Donna se levanta do meu lado, me beija e me abraça forte, depois segue para falar com minha irmã.
Eu permaneço sentado, estático no lugar, tentando imaginar quando foi que ela cresceu e porque eu perdi seu crescimento.
Onde eu estava, fazendo o que, que não vi os horrores que ela viveu.
Nossa menininha, nossa doce, gentil e inocente Luna.
Nossa criança mais delicada, dedicada e curiosa...
Nossa menina que sorria com os olhos, que falava muito mais do que deveria...
Agora eu entendia ou pelo menos tinha um vislumbre de compreensão, em tanto de suas ações.
Agora eu entendia, compreendia, por que ela fazia da boate um local de acolhimento.
Agora eu podia enxergar, porque ela fazia tanto por aquelas garotas, que ela considerava abandonadas pela sorte.
Aquela menina que eu conheci um dia, minha menininha, minha pequena e doce irmãzinha, se sentiu abandonada sozinha, sem escape, sem ajuda e sem recursos..., mas ela soube se reerguer, se reencontrar.
Durante anos, minha irmã usou uma máscara, que dizia ao mundo e a todos nós, que tudo estava bem. Mas no fundo, ela era uma alma torturada e machucada, que tentava se levantar toda vez que caia.
Sem poder contar com ajuda de ninguém, sem poder confiar em ninguém, sem temer a morte. Ao contrário, achando consolo nela.
Certa vez, conversando com Donna sobre coisas aleatórias, ela me disse que para alguém não ter medo de morrer, teve que apanhar o suficiente da vida, ao ponto de considerar a morte uma benção.
Escutando a história da minha irmã agora, percebo por que ela sempre abraçou a morte com carinho. Sempre foi, de peito aberto, de encontro a ela.
Eu e Lorenzo, pensávamos algumas vezes em levá-la ao médico, pois tínhamos medo do que ela pudesse fazer.
Quem em sã consciência enfrentaria cafetões de frente?
Quem ameaçaria pais e namorados, ciumentos e possessivos que espancavam suas mulheres?
Luna fazia isso.
Na boate, todas as garotas eram suas garotas e não faziam nada, que não queriam.
Hoje olhando minha irmã, eu a entendo..., como nunca achei, que fosse possível.
Sinto o sofá ao meu lado abaixar e percebo que Lorenzo tem o mesmo olhar que eu.
Tenho plena convicção que, o sentimento também seja o mesmo.
_ Ei meninos... venham comigo.
Dom Fernan para em nossa frente e faz sinal para que nós o sigamos, assim sem dizer nada, apenas levantamos e o seguimos.
Saímos para fora do galpão.
O ar está fresco, a noite está estrelada e as flores parecem espalhar e misturar seus perfumes pelo caminho.
Dom Fernan nos espera parado num canto, próximo a um dos muitos jardins que existe ali.
_ Sabem que não sou de rodeios, então vou direto ao assunto. Não posso controlar o humor e a mente de vocês, mas foi muito difícil trazer aquela menina aqui hoje. Foi muito difícil fazê-la juntar os pedaços e muito difícil fazer ela enxergar o quanto ela é amada e importante. Em todo esse tempo nenhuma opinião importou a ela. A única opinião que sempre importou e sempre importará é a de vocês. Ela não queria contar por vergonha, por se sentir suja, culpada e depois porque achava que vocês se sentiriam culpados por não perceberem, por não terem estado lá, por não terem feito nada a respeito. E pela cara que os dois estão fazendo agora, sei que ela tinha razão. Eu tenho certeza de que vocês não a culpam e sabem que ela não tem motivo para se sentir suja ou envergonhada. A grande questão é, vocês se sentem culpados? Porque se for isso, teremos que acabar com essa culpa aqui e agora, antes que vocês cheguem nela com essas caras e destruam todo o trabalho que ela demorou muito tempo pra construir.
_ Eu só não entendo, porque ela não me procurou. Eu achei que fossemos amigos, sempre contamos tudo um para o outro, sempre estávamos juntos. Ela me apresentava as amiguinhas dela da escola, brincávamos, falávamos de tudo. Achei que fossemos mais que irmãos, mais que amigos. – disse Lorenzo, balançando a cabeça e com os olhos vermelhos do choro que não caia.
_ Ela deve ter os motivos dela. E isso não vem ao caso agora. De a ela tempo e devagar ela contará mais detalhes para você, para vocês. Agora ela precisa se sentir bem, amada e acolhida. Como ela se sente aqui, entre nós, sua familia.
_ Desculpa Dom Fernan, mas em momento algum deixamos de amar Luna. Nós sempre pensamos em levar ela para viver conosco, mas a Carmem não permitia, mesmo depois que ela saiu do colégio. Tínhamos planos de levá-la pra viver com a gente, mas ela tinha nossos pais e aparentemente os obedecia, nunca imaginei que essa obediência fosse medo. Na verdade, pensei que era mais medo de perder seus privilégios.
_ Eu imagino que vocês tinham e tem as melhores intenções, mas também eram dois garotos perdidos no mundo. Eram dois garotos desprovidos de uma presença forte, tanto de pai, quanto de mãe. O que dois universitários poderiam fazer contra um homem maduro que sabia mentir e manipular como ninguém. Vocês não podiam ter feito nada.
_ E agora, o que devemos fazer. Matar o desgraçado que sobrou pra que ele não aterrorize mais nossa menininha?
_ Acredito que isso seja tudo que nos resta Ethan.
_ Estão errados, os dois. Essa é uma vingança que pertence a menina Luna e somente a ela. Javier está sendo monitorado e neste momento vive numa clínica na suíça, cercado de soldados. Luna decidirá quando e onde quer pegá-lo. Vocês darão o apoio que ela precisa apenas. Tudo que precisam fazer agora é parar de se culparem, conversem com ela, abracem cuidem, mas não fiquem empurrando os porquês... porque não me disse, porque não me ligou, porque não me procurou, porque não me contou... só aceitem que ela é essa mulher agora e que tudo que ela quer e precisa é ser amada e aceita. Tudo que ela sempre quis foi ter uma família. E agora ela está em família. Vocês todos estão em família. E aqui nessa família cuidamos uns dos outros. E agora chega. Vamos Helena está com a mesa do jantar pronta.
Seguimos Dom Fernan para dentro da casa principal, todos que estavam no galpão já estavam reunidos próximos a mesa.
Lorenzo me puxou pelo braço e nos encaminhamos em direção a Luna que estava rodeada por Mia, Pietra e Donna. Quando chegamos elas nos deram espaço e nós colocamos Luna em nossos braços e choramos, não falamos nada apenas choramos.
Choramos de tristeza por não ter conseguido defender nossa irmã e choramos de alegria pois apesar de tudo, ela tinha se transformado em uma mulher de muita força.
_ Nos orgulhamos tanto de você Lu. – Fala Lorenzo.
_ Sim. Nossa menininha cresceu e precisa saber que não está mais sozinha. Estaremos aqui pra você e por você sempre! – Reitero.
![](https://img.wattpad.com/cover/326049928-288-k656211.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Mulheres Poderosas IV - Luna
RomanceEla tem um jeito doce e descontraído, está sempre com um sorriso no rosto, mas carrega marcas em seu coração. Luna viveu uma vida de aparência. Mostrava uma felicidade irreal aos seus irmãos enquanto era obrigada a conviver com monstros... O peso d...