Mulher perdida

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"Preciso me sentir mulher novamente."

Quem já passou por um término consegue sentir o que Clara sente. O ego é ferido, algo quebrado que não se conserta mais. Insistir em algo fadado ao fracasso traz raiva, tristeza, culpa e baixa autoestima.
O que o outro tem que eu não tenho? Ou o que o outro quer que eu não possa dar? É um sentimento de insuficiência que chega a deixar fragilizada até mesmo a nossa sexualidade.
Nem sempre a pessoa que trai quer arruinar a vida do parceiro ou fazê-lo sofrer. Em alguns casos, esse indivíduo também pode estar passando por questões internas. No entanto, é como dirigir embriagado: não é que queira atropelar alguém, mas assume-se esse risco, sendo julgado e até mesmo condenado.
Uma pesquisa publicada pela USP em 2017 perguntou aos participantes se já haviam traído seus parceiros. 40,5% da população, em média, admitiu ter traído o parceiro, sendo que 50,5% dos infiéis eram homens e 30,2%, mulheres. Pode-se então dizer que homens realmente traem mais do que mulheres, ou será que elas mentem melhor?
Uma coisa é fato: quem é traído sofre em vários níveis. O traído é fortemente abalado, podendo até procurar explicações para o erro do parceiro em si mesmo, carregando uma culpa que destrói sua autoestima.
Acho que Clara quer provar para si mesma seu valor.

— Quer jantar comigo hoje?
— Seria uma honra.

Eles se despediram, e mais tarde os dois se encontraram em um belo restaurante romântico em Londres: Tattu London. A noite havia caído suavemente sobre a cidade, vestindo as ruas com um véu de estrelas e silêncio. As velas sobre as mesas lançavam luzes tênues, criando sombras que dançavam nas paredes e emolduravam o cenário com uma suavidade sedutora.
Ela chegou primeiro, com a suavidade da noite a envolver seu corpo. O vestido de seda, em tom carmim, se adaptava ao seu corpo com uma sensualidade discreta. O cheiro do perfume era leve, mas marcante, uma mistura de jasmim e algo indefinível, que provocava o ar, como um convite ao desconhecido.
— Você está deslumbrante, ele disse, a voz grave e tranquila, mas carregada de desejo.
Conforme o vinho foi sendo servido, a conversa fluía com a mesma suavidade das velas que iluminavam a mesa. Palavras trocadas com risos, olhares, e silêncios. Cada gesto parecia um ensaio, uma dança que se fazia mais intensa a cada gole, a cada palavra sussurrada ao ouvido.
Ela queria se sentir mulher de novo, como se tivesse se perdido...
As mãos se procuraram sob a mesa, e ele, sem tirar os olhos dela, entrelaçou os dedos aos dela. O toque era suave, mas firme, como se desejasse que ela sentisse o pulsar de seu desejo ali, naquela conexão quase invisível.
— Eu nunca me canso de olhar para você, ele murmurou, a voz carregada de uma ternura que se misturava com o desejo crescente.
Com o fim da refeição, as taças de vinho ainda cheias, ele se levantou e estendeu a mão, convidando-a a acompanhá-lo.

Clara sabia o que iria acontecer: um quarto, mais taças de vinho, risadas, e tudo iria fluir.
Quando o carro parou na porta da pousada de Catarina, Clara olhou para Jhon sem entender, e Jhon respondeu ao olhar dela:
— Eu sei que você não está querendo fazer isso, e esse não é o caminho. Eu me sentiria o homem mais feliz do mundo em estar com você, e Deus sabe a força que faço para não arrancar sua roupa agora mesmo. Mas, conhecendo você e suas dores, nunca me aproveitaria da sua decepção.
Não permita que alguém que te traiu defina o que é ou o que você pode ser. Não se deixe levar ou consumir pela amargura, nem pela ideia de que seu valor depende de outra pessoa.

Uma lágrima sorrateira, confusa, mas feliz, escorreu pelo rosto dela, enquanto, em silêncio, ela saiu do carro e, em um momento, abriu sua mente.

— Algo dentro de mim, apesar da dor, me lembra que sou mais do que o reflexo de alguém que me mentiu. E eu estou aqui, de pé, ainda respirando, ainda sentindo. E, nesse momento, preciso me lembrar de quem sou.
Preciso me sentir mulher novamente. Não uma mulher marcada, ferida, esquecida nas promessas quebradas de quem não soube me valorizar. Preciso me sentir inteira, como sou, com todas as minhas imperfeições e forças.

Por ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora