Capítulo 62 - Luna

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Estou parecendo uma múmia enrolada, dentro do meu confortável sarcófago.

Estou total e completamente embrulhada.

Do jeito que foi possível, embrulhei totalmente meu corpo. Dei atenção especial ao meu peito, pescoço e minha cabeça, mas procurei manter as outras partes do meu corpo, bem protegidas também.

Deixei apenas um ouvido, um pouco menos coberto e meu nariz, pois senão não conseguiria respirar.

O resto do corpo estava, aparentemente, cem por cento coberto.

Me fazendo cia no meu sarcófago, está a cabeça de Javier.

Como ele mesmo disse, sairemos dessa, juntos. Vivos ou mortos. Parece que, finalmente, o último desejo dele estava sendo realizado e por mim, como ele queria.

Estou sendo irônica, eu sei.

Mas se a vida te dá limão, melhor mesmo é tomar uma caipirinha... então.

Enrolei bem a cabeça dele, em muitas toalhas, coloquei em uma sacola e depois amarrei em minha perna.

Não... eu realmente, não quero morrer com ele... no fundo, sinto que vai ficar tudo bem, de verdade.

Porém, eu quero ter a certeza de que quando eu acordar, ele vai continuar assim, mortinho... como deve ser.

Por isso, me fara companhia no sarcófago, até que tudo acabe.

As palavras de Helena, parecem um sino tocando na minha cabeça, um mantra que por incrível que pareça, me mantem serena e focada.

Ela disse há alguns dias atras, algo assim...

Lembre-se de sua família, lembre-se que não está sozinha.

Eu tenho por que lutar, eu tenho pra quem voltar..., eu tenho muito a realizar.

Eu não tenho medo..., penso apenas que pode doer ou posso quebrar alguma coisa, talvez fique inativa por um tempo.

Eu gosto da vida da máfia..., mas gosto mais da coisa da família, do quão importante eles são pra mim e como eles me fazem sentir bem, segura e amada.

É incrível pensar nisso justamente nesse momento, mas como não lembrar dos planos que Enrico e eu fizemos para a casa dele, que ele insiste em dizer que é nossa.

Como não pensar nos passeios e nos lugares que juramos conhecer juntos... ou nas posições que queremos praticar do Kama sutra.

Eu quero essa vida pra mim e pensar nela me deixa tranquila e feliz.

Já não sei quanto tempo falta, mas tenho consciência de que falta pouco.

Ethan me deixou em espera, deve estar pensando em mais alguma coisa mirabolante para me tirar daqui. Seja lá o que for, será quase impossível eu sair daqui agora, mas pra mim, está tudo bem.

_ Lu... – ele me chama e sua voz me causa um arrepio.

Mesmo que eu quisesse não consigo responder, pois enrolei minha linda boca no processo.

_ Lu... eu sei que não consegue falar, mas sei que pode ouvir. Trouxe pessoas aqui que também querem estar com você. Vamos todos passar por isso, juntos.

_ Oi maluquinha... se eu soubesse que você iria aprontar uma dessa, eu teria te trancado em casa hoje. Eu estou aqui, esperando você sair dessa merda e voltar para casa, pra nós. Mas não se preocupe, vou pensar em algo pra te castigar, como quando você era criança e aprontava.

Quando escuto a voz do Lorenzo, o arrepio sobe e fica trancado na garganta. Ele lembrar que me colocava pra pensar ou de castigo, era um marco. Meus irmãos fazia o papel de pai e mãe na minha infância. E eu amava ficar de castigo com ele ao lado, pra garantir que eu iria cumprir direitinho.

_ Luna. Quando você voltar vamos ter uma daquelas DRs, que sei que odeia. Depois vou te trancar em casa e você só sairá de lá casada comigo, entendeu. Eu estou muito, muito bravo com você Luna. Mas eu também estou muito, muito orgulhoso que você matou esse filho da puta e quando você voltar vamos comemorar, de várias maneiras. Esse vai se4r o meu castigo pra você. Eu te amo Lu.

Eu adoraria dizer a Enrico que eu o amava também..., e que estava cheia de planos, mas...

Eu queria dizer a todos eles o quanto eu os amava e o quanto eles eram especiais pra mim. E que eu não me importaria de forma alguma em ser punida por eles, pois sabiam o quanto me amavam e se preocupavam comigo.

_ Presta atenção minha menina. Eu não aceito perder filhos sem que eles lutem, então quero que lute por sua vida. Por mim, por Helena, por sua família, pelos seus irmãos e por seu amor. Em alguns minutos, vamos buscar você e quero que esteja viva e me esperando, ou não respondo por mim.

E, com a voz do meu padrinho, o nó na garganta se desfez e virou lagrimas.

Eu estava na pior situação possível e me sentia a mulher mais feliz do mundo.

Me sentia amada, querida e especial.

_ Lu... esse foi Dom Fernan, que nos deu uma bronca por tentarmos esconder a situação dele, mas enfim... só volta pra nós... nós te amamos muito e estamos te esperando pra...

Nesse momento, uma enorme explosão aconteceu.

(***)

Sinto o meu corpo se levantar, subir, rodar e cair.

Mesmo com todas as cobertas e proteção, sinto pedaços de pedras e madeiras caírem sobre mim.

Alguns cacos, sei lá do que, rasgam a pele do meu braço, do meu peito, do meu rosto.

Protejo minha cabeça com as mãos e tento ficar em posição fetal.

Tudo dói, dói muito.

Não tenho ideia de onde estou, de onde caí, mas sinto o calor do fogo próximo a mim e depois uma nova queda, meu corpo está no ar.

Sei que caio de uma altura considerável, sinto o sangue escorrendo em minha boca e sinto o impacto do meu corpo caindo no chão e de coisas caindo sobre mim.

Alguma coisa diminui o impacto de outras coisas que caem, mas algo muito grande e pesado cai. Sinto algo menor cair e bater na minha cabeça, por mais que eu tente lutar e ficar acordada, não consigo e a escuridão me abraça.

Mulheres Poderosas IV - LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora