Capítulo 52 - A passagem de Helx

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A vegetação daquela região subterrânea não se limitava àqueles cogumelos. Mais adiante, erguiam-se em grupos um grande número de outras árvores de folhagem descolorida. Eram fáceis de reconhecer: não passavam de humildes arbustos da superfície em dimensões fenomenais, vegetação pré-histórica como licopódios de cem metros de altura, sigilariáceas gigantes, fetos arborecentes, altos como os pinheiros de grandes latitudes, lepidodendeáceas com ramos cilíndricos bifurcados, arrematadas por filhas longas e eriçadas, de pêlos ásperos, como monstruosas plantas de folhas espessas e carnudas.

-Magnifico! - Sirius só conseguia dizer isso o tempo todo.

-Flora disse que esse era o tipo de vegetação, na aurora de Evânia, numa época de transição -disse Zafira, igualmente maravilhada.

Atrás deles, Gerlon se aproximou.

-Plantas antediluvianas. Os helxianos sabiam escolher bem a vegetação que iria compôr seus jardins e suas florestas naquela época. Uma floresta que sobreviveu ao cataclisma que varreu este reino do mapa.

-Talvez tenha plantas raras por aqui. Plantas que na superfície não exista mais. -disse Zafira.

-Como certeza. Veja essa poeira que pisamos, as ossadas espalhadas pelo chão.

-Ossadas! Exclamou Sirius - são de animais altadevaneios?

-Antediluvianos? -Corrigiu Gerlon.

Precipitaram para aqueles restos milenares feitos de uma substância mineral indestrutível. Gerlon dominou sem hesitar aqueles ossos gigantescos que mais pareciam troncos de árvores ressecados.

-Olhe esse maxilar inferior, parece ser de um mastodonte - disse Gerlon com um olhar atento - os molares do dinotério, um fêmur que só pode ter pertencido ao maior de todas essas feras.

-Isso está parecendo um museu de peças raras, com as ossadas, com certeza, não vieram parar aqui por causa do cataclisma que assolou este lugar. -Disse Zafira - será que os animais aos quais percebem essas ossadas, viveram às margens deste mar subterrâneo? Tipo, a sombra destas plantas arborecentes…

-As sombras? -indagou Sirius - mais escuro do que já está?

Zafira o ignorou e continuou.

-Estranho…

-O que é estranho?

-Não entendo a presença de bestas quadrúpedes nessa caverna. Por quê?

-Talvez seja das montarias do povo que habitavam por aqui?

-Talvez seja possível explicar isso geologicamente. Provavelmente ocorreram desmoronamentos do solo, sendo que uma parte dos terrenos sedimentares foi arrastada para o fundo do abismo que se abriram durante o cataclisma. -Disse Gerlon

-Deve ser isso mesmo. Mas, se essas regiões subterrâneas foram habitadas por animais antediluvianos, quem nos garante que um desses monstros não está vagando ainda por aí por estas florestas escuras ou atrás destas rochas escapadas? -Disse Zafira, encarando o horizonte, ela sentiu um arrepio subindo sua espinha.

Seus olhos analisaram, sem nenhum temor, os vários pontos do horizonte, mas não havia qualquer ser vivo naquelas costas desertas, apenas Spike saindo do banho de mar e indo ao encontro de Mikka, na praia.

Sirius sentiu o cansaço retornar ao seu corpo. Sentou-se então na ponta de um promontório, sob o qual as ondas se quebravam ruidosamente. Dali, seus olhos abraçavam toda aquela baía formada por uma chanfradura da costa. Ao fundo, um portinho abrigado por duas rochas piramidais. Suas águas calmas dormiam, protegidas do vento. Receberiam com conforto um brique ou duas ou três escunas. Quase esperava avistar algum navio desfraldando suas velas e alcançando o largo sob a brisa que vinha do sul.

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⏰ Última atualização: 6 days ago ⏰

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