Amores volateis

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    Clara não conseguiu conter as lagrimas nem conseguiu desacelerar o seu coração, a adrenalina tomou conta. Toda a cena de seu amado possuindo outro corpo que não era o dela invadiu sua mente. Os braços tremeram, as pernas desfaleceram e um barulho de alguém vindo foi ouvido.

Rapidamente ela enxugou as lagrimas, recompôs a postura.

- Você está aqui?! Estava te procurando. Ia te falar para não limpar o quarto Henry agora pela manhã; ele não saiu e resolveu tirar o dia de folga.

Clara não sabe se Maria atina que ele está acompanhado de um bela jovem. Clara nem consegue formular um pensamento para dar uma resposta concreta e balança a cabeça em sinal positivo. Maria percebe o desconforto de clara.

Clara foi até a cozinha e tentou se ocupar com os afazeres, a mesa do café estava posta com direto a várias guloseimas inglesas, diferente dos costumes de Henry, pois ele não come muito açúcar nem tão pouco essas massas rebuscadas.

A primeira coisa que Clara viu na moça foram as longas pernas brancas que arrastavam um corpo escultural, magro e bem desenhado. A escadaria por onde "A MAGRA" como Clara vai passar a chama-la, quase virou uma passarela com o rebolado da moça.

- Que ódio - Pensou Clara. – Aquela MAGRELA está se achando.

A moça se sentou na cabeceira da mesa no lugar que o Henry ocupa de costume, olhou para Maria e pediu um suco de laranja sem açúcar. Maria pediu Clara que pedisse a cozinheira para fazer.

Logo Henry desceu e Clara com a jarra na cozinha escutou a voz de Henry conversando com Maria na sala do café.

- Quero que no almoço faça o que Suzana quiser.

Clara entrou ainda constrangida na sala com o jarro na mão e serviu a moça. Henry observou que clara não estava confortável.

- Desculpa por mais cedo, eu devia ter trancado a porta. – Henry falou bem gentil.

- Imagina. – Clara respondeu sem levantar a cabeça.

- Nos desculpe querida, também foi culpa minha.

A única coisa além de balançar a cabeça era o pensamento:

-O que essa magrela acha para ficar me chamando de querida? Não sou sua querida. Querida...

Clara saiu da sala, de longe observou o carinho de Henry com a moça, observou suas longas mãos a tocando de leve nos braços e como os dois se olhavam; Clara podia jurar que estavam apaixonados e isso doía muito.

Mais tarde uma notificação em seu celular fez clara escrever em seu blog coisa que já não fazia a muitos meses. A notificação se tratava de uma foto de Henry e a tal Suzana. Se tratava de uma linda declaração de Henry para a moça mostrando para o mundo seu novo "amor".

Clara não pensou duas vezes e colocou as mãos no teclado, em um ataque de fúria publicou as próximas linhas.

Amores voláteis

Mas de que amor se trata? Das paixões passageia e arrebatadoras que envolvem nossos corpos sedentos por prazer ou se trata de algo mais que esperamos, utópico, surreal, magnifico?

Na era da tecnologia observamos os amores passageiros, cada hora amo um, e falamos e desejamos que os outros saibam que ninguém faz de fato morada em nossos corações. Quem é o sortudo ou sortuda da vez? Dizemos: Eu te amo com tanta facilidade, palavras que eram dedicadas por poetas e escritores a personagens que fizeram história, apaixonados que matavam e morriam por amor, podemos ver na literatura relatado com maestria na obra de Shakespeare em Romeu e Julieta

Não estou aqui para falar de Amor Líquido, Zygmunt Bauman desmembrou esse assunto com muita desteridade. Quero dedicar essas linhas para tratar de por que a necessidade de mostrar para os outros que agora amando novamente. Qual o sentido de que todos saibam que sentimentos percorrem nossa pele ou órgãos genitais? Qual a necessidade da aprovação dos outros ou em que interfere em nossas vivas a quantidade de likes que uma postagem apaixonada acompanhadas de uma foto romântica?

Poetas se expressavam em textos fantasista sobre o amor. Na época em que o mais próximo de uma rede social eram as rodas de fofocas das lavadeiras e os jornais matinais entregados de casa em casa. É notável que o modo de vida das pessoas mudou muito. Mas a necessidade de falar e ser falado não mudou. A necessidade de que as pessoas saibam e aprovem a maneira como vivemos; a aceitação social de nossos costumes e escolhas nos remete a nossos antepassados os neandertais quando para sobrevivermos precisávamos do grupo. Hoje, no entanto, esse costume já que evoluímos não nos parece lógico nem tão pouco racional, beirando o ridículo. A exposição exagerada de amores passageiros, voláteis condiz com uma sociedade onde tudo é descartável inclusive pessoas.


Clara publicou em sua página com seu pseudônimo Amandine Dupine. Logo em baixo a foto do casal 2022. O que ela não sabia é que aquelas linhas ganhariam repercussão mundial.

Por ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora