06_ O sacrifício em vida é pago com um amor real.

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Ok, talvez eu ainda estivesse assutada por conta das notícias que vi no telejornal ontem, ou talvez porque eu realmente não tinha lembrança alguma daquele rapaz, mas eu simplesmente subi as escadas correndo como se ele fosse um assassino.

ㅡ Arizona! ㅡ Ouvi o homem me chamar, mas ignorei e me tranquei na primeira porta que vi no corredor, que era um banheiro.

Eu não sabia quem era! E se fosse um bandido?? Um sequestrador?? Um maluco?? Ta, que ele estava de roupas sociais, mas... Sei lá. Prefiro me prevenir.

ㅡ Arizona? ㅡ Ouvi a voz dele de novo. O mesmo parecia estar parado do outro lado da porta. Tive certeza disso depois que ele bateu na porta. ㅡ Você se trancou no banheiro? É sério?

ㅡ Vai embora! ㅡ Gritei enquanto apoiava meu corpo na porta. Observei o lugar procurando algo que eu pudesse me defender, mas a única coisa que alcancei foi um rolo de papel higiênico. ㅡ Eu estou armada! ㅡ Gritei.

ㅡ Ah, é mesmo? ㅡ Perguntou parecendo sem paciência, mas ao mesmo tempo debochado.

ㅡ O que você quer?? Quem é você?? ㅡ Meu peito estava subindo e descendo freneticamente enquanto eu apertava meus olhos tentando me acalmar. Eu não devia ter assistido aquele jornal.

ㅡ Eu vim a pedido do seu pai. ㅡ Ele respondeu. ㅡ Você pode sair daí? Isso é ridículo.

ㅡ Por que deveria acreditar em você? ㅡ O homem bufou. Segundos depois, um celular passou por debaixo da porta. Me abaixei para pega-lo e vi que era um vídeo.

Dei play tocando a tela do celular. O rosto do meu pai apareceu.

" Oi, querida! Espero que tenha dormido bem e que não tenha se assustado com o Mason. Como você tem sido uma garota muito esforçada e se formou com honras na escola, decidi te dar o seu presente de Natal adiantado. Sei que sempre quis ir para Nova Iorque, ainda mais nessa época de fim de ano. Então, já comprei sua passagem, já ajeitei sua estadia e contratei o Mason para te acompanhar durante a sua viagem. Não se preocupe pois ele é de extrema confiança. Eu gostaria de poder ir com você, mas tenho muito trabalho na empresa e, infelizmente, vou ficar muito ocupado. Então, apenas arrume suas coisas e acompanhe o Mason, tudo bem? Espero que goste da viagem. Te vejo quando você voltar. Eu te amo, querida. "

O vídeo terminou, mas minha expressão confusa continuou no meu rosto. Ele estava me dando uma viagem para Nova Iorque mesmo? Tipo... Nova Iorque??

De repente, me peguei com um sorriso enorme nos lábios. Eu iria para Nova Iorque! Tipo... Nova Iorque! Eu poderia conhecer a Broadway, assistir peças de teatro, quem sabe até entrar para uma companhia de teatro!

Sorri ainda mais empolgada. Com o susto que levei, tinha até me esquecido de que eu estava num livro, num livro como os que eu lia.

Espera... Eu estava num Romance. O que significava que uma hora ou outra eu me apaixonaria por alguém. E se...

Abri a porta devagar ao me lembrar do tal Mason. Conforme a porta foi se abrindo, pude vê-lo apoiado na ombreira da porta enquanto parecia aguardar que eu parasse de dar o meu chilique. Engoli em seco só de pensar que ele poderia ser o meu par romântico naquela história.

Ele era bonito demais! Na outra realidade eu nem ousaria em dizer um A para ele.

ㅡ Já? ㅡ Perguntou.

ㅡ Já o que? ㅡ Retruquei sem nem pensar.

ㅡ Já entendeu o motivo por eu estar aqui. ㅡ Explicou dando uns passos a frente. Devo admitir que não consegui escutar direito o que ele disse, estava ocupada demais me sentindo intimidada por tamanha beleza.

O rapaz deu mais alguns passos na minha direção, me fazendo andar para trás instintivamente. Seus olhos continuaram fixados nos meus, o que fez o meu coração acelerar tanto que pensei que enfartaria ali mesmo.

Quando ele parou na minha frente, sua mão veio na minha direção. Porém, ele apenas pegou o celular de minha mão e saiu do banheiro. Permitindo com que eu voltasse a respirar. Já estava sem ar nenhum nos pulmões.

ㅡ Vou esperar lá embaixo. Tenta não demorar, o vôo sai às 15h da tarde, mas ainda temos que ir pro Rio. E ta muito engarrafamento. ㅡ Ele disse com seu olhar sério. Logo depois sumiu da minha vista.

Apoiei meu corpo na pia branca atrás de mim. Toquei o meu peito sentindo meu coração saltitar como um maluco.

Olha, eu não sou sempre assim. É lógico que se fosse na minha vida real, eu não teria quase morrido segundos atrás. Mas, saber que eu estou num Clichê e que certamente vou me apaixonar em algum momento... Isso muda tudo.

Ok, Arizona, respira. Você nem sabe se seu romance vai ser com ele. Ele pode ter uma namorada, pode ser casado, pode ser gay, ou simplesmente não vai gostar de você. Então... Relaxa aja naturalmente com o cara.

Quem sabe eu não entre para uma companhia de teatro em Nova Iorque e me apaixone por algum ator? Seria bem romântico.

Decidi acreditar nos meus pensamentos e saí do banheiro.

Voltei ao quarto e comecei a arrumar as coisas em duas malas que encontrei guardadas no armário. Guardei roupas, sapatos, coisas de cabelo, higiene, alguns livros e outras coisinhas que achei necessárias, como carregadores e fones. Encarei as malas me perguntando se não estava me esquecendo de nada, até que me lembrei de algo.

Na hora, me abaixei no tapete e levantei a colcha que cobria a cama. Ali embaixo, como eu esperava, vi aquela caixa de presentes quadrada. Seu lilas intenso, mas ao mesmo tempo delicado e fofo. Uma faixa branca falsa fechava a caixa com um laço.

Era exatamente igual a que eu tinha embaixo da minha cama no orfanato.

Abri a mesma e ali estavam as minhas cartas. Todas brancas sem detalhes. Junto também haviam os adesivos de coração vermelho que eu usava para fecha-las.

ㅡ Arrasou, Molly. ㅡ Falei baixo para mim mesma.

ㅡ Eu sei! ㅡ Juro que quase joguei todas as cartas pro ar quando Molly apareceu sentada ao meu lado na cama.

ㅡ Meu Deus, Molly!! ㅡ A encarei com os olhos arregalados. ㅡ Se continuar fazendo isso, eu vou morrer do coração em algum momento.

ㅡ Ah, você acostuma. ㅡ Ela sorriu se colocando de pé e analisando o quarto. ㅡ E então? O que está achando, por enquanto?

ㅡ O que eu estou achando? ㅡ Sorri arqueando as sobrancelhas. ㅡ Isso aqui é tudo perfeito, Molly. Eu conheci uma turma legal na escola, eu ajudei um orfanato, eu tenho um pai, eu vou para Nova Iorque... ㅡ Me joguei para trás na cama com um sorriso. ㅡ É como se eu estivesse num dos clichês que eu leio.

ㅡ Ãh... Você está. ㅡ Molly riu. ㅡ E fico feliz que esteja gostando de tudo. Sua história está só no começo. ㅡ Disse enquanto mexia nuns livros que estavam na estante.

ㅡ Eu ainda não acredito que isso está mesmo acontecendo comigo. ㅡ Voltei a me sentar. ㅡ Acho que o Montgomery foi a melhor coisa que me aconteceu. Afinal, da onde veio esse nome?

ㅡ É o meu sobrenome. ㅡ Ela se virou para mim novamente. ㅡ Molly Montgomery.

ㅡ Ah... ㅡ Assenti. ㅡ É um sobrenome muito bonito. Eu... Não tenho. ㅡ Sorri sem jeito. ㅡ Obviamente.

ㅡ Aqui tem. O do seu pai. ㅡ Ela deu com os ombros. ㅡ McBride. Arizona McBride.

Ouvir o meu nome seguido de um sobrenome também foi algo estranho, porém, incrível. Sei que tudo eu tenho classificado como incrível, ultimamente, mas é a mais pura verdade! Na escola, na hora da chamada, os alunos sempre eram chamados com seus sobrenomes, mas eu não.

ㅡ Bem, eu preciso ir agora e você também. O bonitão lá embaixo deve estar impaciente. ㅡ Ela balançou a cabeça e eu me coloquei de pé. ㅡ Mas, antes... Preciso te dar um aviso. ㅡ Seu tom, de repente, mudou. Ela ficou séria e, talvez, tensa. Molly me olhou nos olhos atentamente e respirou fundo antes de dizer: ㅡ O sacrifício em vida é pago com um amor real. ㅡ Foi tudo o que ela disse antes de desaparecer de novo.

•••
Continua...

Sobrevivendo ao meu Clichê IOnde histórias criam vida. Descubra agora