Ninguém no complexo sabia, mas eu, fui algumas vezes, ver Luna no campo de treinamento Survivor.
No começo, era mais curiosidade... eu queria saber o que estava acontecendo, pois Dom Fernan que nunca saia do complexo, sem uma boa razão, começou a fazer diversas viagens suspeitas. Depois descobri que ele não saía de lá, então comecei a pensar que, ela poderia estar com problemas.
Não que eu me importasse, quando ela optou por treinar ao invés de se casar, eu desisti de ter algo ela. Pelo menos era isso que eu dizia pra mim, todos os dias. No decorrer das minhas "visitas", essa minha opinião mudou... e muito.
Dom Fernan dizia que, estava fazendo viagens com sua Helena, mas não era verdade. Eles iam passar um tempo com Luna, a cada dez, quinze dias.
Ela parecia cada dia mais forte fisicamente. Tinha uma habilidade técnica incrível e muita resistência nas provas. Seus treinamentos, seu desempenho, sem dúvidas eram motivos de orgulho.
Era lindo vê-la treinando e se dedicando tanto como ela estava. Mas havia momentos, em que pareciam difíceis de passar para ela.
Demorei a perceber que, não era o treino físico que a deixava triste, cansada. Ao contrário, quanto pior era seu treino e depois suas missões, mas forte fisicamente ela ficava.
Ela parecia que não podia ter muito tempo de folga, ela parecia não poder ter tempo pra pensar, precisava exaurir o físico e a mente constantemente.
Eu sabia que naquele campo tinham psicólogos, psiquiatras, terapeutas e sabia que todos que passavam por ali faziam obrigatoriamente, acompanhamentos com todos os profissionais. Esse era o principal requisito para permanecer na Survivor e sair de lá, um profissional de excelência. Esses profissionais saídos da Survivor, estavam entre os melhores do submundo.
Primeiro eles te quebravam, depois te reconstruíam, da forma que precisavam.
A Survivor reunia os melhores profissionais e todos saídos de grupos especiais de todo mundo. Ali havia, além de psicólogos, psiquiatras, nutricionistas, fisioterapeutas, educadores físicos, um monte de treinadores que saíram de unidades dos melhores exércitos do mundo como, SEALs dos Estados Unidos, SASs da Grã-Bretanha, SASRs da Austrália, entre outros.
O Survivor era patrocinado pelos Basile, pela máfia italiana e dali saiam os melhores entre os melhores e Luna, assim como nós, agora pertencia a essa elite.
Mas ela percorreu um longo caminho. Física e mentalmente.
Descobri isso quando roubei e li sua ficha na sede da Survivor. Passei uma noite toda, trancado num arquivo escuro, lendo um calhamaço de folhas, sobre parte da merda que aconteceu na vida dela.
Agora eu conseguia entender a raiva dela por homens, de um modo geral. Conseguia entender por que ela amava e lutava por cada gota de liberdade, que ela conquistou a duras penas.
Consegui entender a dificuldade que ela tinha de se relacionar.
Embora ela parecesse uma mulher fatal, as experiências que ela teve com sexo, eram as piores possíveis. Mesmo depois da violência que sofreu, todas as vezes que ela tentou se relacionar com outros homens, aparentemente foram ruins.
Ela teve parceiros péssimos, que não perceberam sua fragilidade e não conseguiram deixá-la relaxada o suficiente, para ela poder aproveitar a experiencia.
Eu sei que, se não tivesse ido atrás dessas informações, talvez estivesse na lista futura dela de péssimos amantes, mas eu sabia que faria a diferença. Estava trabalhando em mim para isso.
Assim que soube desse lado de Luna, procurei Irina e pedi que ela me ajudasse encontrar um profissional que me ensinasse a lidar com ela e que me deixasse numa versão melhor de mim.
Mesmo que Luna não quisesse ficar comigo, mesmo que nós não tivéssemos nenhum tipo de relacionamento amoroso, o carinho e o respeito que cresciam em mim por ela, fazia crescer em mim também, o desejo de oferecer a ela, sempre o melhor de mim.
Eu queria protegê-la do mundo, dos homens, de mim. Ela era linda esperta e esforçada, merecia o melhor e eu havia decidido que, sempre que possível eu daria isso a ela.
Foi pensando assim que entrei na SUV com Mad, Diego e Luigi e lá encontrei Luna e nosso "amigo" Takeo. Que a segurava nos braços e eles sorriam um para o outro, me enchendo de ira, que eu mal consegui disfarçar.
Minha vontade era socar a cara dele, pois ele era um dos que não a tinham feito feliz... depois de deixá-lo bem inchado, eu sairia do carro e desceria a merda da colina a pé. Felizmente, Diego havia acabado de fechar a porta, depois que Mad se sentou ao meu lado. E Luigi já tinha colocado o carro em movimento.
Eu estava de frente a ela. Nossas pernas próximas e então ela me viu, me olhou e sorriu.
Tudo a minha volta sumiu, inclusive a raiva e o sentimento que eu pensei que estivesse guardadinho, ressurgiu.
_ Enrico. – Ela disse meu nome, caindo em meus braços.
Eu a segurei um tempo e me deixei ficar ali, sentindo seu perfume. Ela se recuperou primeiro e se soltou, voltando a encostar em seu lugar.
_ Você parece ótima Luna. – disse sorrindo. _ E eu quero saber os detalhes dessa sua, missão dama de casamento.
_ Eu realmente me sinto ótima. Mas o padrinho me proibiu de falar sobre isso hoje. Disse que não poderia falar nada do tempo que fiquei fora, pediu que falasse quando estivesse só nós, no complexo.
_ Ele está certo. Primeiro que, hoje é dia de festa, dias dos noivos. Embora você tenha roubado a cena. Mas nem todos da família, entendem essas uniões, então ...
_ Chegamos. – Nos interrompeu Diego, nos abrindo a porta.
Mad desceu e eu e Takeo ficamos num impasse para ver quem desceria primeiro. Eu firmei meu olhar nele, que pareceu entender e desceu. Desci na sequência e dei a mão pra Luna descer.
Caminhamos todos juntos para a entrada do salão que já estava com quase todos os convidados presentes.
Logo na entrada, uma aglomeração se formou para as fotos com os noivos. Então eu e ela nos juntamos e nos separamos, diversas vezes, pela próxima hora.
Por fim, quando a tortura fotográfica acabou, fomos todos nos sentar na imensa mesa, preparada para a família.
Helena e Donna tinham feito a distribuição dos lugares e eu acabei perdendo o espaço para o armário que era mais amigo do lado deles, do que eu.
A mesa ficou dividida entre esquerda e direita. No meio, havia os dois casais. E em seus lados seus familiares mais próximos, ou quase isso.
Takeo/ Luna /Ethan & Donna /Lorenzo & Pietra * Mia & Francesco /Helena & Fernan /Enrico/Mad
Assim fiquei no canto mais distante possível, daquela que eu queria, mais próxima a mim. Não que eu pudesse reclamar muito, Fanny a esposa de Mad, Diego, Luigi e os outros ficaram espalhados nas diversas mesas em pontos estratégicos.
Então... pensando bem... eu ainda tinha levado uma vantagem, pelo menos estava na mesma mesa que ela.
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Mulheres Poderosas IV - Luna
RomanceEla tem um jeito doce e descontraído, está sempre com um sorriso no rosto, mas carrega marcas em seu coração. Luna viveu uma vida de aparência. Mostrava uma felicidade irreal aos seus irmãos enquanto era obrigada a conviver com monstros... O peso d...