Mulheres Poderosas IV - Luna

Capítulo 29 - Luna

Na minha primeira noite, depois de uma conversa tensa e tudo que eu conseguia pensar era na tal da masturbação, que não saía da minha cabeça.

Tentei por horas me tocar... ficava excitada, molhada, mas não o suficiente pra chegar aos finalmente.

Por fim, me irritei tomei banho e fui dormir frustrada.

No dia seguinte, já me levantei meio desanimada pela noite frustrada e mal dormida.

Já no café da manhã, procurei por Enrico, mas ele veio até mim rapidamente dizendo que estava atrasado e de saída, tomou um gole de café, beijou minha testa e se foi.

Até o momento em que pensei que ele estaria fazendo um trabalho por ali nas redondezas, verificando as coisas, como era de costume, estava tudo certo.

Mas, assim que descobri que ele havia ido para a Escócia e ouvi Helena dizer que talvez Trinity tivesse viajado com ele, surtei.

Sai da mesa num rompante, subi ao quarto e chorei sem parar.

Com certeza ele tinha desistido.

Qual outra razão pra ele resolver viajar com ela, assim que conversamos, assim que falei pra ele como me sentia.

Certeza que ele desistiu. Mesmo eu falando que não queria ele com ela.

Bom... já era esperado, afinal eu o deixei ir.

Eu dei a ele a opção de seguir em frente, eu disse a ele que não podia dar o que ele queria.

Ao contrário de Takeo que ficou ali ao meu lado tentando, Enrico era mais prático, menos delicado, mesmo assim até aquele momento nunca tinha saído do meu lado e agora ele simplesmente, tinha literalmente partido, com outra.

Helena já havia me alertado que nem todos estão a minha disposição, por mais que as pessoas me amem, elas devem se amar mais. Como eu deveria fazer, como escutei centenas de vezes na terapia, que eu persistia em ir, mesmo aos trancos e barrancos.

Meus padrinhos insistiram muito pra eu continuar com a terapia e ela vinha me fazendo enxergar muito sobre mim e sobre essa minha dependência de amor alheio e falta de amor-próprio, coisas que eu nem sequer sabia que tinha.

Eu tinha dito a Enrico que eu não poderia dar a ele o amor que ele precisava, agora pensando... será que eu não podia mesmo, eu nem tinha tentado, quer dizer... eu nem sabia como tentar, não sabia como deixar o medo de lado e me entregar, não sabia ainda como me amar e me aceitar.

Não sabia como me sentir inteira, completa. Nem pra ele, muito menos pra mim.

Será que eu tinha sido tola em deixá-lo ir ou ele tinha sido rápido demais em desistir de mim.

Infelizmente no mundo, milhares de mulheres são violentadas todos os dias. Sofrem violência física e psicológica.

São oprimidas, humilhadas, marcadas e mesmo com marcas, no corpo e na alma, muitas conseguem seguir em frente, porque eu não conseguia.

Eu tinha inveja dessas mulheres doloridas, sofridas, massacradas pela vida, pelas pessoas ruins que passaram por suas vidas, mas que sempre conseguiam enxergar o copo meio cheio, ao contrário de mim que nesse quesito, sempre o enxergava meio vazio.

(*****)

Algum tempo depois, de muito choro e lamentação da minha parte, Helena bateu na porta do quarto pra ver como eu estava e mesmo vendo meu estado lamentável, ela apenas deu de ombro e soltou.

_ Enquanto você fica aí chorando e tendo pena de si mesma, outra pessoa está lá, tentando conquistar o que é seu. Deveria estar trabalhando para mudar sua situação, sair de cima do muro e decidir o que quer para sua vida de um modo geral. Não ficar aí toda ranhenta, chorosa e descabelada. Assim como você Luna, outras tantas de nós vivemos momentos de verdadeiro horror, mas está em nós decidirmos se, isso vai nos parar ou vamos levantar a cabeça e seguir em frente fazendo o melhor para nós mesmas. Ao contrário de você, há muitas mulheres cativas ainda. Acha que estupro é só quando um estranho ou alguém vem e te pega a força. Quantas mulheres são violentadas todos os dias por seus maridos, namorados, amigos. Quantas mulheres apanham, dentro de seus lares, onde deveriam se sentir seguras. Quantas estão sofrendo nesse momento, totalmente dependentes, financeira e emocionalmente. Elas estão sem dinheiro, sem oportunidade ou sem coragem ou força necessária pra fazer o que precisa ser feito. Mas você saiu, você está livre fisicamente. Você tem a oportunidade de melhorar sua vida, você tem a oportunidade de ajudar outras mulheres, você tem a oportunidade de amar e ser amada. Outras mulheres não têm e talvez nunca terão. Eu sei que você viveu um trauma. Eu apostaria com você que no mundo, metade das mulheres já passaram por algum tipo de situação traumática. Mas permanecer nela, quando se tem a oportunidade de sair, poucas permaneceriam. Você ainda mantém suas correntes nas mãos de Javier. Está atada a ele e se não se esforçar mais, seu corpo será livre, mas sua mente será prisioneira eterna dele. A hora que parar de sentir pena de si mesma e quiser minha ajuda de verdade, me avise. Do contrário, continue aí sozinha, se lamuriando com as paredes e os lençóis.