Caminhando.

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Estou há três dias sem sair do meu quarto, e fugindo dos meus exames diários que sou obrigado a fazer. Só dou as caras para o lado de fora, quando preciso ir ao banheiro, ou comer alguma coisa, fora isso, nem a biblioteca gigantesca que gosto de passar o meu tempo, estou indo ver as traças que adorna os livros velhos.

Descobri por Yoongi, que um dia atrás começou uma fiscalização e pesquisas de pacientes desconhecidos. Parece que alguém conseguiu burlar o sistema, e entregou de bandeja várias papeladas de acessos dos pacientes, e assim, pessoas conseguiram entrar sem ter permissão alguma.

"Enquanto eu quero sair, outros querem entrar, vai entender!"

Ninguém sentiu a minha falta, então eu não tenho para que me preocupar.

Sei que a minha mãe espera que eu participe de tudo aqui, mas eu não estou com saco para isso. Não estou conseguindo nem ter forças para sair do quarto, quanto mais participar de outras coisas que não gosto de fazer. Já basta ter que escutar o psicólogo fazer sempre as mesma perguntas, e eu ter que olhar para a cara dele, e fingir qualquer coisa que está tudo bem. Eu acho que ele desconfia, eu nunca fui bom em mentir, mas ele não reclama de nada, pelo contrário, anota tudo no prontuário, e no final de cada consulta, eu mostro o meu melhor sorriso, e me despeço da sala chata de cor amadeirada.

Eu me levantei para mais um dia na minha vida --- sem emoção ---, e me dirigi até o meu armário, perto da outra cama, de algum possível colega de quarto, que nunca deu as caras, ou apareceu.

Eu não reclamo disso, todos aqui dividem os quartos com mais uma pessoa, eu tive a sorte de ficar sozinho até então, pelo menos isso eu gostei. Privacidade é tudo, eu posso viver com isso.

Com a toalha branca na mão, eu me dirigi até a última porta do corredor, que dá paras as escadas, e depois de passar pela catraca, chego a fila enorme e diária do banheiro masculino. É uma fila tão extensa e bagunçada, que as vezes desisto, e só me banho pela noite quando todos estão quase dormindo, e o corredor fica vazio. Mas hoje, eu realmente preciso engolir o meu estresse, e passar por isso, é por um bem comum.

Eu pensei em realmente voltar para o meu quarto, ou, ir para o andar de baixo, e usar a ficha do Yoongi, mas acabei lembrando que ele também passa pela mesma situação que a minha.

Quando a minha vez chegou, eu quase levantei as mãos, e agradeci para o senhor baixo vestido em um macacão azul claro, que ajuda a fila, para que não ocorra muita bagunça. Eu sou o penúltimo da fila, no banheiro grande há dez cabines, ou seja, a minha vez chegou, e com certeza eu fiquei com alguma das piores, que tem a porta quebrada pela metade.

-- É a sua vez.__o senhor disse para mim, que assenti, e abri a porta para entrar no imenso banheiro. Por um momento eu jurei ter encontrado a luz que caiu do céu, quando olhei para a cabine do meio, a quinta, e notei que estava vazia. Em que ponto cheguei somente para tomar um banho decente.

Quando eu abri a porta da cabine, quase pulei de alegria por ter visto um pouco de shampoo no vaso, perto da pilastra cinza na parede. O meu acabou faz um tempo, e como eu não estou muito bem com a minha mãe, meu cabelo, que está quase com as pontas batendo na metade da minha mandíbula, está parecendo um ninho de mafagafo.

Quando empurrei mais a porta para o lado, senti uma mão em meu ombro, e antes que olhasse para o lado, fui empurrado, e só deu tempo de ver o sorriso singelo e sarcástico do cara do refeitório, que ajudou o Yoongi, e que apareceu no meu quarto algum dias atrás, segundos depois.

-- É a minha vez de tomar banho.__eu disse e coloquei a toalha ao redor do meu pescoço. -- Dá pra esperar. Quando acabar eu aviso.

Ele deu de ombros, ainda sorrindo.

 ̶,̶R̶e̶s̶p̶o̶s̶t̶a̶s̶ ̶C̶o̶n̶t̶é̶m̶ ̶P̶e̶r̶g̶u̶n̶t̶a̶s̶.̶ Onde histórias criam vida. Descubra agora