CAPÍTULO 18

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Tia Violet estava desaparecida. Harmony acordou com essa terrível notícia em sua casa. Seus irmãos tinham saído correndo, mas tiveram de voltar pois os leãozinhos e Salvation assumiram.
A mãe dela foi para a casa de Tammy e não só ela teve essa idéia o que culminou num churrasco silencioso.
Smile Two estava lá e quando ele se aproximou, Harmony se preparou para aguentar ter o encontro desmarcado, pois ele era da força tarefa e provavelmente iria para Homeland um dia antes.
"Se você ainda tiver ânimo, eu te pego às oito." Ele lhe disse, Harmony acenou, ele se afastou.
Como já era de tarde, Harmony correu para se arrumar, Mel foi junto.
Seus irmãos estavam em casa, andando de um lado a outro como cachorros enjaulados, Harmony foi tentar dizer alguma coisa:
"Storm, não foi sua culpa." Storm era menos agressivo que Tempest.
"A questão não é essa, Mony. Nós tínhamos de ir atrás dela, nosso faro é bom, nós conhecemos cada pedaço daquele lugar!" Ele disse.
"Mas nenhum faro se compara ao de Simple, Storm." Melody disse e Harmony achou que ele ia rosnar, mas ele simplesmente baixou a cabeça.
"Eu sei, só queríamos estar lá."
"Ela vai ser encontrada." Melody disse.
"Você viu?" Dessa vez foi Tempest que perguntou, Mel baixou os olhos.
"Não. Mas eu acredito nisso. Simple vai encontrá-la." Tempest foi até Melody e a beijou no rosto.
"Vamos torcer por isso. Honest disse que vai manter contato, é só que até agora não ligaram."
"Talvez ainda não chegaram, ou estão descansando." Harmony tentou tranquilizá-los. Os dois sorriram ao mesmo tempo sorrisos idênticos, elas foram para o quarto.
"Quando não estão afastando os filhotes de nós, eles são até legais." Mel disse, Harmony sorriu, mas estava pensando em como sairia de casa com eles lá. Ela não conseguiu falar com sua mãe.
Harmony tomou um banho, fez as unhas e cacheou os cabelos, Melody ficou cheirando cada bonequinho que estava na lanchonete de brinquedo delas. Ela disse que no dia seguinte iriam cortar galhos e montar uma floresta para tentar ver onde Violet estava, Harmony concordou.
Ela ficou pronta às sete, Melody ficou de guarda no corredor, mas os irmãos dela estavam vendo tv na sala.
A mãe e o pai delas já tinham subido, Melody disse que se comunicou com a mãe delas e ela tinha desejado sorte.
"Talvez eu devesse pedir ao papai. Se ele deixar, eles não poderão fazer nada." Harmony disse sussurrando, afinal ela não fazia nada escondido de seu pai. Quase nada, ela pensou.
"Ele não vai deixar. Nem seria por Smile Two, seria por que é fora daqui." Melody disse e ela tinha razão. Tia Violet estava sumida, seu pai não ia querer que ela saísse da Reserva, mesmo sendo só na Nancy.
"Talvez seja perigoso, Mel. Talvez seja melhor eu não ir." Melody fechou os olhos. Ela apertou as pálpebras, Harmony esperou.
"Eu tenho de..." Melody pegou um bonequinho, o de cabelos marrons.
Harmony abriu a boca, mas não disse nada.
"Eu acho que tem alguma coisa errada com esse bonequinho." Ela disse. Às vezes, Melody trocava as roupas ou cabelos dos bonequinhos para melhor estampar o que ela via.
"Seriam os olhos?" Se fosse, se sua irmã quisesse trocar os olhos...
"Não. Acho que não, eu só não me lembro quem ele é."
"Ele não é ninguém!" Harmony disse um pouco mais alto, Melody pulou de susto.
"Mel? Mony? Estão brigando?" O pai delas perguntou do quarto.
"Não, papai!" Harmony correu para o banheiro e ligou o chuveiro assim que o pai delas abriu a porta. Gift! Até ali ele a importunava. Mas o bonequinho não era Gift. Os olhos eram importantes segundo Melody. E tudo aquilo não era de verdade.
"Costurando?" Ela ouviu a voz de seu pai cheia de carinho e se sentiu mal. Talvez Smy a chamasse quando viesse de novo. Dali a... Meses! Ele ficaria meses em Homeland sem poder vir para a Reserva.
"Sim, há algo nesse bonequinho que está me incomodando." Melody disse ao pai delas.
"Me deixe ver. Cabelos marrons, olhos pretos. Eu não conheço ninguém assim, com olhos escuros desse jeito."
"Há vários machos de olhos escuros aqui, papai. Tio Moon, por exemplo. Tio Fury..."
"Eles não tem olhos pretos, meu amor, são olhos castanhos."
"Ah, é mesmo."
Harmony ficou prestando atenção a conversa.
"Que tal essas contas aqui?" Seu pai disse, ele sempre tentava incentivá-las. Mesmo sem entender nada do que Melody estava tentando fazer.
"São bem claras. Não sei, não." Harmony repassou em sua mente todas as cores de miçangas que elas tinham. Nenhuma tinha a cor dos olhos dele. Ela suspirou aliviada, depois pensou que estava deixando a conversa de Melody influenciá-la. Mesmo que ela fizesse um boneco idêntico a Gift, não significava nada.
"Eu acho que eu tenho um botão numa camisa que seria perfeito. Ficariam um pouco grandes na cara dele, mas sei lá, acho que poderia ajudar." Seu pai saiu do quarto, depois de um tempo, voltou, Harmony continuou sentada na tampa do vaso, o chuveiro ligado.
"Obrigada, papai, acho que ficará perfeito."
"De nada, meu amor. E essa é a lanchonete da Nancy? Talvez seus irmãos poderiam ir lá, quem sabe mudam aquela cara?" Ele disse e riu, Mel riu com ele.
"Mony, querida, está tudo bem aí? Você já está a muito tempo debaixo desse chuveiro."
"Já vou sair, papai."
"Torrent, que tal voltar para a cama?" A voz da mãe dela se ouviu, logo seu pai fechava a porta do quarto deles.
Harmony saiu do banheiro, Melody tinha os olhos bem abertos.
"É melhor você ir agora. Vá até perto da casa dele." Ela sussurrou no ouvido de Harmony, era uma boa idéia.
Não dava para pular a janela, Harmony era muito pesada, faria muito barulho, então ela desceu escalando. Haviam alguns lugares que davam para apoiar as mãos.
Ela tentou andar o mais silenciosa que pôde até se afastar e começar a correr. No meio do caminho Smile Two vinha num jipe, ela parou respirando pesadamente.
Ele parou, ela subiu, Smy sorriu.
"Linda!" Harmony sorriu.
Ele dirigiu em silêncio, Harmony pensava na cor dos botões que seu pai deu a Melody. Seriam marrons claros? Ela começou a repassar em sua mente as camisas de seu pai. Ele não tinha muitas camisas de botão, ele usava mais camisetas de malha.
"... Ficar de prontidão. Mony?"
"Botões metálicos. Todas as camisas dele têm botões metálicos. Cinza."
"Mony?" Ela piscou, Smy parou o jipe.
"Hã?"
"Eu estava falando que as equipes estão de prontidão, mas eu estou no... Por que você falava de botões?"
Ela arregalou os olhos. Mas que droga!
"Desculpe. Eu me distraí."
"Mamãe diz que eu devia ter outro assunto, que eu falo demais na força tarefa. Mas com o que aconteceu, eu queria te tranquilizar, por isso estava falando da força tarefa."
"Eu tenho muita curiosidade sobre a força tarefa. Minha tia Daisy é uma heroína para mim. Eu já quis fazer parte."
Era verdade. Tia Daisy era incrível! Mas Harmony gostava demais dos filhotinhos, ela queria montar uma escolinha ou algo assim.
"Eu só fui por que acabei não me interessando por nenhuma profissão ainda. Mamãe diz que eu sou muito novo, que não preciso me formar tão cedo, então..." Ele disse.
"Vovô Ven diz isso pra gente, mas aí ele lembra que os clones não estudaram e começa a brigar com eles." Ela disse, eles riram.
"Eu gosto de entregar as encomendas de mamãe e Emma, gosto também de fazer móveis. Já patrulhei o muro algumas vezes, já fiquei um tempo no complexo com Joe. Eu não consigo querer fazer só uma coisa, sabe?"
Harmony sorriu, ele sorriu de volta.
Eles chegaram na lanchonete, Harmony se sentou, Nancy veio beijá-los, Harmony sentiu suas faces arderem quando ela bateu no ombro de Smile Two e disse que ela, Harmony, sim era uma ótima escolha, não as garotas que ele levou ali da outra vez.
"Nancy vive querendo nos ver acasalados." Ele disse.
Harmony sorriu, mas se lembrou da visão de River.
"O que foi?" Ela devia ter feito uma cara esquisita, pois ele notou.
"Nada."
"Você pensou na visão do seu irmão?" Ele perguntou, Harmony olhou para a mesa.
"Sabe, mesmo eu que não vejo o futuro sei que nada é definitivo. Talvez pode acontecer, mas até lá, eu não posso ficar parado esperando. Nem me privar de passar um tempo com quem eu quero bem. E eu te quero bem, Harmony. Quando você me beijou, eu fui um idiota, mas com o tempo, mesmo que a gente tenha apenas encostado as bocas, eu ficava revivendo aquele momento, só pensando que eu deveria ter deixado minhas suspeitas bobas pra lá. E quando eu tive de ir dar um recado a Lily e justo você estava na casa dela! Bom, eu achei que poderia ser coisa do destino." Ele sorriu, um lindo sorriso que fez seus olhos avermelhados brilharem. Harmony sentiu algo dentro dela se quebrar. Uma lágrima desceu por seu rosto e não deu para segurar.
"Mony? Eu falei alguma coisa errada?"
Ele enxugou a lágrima com o dedo, Harmony segurou sua grande mão e tocou nos calos.
"Não. O que você disse foi..."
Dito tarde demais. Por que ela quis tanto ouvir aquilo, mas aquelas palavras de alguma forma a deixaram triste. E ela não sabia por quê.
"Patético?" Uma voz atrás dela disse, Harmony teve de segurar seu coração no peito. Smy se levantou, ela não queria se virar. Uma imagem de uma camisa bege de seu pai, de linho, presente da mãe dela para ele lhe veio a mente. Os botões eram Ambar.
"O que está fazendo aqui? E espero que tenha uma boa resposta, ou..." Smile Two rosnou, Harmony suspirou e olhou para trás.
"Ou o quê?" Ele sorriu seu sorriso insolente.
"O que é isso, meninos? Vão brigar na minha lanchonete? Mas não vão mesmo!" Nancy se aproximou.
Gift beijou a bochecha dela, ela riu e o chamou de abusado.
"Temos a sala de treinamento para isso, Tia Nancy, mas ele não é páreo pra mim. Eu só vim avisar que os irmãos dela estão vindo." Harmony arregalou os olhos. Seu pai falou com eles, então.
"Não foi seu pai que falou, fui eu." Gift disse com um sorriso, Harmony percebeu que tinha falado alto.
"Por quê? Acha que ir dar com a língua nos dentes vai me impedir de ficar com ela?" Smy disse, Nancy sorriu.
"Que lindinho!"
"Acha que eu me importo com ela? Pode ficar, mas uma de nossas fêmeas foi sequestrada, idiota! E você sai com outra num lugar que é sabido de todos que frequentamos! O que Tio Fury vai achar disso, nheim?" Ele disse com uma fisionomia medonha. Tio Brass era famoso pela cara sisuda, Gift conseguia fazer uma cara muito pior.
Harmony o fuzilou com os olhos, mas os irmãos dela realmente chegaram.
"Meninos!" Nancy adorava os gêmeos, eles lhe beijaram as bochechas, ela foi correndo para a cozinha, mesmo eles dizendo que não vieram comer nada.
"Viemos buscar você." Tempest disse a encarando.
"Eu não vou embora, já sou praticamente adulta, não podem..."
"Você não fez dezesseis ainda, faltam alguns dias." Gift disse.
"Cinco dias! Não podem me tratar como uma filhotinha e a mamãe sabe."
"Só estávamos conversando, acham que eu iria desrespeitar a irmã de vocês?" Smy disse, Tempest se esticou, Storm se sentou na cadeira que Smile Two ocupava. Ele era menos sanguinário.
"Ninguém traz uma fêmea aqui se não for para compartilhar sexo. Palavras suas, Smy, lembra?" Gift disse, Storm se levantou, Smile Two piscou sem saber o que responder.
"Você disse isso?" Storm perguntou, pois Tempest rosnou.
Smile Two se esticou todo, ele era maior que os três por poucos centímetros e deixou isso bem claro.
"Sabem que eu não diria isso da irmã de vocês." Gift riu e retrucou:
"Prostitutas também têm irmãos, como acha que os irmãos delas se sen..."
"Está equiparando minha irmã a uma prostituta?" Tempest disse, Gift fechou a cara.
"Não, isso nunca. Ele a está tratando assim, não confunda as coisas." Ele disse, Tempest apertou os olhos, mas Nancy e três garçonetes chegaram com bandejas cheias de comida e colocaram na mesa. Elas tinham grandes sorrisos no rosto, uma garçonete até piscou para Gift, ele piscou de volta, Harmony segurou um rosnado. Por que ela quis rosnar era algo para se pensar depois.
"Comam, comam, vocês estão fazendo um espetáculo aqui. Comam tudo e traremos mais." Ela apertou a bochecha de Storm, ele riu.
A carne cheirava deliciosamente, Storm se sentou e começou a comer. Harmony também voltou a se sentar e se serviu. Smy pegou outra cadeira de outra mesa e também começou a comer em silêncio, ele estava muito chateado.
Gift e Tempest também se sentaram e logo a carne acabava e Nancy trouxe mais. Ninguém falava, o silêncio era desconfortável.
Depois de se fartarem, os gêmeos se levantaram, Tempest, que estava mais perto segurou no braço de Harmony.
"Vamos." Ele disse, Harmony só olhou com uma carinha triste para Smy, ele sorriu também triste.
"Tchau, Mony!" Gift lhe deu tchau com um grande sorriso no rosto, um lindo sorriso cheio de dentes e presas, com os malditos olhos claros brilhando, ela, num impulso que não sabia de onde veio cuspiu nele, bem no rosto. Ele se levantou, pura ira se via nos olhos claros. Olhos exatamente da cor da bosta dos botões.
"Vai se arrepender de ter feito isso." Ele disse entre dentes sem limpar o rosto, Harmony piscou, como ela podia ter feito isso? Algo tão nojento, tão vulgar?
"Está ameaçando minha irmã?" Storm perguntou arreganhando os dentes.
"Se minha irmã cuspisse em você, algo que ela nunca faria, pois ela não é uma nojenta, mas se ela cuspisse..." Storm não o deixou continuar. Ele voou em Gift, Gift lhe aparou o ataque e o jogou longe. Storm voou de novo, dessa vez acertando um soco bem na cara de Gift. Eles se agarraram, fincando garras um no outro e dando mordidas, Harmony gritou quando Gift arrancou um pedaço de pele do ombro de Storm com os dentes, o rosto dele se inundou de sangue. Smile Two foi tentar separar, Gift largou Storm e o encheu de socos, Storm se aproveitou e o socou na cabeça várias vezes. Tempest também entrou na briga, foi cadeira e mesa para todo lado. Harmony correu para Nancy e a abraçou, todo mundo saiu da frente deles e se juntou num canto.
Os tios clones, Tio Quinze e Dezessete apareceram correndo e mesmo Tio Quinze sendo um gigante foi difícil separar os quatro.
Gift estava coberto de sangue, Smy tinha um grande sangramento no pescoço, Tio Noah o colocou sobre uma mesa e fez pressão sobre o ferimento. Os gêmeos baixaram os olhos quando Tio Quinze os repreendeu, Gift tinha uma expressão fria, indiferente.
Tio Adam jogou Smile no ombro e saiu correndo, Dezessete se aproximou e a abraçou.
"Tia Nancy, você perdoa esses filhotinhos cabeça quente? Meu cunhado vai acabar com o traseiro desses dois, ou eu vou." Tio Quinze falou com Nancy, ela riu.
"Tudo bem, eu estava precisando de um dia de folga mesmo. Mas eles vão ter de limpar e arrumar tudo amanhã. E quero saber notícias do pobre Smile, tadinho, ele levou a pior."
"É claro, Tia Nancy. Eles vão se ver comigo se deixarem um guardanapo fora do lugar." Tio Quinze disse.
Harmony voltou no jipe com Tio Noah e Dezessete, ela estava arrasada.
"Não fique assim, querida. Ele vai ficar bem." Tio Noah disse, Harmony colocou a cabeça no ombro de seu primo.
"Você viu, tio?" Ela perguntou.
"Mais ou menos. Eu vi Smile Two no hospital. Mel que me ligou. Ela disse que as cadeiras da lanchonete não ficavam de pé." Harmony balançou a cabeça.
"Você não acredita?" Harmony apertou os lábios.
"Eu não sei, Tio."
Os olhos de Dezessete ficaram distantes e depois de uns instantes ele sorriu.
"Nossa! Ficou igualzinho a lanchonete!" Ele disse e isso era vidência de verdade, não o que a pobre Mel estava tentando fazer.



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