para piorar tudo. Eu não quis gritar com você. Eu entendo que foi sem querer, me desculpa mesmo. ㅡ A garota pediu enquanto encarava o garçom, mas meus olhos estavam focados em Molly que estava parada atrás dela com uma careta e uma sobrancelha arqueada.

ㅡ Isso aqui é falso pra caramba, Arizona. Cuidado. ㅡ Ela apontou para Charlie e logo depois desapareceu.

O garçom pediu desculpas novamente e saiu de perto da mesa. Charlie voltou a se sentar enquanto passava um guardanapo na camisa.

ㅡ Você está nervosa com o que? Você não disse que foi bem na audição? Você sempre fica com o papel principal mesmo. ㅡ Uma garota disse.

ㅡ É, mas esse ano é diferente. ㅡ Charlie olhou para mim. ㅡ A Arizona também fez o teste para o papel principal e ela é uma ótima atriz. ㅡ Ela sorriu para mim como a pessoa mais gentil e ingênua do mundo.

ㅡ É mesmo. E foi muito bem na audição. ㅡ Leonard disse com um sorriso para mim, o que tirou o sorriso dos lábios de Charlie.

ㅡ Verdade. A Ari tem um talento natural para isso. ㅡ Amelka disse logo depois.

De repente, todos começaram a me elogiar, o que fez Charlie parecer irritada. O que me fez crer que ela havia dito aquilo para tentar ser modesta, assim atraindo elogios para ela. Do tipo daquelas pessoas que são muito bonitas mas dizem que são feias para que todos digam o quanto elas são bonitas.

ㅡ Eu pensei que ela ia bater no Leonardo em cima do palco hoje. ㅡ Mattew disse nos fazendo rir.

ㅡ Ok! Podemos comer? ㅡ Charlie cortou o assunto puxando uma das fatias da pizza.

O clima naquele almoço continuou o mesmo. Era tudo muito agradável até Charlie fazer algum comentário.

Quando terminamos, rachamos a conta e voltamos para o teatro. Assim como Lisa havia pedido, cada um seguiu com suas responsabilidades. Eu fui ao banheiro antes de seguir para os infinitos corredores.

ㅡ Eu espero que não fique confiante. A personagem é minha. ㅡ Charlie apareceu no banheiro. Não pude evitar de revirar os olhos. ㅡ Eles podem achar que você atua bem, mas a Lisa quem decide, e ela, sim, sabe reconhecer um talento. E eu tenho talento de sobra. Então... ㅡ Me virei para ela, deixando de encarar seu reflexo no espelho. ㅡ Vê se baixa essa bola.

•••
Continua...

Sobrevivendo ao meu Clichê IOnde histórias criam vida. Descubra agora