Capítulo 21 - Luna

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Bom o que posso dizer..., foi diferente do que eu previ.

Apesar da angústia de reviver os momentos sofridos, foi meio que libertador.

A terapeuta da Survivor havia dito que quanto mais eu falasse sobre o assunto, mais leve ele se tornaria.

E isso, realmente era um fato.

A noite transcorreu tranquila.

Lorenzo e Francesco, juntamente com Pietra e Mia se preparavam para partir em sua lua de mel na manhã do dia seguinte.

Lorenzo parecia bastante dividido entre ir e ficar, mas conversamos e fiz ele entender que agora era um homem casado e que ali, eu sempre estaria sendo cuidada e paparicada.

Seria apenas uma semana que eles ficariam longe, até porque não era o momento de passar muito tempo distante.

O complexo estava fortalecido e a nossa máfia estava cada dia mais forte.

Claro que, ainda tínhamos resquícios de inimigos e queríamos evitar deixar quaisquer brechas.

Eu sabia que meu padrinho havia falado com meus irmãos. Eles ainda tinham uma dor no olhar quando me olhavam, mas eu sabia que por enquanto, não haveria perguntas.

Conhecendo Don Fernan, como agora eu o conhecia, talvez nunca houvesse as tais perguntas, mas de qualquer forma, em algum momento eu daria as tais respostas, mas não hoje, definitivamente não agora.

Como meu padrinho Don Fernan dizia, eu estava de férias e deveria aproveitar, pois minha próxima missão era eliminar Javier e trazer o espolio de Perez para casa, não importava a ordem que isso seria feito, faríamos.

É claro que eu iria atrás de Javier, disso nunca tive dúvidas...

Especialmente, depois de todas as minhas novas irmãs, afirmarem que iriam comigo e que ele seria exemplo pra muitos homens similares.

Eu estava ansiosa por esse dia, saber que não estaria sozinha com Javier e que elas seriam meu suporte me dava uma força que eu ainda não sabia que tinha.

_ Menina... você está bem?

_ Madrinha. Desculpe. Acho que dei uma viajada. Precisa de algo?

_ Não. Apenas me certificando que apesar do dia tenso, você está bem.

_ Estou sim. Estava aqui justamente pensando nisso. Quanto mais eu falo, mais leve me sinto. Estava tão tensa antes, parecia que o padrinho queria me forçar, mesmo eu sabendo que era preciso, mesmo a terapeuta falando... aquela sensação era horrível. Mas depois... nossa, tirei um peso dos ombros.

_ Fernan conversou muito com seus instrutores e psicólogos, antes de empurrar você nessa direção. Eles disseram que isso era preciso, então ele fez o que tinha que fazer. Nem sempre estamos preparados para algumas tomados de decisões, então precisamos que alguém nos impulsione rumo a elas.

_ Eu sei que o padrinho é sensato... e mesmo que ele não admita, sensível. Sou grata a vocês dois pelo apoio, pela disponibilidade de estar sempre ali por mim e pelo carinho incondicional que teve por mim e pelos meus irmãos.

_ Vocês são nossa família. E família nunca será uma obrigação. Amaremos e brigaremos com vocês, com a mesma intensidade e na mesma proporção.

_ Essa parte eu demorei, mas entendi madrinha.

Abracei Helena e ela me devolveu o abraço. O mesmo tipo de abraço materno e caloroso que tive de Carmem até por volta dos meus doze anos, depois dessa idade, só me lembro de Carmem me abraçado quando tínhamos que tirar fotos.

_ Desculpe atrapalhar senhora Basile, mas Don Fernan está a sua procura.

_ Sabe que odeio que me chame de senhora Basile, não sabe Enrico. Troquei suas fraldas e limpei sua bunda, mas odeio esse negócio de senhora.

_ Desculpe... Helena, madrinha.

_ Dessa vez passa, cuide de levar nossa menina para seus aposentos, amanhã eles partem cedo e quero todos juntos na mesa para o café da manhã.

Enrico apenas balançou a cabeça, enquanto Helena beijava a nós dois no rosto e saía.

Depois de alguns minutos de silencio constrangedor, resolvi quebrar o silêncio.

_ Sabe que não precisa me fazer companhia, não sabe.

_ Sim, eu sei. Mas eu quero, só não sei o que dizer.

_ Não sou um bibelô, não se preocupe, não vou quebrar. Ainda posso dar um tiro na sua outra perna, se me irritar muito.

_ Eu já não tinha dúvidas antes, agora com sua formação. Sei que você foi a melhor da sua turma na Survivor, mas recusou a posição, não entendi o porquê da recusa.

_ Fisicamente sim, eu estava muito bem-preparada. Mas com relação aos outros aspectos, os doze que sobraram foram bem melhores que eu, não seria justo roubar o título deles porque fui apadrinhada.

_ A maioria de lá são indicações dos Basile, todos tecnicamente são apadrinhados e usamos os que mais se destacam. E não há como negar que dessa turma, você, Yanka e Trinity as três únicas mulheres se destacaram mais do que qualquer homem.

_ E isso parece não te incomodar.

_ Não me incomoda, por que deveria? Eu confesso que quando era só Pietra, achava que se tratava mais de um capricho de uma menina rebelde. Com Donna, Mia e agora você, aprendi a respeitar e valorizar a mulher nesse campo, nesse espaço que antes era somente dos homens. Tenho que reconhecer que vocês são mais centradas, organizadas, objetivas, criteriosas, tem armas que apesar de serem sexistas, nós homens nunca teremos. Sem contar que o jeitinho frágil de vocês, engana demais.

_ Trinity com seus 1,75cm e aquele corpão todo, não parece nada frágil. Talvez a Yanka.

_ Donna parece uma colegial, Yanka tem aquele olhar de quem precisa de atenção, Trinity faz um estilo mulher fatal e você... bem, você vai depender do dia.

_ Então você repara bem nas pessoas no geral ou somente em mulheres, mas precisamente algumas delas.

_ Você sabe que faz parte do meu trabalho, olhar o todo. Mas sim, uma ou outra pessoa, sempre se destaca.

Fiquei em silêncio.

Enrico e eu ... era complicado.

Eventualmente nos pegávamos e na hora do vamos ver, eu meio que fugia. Mas agora com ele olhando Yanka e Trinity mais de perto eu meio que, me sentia mal e com raiva.

Eu sabia que não podia enrolá-lo pra sempre, mas não queria que acontecesse com ele o mesmo que havia acontecido com Takeo.

Não queria que virássemos irmãos, que ele me deixasse de lado porque eu não estava pronta para o próximo passo. Também não queria transar com ele sem sentir nada, ou pior sentindo nojo. Não queria nada disso com relação a ele.

_ Está tudo bem? Você ficou muda, de repente.

Suspirei fundo. Afinal o que eu deveria dizer... olha eu não quero transar com você, mas também não quero que você faça sexo com mais ninguém. Afinal eu estou me tratando e talvez nessa vida, talvez na próxima, minha cabeça melhore e eu consiga ir pra cama de alguém, de preferência para a sua, sem dramas.

Pensei mil outras coisas pra dizer, mas no fim, disse a única plausível para o momento.

_ Só cansada, acho.

_ Vem, vamos. Vou te acompanhar.

Mulheres Poderosas IV - LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora