Incerto

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Dias depois.

Aymê narrando- as sessões de rádio foram iniciadas, o samurai ainda tá respirando com ajuda do balão de oxigênio, e pra onde vai ,precisa levar junto, ele tá ajudando o LK a manter o morro em ordem e quando precisa negociar com algum fornecedor ele vai na boca.

Estou indo para a faculdade todos os dias, o samurai não me deixa faltar, e a mãe dele fica com os gêmeos e sempre tem alguém aqui para ajudar, a Rafaela, a Isa e o babá fiel do marola.

Não sei o que pode acontecer amanhã, ou daqui a duas horas, más qualquer segundo pode ser o último e não quero que seja lembrado como algo terrível.

O samurai parece bem sabe? o cabelo cresceu, ele voltou a ganhar peso, apesar de ter que andar pra cima e pra baixo com o kit de oxigênio, ele parece melhor.

Falei com a minha mãe o Jeff tá bem, segundo ela está arrependido do que fez, sinto saudades do meu irmão e sinto muito por tudo o que aconteceu na vida dele, espero que ele tenha se arrependido de verdade e volte a ser o Jeff que era antes.

O processo para reclamar os bens que o Daniel deixou esta correndo na justiça, a mãe dele me chamou de aproveitadora, de ladra e tudo a baixo disso, pensei em desistir do dinheiro, más no fundo o Daniel não ia querer que eu desistisse, eu já tenho ideia do que fazer com o dinheiro se eu ganhar, e tenho certeza que o Daniel vai ficar feliz por isso.

Não sei bem se ainda quero ter meu nome associado a grandes desfiles, o último só me trouxe tristeza, e um nome dito no meio de um monte de gente fútil não quer dizer muito, eu prefiro quando o meu nome sai da boca do homem que eu amo.

Meus gêmeos estão cada dia mais espertos, cada um no seu tempo, cada um com as suas características, eles são iguais fisicamente, más são totalmente diferentes de personalidade, o Davi é calmo, só chora em último caso, a Eloa é escandalosa e consegue sempre o que quer, colo.

Hoje a cólica veio com tudo para me maltratar, não fui para a faculdade, a dona Dulce também não pôde vir, pra completar a Eloá hoje não dá tregua, escolheu um ótimo dia pra chorar sem parar.

O samurai saiu com o LK, e só tem eu mesmo, acho que vou enlouquecer antes dos 30, com dor e balançando a Eloá.

Aymê- meu amorzinho dá uma trégua, você não tem motivos para chorar assim.

Ela para, me olha e chora de novo. O Davi começa também, o que é a orquestra sinfônica perto desses dois chorando junto.

O samurai entr! no quarto e me pega chorando.

Samurai- quer ajuda preta?

Aymê- eu não consigo, tô ficando maluca.

Samurai- tem que ter uma babá.

Aymê- eu me rendo eu preciso de uma babá.

Samurai- tem alguém em mente?

Aymê- a Naty?

Samurai- vou mandar o neném desenrolar isso aí.

Ele pega a Eloá no colo, ela cala no colo dele, ela tem sua preferência. Eu pego o Davi que tava chorando porque a fralda tá cheia.

Samurai- amanhã é a última sessão de rádio preta.

Aymê- é sim, é se deu tudo certo até aqui, vai continuar dando.

Samurai nararando- amanhã é o último dia de radioterapia, não foi fácil chegar até aqui, só eu sei o que eu passei, quantas vezes senti o cheiro da morte, quantas vezes acordei botando fé que ia dar tudo certo, más fui interrompido pela falta de ar.

TuranoOnde histórias criam vida. Descubra agora