Capítulo sem título 49

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Rafaela narrando- tem alguma coisa errada com as minhas pernas, elas não me obedecem, eu toco nelas e não sinto nada. Dormi achando que fosse o efeito da anestesia, más já amanheceu e minhas pernas estão do mesmo jeito, olho para o lado,vejo a minha mãe deitada na poltrona dormindo, chamo ela.

Rafaela- mãe, mãe!

Ela acorda.

Dulce- oi filha, tá sentindo alguma coisa?

Rafaela- minhas pernas mãe, não sinto as minhas pernas, tem alguma coisa errada comigo.

ela segura a minha mão.

Dulce- calma filha, vamos esperar o médico passar.

Rafaela- mãe não me esconde nada não, o que tá acontecendo?

Dulce- vou na enfermaria ver se o medico já ta vindo.

Ela sai com uma expressão diferente, parece triste, olho para as minhas pernas, tento forçar elas a reagirem, fixo o pensamento, más não funciona. Minha mãe volta depois de um tempo, com o rosto vermelho, olhos vermelhos, e com dois médicos atrás dela.

Medico- Bom dia Rafaela, como passou a noite.

Eu não preciso ouvir para saber o que está acontecendo.

Rafaela- Bom dia doutor, um dia elas vão voltar a me obedecer ?

Dulce- não fala assim filha.

Medico- sinto muito Rafaela, a bala lesionou a sua medula e danificou as vertebras, seus membros inferiores estão paralisados.

Isso eu já sei, estão paralisados e só me resta saber ,se tem uma chance de voltar a sentir minhas pernas outra vez.

Rafaela- é para sempre? vou voltar a andar um dia?

Médico- infelizmente é irreversível.

Sinto o mundo desabar sobre mim, o chão se abre e eu me vejo caindo dentro dele, sem poder esperar sair de lá um dia, a paralisia podia ter parado o meu coração também, para que eu não pudesse sentir o que estou sentindo agora.

Dulce- filha! você vai ficar bem, eu vou cuidar de você.

Rafaela- eu sei mãe, eu sei que você vai tá sempre comigo.

Só tenho ela do meu lado, a única que restou, e talvez tenha ficado por ser mãe mesmo, vou dar trabalho, ela vai ter que cuidar de mim, porquê eu mesma não vou mais ser capaz de fazer isso.

Olho pela janela, e vejo o céu azul lá fora, fecho os olhos e penso em Deus, eu aceito a vontade dele, mesmo que agora doa tanto, eu sei que não é castigo dele, falo baixinho pra ninguém ouvir.

Rafaela- me desculpa eu não vou mais poder ficar de joelhos para orar.

Dulce- não fica assim meu amor, vamos passar por isso juntas.

Rafaela- eu te amo mãe!

Tento forçar um sorriso, más não sai nem forçado. Peço para a minha mãe não contar para ninguém, é melhor assim, eu sei que todo mundo vai saber, más agora não! Passo o dia chorando, que planos eu posso fazer ,com só metade de mim vivendo? de tanto chorar eu durmo, abri os olhos e vejo o neném sentado me olhando, fecho os olhos e sunto as lágrimas voltarem a aquecer meu rosto.

Ele chega perto de mim, me olha, e eu sinto que agora  eu perdi tudo mesmo, quando vejo os olhos dele vermelhos, eu achei que ele já sabia e que o olhar de pena, que eu tanto tô com medo de sentir sobre mim, vai ser dele o primeiro.

TuranoOnde histórias criam vida. Descubra agora