Capítulo 33 - Aquilo que é mais importante para você

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As naves Bearthorn e Shalom foram completamente destruídas pelo esmagador poder do Tesserato Esmeralda. Um das mais poderosas frotas do Império de Thiel foi perdida, logo todo o acontecido no Vale dos Reis correu por todo o Continente de Pangeia, por todo o Império de Thiel e suas colônias, grande parte disso se deve ao marquês Dário e sua equipe de subordinados. Seu verdadeiro motivo (por mais que ocultos e nebulosos para Thiel) é juntar e unir as várias forças contra-imperial espalhados por toda Pangeia, unidos sob uma única resistência unificada. Até então, Dário não tinha conhecimento dos ocorridos com os prisioneiros e a princesa Zafira, chegou a supor que tenha retornado para Capital Império numa perigosa e ousada manobra, por tanto, se conteve em manter sua localização de seu paradeiro e do Tesserato Esmeralda em segredo. Se o que ele realmente acha for verdade, sobre o retorno dela e Capital Império, ele seria prejudicado e exposto caso anunciasse sua morte, assim, abalando toda a resistências e frustrando futuras alianças que ainda queria fechar. E de um jeito ou de outro mesmo com o acontecido, ele acreditava que ela não fosse ingênua a ponto de declarar independência de Thiel, aumentando ainda mais a ira do Império. É sempre bom manter fresco na memória e no corpo: Por mais que Thiel tivesse perdido duas máquinas  de guerra de alto investimento, ela sempre manteve-se como uma potência militar de alto nível em Evânia, e seu poderio era tão vasto quanto suas terras.
Três dias se passaram desde da destruição da Frota Imperial do Marechal Urie, essas setenta e duas horas pareciam intermináveis perto do sufoco que eles passaram na luta para manter princesa Zafira viva. Ela havia perdido muito sangue após seu antebraço cair, por sorte Spike estancou o ferimento firme e logo após embarcarem na Bichano, Wiz havia usado algumas ervas medicinais para conter o sangramento. Claro que não era definitivo mas funcionava bem para os primeiros socorros. A mistura consistia em folhas de raspa de mandrágoras e um mix de ervas montanhesas vermelhas e azuis, o braço dela permaneceu em criogenia graças as técnicas mágicas da maga da tripulação. Desde o ocorrido, Zafira não consegue passar mais do que alguns minutos acordadas e passa a maior parte do tempo dormindo. Spike mesmo ferido e perto de perder seu braço direito, não saiu do lado dela um só segundo, dormindo até mesmo na cadeira ao lado de sua cama, Folgo costurou seu corte ali mesmo naquele quarto improvisado.
Eles ficaram escondidos entre as cordilheiras de Aenn por todo esse tempo, a milhares de quilômetros da Capital Império, ocultos sob a neblina, eles tiveram um tempo a sós para repensar sobre suas ações. Mikka, Filo, Flora e Sagitta cuidavam dos ferimentos da princesa, quando ela acordou meio atordoada, ela estava em um dos seus típicos devaneios cotidianos. Sua boca estava seca e Spike a ajudou tomar um copo d’água. Ela recobrou a consciência quando justamente Gerlon conversava com Folgo e Seal num canto da sala; seu braço atingido pelo necrosador havia se tornado mais escuro e ele agora usava bandagens sobre o braço para esconder o ferimento, ele já tinha se convencido que iria perder seu braço.
-Então foi o Tesserato Esmeralda que derrubou a frota imperial? –perguntou Seal.
-Agora entende com o que estamos lidando – retrucou o gatuno.
-Um poder destrutivo muito poderoso... eu acho que já vi isso antes – Disse Spike enquanto tentava encontrar uma posição confortável na cadeira –O mesmo aconteceu a cinco anos, no reino de Cela, pátria do senhor Hercules. Lembro que na época, durante a invasão, uma divisão do império entrou na cidade... e então, uma poderosa explosão. Amigos e inimigos morreram da mesma forma. O que estava lá... seria uma relíquia deixada por Gaiseric?
-Quando decidimos roubar o castelo da princesa, não sabíamos qual era o tesouro, mas depois descobrimos que se tratava do Tesserato Safira, mas o que fazia lá?
-O Tesserato Safira pertencia a nação de Hércules, a Cela. Logo após o nosso casamento, como uma forma de confiança entre os reinos, a relíquia foi deixada sob nossa guarda –respondeu Zafira, ainda um pouco desnorteada.
Gerlon assobiou, quem poderia imaginar; a princesa continuou:
-Essa guerra ridícula, a armadilha na assinatura do tratado de paz... tudo porque Leore queria poder. Ele não pode ser autorizado a pegar o Evaniarite, vocês entendem? Thiel jamais deverá pôr as mãos nelas.
-Bem, eles já fazem – retrucou Gerlon – O tesserato Safira e o Tesserato Rubi também. Além disso, eles não podem fabricar mais evaniarites agora, não é?
-Então muito bem, o caminho está na nossa frente, está tão claro quanto a luz do meio-dia. Vamos usar o Tesserato Esmeralda para combate-los! Fogo contra fogo! –ela parou um pouco e pensou, sua voz falhou e seus olhos vacilaram – Henry não esquece da bondade nem mesmo depois de sua queda. Com a espada em mãos, ela auxilia seus aliados e de quem a ela recorrer. Essa Evaniarite que temos em nossa posse deve ser a minha espada. Vou vingar todos aqueles que já morreram. E faremos o império conhecer o significado de remorso.
Todos se entreolharam, novamente sentiram uma aura assassina, mesmo que fraca, emanando dela. Todos a olharam com pena, ninguém queria dar a noticia de sua perda e aparentemente ela ainda não se tocara.
-Princesa... –a voz de Spike falhou, ela notou a tristeza vinda dele e por um momento ela sentiu uma pontada no coração:
Ela olhou para baixo e não pareceu surpresa ao ver que lhe faltava um braço. Ela estava aliviada agora que não sentia mais uma vontade intensa de matar e destruir, de alguma forma Arles a incentivava a destruição, mesmo ela tentando se convencer que suas intenções são apenas para proteger os descendentes de Gaiseric, a quem “prometeu lealdade” eras atrás. Mas uma outra parte sua ela não conseguia compreender: ela queria se livrar da sede de destruição, mas se livrou, mas ao ver que lhe faltava uma parte de si, ela sentiu uma pontada de tristeza, pesar; alguns ali já previram episódios de choro e outros a compreendem se ela decidir por se isolar. Spike temia que uma possível perda de apetite a afetasse gravemente e até dificuldade para dormir, a batalha que enfrentava agora é um novo desafio. Ela já vira antes consequências de guerra nos guerreiros que lutavam por seu reino, quando criança era capaz de ainda sentir repulsa e tristeza para com eles, mas agora ela era, era sua vez por lutar e conseguir cicatrizes de guerra.
Sua maior tristeza era o fato de sua mão perdida for a da aliança de casamento, símbolo da paixão e união dela com Hércules, única memória que ele deixara pra ela antes de partir. Ela sentiu os olhares de pesar, queria desistir, mas seu objetivo era maior; não poderia desistir, caso fizesse o Império havia conseguido um de seus poucos obstáculos (tratados como pequeno). Tudo o que ela e Dário construíram não poderia ser desfeito, ela sabia do poder que sua imagem passava para os focos de resistência por todos os pequenos reinos conquistados e destruídos por Thiel mas na verdade, sua imagem de força e liderança já havia alcançado muito mais além do que achava que era capaz.
-Não podemos parar – disse ela – não vamos fazer com que tudo isso foi em vão.
-Princesa...
-Eu acho que a princesa perdeu muito sangue – interferiu Gerlon – você não entendeu que acabou? Já era, entenda isso! Dário tinha razão quando falou que você era muito imatura para esta guerra. Você não está pronta para assumir o front de batalha, muito menos o reino de Henry. Assim que você melhorar, levarei você de volta a Arrokoth e então nossa parceira acabou.
Todos na sala arregalaram os olhos. Spike e Zafira mantiveram suas feições neutras.
-Capitão? – perguntou Seal.
-Eu estou cansado de tudo isso! – continuou o ladrão – nós quase morremos várias vezes, eu não vou colocar a vida da tripulação e a minha por causa de um reino que nem sequer nos paga. Eu duvidava de você no inicio, mas me deixei levar, essa parceria está encerrada.
-É tudo por dinheiro? Então, diga-me pirata, quanto é o seu preço? Já que você faz tanta questão de ser pago, eu estou cansado de ouvir você falar de recompensas, então diga-me, qual é o seu preço? – indagou Zafira.
-Vamos nos acalmar, pessoal – interviu Flora – Zafira, ele não quis dizer nada disso.
Há, mas eu quis sim! – respondeu Gerlon – não se faça de idiota, Flora, você também está cansada de tudo isso, nossas buscas, nossas forças, são todas infrutíferas! Eu achei que este reino poderia ser salvo, mas vejo que não, não enquanto trabalharmos com uma criança que só busca vingança.
-Você ainda não me disse seu preço. –Voltou a perguntar a princesa.
Gerlon se zangou, suas pupilas se tornaram selvagens e os pelos de sua cauda se arrepiaram.
-Que diferença fará para você? Eu não sou um dos pobres coitados que se subordinam a seu reino. Você só quer vingança e nada mais, eu já vi isso antes, e quando menos perceber estará sozinha porque destruiu todos ao seu redor. Pelo amor, eu não acredito que me deixei levar pela história de contos de fadas de Gaiseric.
-Você não tem moral para falar isso! Você não sabe como eu sofro com o meu povo sobre a opressão de Thil! Se você acha que não está bom aqui para você, desista! E volte para casa!
-Porque eu não tenho mais casa para voltar! Por isso tentei salvar a sua casa! E daquele pulguento e da garota!
Por um momento a sala ficou vázia e em silêncio, Gerlon se arrependeu profundamente de ter dito em voz alta. O ar frio das montanhas entrava pela escotilha da cabine e esfriava, no porão, o motor alimentado por evanium roncava a todos vapor. Flora terminava de trocar as faixas do ombros de Spike, que fazia caras e bocas a cada vez que mexiam no corte, graças as técnicas médicas de Flora, os ferimentos deles não foi pior, claro que Wiz ajudava com magias de cura mais rapidamente, mas a certas feridas que somente o corpo pode curar.
-Todos nós aqui não temos para onde voltar – disse enfim Flora – o fato de nós ainda continuarmos com você, acho que foi o fato do Tesserato nos unir, e do ódio em comum que a maioria aqui tem por Thiel. Decidimos ajudar não por ouro, mas pelo fato de já termos vistos tantos outros reinos sucumbirem, achamos que poderíamos fazer diferente. Por anos, sofremos com pesadelos sobre essa guerra, tanto quanto poderíamos ter feito mas não fizemos. Somos piratas mas não somos pessoas ruins, temos coração, isso não nos impede de fazermos a diferença. Muitos aqui são órfãos da guerra, mas precisamos que você veja as opções e leve em consideração suas escolhas, é saber tirar vantagem dessas situações de crise, ainda seguimos você porque confiamos que possa vencer, estamos todos no mesmo lado.
Por um momento, Zafira percebeu que não se tratava apenas dela, durante todos esse tempo, ela encarava isso como ela contra um império, e, além de Dário, os outros aliados que chegavam e iam eram apenas ferramentas. Ela se dizia tanto entender seu povo e lutar por eles mas não reconhecia seus sacrifícios,  como se cada um fosse um pequeno tijolo para sua escalada. Ao perceber isso, finalmente acordou para perceber que nem todos ali eram guerreiros, tinha crianças também que ela tanto julga ser o futuro do reino. Há muito que Dário vinha tentando ensina-la que nem toda luta se vencia com força, era preciso entender suas peças e sua dinâmica e assim então, vencer, mas por muito tempo também ela ignorou seus conselhos, mas não significava que ela não havia aprendido, apenas julgava que eram métodos velhos, mas seus pensamentos eram de um jovem que apenas ansiava por guerra. Os outros faziam sacrifícios, mas e quanto a ela? Estava disposta a pagar o preço?
Eles tinham ali uma importante ferramenta que já se provou ser mais do que necessária para abalar as forças do império invasor (ou até destruí-lo) basta apenas agora descobrir como usa-la. Nesse instante Beat entrou carregando uma pequena caixa de madeira e foi em direção a Gerlon quando no meio do caminho deu meia volta por ordem do mesmo. Ele deixou a caixa na beira da cama e abriu: O Tesserato Esmeralda agora estava opaco, sem brilho e sem vida, seus feixes de luz verde agora não existiam mais, estava fria e mórbida.
-O que aconteceu com ela? – Quis saber Mikka, satisfeita por mudar de assunto.
-Eu não sei, acho que ela perdeu totalmente as energias, quando a pegamos ela estava quente, mas ainda emanava leituras mágicas, mas hoje cedo ela simplesmente desligou.
-Com ela desse jeito, não podemos usa-la, é praticamente inútil – comentou Gerlon, com desdém.
-Lembro que há algumas pedras energizadas no deserto de Madrash, poucos quilômetros do portão sul da Capital Império.
-Eu sei do que você está falando, e digo que isso não vai funcionar. Elas alimentam bem outras Evaniarites, mas com Tesserato é diferente, ele requer uma magia mais pura. Temos que descobrir um jeito de faze-la funcionar novamente – alertou Flora, guardando os kits de medicina.
-Vamos supor que a gente consiga traze-la de volta, você sabe como usa-la? –indagou Beat.
Zafira ofegou, boa pergunta: ela SABIA usar aquilo? Ela pensou por alguns segundos até que conseguiu pensar de forma clara. Flora interveio.
-Talvez os Jahara saibam de alguma coisa. –Todos a encararam com olhares curioso, mas ela continuou – Os Jaharas viveram no velhos caminhos da magia. Sabedoria sobre Brana, Evaniarites são uma parte essencial de sua cultura. Dizem que eles podem ouvi-las, o grito do poder das Evaniarites. Sussurros de ameaças e destruição, catástrofes das pedras.  
-Talvez seja isso que precisamos. Perigoso, ameaçador, que seja, nós precisamos desse poder. Acha justo declarar Pangeia livre sem esses meios para defender nossa reivindicação? Thiel e outras nações nos esmagariam. Você precisa me levar até os Jahara.
Flora cerrou os olhos, a encarou por alguns momentos. Ela tinha em mente que ela não se daria por vencida facilmente, seu corpo poderia não estar recuperado mas sua mente não deu sinais de insensatez.
-Eles vivem no limiar entre o fim de Madrash e as planícies abertas a nordeste de Élnides.
Gerlon bufou, ele amarra mais firme a faixa em seu braço.  Zafira o encarou.
- Diga seu preço, e eu o pagarei. Admito que você é útil nesta guerra, não por seu transporte pois não sou interesseira, mas por seu conhecimento. Reconheço que tenho que ouvir mais você, então diga logo o seu maldito preço.
A cauda de Gerlon agitou-se maliciosamente.
-Direta ao ponto, eu gosto disso. Confesso que estou interessado até onde você está interessada em sacrificar. O meu preço dessa vez é aquilo que é mais importante para você. Do que você jamais abriria mão?
-De quanto ouro precisa?
-Princesa, você não faz parte desse tipo de gente. Não me parece que você é tão ligada assim ao dinheiro quanto pareça ser, não seja fútil a este ponto. O que eu quero é um tesouro real, que pode ter qualquer preço para as pessoas desta sala, mas que para você vale o mundo.
-Porque você quer?
-Já falei: quero ver até onde você vai para salvar seu reino, se ainda estou aqui, é porque mudei de ideia, me faça,  por favor, valer a pena continuar acreditando que ainda vale a pena. Não por mim, por eles.
-Não há mais nada que você queira?
-Ninguém está lhe obrigando a nada.
Zafira não queria acreditar naquela situação, mas a certos desafios que exigem sacrifícios, mas logo aquele TESOURO? Aquele TESOURO que ela mais amava, aquele a quem ela mais se apegava e lhe reconfortava em momentos difíceis. Aparentemente ela não estava em condições de exigir nada ou negociar outros valores. Por uma fração de segundo ela avistou o espectro de Hércules sentado ao pé da cama assentindo com a cabeça para ela. Apesar daquilo ter lhe entristecido, era o que provavelmente ele queria.
-Onde... onde vocês deixaram o meu... br... braço?
Todos se entreolharam, como se fosse uma pergunta meio... estranha. E realmente foi muito estranha, Beat saiu e voltou alguns minutos depois trazendo um baú gelado. A aura quente emanava sensações de violência, mas reduzidos graças a um selo especial feito por Wiz para conter o poder de Arles. Beat abriu e tirou um pacote de dentro, este estava morno e adornado em runas mágicas que brilhavam como brasas recém-acessas. Zafira virou os olhos, os outros a imitaram, menos Spike, Gerlon e Folgo. Seu braço ainda estava ferido mas a maiorias das pústulas haviam desaparecido, o símbolo de Arles ardia na pele fracamente e devido a maneira como foi armazenado, seus tecidos ainda estavam frescos. Gerlon retirou a aliança do braço da princesa: um pequeno anel encrostados de cristais brancos e azuis e brilhavam timidamente. Ele a tomou para si e guardou em seu bolso.
-Eu vou devolver para você assim que eu encontrar algo mais valioso.
Beat guardou de volta e selou novamente o baú.
-Certo, vamos ver os Jahara, vou programar a rota para chegarmos lá ao amanhecer – disse Seal deixando os aposentos. Folgo, Sagitta e Filo o seguiram. Zafira voltou a repousar na cama, seus dentes rangiam de raiva com a troca, mas Gerlon não pareceu se importar com isso. Beat guardou o baú na cabeceira próxima a cama, aos cuidados de Spike e se retirou também. Ao sair para o corredor, Mikka se aproximou do gatuno.
-O que quer dizer com “algo mais valioso”? Ela entregou o maior bem dela.
-Dificil dizer, não é? Eu vou saber quando eu encontra-lo. E o que é que você quer, minha jovem? O que você e Sirius estão procurando?
-Nós? Bem... Acho que eu... o Sirius... –Gerlon deu um sorriso de leve e subiu as escadas.
No deque as nuvens brancas e geladas dançavam entre os mastros, o céu estava parcialmente nublado e o vento estava favorável, o que fez com que grandes criaturas aladas voassem, cortando os ares. Eles voavam a altura das grandes montanhas da cordilheira, terrenos irregulares abaixo deles eram coberto por vegetações densas e hóstis. Arbustos espinhos e verdejantes balançavam junto as árvores  verdes com o bater do vento, criaturas exiladas corriam buscando se esconder deles. As cavernas também compõem a paisagem, com suas enormes bocas que mais pareciam grandes bocas de gigantes feras engolindo as nuvens, se espalhavam pelas montanhas. Aquele lugar transmitia uma sensação de solidão e apatia em Sirius e Mikka. Ela foi de encontro ao amigo que estava no parapeito, seu olhar não escondiam um cansaço e dúvida.
-Como ela está? –Perguntou.
-Bem até a medida do possível. Gerlon quase que desiste de salvar Henry, e eu sinceramente estou com medo.
-O que aconteceu?
-Bem, ele está cansado. Todos nós estamos. As vezes eu tenho a sensação de que ela não olha ao redor, e sinceramente não quero mais fazer parte disso, se vale a pena fazer parte de algo que a minha vida, nossa vida não vale a pena.
Ele permaneceu calado por alguns instante. Mikka continuou:
-Eles se acertaram lá embaixo, acho que Gerlon a fez abrir os olhos para o que ele diz ser maturidade por parte dela.
-Eu não sei se concordo com Gerlon ou com Zafira, sei lá... é difícil dizer. Não temos para onde ir e nem sabemos o que fazer.
-Bom, fale por você – disse Gerlon ao se aproximar dos dois, atrás dele, Flora o acompanhava – precisamos de respostas sobre o item que quase nos matou.
-Qual o próximo passo? – Perguntou Sirius.
-Vamos ver os Jahara, talvez eles nos deem uma sugestão dos nossos próximos passos.
-E quem são esses?
-Os Jahara são mais vistos perto da fronteira do Império de Élnides, nas pradarias localizadas no hemisfério  sudoeste e sul de Pangeia, próximos até os limites de onde começam o deserto de Madrash – explicou Flora – então é isso, vamos precisar ir, mas precisando atravessar os campos cinzentos.
-Fiquei sabendo que chove bastante ultimamente, dizem que os barrancos estão inundados com o diluvio que corre por lá – Gerlon cruzou os braços – Mas essas mesmas águas também podem estabelecer novas rotas abertas para nós. Independente disso, temos que ir para o sul de qualquer jeito, não é?
Eles acenaram positivamente com a cabeça, o pirata continuou:
-Devo encontrar uma coisas primeiro. Eu sei que ela está ansiosa para chegar lá, mas quero fazer tudo correto dessa vez, conferir tudo e ver se estamos preparados antes mesmo de sair. Estamos chegando nas portas de um Império que até o momento não se mostrou hostil a nossas ações, e quero que as coisas continuem assim.
-Mas, levando em conta de tudo que ela defende e acredita, ela parece já ter feito a decisão dela desde de quando essa guerra se iniciou, a cinco anos. Se ela acha que pode superar qualquer dificuldade, mesmo se encontrando naquele estado, não sou eu quem a impedirá – respondeu Flora.
A cauda de Gerlon balançou.
-Ninguém sobrevive de determinação, muito menos sozinho.
Eles encararam as escadas de onde vieram.  Eles se separaram e cada um seguiu para seus quartos. Gerlon subiu até a cabine do timoneiro e encontrou Helmer e Seal projetando as rotas. Eles haviam encontrado bons caminhos e correntes de ar atmosféricos favoráveis (até então) para se navegar. Os campos cinzentos são uma vasta estepe semelhante a uma vasta savana que se estende por uma grande área no hemisfério sul do continente, cujos arredores variam drasticamente entre seca e chuva. Grandes cristais energizados (brilhantes) e mortos (escuros) estão espalhados por toda savana. Durante a seca, eles absorvem a energia solar e brilham com um brilho áurico, e aldeias de pastores nômades está localizado no meio das pastagens, mantendo uma certa relação amigável com os nômades do deserto de Madrash. Durante essas chuvas que acontecem numa época especifica do ano, os aldeões se mudam para as montanhas e, enquanto nas pastagens os homens retornam com seus rebanhos, enquanto as mulheres e as crianças cuidam da aldeia. Assim como seus primos, eles dominam a arte de capturar a energia dos cristais e utilizar a bel prazer, ou até mesmo dar vida a cristais mortos, que muita das vezes são usados como moedas de trocas com os habitantes da capital nômade de Madrash.
-Após a destruição da frota imperial, eu não sei quais são as intenções de Thiel, então eu não quero chamar atenção – disse o pirata, analisando o mapa junto aos outros.
-Pensei nisso também – comentou Helmer, sua voz soava como se estivesse com preguiça – mas não acho que eles se arriscariam tanto chegando perto das fronteiras do império inimigo. Com o domínio de Henry, Cela e outros reinos aqui no hemisfério norte do continente, o máximo que eles se arriscariam seria apenas sobrevoar as regiões do deserto.
-Podemos esperar rondas de aeronaves e esquadrões de caça por todo o continente, enquanto voarmos longe das regiões tomadas, não teremos problemas – completou Seal.
-Me preocupa é o império de Élnides, de inimigos já basta Thiel, não quero que eles tenham mais um motivo para iniciar uma campanha de guerra em busca de recursos mais ao norte das terras deles. Thiel expande ainda mais suas fronteiras e é questão de tempo Élnides revidar, vamos ser sorrateiros, vamos falar com os Jaharas, buscar o que precisamos e cair fora.
Seal pegou um comunicador e avisou a Donpa e Recon para alimentarem o motor, pois partiriam em breve, Gerlon saiu da cabine e se dirigiu para seu quarto. Seu braço doía bastante, a faixa ajudava a diminuir a dor de forma apertada, seu braço tremia ali dentro, ele já não podia mais controlar. Ele apagou as luzes de seu quarto e se deitou, temendo que, quando acorda-se (se acordasse) seu braço ainda estivesse preso em seu corpo, ele sentia que o ferimento lhe causava um ferimento físico, mas também feria e drenava sua alma e suas forças. Ele fechou os olhos no momento que a Bichano decolava entre as cordilheiras. Assim como ele todos os outros tinham anseio por respostas. O momento era delicado, feridos e com sentimento de derrotas, apesar do grande feito, não valeu a pena pagar.

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