Capítulo 45 - O tesouro do Rei

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Eles estavam em uma grande sala circular com os dois arcos exatamente de frente um para o outro, que se abriram em corredores. Spike virou-se para trás, esperando criaturas ou combatentes se derramarem através de um ou ambos os arcos. Com as costas voltadas para a parede, eles esperaram a morte se aproximar. 

Nada aconteceu.

Eles olharam em volta, confuso. Será que existiam algum outro aposento nesse local, nesse complexo antigo, absolutamente vazio? Nenhuma armadilha? Nenhuma armadilha. Nenhum monstro. Nenhum obstáculo intransponível.

O grande salão a frente deles havia cerca de cento e vinte metros de comprimento e noventa de largura. A sala era fria, a ponto de fazerem vapor ao sair de sua respiração. Um amontoado de neve se encontrava no chão. Cristais de gelo congelavam as paredes ao redor. Murais coloridos tinham imagens de deuses batalhando contra outros deuses, monstros e demônios de todos os tipos. O salão era imponente como a entrada. Seus tamanhos eram minúsculos. No teto, um grande óculo redondo dava acesso ao lado externo. Um céu escuro de nublado da meia noite pairava sob aquele templo. Um choque gelado terrível varreu seu corpo e sacudiu-o como uma folha morta em uma tempestade de inverno.  No meio do salão, um grande altar congelado, e marcas tribais brilhava em um azul intenso como os céus. A marca de Arles em seu braço cintilava sob as mangas de sua blusa e começou a arder, mas era suportável. 

De repente, um feixe de luz passou pela cabeça de Zafira como uma flecha e ela se viu em um lugar mórbido e gelado. Uma nevasca a rodeava mas o frio não a tocava, ela estava normal. Na frente dela uma silhueta alta, de curvas eróticas pairava no meio daquele vendaval.

-Sedna... – Sua voz saiu num sussurro, uma crua respiração.

Dizem as antigas lendas que os deuses poderiam ouvir seus nome quando chamados, mesmo apenas no sonho de uma criatura do lado mais distante do mundo. O sussurro de Zafira ecoou como trovões girando em um tornado.

-Zafira... – a voz de Sedna rangia como uma canção de sereia prestes a lhe matar. Ela soava de forma confiante e erótica ao mesmo tempo – eu sabia que você era demasiadamente estúpida para vir até mim. Esperei por esse momento por séculos.

E agora que o momento havia chegado, Zafira descobriu que ela estava pronta pra isso, afinal.

-Vir até você, eu deveria ter medo? Fugir de você? Porque? Se o destino já havia traçado nosso encontro, ele sabe que eu posso e vou controlar seu poder.

A silhueta era alta, tão alta quanto Arles, ela fez um movimento com a mão e uma imensa lança surgiu em suas mãos, uma lança de três pontas: um tridente. A nevasca se tornou ainda mais violenta.

-Você fala como um mortal como se tivesse coragem. Mas não tem, você se agarra a uma falsa visão de coragem de seu fraco coração, uma ilusão agradável que a faz desviar o olhar para seu iminente fracasso. Alto confiança não é o suficiente para mudar o mundo. Gaiseric era da mesma forma e veja como ele acabou. Seu pai, o fraco Rei Marley era o mais covarde de todos, ele tremia como uma mulher.

Toda a esperança de contenção incinerou-se no fogo branco da raiva de Zafira. Ela sacou sua espada katana e atirou-se contra aquela silhueta com todos os fragmentos de sua força restante, após todas as aprovações que teve que passar em Rahma Haruna.

A katana se converteu em carne até seu punho, e a silhueta riu.

-Eu agradeço a você, princesa. Nem mesmo as pulgas do inframundo me divertiam tanto.

-Eu vou lhe dar mais do que isso – rosnou Zafira, quando ela rolou através da silhueta, que se comportava mais como uma miragem. Ela pulou de cabeça na direção da cintura de Sedna, a sua espada levantada para lhe cortar ao meio, mas o tridente de Sedna relampejou e esbofeteou Zafira no ar, como se a princesa não fosse mais do que uma vespa ou uma mosca a incomodá-la.

As Crônicas de EvâniaOnde histórias criam vida. Descubra agora