_ Menina Luna. Suas mãos estão geladas. O que está acontecendo? Achei que estava pronta para voltar. Pensei que fosse isso que você queria.
_ É o que quero padrinho. Estou cheia de saudades do Lorenzo e do Ethan, das meninas e do Francesco e também do Enrico, Takeo... e os outros. Mas pela primeira vez em meses, estou com medo.
_ Medo menina? Medo do que exatamente? Você está voltando inteira, está muito melhor física e emocionalmente e continua linda. Está mais forte do que saiu, mais experiente e está trazendo o presente que, todos estão esperando já tem algum tempo.
_ Eu não sei explicar... De todas as pessoas, de tudo que vivi até aqui, as únicas pessoas que são importantes para mim são aquelas. A opinião e o amor dos meus irmãos, foi o que me manteve de pé, a cada dia. Saber que eles estavam ali e que logo eu ficaria com eles e tudo acabaria, então eu só teria que suportar mais um dia. Eu sei que, essa seria minha última tarefa para selar meu treinamento... eu sei que fiz um juramento de sangue pra me unir a família perante os capos, como todos os outros, mas eu não sei se poderei contar a eles o que passei.
_ Menina. Lembra que eu disse, não uma, mas algumas vezes que, estarei com você a cada passo. Eu nunca, vou deixar você sozinha. E agora, você não tem somente eles, você tem a mim, tem Helena. A nossa família. Somos muitos e estamos juntos. Cuidaremos uns dos outros, enquanto respirarmos.
_ Eu sei. E sou grata padrinho. Sabe que sou imensamente grata. Pelo pulso forte, pelo apoio, por me fortalecer, por me fazer perseverar. Mas principalmente sou grata pelo respeito, pelo carinho e pelo amor que tem demonstrado por mim, por nós. Mas eu não quero decepcionar meus irmãos, ou fazê-los se sentirem culpados por não estarem lá. Não quero que eles sintam vergonha de mim ou fiquem chateados por eu não ter contado nada antes.
_ Os culpados estão mortos. Você matou cada um deles. E aquele que não foi morto ainda, juntos iremos pegá-lo. Você está segura. Não só porque nós a protegeremos, mas porque agora você é capaz de se defender sozinha. E se isso é motivo de orgulho para mim, que cheguei em sua vida a pouco tempo, imagine para seus irmãos que estão ao seu lado uma vida inteira. Sua cabecinha está melhor a cada dia, você está conseguindo dia a dia se livrar do fantasma do seu passado. Não há motivos para vergonha ou culpa. Só alegria e orgulho. Lembre-se de quem você é hoje, lembre-se que a dor que sentiu no passado te moldou e te trouxe até aqui. Sinta orgulho de onde seus pés passaram, eles te trouxeram aqui.
Me joguei nos braços daquele senhor de cabelos brancos e de postura firme, que sempre me recebia com o coração quentinho.
Sentada ao seu lado, ainda em seus braços, ele me embalava e acariciava meu cabelo enquanto voávamos de volta a Itália para o casamento do século na máfia, melhor dizendo os casamentos.
Eu queria dormir, mas tudo que eu vivi, voltou a minha mente, em flashes difíceis de reviver.
"Era uma quinta-feira à tarde. Lembro exatamente desse dia, pois eu o amaldiçoei muito e por muitos anos. Eu estava na escola, tinha acabado de fazer dezessete anos e era início do ano escolar. Fui chamada na sala da direção, porque meu pai estava ali para me buscar.
Toda vez que papai aparecia, ele queria que eu levasse uma amiguinha pra casa. Para tomar banho de piscina, ou experimentar as roupas que ele tinha comprado.
Antes de saber a verdade, eu adorava e caía nessa desculpa muito e sempre, porque era bom demais ter alguém pra ficar em casa comigo, principalmente depois que meus irmãos tinham saído de casa e ido fazer faculdade fora. Eu me sentia muito sozinha e as vezes tinha medo das brigas entre os meus pais. Eu ouvia coisas horríveis sobre eles, mas nunca dei muita bola.
Naquela quinta feira, porém, levei Lynn para passar a tarde comigo em casa. Passamos o dia rindo na piscina e papai sugeriu que eu fosse tomar banho, que ele me presentearia com uma ida ao shopping. Não pensei muito, eu adorava ficar longe de casa e gastar. Gostava de ficar longe das bebedeiras da minha mãe e dos estranhos amigos do meu pai, que me olhavam e me tocavam incessantemente. Subi pra tomar banho e meu pai disse para Lynn tomar banho no banheiro de hospedes. Assim, sairíamos mais rápido para o shopping. Tomei um banho rápido, me troquei e lembrei que eu tinha acabado de ganhar uma blusa de uma boy-band que Lynn adorava. Então fui ao quarto de hospedes dar a blusa a ela. Ao abrir a porta vi uma Lynn toda chorosa e encolhida num canto da cama nua, enquanto meu pai terminava de colocar a blusa e subia o zíper da calça. Na hora não tive reação. Não tinha certeza se, era realmente aquilo que eu tinha visto, ou o que era.
Ela e meu pai só perceberam que eu estava na porta quando ele já estava saindo, isso depois de mandá-la parar de chorar e ameaçá-la de diversas maneiras.
_ Luna ... estava procurando você. Está pronta?
Papai perguntou, tampando minha visão de onde Lynn estava e bloqueando minha entrada no quarto. Ainda sem reação, respondi.
_ Sim. Só vim trazer uma blusa pra Lynn.
_ Perfeito. Ela ainda deve estar no banheiro, acabei de bater para apressá-la. Deixe aqui e vem que quero falar contigo. – Ele tomou a blusa da minha mão e jogou numa poltrona que havia perto da porta. Saiu fechando a porta atrás dele e me levando para a sala no piso de baixo.
Ali, ele disse que não poderia me acompanhar nas compras, mas que daria um cartão, para que nós gastássemos.
Lynn saiu muito tempo depois do quarto. Acho que ela estava tentando ser forte para encarar seu algoz. Ela inventou uma desculpa e decidiu não ir ao shopping. Mesmo assim, meu pai nos deu uma boa soma em dinheiro, quando colocou o dela na mão dela, fez questão de levantar sua cabeça e olhá-la nos olhos. Até eu que até aquele momento, era lesada... entendi a ameaça.
Lynn nunca mais foi a escola, nunca mais falou comigo. A última vez que soube dela, foi quando vi sua mãe na escola pra pedir sua transferência. Ela se mudou e nunca mais tive notícias. Me bloqueou em suas redes sociais. E eu me senti destruída.
Tomei coragem, encarei meu pai e perguntei o que ele tinha feito pra ela chorar naquele dia. Ele me deu um tapa na cara e disse que eu não sabia o que estava dizendo e que se eu repetisse, eu iria pagar caro. Depois do tapa, ele disse que eu ganharia a viagem que tanto queria. Eu iria pra Aspem.
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Mulheres Poderosas IV - Luna
RomanceEla tem um jeito doce e descontraído, está sempre com um sorriso no rosto, mas carrega marcas em seu coração. Luna viveu uma vida de aparência. Mostrava uma felicidade irreal aos seus irmãos enquanto era obrigada a conviver com monstros... O peso d...