Minha menina Donna, bateu e entrou no quarto onde Luna e eu estávamos.
Eu que agora estava encostada na cabeceira da cama, com Luna deitada no meio, apontei para Donna o outro canto, onde ela agora se acomodava.
_ Donna... chamei você aqui porque o assunto é um tanto quanto delicado e eu queria saber se, você se importa em falar um pouco mais sobre você, sobre as coisas que aconteceram no seu passado... vai ser um tipo de expurgo entre nós, primeiro será bom pra aliviar, depois espero elucidar Luna com nossa experiência. O que me diz?
_ Meu passado...uhhhmmm... não sei se tenho coisas interessantes pra falar sobree isso, mas por mim...tudo bem... o que querem saber exatamente?
_ A Luna, como você deve saber, está tendo problemas em se relacionar com o sexo oposto. Mas para que não haja constrangimentos e para que não fique parecendo que eu estou forçando algo a você ou a ela, vou começar por mim, então se você se sentir à vontade, você segue daí. Tudo bem.
_ Sem problemas Helena.
_ Eu tinha treze anos quando perdi minha virgindade. – Começo_ Perder é um modo bastante gentil de abordar essa questão. Meu pai leiloou minha virgindade num bordel e quem pagou mais, a levou. Tive que ficar com um velho, babão e terrivelmente maldoso, por um mês inteiro. Em momento algum, ele pensou em mim. Nunca passou por sua cabeça que eu era apenas uma menina inexperiente, sem maldade, sem malicia, sem conhecimento de mundo, de relacionamento ou de sexo. Em momento algum ele pensou em não me machucar, em momento algum ele se preocupou com meu prazer. Ele me ganhou por um mês. Não foi um dia ou uma noite e graças a Deus não foi um ano. Foi um mês e nesse mês eu fui a amante, a babá, a escrava. Trabalhava pra ele, tanto da casa, como na cama. Ele me fazia pegar seus dejetos, ele sentia prazer defecando em mim e depois me obrigava a limpá-lo. Quando ele não estava em cima de mim com seu pau nojento, estava atras de mim com um desses cintos grossos, me obrigando a fazer suas coisas. Foi o mês mais longo da minha vida. – Suspiro lembrando um momento que nunca quis reviver, mas que era necessário. _Depois voltei para a casa de meu pai. Por um tempo, graças a minha virgindade, tivemos comida e bebida à vontade. Nossa mesa estava farta. Eu era a mais nova, de uma família de cinco irmãos, sendo estes quatro, homens e extremamente machistas. E todos eles me trataram como se eu fosse um lixo. Tirando a parte do sexo, passei a ser tratada pela minha família, como era tratada pelo homem que me comprou no bordel, para me usar naquele mês. Dois meses depois, mamãe descobriu que eu estava gravida. Assim que ela soube, correu pra contar para o meu pai. Ele, achando que ia ganhar alguma coisa com o bebê, juntou todos nós e foi chantagear o velho homem, que não pensou duas vezes, matou meu pai com um tiro na nossa frente e deixou claro que, ou meus irmãos se livravam de mim e do bebê, ou eles seriam os próximos. Lembro que, eles nem me deixaram chegar em casa, me levaram para um beco escuro e enquanto minha mãe vigiava pra ver se ninguém aparecia, os quatro me bateram e me chutaram, até que eu estivesse desfalecida no chão. Provavelmente quando eles pensaram que eu estava morta, foram embora.
Uma garota de programa indo para seu trabalho, passava ali me viu e chamou socorro. Depois de dias em coma, acordei e claro que, com a infinidade de chutes, perdi o bebê. Foi me perguntado se eu tinha parente, se eu sabia onde morava. Menti. Fingi que não sabia quem era, que não conhecia ninguém e que não tinha nem pra onde ir. A prostituta, que depois se apresentou como Hélida (seu nome verdadeiro), foi me ver todos os dias que passei no hospital, ela também mentiu aos médicos e disse que apesar de não lembrar, eu era sua irmã. Depois quando tive alta, ela me levou para sua casa e me manteve sobre seus cuidados. Eu contei minha história verdadeira para ela, disse meu nome verdadeiro "Celeste". Contei a elas quem era meus pais e irmãos. Contei sobre o leilão e quem foi o homem que me torturou, contei tudo. Ela disse que me chamaria de Helena, homenagem a sua irmã mais nova, que havia morrido a alguns meses atrás e que tinha a mesma idade que a minha. Me deu os documentos da sua irmã, as roupas dela e assim foi por alguns meses, enquanto eu me recuperava. Com o tempo, foi ficando difícil para Hélida sustentar nós duas. Ela nunca reclamava, mas eu sabia que era pesado. Tentei arrumar serviços de faxina, em lojinhas, mas ninguém empregava a irmã da prostituta. Então optei por tentar trabalhar no mesmo lugar que ela, conversei com a responsável pelo estabelecimento e fiquei responsável pela limpeza dos quartos, banheiros e ajudar na cozinha. Ficamos assim por cinco anos. Toda vez que alguém se oferecia para pagar por mim, Hélida e Regina negavam. Ambas conheciam minha história e me protegiam como podiam. Hélida tinha um amante fixo. Ele dava a ela certas regalias, desde que ela estivesse sempre disponível para ele. E ela estava. Disponível, apaixonada e tinha acabado de descobrir que estava grávida. Estava se preparando pra contar pra ele, afinal ele tinha passado a frequentar nossa casa e isso deveria ser um sinal de que ele queria algo mais sério com ela. Numa dessas visitas, sem Hélida estar em casa, ele tentou me violentar. Ela chegou bem na hora e sem pensar duas vezes, esfaqueou ele inteiro. Depois ficamos apavoradas, pois ele era um homem da máfia, filho de um capo dos Basile. Chamamos Regina e ela resolveu chamar seu amigo que era consigliere dos Basile. Ela explicou a ele, nosso caso e ele nos colocou sobre sua proteção, avisando que a ordem final deveria vir de Dom Fernan, que apesar de ainda estar vivendo um luto pois sua esposa havia morrido no parto um ano atrás, não deixava seus trabalhos de lado. O capo queria retaliação pela vida de seu filho, Fernan sabia que a honra da máfia se lavava com sangue e naquela época, ele não tinha a força que tem agora. Então conversou com Hélida sozinho e propôs a ela um acordo, ele cuidaria de sua irmã e de seu filho, mas ela teria que sair dali assim que a criança nascesse, ela concordou. Fomos morar numa casa dentro do complexo. Hélida e eu ajudávamos na casa principal e ajudávamos Fernan com seu bebê recém-nascido Francesco.
Quando Luigi nasceu, Fernan deu uma grande quantia de dinheiro pra ela, a colocou num avião particular e a levou para o Brasil. Nunca mais tivemos notícias suas, não sei se ela está viva ou morta, Luigi depois de certa idade, entendeu a situação e parou de procurá-la. O que sei é que a sede de sangue não foi satisfeita e passaram a tentar contra a minha vida e a do pequeno Luigi. Fernan "perdeu" seu capo numa guerra entre mafiosos e apesar de manter seus familiares bem amparados, sempre soube que não poderia confiar em nenhum deles e nos manteve sempre distante, nos recolhendo dentro de sua casa, debaixo de suas asas, tanto eu como Luigi. Com o tempo nos afeiçoamos, o amor foi crescendo, a cumplicidade também e dois anos depois de morarmos debaixo do mesmo teto nos casamos. Eu tive minha primeira relação com ele depois de um mês de casados. Oito anos após meu estupro e embora eu estivesse tensa, foi maravilhoso. Fernan conhecia minha história, conversou muito comigo, me falou o que esperava de mim e perguntou o que eu esperava dele, ele foi atencioso e paciente. Logo em seguida, eu engravidei de Pietra, foi uma gravidez difícil por causa da surra e do primeiro aborto sofrido. Sofri novamente quando precisei tirar meu útero, não podendo mais ter filhos, me senti mutilada, mas Fernan dizia que tínhamos três e que podíamos adotar outros se quisessemos. Quando os meninos tinham dez e onze anos, o pai de Enrico morreu e ele veio morar com a gente. Na sequência veio Mad e Diego. Ou seja, as crianças foram chegando e chegam até hoje e mesmo não saindo do meu ventre, são todos meus filhos.
_ Que história. Não sabia que Luigi era seu filho também, claro que eu sempre vi o carinho que você o trata, mas você trata todos nós assim.
Nesse momento, ouço leves batidas na porta do quarto e Irina coloca sua cabeça pra dentro.
_ Irina que bom que pode se juntar a nós, entre minha amiga. Se acomode aqui pertinho de nós. Continuando... de todos os meus garotos mafiosos, Luigi é o que mais teve trabalho em se misturar. Ele tinha muito problemas em matar, problemas com sangue, problemas em bater em alguém. Era absolutamente contra a violência. Até o dia que ele encontrou o pai biológico dele. Eles são muito parecidos e nós nunca escondemos de nenhum deles, nenhuma parte das suas histórias. Quando o pai dele tentou matá-lo, para se vingar, ele não pensou duas vezes e atirou. Depois, pediu a Fernan para morar sozinho, longe daqui. Ele dizia que não era justo eu ter que olhar todos os dias para a cara do homem que tentou me estuprar e que abandonou sua mãe. Foi difícil fazê-lo entender que eu agora, tinha maturidade pra separar as coisas. Até a Dara aparecer em sua vida, Luigi era feito de raiva, ira e sangue. Enrolou essa menina por anos, mas assim que ela engravidou pediu a Fernan autorização e se casou. Do jeito dele, eu sei que ele a ama e a respeita muito. Sempre que tem problemas com ela, procura a mim ou a Fernan para orientação, Dara faz a mesma coisa. Diego, foi o único que não tivemos que empurrar para o altar. Mad fez o que achou correto quando Ieda apareceu gravida, mas o amor de sua vida sempre foi Bailey. Cresceram juntos e todo mundo dizia que se casariam um dia, felizmente a vida dá voltas. Enfim... essa é minha história, misturada com a dos meus filhos. Se vocês se sentirem à vontade, gostaria que Irina e Donna, nos contasse um pouco de suas histórias.
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Mulheres Poderosas IV - Luna
RomanceEla tem um jeito doce e descontraído, está sempre com um sorriso no rosto, mas carrega marcas em seu coração. Luna viveu uma vida de aparência. Mostrava uma felicidade irreal aos seus irmãos enquanto era obrigada a conviver com monstros... O peso d...