Olho para meu padrinho, que se encontra parado na minha frente. Ele segura e beija minhas mãos, que neste momento, estão geladas e suadas.
Pego o uísque que está em uma de suas mãos e tomo todo em um único gole.
Minha taça de vinho se encontra esquecida e pela metade na mesinha de centro.
_ Oi de novo. Eu sei que sou muito boa em falar com as pessoas, em público. Até mesmo em grupo, mas não com este grupo em particular. Muito menos quando sou o centro das atenções. Mas esse é um passo que preciso dar. É algo que preciso fazer. – Para e respiro tentando recuperar um pouco a compostura. _De antemão peço desculpas, pois todas as ordens que o padrinho acabou de proferir, foram pedidos meus. Não sei se vou conseguir contar tudo que preciso, mas vocês saberão muito mais de mim, hoje. E talvez entendam muito de meus atos transloucados.
Respiro fundo mais uma vez, enxugo o suor das mãos na calça, tomo um gole de bebida, olho um ponto na parede atrás deles e começo minha narrativa, a partir do momento que meus irmãos saíram de casa.
Começo contando a todos eles, como as coisas aconteceram gradativamente, pelo menos eu imagino que foi assim, essa é apenas a minha visão dos fatos.
Começo contando como descobri, da pior maneira possível, que eu tinha um pai pedófilo.
Conto da violência que meu pai praticava com crianças e adolescentes... meninos e meninas, sem distinção de sexo, cor ou posição social.
Conto como eu era premiada, bonificada. Como era paga pelo meu silêncio e como me odiava e me culpava todos os dias por isso. Como me sentia cumplice, impotente e covarde ao mesmo tempo.
Discorro a eles, pequenas lembranças... das empregadas, de seus filhos, da minha mãe alcoólatra e de sua conivência, com meu adorado pai pedófilo.
Digo a eles que eu ficava em silencio e chegava a pensar... as vezes que, eu tinha sorte, afinal eu era nova, era bonitinha e aquele monstro nunca tinha vindo para o meu lado.
Começo a descrever a eles, o momento em que minha sorte acabou.
A primeira vez que encontrei Ivan, depois Javier. Falo como fugi assustada do carro e fui me esconder no meu quarto. No fundo, digo a eles, que eu sabia que estava sendo marcada.
Descrevo a eles, em detalhes como foi que ganhei um carro, em troca da minha virgindade, no dia do meu aniversário.
Conto como meu próprio pai, dizendo que me faria, uma surpresa, ordenou que eu fizesse algo para ele.
Conto como ele me deixou sozinha, num quarto estranho, num lugar longe de tudo, onde eu não conhecia ninguém, pra que Javier me usasse, como ele quisesse.
Falo em detalhes, as longas horas de horror, que vivi nas mãos dele e depois de seus amigos, que somente algum tempo depois vim a descobrir, chamarem Matias e Juan.
Conto do tapa que ganhei da minha mãe, por contar a ela a verdade sobre o estupro, ainda na cama do hospital, toda machucada e dolorida.
Falo de como eu tinha sido proibida e chantageada a não dizer nada a polícia, nem aos meus irmãos.
Digo o quanto sofri querendo estar com meus irmãos e sendo proibida, conto da ligação que Ethan fez, quando eu ainda estava no hospital e meus pais disseram a eles que eu tinha contraído algo contagioso.
Detalho todas as outras vezes que Javier me procurou, me deixando bilhetinhos e todas as formas que eu tentava me esconder dele.
Paro para respirar e pela primeira vez desde que comecei a falar, olho nos rostos de meus irmãos. Ethan está com o rosto cheio de lágrimas e Lorenzo está tão vermelho que parece que vai explodir.
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Mulheres Poderosas IV - Luna
RomansaEla tem um jeito doce e descontraído, está sempre com um sorriso no rosto, mas carrega marcas em seu coração. Luna viveu uma vida de aparência. Mostrava uma felicidade irreal aos seus irmãos enquanto era obrigada a conviver com monstros... O peso d...