48_ Acredita em mim?

3.5K 716 461
                                    

Faziam uns minutos que estávamos sentados em silêncio num banco de madeira que eu antes não havia notado. Eu sabia que aquilo era tortura para Mason, mas eu precisava de um tempo para pensar em como lhe contaria aquilo.

ㅡ Você... Se arrependeu de ter acei... ㅡ Ele quebrou o silêncio, mas o interrompi imediatamente. Era possível ouvir e sentir a dor em sua voz quando começou aquela pergunta.

ㅡ Não! ㅡ Balancei a cabeça. ㅡ Não é isso, Mason. ㅡ Encarei minhas mãos cobertas por uma luva felpuda de cor vinho. ㅡ É que... O que eu tenho para dizer é pouco... Complicado. ㅡ Fiz uma careta. ㅡ Você pode achar loucura e eu vou entender, mas eu preciso muito te contar isso. ㅡ Respirei fundo.

ㅡ Você está me assustando, Arizona. ㅡ Encarei seus olhos. Eu não sabia o que esperar de sua reação, mas não conseguia mais esconder isso.

ㅡ Mason, eu... ㅡ Apertei os olhos antes de continuar. ㅡ Eu não sou dessa realidade. ㅡ Falei um pouco rápido demais, porém Mason não teve reação. Na verdade, ele pareceu não entender. ㅡ Digo... Eu não... ㅡ Meus pensamentos começaram a virar uma bagunça. ㅡ Acho... Acho que é melhor eu explicar desde o início. ㅡ Ajeitei minha postura e virei o meu corpo para ele. ㅡ Mason, eu nasci em Atlanta, num orfanato de Atlanta. Eu nunca conheci os meus pais e cresci no orfanato na expectativa de um dia ser adotada. Todos os dias eu acordava entre aquelas paredes e orava por uma família, por pais, talvez irmãos. Mas... Isso nunca aconteceu. ㅡ Puxei o ar com o nariz. Falar do passado, não importa quantas vezes sejam, dói. ㅡ Até que eu completei 18 anos e decidi seguir minha vida por mim mesma. Estudei muito e tentei passar para a faculdade, mas não consegui passar. Tentei arrumar um emprego, mas também não consegui. Sem o que fazer e sem ter para onde ir, a diretora do orfanato me deixou ficar lá em troca de trabalhar na cozinha.

ㅡ Espera... O seu pai não é... Não é seu pai? Mas, tem fotos suas pequena e... ㅡ Mason realmente parecia confuso.

ㅡ Eu sei. ㅡ Assenti uma vez. ㅡ Eu sei que vai ser difícil de entender e de acreditar, mas tenta acreditar em mim, ta? ㅡ Ele não disse nada, então segui falando. ㅡ A minha vida estava horrível. Eu não tinha motivos ou ânimo para fazer nada. Nada do que eu queria que rolasse, acontecia. Nada por que eu lutava, se realizava. Eu sorria para todos lá dentro, mas a tristeza dentro de mim era imensa. A única coisa que eu tinha eram os livros. Os livros conseguiam me ajudar a fugir um pouco da realidade tão cinza que eu vivia. ㅡ Encarei as montanhas a nossa frente sem conseguir ver muita coisa, já que agora já era noite. ㅡ Um dia eu estava na biblioteca do orfanato quando um livro caiu de uma das estantes. Ele era meio velhinho, as capas estavam gastas e as páginas pareciam bem amareladas. Eu fiquei curiosa e o abri. Foi quando... Foi quando  um clarão me envolveu. Eu abri os olhos e estava num quarto de adolescente. Minhas roupas haviam mudado e tinha uma garota lá comigo. É claro que eu pensei que eu tivesse morrido ou pirado, pensei até que podia estar drogada. Mas, a garota me explicou. A garota se chama Molly e ela vive naquele livro. O livro... Me engoliu.

Olhei para Mason e percebi que ele continuava sem reação. Me perguntei o que se passava em sua cabeça. Será que estava pensando que eu era maluca?

ㅡ O livro se chama Montgomery e ele é o livro dos livros de Romance. Quem entra nele meio que vive o seu romance dos sonhos, romance planejado pela Molly, que é a autora. ㅡ Voltei a explicar. ㅡ Geralmente as pessoas procuram pelo Montgomery, mas as vezes ele encontra alguém. Alguém que esteja precisando dar uma fugida da realidade. O Montgomery me encontrou porque eu estava precisando muito sair da minha realidade e eu nunca fui mais feliz. ㅡ Percebi que estava chorando. ㅡ Eu tive a minha viagem dos sonhos, eu fiz amigos, eu estou vivendo um natal de verdade, eu entrei para uma companhia de teatro e eu conheci você. ㅡ Olhei em seus olhos. ㅡ O Montgomery me permitiu viver o romance dos meus sonhos e foi com você. Eu entendo se achar tudo isso loucura, mas eu precisava te contar. Precisava que você conhecesse o meu verdadeiro eu, a minha verdadeira história, que me conhecesse de verdade. Que soubesse que não sou uma menina rica que cresceu num lar amoroso, que soubesse que passei por muita coisa e que nem sempre foi fácil olhar as coisas pelo lado bom. Eu só... Queria que se... Se você se apaixonasse por mim, fosse pela pessoa que sou de verdade. Não pela versão que o Montgomery criou de mim.

Sobrevivendo ao meu Clichê IOnde histórias criam vida. Descubra agora