Capítulo 66 - Enrico

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Estávamos no avião a caminho do complexo.

Luna dormia o sono dos anjos.

Seus olhos ainda estavam bastante inchados, sua pele muito roxa em diversos lugares e os cortes bem evidentes.

Ainda assim, ela continuava linda.

Parte da sua perna e pé direito estavam engessados, o outro lado por mais incrível que pareça só sofreu escoriações.

Ela ainda usava o colar cervical, segundo Bailey, até que chegasse ao complexo, depois tomando todos os cuidados, ela ficaria nova de novo.

Encontrar Luna nos escombros, depois vê-la no primeiro dia na UTI toda entubada e vê-la agora, me dava um alívio sem fim.

Agora, saber que ela carregava um pacotinho nosso dentro dela, era uma alegria que eu não conseguia mensurar.

Sim... eu fiz papel de idiota desmaiando, mas em minha defesa, eu estou comendo e dormindo mal a dias... e entre ela acordar e saber do bebê... não tem como não surtar um pouquinho.

Foi momentâneo e mais ninguém precisa saber disso, mas com certeza Bailey contará pra Mad, que contará pra Francesco, que contará para os outros e eu vou ser muito zoado, mas quer saber, nem ligo. Estou feliz demais pra me importar com qualquer coisa.

Ela dorme segurando minhas mãos.

É inconsciente, mas sei que ela gosta de sentir que estamos a seu lado.

Eu não entendia essa necessidade, até conhecê-la.

O avião aterrissa na pista do complexo. Próximo a ela, uma caravana nos espera. Conversei com Bailey e Irina, Luna poderá ficar na nossa casa se recuperando. Com a autorização de Francesco, mandei preparar o escritório/quarto de forma que ficasse confortável e funcional para recebê-la.

Essa é uma forma que encontrei de tê-la ao meu lado e controlar o nível de estresse que sei, farão ela passar com as cobranças e os porquês.

A três dias atras eu também tinha muitos porquês e muitas cobranças... agora a única coisa que sinto é gratidão.

Gratidão por ela estar viva e porque ela conseguiu matar aquele filho da puta e manter nosso bebê vivo, confortável e quentinho.

Francesco mandou preparar a cabeça de Javier e empalhar para que ela durasse mais. Antes de pendurá-la em nossos portões, ele trará para Luna ver, caso ela queira.

Parece um ato mórbido, mas para nós da máfia é um ato de vitória.

Pendurar o inimigo como um troféu para que os outros vejam e saibam que esse é o fim de quem atravessa nosso caminho.

Enquanto nos movemos da pista até em casa, permaneço ao lado de Luna, mas sei que em breve terei que sair para que ela tenha um momento com seus irmãos.

Bailey me falou da possibilidade de ela querer tirar a criança. Só de pensar nisso, morro um pouco por dentro.

Eu sei que o corpo é dela e eu a amo muito e a respeito demais.

Muito mais que achei ser possível amar alguém, mas se ela tirar nosso filho... não sei se serei capaz de continuar ao seu lado, convivendo com tamanha dor, mesmo a amando tanto.

Enquanto arrumamos Luna na cama, penso nas milhares de possibilidades de convencê-la a ficar com a criança.

Por fim, decido que se ela não quiser criar, tentarei convencê-la a deixar a criança nascer e eu mesmo a crio, ainda que sozinho.

Não é algo que eu queira fazer sozinho, mas farei o que for preciso para que, meu filho ou filha, tenha uma chance.

Mesmo que eu tenha que deixar o complexo e ir para outra ramificação da família, mesmo que eu a ame e queira muito viver esse amor.

Não consigo explicar em palavras, mas o que sinto por esse bebê que ainda nem nasceu, é algo maior e mais forte do que qualquer amor que já senti na vida.

Seja por Luna, pelos meus pais, por meus padrinhos... nada se compara ao que estou sentindo, apenas com a certeza de que minha semente está naquela barriguinha plaina.

Bailey me tira dos meus pensamentos e passa a me dar instruções técnicas de como devo proceder com cada coisa e eu decido focar no que tenho de concreto, hoje.

Até que eu converse com Luna, e saiba como ela quer fazer isso, todas as outras suposições são irrelevantes.

Me foco nas idas ao banheiro, banhos, trocas, medicamentos. Os cuidados com o sentar e com o levantar.

Bailey me mostra a maneira de usar a cadeira de rodas, que usaremos nos primeiros dias pra não forçar a perna e a coluna e todas as outras pequenas coisas que ela insiste que preciso saber para ser um bom cuidador.

_ Rico, não acha melhor um dos enfermeiros ficar aqui com vocês para ajudar?

_ Achei que já tivéssemos resolvido isso B. Deixa eu tentar pelo menos, se você entender que eu não dou conta, arrumamos alguém. Eu tenho curso de primeiros socorros, de cuidador e ia me esquecendo... auxiliar de enfermagem. Acho que sei algumas coisinhas.

_ Eu sei. Desculpa. É que você está tão acabado e desgrenhado que fico com medo de você dormir, ela acordar precisar de ajuda e dar merda.

_ Não mexe com meu ego... não estou tão mal assim. – Digo passando a mão pelo cabelo e me cheirando. Realmente preciso de um banho e um tapa no visual. _ Quanto tempo ainda ela vai ficar apagada? – Pergunto.

_ O efeito do remédio costuma durar de cinco a seis horas, já usamos quatro. Estou calculando pelo menos mais uma hora e meia.

_ Tempo suficiente pra eu tomar um banho e melhorar a aparência. Sei que está cansada, mas poderia ficar mais um pouco por aqui.

_ Desculpa, mas Mad precisa de mim, com nosso pequeno. Prometi que não demoraria, faz três dias que só nos falamos por telefone e eles estão me esperando para o jantar. Mas posso mandar um enfermeiro, até que você se arrume ou um dos nossos.

_ Não. Não quero um enfermeiro homem aqui, sei como eles a olham e aquela menina que te ajuda, em breve será esquartejada se continuar olhando os maridos alheio. Os outros estão jantando... bem ... vou dar um jeito.

_ Okay. Se mudar de ideia me liga.

Bailey termina de separar a medicação e sai.

Fecho a porta atrás dela.

Sigo para o quarto, ajeito mais uma vez Luna na cama e vou para o banheiro.

Deixo a porta aberta, pois apesar de não ter uma boa visão do quarto, posso ouvi-la melhor. Tiro minha roupa e me olho no espelho. A visão é assustadora.

Meus olhos estão fundos, a boca rachada, minha barba esquisita, toda desinforme e enorme. Meu cabelo cresceu desproporcionalmente, isso porque só se passaram três dias.

Não tem nada que eu possa fazer pelo cabelo, mas encontro um aparelho e começo a limpar a barba do rosto. Num momento de distração, penso ter ouvido Luna gemendo no quarto e corro até ela.

Alarme falso, ela se encontra da mesma forma que a deixei, linda e plena, dormindo.

Infelizmente minha barba não. Com o susto, cortei além do que era pra cortar e o defeito é claro. Sem outra opção e com pressa, tiro totalmente a barba e o bigode, deixando meu rosto liso.

Tem muito tempo que não fico assim. A barba sempre me deu uma aparência mais adulta e mais séria. Necessária em nosso meio.

Mas nesse momento, pra mim nada importa.

Entro rapidamente no chuveiro e me lavo bem, tirando todo o cheiro do hospital do meu corpo. Acabo de me secar e saio com a toalha enrolada no corpo, dando de cara com uma Luna maliciosa e sorridente que me olha de cima abaixo com olhos deliciosamente gulosos.

Precisa ser muito forte para resistir.

Mulheres Poderosas IV - LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora