FILHOTES

CAPÍTULO 31

Violet acordou com Augustus olhando para ela. Ele lhe tocou o rosto, ela o encarou, tudo o que aconteceu tinha sido real? Ou um sonho?
"Augustus? Eu me sinto confusa. O que... Bom, nós, eu e você..." Ele sorriu e ela sorriu feliz.
"Sim, foi real. Tudo." Ele disse, Violet lhe segurou a mão e beijou a palma, ele rosnou baixo.
Violet, porém se lembrou dela atacando uma humana bem morena.
"E a humana? E meus irmãos?" Ela perguntou, ele deu de ombros.
"Muito irritantes se quer saber. Mas sim, estão do outro lado da baía."
Daisy! O coração dela disparou de saudade de sua irmã gêmea.
"Eles vieram me buscar! E por que não estão aqui?" Ela perguntou, mas logo se lembrou da dor que Augustus sentiu.
"A presença dolorosa. O que era?"
"O namorado de sua irmã. Filho do tal Vengeance, se lembra? A mente dele e a minha não podem... Digamos que nossas mentes se machucam com a proximidade. Ou algo assim. Mas com o tempo dá para suportar. Ainda que ele não possa se aproximar da caverna dos lobos."
Violet se lembrou dos lobos dormindo. Augie parecia um bichinho de pelúcia, Letty tinha o pêlo ruivo e brilhante da cor dos cabelos dela.
Ela se levantou, Augustus lhe indicou comida, ela comeu em silêncio. Havia muita coisa para pensar e a mente dela parecia lenta.
"E eu dormi? Como?" Ela perguntou quando acabou de comer a carne.
"Eu te fiz dormir. Você atacou Leotie."
"Sim. Leotie. A que você teve negócios." Violet o encarou, ele fechou a cara.
"Não. Eu nunca tratei de negócios com ela." Violet se sentiu aquecer. O que era aquilo? Ciúmes? Ela nunca foi muito ciumenta, embora, Forest nunca lhe deu motivos, afinal ele era sério demais, focado demais na rotina do hospital.
"Eu não sei o que deu em mim. Eu fui irracional e o pior, fui covarde. Ataquei uma fêmea menor e mais fraca que eu." Ela disse baixando a cabeça.
"Foi a porção de Letty que está em você. Controlar a parte sanguinária dela vai demorar, mas vou te ajudar."
"Mas essa parte sanguinária não deveria ser minha?" Ela perguntou. Sentir Letty falando em sua cabeça foi estranho, mas era uma presença real, ainda que Violet tinha um pequeno receio de que fosse sua própria mente lhe pregando uma peça. E se tudo fosse um delírio coletivo? E se os lobos fossem só lobos e as pessoas dali estivessem todas loucas? E ela, Violet, estivesse enlouquecendo junto?
Violet pensou em seus irmãos, pensou nela contando tudo aquilo para eles, para Forest. Candid iria morrer de rir, Honest e Forest começariam discutir quais os melhores exames para fazer na cabeça dela. Simple iria considerar, iria perguntar como ela se sentia. Simple sempre acreditou no sobrenatural, afinal, ele não era um macho simples. Ela sorriu. Simple não era simples.
"O que quer dizer?" Augustus perguntou, ela o encarou. Teria pensado alto?
"Eu pensei alto?" Violet perguntou, ele juntou as sobrancelhas.
"Não. Pensamentos não tem volume. Pelo menos pra mim. Mesmo que você grite em sua mente, eu não vou ouvir como um grito. Vou te sentir agitada ou deses..."
"Você lê pensamentos?" Violet perguntou com os olhos arregalados.
"Você não sabia? Lembra da coisa das cuecas? Ou de você estar correndo nua atrás da brisa que lhe trouxe o cheiro de seus irmãos e pensar que eu deveria saber que estar perto de alguém nu era desconfortável?" Violet abriu a boca e não a fechou.
"O que foi? O tal Romulus não faz isso também? Qual o problema?" Violet o olhou sob outro prisma. Ele tinha acesso a tudo o que aconteceu com ela, com toda a vida dela!
"Não é assim, Violet." Augustus disse se ajoelhando a frente dela.
"Você consegue saber tudo o que aconteceu comigo, tudo o que..." Ele fez que não com a cabeça, ela se calou.
"Eu não sei como funciona com o seu cunhado, mas comigo não é assim. Me custa muito sentir as mentes alheias. Tiberius acha que essa é a diferença entre nós e os filhos do irmão do meu pai. E talvez seja por isso que as nossas mentes se sentem mal quando entram em contato."
"Tiberius?" Ela não conhecia esse.
Ele sorriu.
"Não o chame assim. Ele não gosta de seu nome."
"Eu o chamo como?" Ela perguntou, Augustus lhe beijou os calos das mãos.
"Ele não mora aqui, não há necessidade de chamá-lo." Ele disse se levantando e indo abrir a porta. Violet estava nua, Amália entrou e a beijou no rosto sem se importar com a nudez dela.
"Está tudo pronto." Ela disse, Sônia entrou com um vestido nas mãos e o estendeu a Violet. Um vestido azul claro, o tecido era fino, parecia seda.
"Esse é meu presente para você." Ela sorriu.
"Ela vai ficar linda!" Annabeth também tinha entrado. Todas tinham um grande sorriso no rosto, Violet sorriu de volta. Sonia trouxe um vestido, Amália disse que tudo estava pronto, Annabeth antecipou que ela ficaria linda. O que eles planejavam?
Augustus sorriu, um grande e lindo sorriso.
"Não é uma cerimônia de casamento, Violet." Ela olhou para o vestido com que escondia os seios e sorriu.
"Não demorem." Amália disse, Violet o encarou.
"Há uma coisa. Algo que você ainda precisa ver, ainda precisa sentir." Ele disse.
"E eu preciso de um vestido lindo para isso, mas não é uma cerimônia?" Violet perguntou.
"Não é uma cerimônia, mas elas gostam de deixar a coisa um pouco mais especial. Tome um banho, vista o vestido e fique linda. Você se sentirá melhor." Ele disse, Violet suspirou, mas entrou no banheiro. Não havia chuveiro, só um cano onde saía uma água fria, gelada. Violet ficou debaixo do jato frio, era revigorante!
Ela saiu e Annabeth lhe sorriu, Violet entendeu que ela queria ajudá-la, Violet deixou. Annabeth até lhe penteou os cabelos.
"Viu? Eu não disse? Você está linda!" Violet sorriu e se deixou ser levada para fora da casa de Augustus.
Lá fora todos estavam lá, menos Bob. Angela se aproximou e lhe segurou a mão, Violet se deixou ser levada até a montanha. Ela e Angela iam na frente os outros iam atrás, não deu para evitar que seu coração disparasse.
Angela parou, Violet parou, os machos vieram e começaram a empurrar uma parte da montanha, Violet viu que era uma porta de pedra escondida na hera que cobria a base da montanha. Demorou e eles estavam sorridentes, mas suados quando abriram um espaço para ela passar.
Angela, Violet, Annabeth, Sônia, Keylla e as outras entraram, estava escuro, mas Violet podia ver que era uma grande câmara de pedra. Angela lhe guiou até um canto, Amália foi até o centro da câmara, ergueu as mãos e do chão começaram a brotar folhas. Muitas folhas de uma planta perfumada que logo começou a produzir pequenos botões de uma flor azul.
"Violetas." Violet sussurrou, Sônia sorriu.
"Não há muitas violetas aqui, Tadeus teve de ir bem longe para encontrar um vasinho." Violet engoliu em seco, como aquilo não era um acasalamento? Parecia que era!
E, se fosse, o que ela diria? Violet fechou os olhos com força. Ela diria sim.
A câmara ficou cheia de violetas, Amália baixou os braços parecendo cansada, Tadeus apareceu com um colchão inflável, Keylla e Angela arrumaram uma cama com travesseiros e mantas.
"Nós esperamos de coração que tudo dê certo, Violet." Sonia disse e lhe beijou a testa. Ela e os outros saíram, Violet ficou sozinha na câmara escura cheia de violetas. E com a cama inflável.
"Violet?"
Ela ouviu a voz de Augustus as costas dela, ele tinha tomado banho. Estaria nu? O coração dela disparou.
"Eu não estou nu. Mas não estou arrumando, eu não tenho como." Ele disse, ela se virou, ele estava vestindo uma camiseta preta e uma bermuda. Ele abriu os braços.
"Pelo menos isso é uma bermuda mesmo, não uma calça que virou uma bermuda depois de muito velha." Ele tinha os cabelos presos, Violet sorriu.
"Eu não me importo. Você é lindo, não precisa de roupas chiques." Ela disse, ele lhe tocou o rosto, os olhos dele brilhavam como lâmpadas lilases."
"Lilás. É uma cor, não é?"
"Sim. É o nome da cor dos seus olhos."
Ele baixou os ditos olhos violetas, Violet lhe ergueu o queixo.
"Eu sempre achei essa cor esquisita."
Violet sorriu enquanto negava com a cabeça.
"Seus olhos são lindos. São únicos." Ele bufou, parecia desconfortável com o elogio.
"Todo mundo que eu conheço tem olhos assim." Ela riu, mas depois pensou numa coisa:
"Ninguém puxou os olhos do seu pai?"
"Não. Foi muito estranho ver Romulus. Ele parecia uma cópia de papai, era mais parecido com ele do que Bob." Ele disse.
"Romulus é um clone. Ele é idêntico ao meu tio."
Ele acenou.
"Vem." Ele encerrou o assunto, se deitou de lado na cama, Violet o imitou. Tudo cheirava a violetas, um perfume bem leve, tão bom!
"E então?" Violet perguntou, ele suspirou.
"Eu estou com medo. Um medo que me aperta as entranhas, mas eu não posso protelar isso." Ele disse, Violet viu expectativa e sofrimento nos olhos violetas.
"Por que você está com medo?"
"Por que pode dar certo, eu espero que dê certo, mas..." Ele lhe beijou os lábios, primeiro de leve, depois com volúpia. Violet se deixou beijar, ele lhe chupou a língua, ela começou a esquentar.
Augustus parou, ela rosnou, ele sorriu.
"Você é única, Violet. Eu já devo estar chegando perto dos cem anos, bom, eu não sei minha idade ao certo, mas com certeza já passei dos oitenta e nunca em todos esses anos, em todos esses dias e horas eu senti o que eu sinto agora. O dia de hoje divide minha vida. Em antes de você e depois de você. Para sempre." Ele disse, uma lágrima escapou dos olhos dela.
Ele voltou a lhe beijar os lábios, de uma forma diferente, foi um beijo leve, mas intenso, pesado. Um beijo interminável que pareceu durar uma eternidade no início e que no fim transportou Violet para uma campina. Ela inspirou o cheiro leve das violetas e sentiu vontade de correr. Correndo, ela saltou. Voltou a correr e logo Violet percebeu que ela não era ela.
Letty! Violet rolou no chão, arrancou tufos de grama com as patas. Ela lambeu sua barriga e o cheiro de sua genitália a alcançou. Cheiro de cio!
Violet continuou correndo, havia uma alegria em seu coração, um sentimento de paz, mas também uma leve expectativa. Ela correu para um bosque cheio de árvores velhas de troncos escuros, grossos. A sombra das copas das árvores era bem escura, estava fresco.
E logo ela ouviu o uivo. Não era como um uivo normal dos caninos, era uma música. Uma música que falava de união, mas uma união quente, pujante. Violet rosnou e teria sorrido se tivesse lábios para isso quando começou a correr. O chão recebia suas patas e a impulsionava de volta, era revigorante e ela conseguiu uma grande velocidade. Violet estava voando, ela praticamente não sentia o chão contra suas patas.
E a presença que ela sentiu antes pareceu voltar. Era como se ela estivesse envolta pela alma dele, era como se Violet corresse num labirinto em que todos os caminhos levassem a ele. Mas sua alma livre e senhora de si não iria se submeter sem uma boa resistência. Era sua natureza.
"Sim e é essa sua natureza rebelde e livre que me encanta." Uma voz desconhecida disse. Havia um toque da voz de Augustus nela, mas tudo em Violet dizia que Augustus não estava ali. Violet continuou correndo, até que um peso lhe caiu sobre o corpo, ela usou as patas para tentar escapar, mas ela era menor. E logo dentes fortes lhe mordiam atrás de seu pescoço a imobilizando. Augie, não Augustus.
"Augie! Não me mate!" Ela se viu rosnando e dizendo, para seu crédito, ela não implorou.
"Eu não vou te matar. Mas tomarei tudo de você. Tudo." Ele disse, a voz soava direto na mente dela e era como se ele estivesse dentro de sua cabeça.
"Eu estou. Eu sondei sua mente, eu vi toda a sua vida. Vi quem você é e tenho certeza de que te conheço mais que você mesma se conhece."
Era Augie, como poderia ser isso? Augie era um lobo!
"E qual o problema em ser um lobo?" Ele disse, Violet esperneou, mas ele a tinha presa, os dentes estavam cravados em sua pele.
"Você é Augustus! Por que parece não ser?" A mente de Violet disse, ele riu.
"Por que eu não sou!" Violet estava confusa, mas ela sabia de uma coisa. Augustus a colocou ali e ele poderia tirá-la.
"Augustus! Augustus!" A mente dela começou a gritar Augie riu.
"Vai demorar muito para entender que Augustus está, digamos... fora do ar? Eu não sou muito paciente."
"Me solta!" Ela tentou, mas Letty era menor que Augie. Ele estava com seu corpo poderoso sobre ela e lhe segurando pela parte de trás de seu pescoço, era impossível se mover.
"Não. Eu não vou soltar você. Eu te matei, mas você não continuou morta. Entende a atração que isso causa em mim? Fora que sua alma além de forte, indomável e preciosa é o que eu preciso."
"O que vai fazer comigo? Me matar?"
O pânico tomou Violet, mas ela não conseguiu usar esse desespero para sair de debaixo dele.
"Não. Eu vou te possuir." Ele respondeu.
"Mas você é um lobo!"
Ele riu e Violet reparou que o som era o mesmo da risada de Augustus.
"Isso é um teste? Todos disseram que esperavam que desse certo. O que tenho de fazer para passar?"
Seria coragem? Ou aceitação? Eles dividiam suas almas com lobos, talvez Violet devesse se mostrar disposta a acasalar com um lobo no corpo de Letty. Fazia sentido!
"Eles acreditam nisso, eles acreditam no que eu quero que acreditem. Mas não é um teste, é uma posse. Depois de hoje, eu e Letty teremos uma cria que será algo nunca visto. Você é muito diferente das crias de Sabine. Elas são fracas, suas mentes são fracas. Mas a sua é forte."
"Mas..."
"Nada de mas. Eu vou possuir você, Augustus e você irão acasalar, mas a cria que nascer será minha, não dele. Assim como ele é meu, não de Lazarus." Violet tentou mais uma vez afastá-lo com toda a sua força e conseguiu livrar seu pescoço dos dentes dele. Um bom pedaço de pele e pêlos ficou entre os dentes poderosos, mas isso lhe possibilitou virar o focinho e lhe morder o pescoço por baixo. Uma grande e forte mordida. Ela cuspiu a pele, o sangue dele encharcou o pêlo branco. Violet conseguiu sair de debaixo dele, Augie uivou de dor, Violet correu e logo ela estava sendo seguida por outros lobos.
Ela gritou muitas vezes por Augustus até que suas patas derraparam e três lobos a pegaram. Ela uivou ao ser despedaçada, uivou por Augustus, uivou por seus pais, por Simple e por Pride. Mas ninguém apareceu. Violet sentiu o frio da morte chegar e ela se entregou. Pelo menos ela foi feliz por alguns dias. Ela tinha conhecido Augustus, seu amor verdadeiro, seu vínculo.