Angel

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Meses depois.

Aymê narrando- foi uma felicidade só descobrir que os gêmeos são um casal, eu amo sentir eles mexendo e como mexem, eu tô tão feliz que as vezes nem parece que é real.

Não tentei mais desenhar com a mão esquerda, não tenho mais o Daniel para me ajudar , meu sonho ainda tá adormecido em mim, estou muito feliz não tenho do que reclamar, más eu sonhei muito em ser uma grande estilista, fecho os olhos e ainda consigo imaginar meu nome sendo anunciado como uma marca importante.

Também não posso passar a vida vivendo do dinheiro do Samurai, tenho que fazer alguma coisa, preciso ser útil de alguma forma, me sentir viva, dar orgulho para os meus filhos, como alguém que conseguiu ser o que queria, e lutou pra isso, não quero ter que contar pra eles que eu ia ser uma estilista, quero dizer que eu sou uma!

Abri o armário de roupas, segurei o envelope que o Daniel me deu antes de morrer, dizendo que eu deveria abrir quando estivesse pronta, fecho os olhos e consigo lembrar do olhar dele, do sorriso, ele iria ficar feliz por eu estar grávida, e me incentivaria , com certeza me daria mais dois motivos para seguir em frente, e esses dois motivos são os mais importantes que eu tenho agora. Guardo o envelope, ainda não quero abrir, sinto que ainda não é o momento certo.

Pego algumas folhas de papel, lápis, tinta, abro o notebook, tento desenhar roupas de bebês com a mão esquerda, más estão ficando horríveis, desalinhadas, tento por várias vezes, e não sai nada bom, tem muitas folhas amassadas jogadas pelo quarto, no peito uma angustia, uma vontade de chorar, olho para a mão direita.

Aymê- volta a mexer, como vou segurar meus filhos sem você funcionar? como vou desenhar para realizar meu sonho? 

Tento mexer os dedos más eles não se movimentam, são como se não fossem meus, estão mortos. Deito na cama cansada de tanto tentar, cansada de achar que eu consigo, o desfile que o Samurai fez junto com a comunidade foi lindo, más aquelas roupas eu já tinha desenhado com a mão direita.

Lágrimas escorrem pelo meu rosto, os gêmeos mexem e chutam com força, eu coloco a mão na barriga e eles mexem mais forte, tento imaginar os rostinhos deles, e imagino uma roupa para cada um deles, imagino eles vestidos com elas.

Sento na cama, enxugoas lágrimas e volto a desenhar, passo horas para conseguir desenhar as roupas que eu imaginei, más consegui, por eles eu consegui. O Samurai entra no quarto, eu tava terminando de pintar e finalizar as roupas no computador.

Samurai- que tanto de papel jogado é esse vida?

Virei o computador pra ele e mostrei o desenho.

Aymê- eu consegui amor, consegui desenhar a saída de maternidade dos gêmeos. 

Ele me olha com carinho, me dá um selinho.

Samurai- você é foda preta! tem o dom.

Aymê- eu fiz sozinha com a mão esquerda.

Samurai- caralho vida, não é porquê eu te amo não tá, é porquê tá muito foda, meus pivete tem sorte, já pensou que dá hora eles chegar nos lugar todo trajado e todo mundo telar os pano deles, e perguntar comprou aonde? e eles falar, minha mãe que desenhou pô dessa aqui só eu que tenho,exclusividade , tá porra os pivete vai tirar onda demais pô.

Eu ri.

Aymê- que bom que você gostou.

Samurai- sou teu fã preta e vem mais dois fã ai pra formar o fã clube.

Aymê- eu te amo!

Ele me beija e parou no meio do beijo.

Samurai- quero uma beca pra mim também, exclusividade do homem, pano de maloqueiro.

TuranoOnde histórias criam vida. Descubra agora