Enquanto Luna saía da sala improvisada no galpão com Dom Fernan, me perco em minhas próprias lembranças.
Eu sabia do estupro de Luna, soube logo depois que comecei a trabalhar pra Francesco na Argentina. Tinha um cara que eu contratava pra me ajudar com a segurança das cargas que recebíamos. Combinávamos de dividir o espólio que encontrássemos, desde que não mexêssemos na carga. Após um embate, ele roubou o morto e encontrou alguns pen drives, dinheiro de diversos países, uma bolsa cheia de armas, entre outras coisas. Alguns pen drives continham notas de organizações, outros filmes de mulheres, sendo violentadas. Por mais difícil de acreditar que seja, no primeiro filme que cliquei, vi a imagem da minha irmãzinha jogada numa cama e apavorada, enquanto um cara entrava no quarto carregando bebidas e cigarro e outros dois entravam atrás.
Eu ouvia os gritos, mas não queria acreditar que era minha irmã. Voltei o início do filme várias vezes, no momento que ela estava largada e toda ferida na cama, abri bem o zoom pra ter certeza que a voz e o rosto eram mesmo da minha irmã... nesse dia, desmoronei.
Foi a primeira vez, desde que estávamos nos três juntos, que bebi e chorei como se não houvesse amanhã. A cena da violência não saia da minha cabeça.
Pensei muitas vezes em contar para o Ethan ou confrontar Luna, mas do que iria adiantar. Se eu contasse ao meu irmão, ele iria enlouquecer com a mesma dor que eu estava sentindo, se eu confrontasse Luna, ela reviveria tudo novamente.
A única coisa que eu podia fazer era garantir que ela estaria segura e caçar aquele filho da puta pra que ele nunca mais tocasse em nenhuma outra mulher novamente.
Comecei a preparar um esconderijo pra ela e para o Ethan, ao mesmo tempo que caçava os homens do filme, por isso já tinha quase tudo encaminhado quando eles foram para o Canadá.
Por isso fiz muitas merdas em busca do seu algoz, até descobrir que era parente de Ivan. A raiva que tinha, por ele ter tirado meus pais de mim, que já era imensa, triplicou.
Eu sempre tive o desejo de vingança, nunca vi meus pais como Luna os via, pra mim eles eram ausentes e tentavam compensar nos comprando.
Mas nunca, nem em meus piores pesadelos, eu poderia imaginar que meus próprios pais, ajudaram aquele filho da puta, violentar minha irmãzinha.
Luna sempre foi cheia de vida, uma menina alegre, brincalhona, que falava pelos cotovelos. Ethan e eu percebemos que ela andava muito calada nas nossas últimas visitas, mas nas conversas que tínhamos com ela, entendemos que era pelas coisas que diziam que nossos pais faziam e que, querendo ou não, respingava nela.
Até então, nos nem sabíamos realmente que nosso pai era pedófilo. Sabíamos que ele tinha saído com uma menina de menor, mas a extensão da coisa toda, só descobrimos com o tempo. Luna soltava pequenas coisas e Ethan descobriu outras na internet.
Ainda assim, nada tão gigantesco, enquanto Luna descrevia em detalhes, as coisas pareciam crescer muito em detalhes proporção e estrago.
Pensávamos que nosso pai, depois de velho, tinha ficado burro, safado. Nunca imaginamos que isso fosso uma constante em sua vida e que ele assim como Ivan e o tal Javier, destruíram muitas vidas por onde passaram.
Como todas nossas tentativas de conversas com nossos pais eram frustradas, Ethan e eu nos preparávamos para mudar de casa e levar Luna para os Estados Unidos, já tínhamos até apartamento em vista, antes de tudo acontecer. Luna já era maior de dezoito, poderia decidir sozinha. Infelizmente para ela, esperamos demais.
Francesco veio ao meu lado e me puxou para um abraço. Chorei nos braços do meu amigo, porque sabia que não poderia fazer isso com minha irmã. Ele sabia o que estava acontecendo, ele também viu o pen drive, mas como sempre manteve seu apoio e sua descrição. Depois ele puxou Ethan e ficamos nós três, entrelaçados um ao outro, era bom demais ter um amigo.
Depois de um tempo, Ethan me questionou.
_ Você está com raiva, triste, mas não parece surpreso. Você sabia de tudo isso Lorenzo?
_ Sabia que ela tinha sido violentada. Encontrei um pen drive com uma gravação, num dos meus trabalhos na Argentina. Mas pensei que fosse um infortúnio e até fui atrás do cara, antes que as coisas virassem o bolo que virou. Nunca imaginei que nossos pais tivessem ciência e fossem coniventes com isso, que eles compactuaram com as horas e horas desse horror que ela viveu.
_ Por que não me contou? Acha que sou tão mole assim, que não iria fazer algo para defender nossa irmã?
_ Não contei por que eu já estava sujo, já vivia em meio a máfia. Você apesar de seus rolos estava protegido por uma tela de computador, se acontecesse algo comigo, você tomaria conta dela.
_ Por isso nossa mudança para o Canadá aconteceu tão rápido e tudo fluiu tão fácil.
_ Sim. Eu tinha preparado algumas rotas de fuga se alguma coisa acontecesse, mas o bunker da Donna veio a calhar pois o lugar não poderia ter sido mais perfeito.
_ Mas Luna disse que, quando Ivan pegou vocês, ele não parecia se importar muito, como se vocês não fossem alguém importante, como se ele não lembrasse.
_ Ele lembrava de nós sim, só não nos dava a importância devida porque, ele nunca iria nos associar a qualquer tipo de envolvimento com a máfia. Ivan sabia de nossos rolos e de nossas vidas. Sabia de nossos passos, nossos pais diziam tudo a eles, enquanto estavam vivos. Tecnicamente para eles, erámos filhinhos de papais, ricos, mimados, mas estávamos limpos. E para ele, a escolha de Luna, se justificava, porque ele sabia das coisas que ela teve que passar e sabia que ela não ia perder a chance de eliminar seu problema.
_ Agora compreendo as tendências suicidas dela. Mas, ainda não entendo por que ela não nos contou antes Lorenzo, porque só agora. E você, porque não me contou depois que viemos pra cá. Estamos na merda do mesmo barco.
_ Ethan... não era algo para Lorenzo te contar. Era algo para Luna contar. Se e quando ela se sentisse segura e a vontade. – Donna fala se aproximando mais de nós.
_ Então, eu era o único que não sabia?
_ Não. – Mia, Donna e Pietra respondem em uníssono.
_ Somente eu e Lorenzo sabíamos, Ethan. Lorenzo porque descobriu casualmente, eu porque passei um pente fino na vida dele, na vida de todos vocês.
Nesse momento, Dom Fernan e Luna entram novamente, nós nos arrumamos o melhor que conseguimos, enxugamos nossos rostos e nós voltamos aos nossos lugares para ver o que viria a seguir.
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Mulheres Poderosas IV - Luna
RomanceEla tem um jeito doce e descontraído, está sempre com um sorriso no rosto, mas carrega marcas em seu coração. Luna viveu uma vida de aparência. Mostrava uma felicidade irreal aos seus irmãos enquanto era obrigada a conviver com monstros... O peso d...