A minha história era longa e cansativa, mas Dom Fernan pediu pra contar os detalhes e era o que eu estava fazendo.
Ao ir ao banheiro, percebi que a tarde já tinha ido embora dando passagem para o anoitecer se aproximar.
Eu me sentia cansada.
Relembrar aquela história estava sendo exaustivo, tenso e dolorido, pois me fazia reviver cada momento novamente.
Mas eu também me sentia mais leve e mais em paz comigo, a cada parte dessa história que eu permitia sair de dentro de mim.
_ Vou tentar andar mais depressa para terminar a história antes do almoço de amanhã. – Brinquei e continuei.
_Depois de enrolar mais um tempo e fazer outras mil perguntas pra ver se eu entraria em contradição, finalmente Ivan, mandou me soltar. Consegui fazer com que ele deixasse o rapaz da equipe que ele tinha arrebentado de tanto bater, juntamente com outros dois homens dele, me acompanhar até o apartamento, onde eu fingia morar. Disse que, como o rapaz não era do meu time, nem do time dele, seria um ponto neutro entre nós. Se ele acreditou nisso ou não, não tenho a menor ideia. O fato é que o rapaz da equipe saiu no carro de trás e conseguiu matar um dos homens e "fugir". Mas só descobri isso na saída do apartamento, pois enquanto eu, ao sair do prédio onde estava, fui interceptada por outros três homens de Ivan.
Eles subiram comigo de volta ao apartamento e reviraram cada pedacinho da espelunca que era o lugar, em busca do diário completo, mas claro que não encontraram, porque nossa equipe ia plantando as páginas em locais pré-determinados, seguindo o plano que já tínhamos traçado antes e conforme as dicas que eu dava sutilmente, para Yanka ouvir ou ela me dava.
Com o apartamento destruído e o rapaz tendo escapado, fui gentilmente forçada a ficar na fazenda de Ivan. Lá, fiquei por três dias. Logo na primeira noite, vim a descobrir que era o mesmo lugar onde minha inocência havia sido perdida e inclusive, fui convidada a ficar no mesmo quarto no qual fui torturada, mas recusei preferindo a cela que havia no celeiro.
Ivan me pressionava para mais informações, uma vez que o carregamento ia demorar alguns dias, mas por outro lado, eu o pressionava por notícias dos meus irmãos, coisa que nem ele, nem ninguém conseguia, pois Ethan manteve nossos rastros sempre bem apagados.
No terceiro dia em que estava ali, percebi uma movimentação diferente na casa principal e vi o momento exato, em que Javier entrou sentado numa cadeira de rodas.
Não sei o que me deu, na hora meu único pensamento era... "vai lá e acaba com esse merda". Ele estava paraplégico (era o que eu pensava), eu tinha apenas afetado a porra da espinha dele, pelo que tinha escutado Ivan dizer. Talvez, ele só não pudesse andar mais. Minha primeira morte, nem tinha sido válida. Me senti frustrada, irritada, triste e com medo, muito medo.
Ele sentiu minha presença, acredito. Olhou exatamente para o lado em que eu estava, na minha direção. O olhar frio e o sorriso cínico, ainda eram o mesmo. Infelizmente e mais uma vez eu me vi uma garotinha, perdida e assustada, tentando me esconder do bicho papão.
Me controlando para não surtar, gritar e correr dali, fui até a cela que estava e juntei minhas coisas numa mochila. Eu tinha uma tornozeleira eletrônica no pé que Ivan tinha colocado pra monitorar meus passos a partir de nosso acordo, mas não seria isso que me seguraria ali, felizmente Ivan pressentiu e me encontrou no caminho.
_ Está de saída garota?
_ Deu para perceber? – respondi ironicamente.
_ Então... você não tem medo de mim, mas tem de um garoto que está numa cadeira de rodas? Que interessante. Achei que você fosse superior a essas coisas. Mais firme, mais forte sabe. Foi isso que deu a entender. Inclusive, Javier fez questão de vir pra cá, porque dessa vez ele quer te conquistar da maneira certa, ele diz que você é moça pra se casar. Pena que você não está pronta pra superar o passado, isso poderia render bons frutos a você e aos seus irmãos. Talvez eu pudesse usar o talento de ambos, talvez não precisassem mais fugir, teriam minha proteção, teriam sua casa, a maioria de seus bens de volta. Seria bastante proveitoso para todos os lados.
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Mulheres Poderosas IV - Luna
Roman d'amourEla tem um jeito doce e descontraído, está sempre com um sorriso no rosto, mas carrega marcas em seu coração. Luna viveu uma vida de aparência. Mostrava uma felicidade irreal aos seus irmãos enquanto era obrigada a conviver com monstros... O peso d...