Prólogo

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|| Amber Caccini ||

Dezessete anos atrás:

-Vem, Preciosa, eles não vão brigar. - induzo minha amiga a me seguir.

Ouvimos algumas vozes mais altas vindo do escritório do meu pai. Ele e minha mãe pareciam discutir sobre algo.

Preciosa pareceu pensar, mas, ao ver a minha mão esticada em sua direção, ela aceitou a minha proposta e me seguiu.

Estávamos no meu quarto e o escritório do papai ficava no fim do corredor. Seguimos com passos lentos e silenciosos até ficarmos em frente à imensa porta de madeira.

Por mais que eu tentasse, era difícil ouvir o que estava se passando.

-O que você vai fazer? - minha amiga indagou preocupada.

Conheço Preciosa desde que me mudei para a Espanha, com apenas três anos de idade. Lembro como se fosse ontem que eu cheguei nesse país e me senti completamente perdida, até que ela surgiu na janela da casa vizinha acenando para mim. Ali, eu tive a certeza de que construiríamos uma ótima amizade.

Quando cheguei, não tinha amigos, não tinha familiares, não tinha nada além do meu pequeno urso de pelúcia - que eu ainda hoje tenho.

Preciosa surgiu na minha vida como um anjo - e literalmente ela é. Não é atoa que, das minhas amigas, ela é a única que a minha mãe gosta e permite que eu traga aqui para casa.

-Vou tentar abrir a porta sem que eles percebam. - digo colocando a mão sobre a maçaneta.

-Não. - Preciosa sussurra colocando sua mão sobre a minha. - Vai que eles fiquem bravos.

-Eles não vão. - rio minimamente sabendo que isso é verdade. - Eu sou a princesinha deles.

Minha amiga pareceu se dar por vencida, acho que a sua curiosidade também era grande.

Giro a maçaneta da porta com cuidado, dando-nos uma visão pequena dos meus pais.

Antonella, minha mãe, estava visivelmente brava. Acho que nunca vi ela tão irritada assim sem ser quando está brigando com o meu irmão mais velho - o Henrique.

-Sua mãe está brava. - Preciosa sussurra estranhando tanto quanto eu.

Mas foi quando o meu pai virou o rosto que eu senti, pela primeira vez, o meu coração ser quebrado.

-O tio Roberto está chorando? - ela pergunta virando o seu rosto para mim.

-O meu papai não chora. - murmuro sabendo que aquilo não era verdade.

Ficamos em silêncio tentando ouvir o que eles conversavam - que agora já não era tão alto.

-Você não está pensando nos nossos filhos. - o meu pai fala suspirando.

-A Amber ainda é pequena, ela não completou nem oito anos. - Antonella rebate.

-Nós não temos só a Amber de filha e você sabe muito bem disso. - pude imaginar a minha mãe revirando os olhos quando o papai falou isso. - O Henrique já é mais velho. Foi muito sofrido para ele deixar tudo no Brasil e se adaptar aqui, imagina como ele vai ficar quando souber disso.

-O Henrique vai se adaptar. - ela responde dando de ombros. - Não é como se isso fosse o fim do mundo.

Roberto nega com a cabeça e se afasta da mesa. Ele vai até o outro lado da sala e coloca um pouco de whisky em seu copo. O meu pai só bebe em festas ou quando está nervoso.

-Você não pode querer mudar de país toda as vezes que as suas altas expectativas não forem alcançadas.

Sei que isso doeu na minha mãe pois sei sobre o assunto que o meu pai estava falando.

Aprendendo a Viver - Gerson Santos (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora