Capítulo 26 - Irina

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_ Se importa se eu começar Donna? – pergunto, uma vez que estou de plantão no complexo e devo estar preparada para sair rapidamente, caso haja alguma emergência.

_ Claro que não, fique à vontade.

_ Histórias nunca são fáceis de serem lembradas, mas a cada vez que colocamos pra fora, melhor ficamos..., esses são sábios conselhos que recebo do meu atual crush e terapeuta. – Dou risada pois sei que a situação com Luna é tensa e nossas histórias não são tão diferentes da dela, mas assim como nós, ela precisa apreender a trabalhar a dor e as marcas. _ Deixe me ver por onde começo. "Minha mãe é americana, meu pai italiano e eu tenho dupla cidadania, então desde pequena transitava nesses dois mundos, entre as duas famílias. Desde que me conheço por gente meus pais apenas se suportam, morávamos em Nova York durante quase toda minha infância e parte da minha adolescência, mas passávamos temporadas em Roma. Meus pais tinham uma boa situação financeira, embora eu nunca tenha visto nenhum dos dois trabalhar. Eu era filha única. Uma vez ouvi meu pai dizer que estava ali porque tinha sido obrigado e que não via a hora da minha mãe morrer pra se ver livre dela. Essas discussões entre eles eram bem comuns enquanto crescia. Cada um vivia de um jeito, com seu estilo, mas para a sociedade, eram o casal perfeito e tinham a filha perfeita. No meu aniversário de quinze anos, ganhei uma bela festa de debutante. Não porque meus pais me amavam, mas porque eles tinham que mostrar ao mundo em que viviam que podiam pagar. Nessa festa, também ganhei um noivo. Um homem perto de seus quarenta e cinco, cinquenta anos que deu um dote bastante generoso aos meus pais, desde que claro, eles me conservassem pura. Ficou combinado que o casamento se daria um dia após meu aniversário de dezoito anos. Como era costume casamentos arranjados em nossa família, apenas aceitei meu destino. Eu nunca me interessei em saber muito sobre o meu noivo, mas me interessava por todos os garotos da minha idade, percebendo isso, meu pai me colocou num colégio interno, de onde eu só sairia no dia do meu casamento. Eu vivia sozinha e aterrorizada com a passagem do tempo, nem meus pais, nem meu noivo me visitavam e eu era vigiada vinte e quatro horas por dia. E me sentia extremamente solitária. No meu aniversário de dezoito anos, recebi a visita da minha mãe, ela me levou um pequeno bolo e disse que mais tarde me buscariam para fazer a última prova do vestido de noiva. Todas as provas do vestido, tinham sido feitas numa boutique super chique, duas ruas abaixo do internato onde estava. Não era longe, mas era um pouco de ar que eu respirava fora dos muros daquele lugar. Conforme minha mãe me disse, naquela tarde minha segurança pessoal e outros seguranças me levaram para a prova final do vestido. 

Era um vestido rendado estilo sereia lindo, eu me sentia maravilhosa nele, apesar de estar me casando a contragosto, não tinha me rebelado pois sabia que eram regras das famílias dos meus pais

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Era um vestido rendado estilo sereia lindo, eu me sentia maravilhosa nele, apesar de estar me casando a contragosto, não tinha me rebelado pois sabia que eram regras das famílias dos meus pais. Depois dos acertos, quando me preparava para tirar o vestido, a moça que tinha nos servido bebidas na loja, me chamou para dentro do vestuário, pra me ajudar a tirar o vestido. Não era a mesma cabine que eu costumava usar, mas como minha segurança estava absorta no sofá e não disse nada, não me importei e a segui. Dentro da cabine, uma espécie de porta se abriu e um homem encapuzado saiu de lá e antes que eu tivesse oportunidade de gritar, ele tapou minha boca e colocou clorofórmico no meu rosto. Quando acordei já estava num quarto com pouca iluminação, lá havia um mau cheiro horrível e algumas pessoas a minha volta que eu não conseguia identificar. Assim que perceberam que acordei meu calvário começou. Com um bisturi cortaram minha calcinha, subiram meu vestido até parte da minha barriga, como ele tinha um decote em V no meio dos seios, abriram ele de modo que os seios pulassem para fora. No começo eu gritava, chorava e tentavam lutar, mas eles me bateram bastante, depois me injetaram alguma coisa. Eu senti o primeiro homem, que hoje sei que era Romeu, ele disse que tinha que ensinar aos putos italianos como se pega uma virgem. O segundo um alemão de sobrenome Hoffman disse que era isso que os impuros mereciam. Depois acredito que o efeito da droga começou e eu meio que fiquei estática, vendo e sentindo tudo, mas sem reação. Quando os cinco vieram juntos pra cima de mim, parei de prestar atenção em quem estava ali e o que estavam fazendo. A única coisa clara depois disso era que eles diziam que não era para tirar ou estragar muito o vestido, afinal eu teria que chegar no horário para o casamento na igreja, no dia seguinte. Não sei dizer quanto tempo durou a violação do meu corpo, ou a tortura que vivi. Eu tinha cortes pelo corpo todo, meu rosto estava inchado e eu mal conseguia enxergar, tudo que sei é que quando eles terminaram já era madrugada. Me deixaram lá naquele quarto imundo jogada. Eu estava muito machucada, dolorida, havia sangue por todo o lado, meu vestido branco, estava vermelho. Tentei sair, mas não consegui, minhas mãos estavam algemadas na cabeceira da cama. Tempo depois, alguém encapuzado apareceu, aplicou alguma coisa em meu braço e apaguei novamente. Acordei rodeada de pessoas bem-vestidas e um burburinho sem fim ao meu lado. Ouvi alguém pedindo pra que as pessoas se afastassem e me deixassem respirar, alguém sugeriu que chamassem a polícia, outro que chamassem uma ambulância, mas meus pais e meu noivo não deixaram. Meu noivo disse aos meus pais que o acordo estava cancelado e que queria o dote dele de volta em uma semana. Meus pais que até então não tinham esboçado reação nenhuma, também viraram as costas pra mim, disseram a todos que o casamento estava cancelado e que a partir daquele momento sua filha havia morrido. Com a rejeição do meu noivo e dos meus pais, pouco a pouco as pessoas saíram... eu tentava me levantar do chão, mas não tinha forças. Quando achei que era meu fim, Fernan me segurou nos braços e me levou para seu carro, me deitou no colo de Helena e saiu dali. Adormeci no colo de uma jovem que acariciava meus cabelos e dizia que tudo ia ficar bem. Fernan e Helena viviam numa casa bem grande, mas nada comparada a essa casa de hoje, o complexo já existia, mas não era tão imenso quanto é hoje. Chamaram um médico e pouco a pouco fui me recuperando. Cinco meses depois do ocorrido, eu já tinha ganhado peso e me recuperado dos cortes e dos machucados físicos. Eu já conseguia ajudar Helena a cuidar de Francesco e Luigi e também conseguia cuidar de alguns afazeres da casa. Helena tinha acabado de descobrir que estava com dois meses de gravidez e ela estava radiante. Não me lembro exatamente o que fui fazer, mas me lembro que sentia dores e numa dessas dores perdi o equilíbrio, escorreguei e cai no chão. Quando me levantei estava a dor estava mais intensa e agora eu estava sangrando. Fernan não estava, Helena chamou o médico e ele me medicou, pediu que eu fizesse alguns exames e recomendou repouso. Depois de dois dias veio a notícia, que apesar do sangramento o bebê estava bem. Havia ocorrido um deslocamento parcial da placenta, mas se eu tomasse a medicação corretamente e fizesse o repouso certinho eu conseguiria levar a gestação adiante sem problemas. O médico que me atendeu nesse dia não era o mesmo que me atendeu cinco meses atrás, então ele nem tinha ideia da bomba que estava jogando sobre mim. Eu queria morrer e matar aquela coisa, que estava crescendo dentro de mim. Mas mais uma vez, Fernan e Helena me ajudaram, me disseram que era pra eu tentar ter a criança, que ela era tão vítima quanto eu e que se eu resolvesse que não a queria, eles cuidariam dela e eu poderia seguir em frente e cuidar das minhas coisas. Fernan me daria um valor que seria mais do que o suficiente pra eu recomeçar em qualquer lugar que eu escolhesse. Bailey nasceu prematura de oito meses. O nervoso que passei, a angústia e todo terror que vivi voltaram cada vez que sentia a criança se mexer. Minha barriga continuava pequena. Eu tinha ganhado peso depois que fiquei com os Basile, mas nada tão evidente que desse pra notar a gravidez. A pequena Bailey ficou dois meses na incubadora para ganhar peso e lutando por sua vida. Nos primeiros dias, me recusei a vê-la. As enfermeiras achavam que eu estava com depressão pós-parto e insistiam que a pequena sairia mais rápido se sentisse o calor da mãe, mas eu não conseguia. Helena ficava comigo todos os dias. Só saia a noite para cuidar dos meninos, mas sempre deixava alguém comigo. No quarto dia, de madrugada me levantei, estava recuperada e no dia seguinte teria alta. Minha ideia era sair dali e nunca mais voltar, então decidi ver com quem a pequena praga se parecia. Fui até o berçário, havia muitas crianças, mas a minha não estava. Uma das enfermeiras insistentes, me vendo, me pegou pela mão e me levou até uma outra sala meio isolada. La havia pequenas incubadoras, mas só uma continha um bebê. A minha bebê. Me aproximei e lembro que a primeira coisa que pensei foi: "Ela está tão solitária". E não sei como, nem porque coloquei minha mão dentro da incubadora e passei sobre a mãozinha dela. Ela agarrou minha mão e daquele dia em diante, nunca mais nos soltamos. Helena me ajudou a cuidar dela, até Pietra nascer. Fernan me deu uma casa provisória e pagava minhas contas. Pedi autorização a ele pra estudar e me formar em medicina, jurei fidelidade e trabalhar em prol da família e aqui estou. Nunca deixei de fazer nada, depois de muita terapia, consegui me relacionar bem com os homens e sou sexualmente ativa e bem resolvida nesse departamento, mas nunca senti vontade ou necessidade de ter um homem dentro da minha casa. Bailey sempre me completou. Mas isso não quer dizer que me fechei para o amor. Ele apenas não aconteceu pra mim. Segundo Helena, quanto mais inteligente você é, mais exigente se torna. E fim... Vamos ouvir Donna agora, que tal?"

Mulheres Poderosas IV - LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora