CAPÍTULO 2

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Violet estava sendo perseguida. E por um lobo!
Ela nunca teve de correr de animal algum, todos sempre gostavam dela, mas esse queria matá-la.
Ela corria em sua velocidade máxima, o que era muito rápido, o bicho a seguia e estava ganhando terreno. Não era um lobo comum, Violet podia sentir o cheiro de sangue do animal que ele tinha matado e comido antes de chegar até a árvore em que Violet estava. Ela tinha encontrado o acampamento dos Novas Espécies desgarrados e estava sobre uma árvore os observando. Quando o lobo começou a uivar e latir, Violet desceu da árvore para que não a vissem e correu achando que o lobo iria ir atrás dela, mas depois de um tempo iria se cansar e parar de correr. Era isso que acontecia quando algum animal corria atrás de qualquer filhote nas terras da Reserva. Eles corriam por um tempo e depois desistiam. E nem eram todos que enfrentavam os filhotes ou os machos, a maioria dos animais pressentia o instinto predador que os Novas Espécies tinham e fugiam.
Mas esse lobo era diferente. Ele não estava afugentando Violet, ele estava a caçando. E pelo tamanho dele, Violet achou melhor fugir, mas ele estava se aproximando.
Violet corria num lugar sem árvores, uma grande área gramada que circundava uma estrada. Ela não queria que humanos a vissem correndo então estava um pouco distante da estrada, mas ela acabaria tendo que...
Um peso a atingiu pelas costas, Violet caiu. O lobo tinha saltado sobre ela! A primeira mordida no ombro a fez chiar de dor, Violet se virou usando toda a sua força, mas isso foi uma estratégia errada, pois deu ao lobo a chance de lhe morder o rosto e pescoço. E foi onde ele atacou. Violet se protegeu com os braços, o lobo cravou suas garras num dos braços dela, o sangue lhe escorreu nos olhos.
Ela iria morrer. Os olhos do lobo eram vermelhos, seu pêlo era completamente branco e era o maior lobo que Violet já tinha visto. Ela puxou o braço da boca dele, sua pele rompeu, a dor era indescritível.
Mas ela não podia ficar sem atacá-lo. Quando puxou o braço, o lobo abriu a boca, Violet lhe deu um soco na cabeça com toda sua força. O lobo ficou um pouco tonto, Violet atacou de novo com outro soco no pescoço dele. O lobo saiu de cima dela, Violet se levantou. Seu braço estava dilacerado, Honest iria xingar tanto! Se ela saísse dali viva, é claro.
O lobo saltou sobre ela, Violet o barrou com seu braço machucado, afinal talvez ela perdesse aquele braço mesmo. Com a outra mão, Violet procurou as costelas do bicho e quebrou duas. O lobo se afastou e caiu uivando. Violet teve pena, afinal era só um animal protegendo seus donos.
Ela se sentou segurando seu braço, o ombro também sangrava muito e Violet estava sem forças. Ela olhou para o lobo, ele uivava. Violet percebeu que os uivos não eram só de dor tarde demais. Um outro lobo, marrom, quase tão grande quanto o branco surgiu.
Violet se levantou, pronta para se defender, mas quando o outro lobo saltou, alguém entrou na frente. Antes de desmaiar, Violet se perguntou se era seu amado tio ou um dos clones dele.

Tinha sido um sonho!
Violet sentiu o alívio do despertar tomar seu coração e ela piscou várias vezes. Era um sonho! Tudo aquilo, todo aquele terror tinha sido um sonho, ela não matou seus pais, não tinha matado os bebezinhos de Honor e Livie.
Violet começou a chorar, foi muito horror para uma noite só.
"Tome. Isso vai ajudar com os pesadelos." Violet virou a cabeça na direção da voz do tio V e uma dor lhe cortou a cabeça, uma dor tão intensa que seus olhos lacrimejaram.
"Quanto a dor, não dá pra fazer muito." Ele disse quando ela pegou o copo. O gosto era horrível, Violet gemeu, ele riu.
"Eu sei, é nojento, mas tem de tomar." Ela tomou tudo e ele lhe estendeu outro copo.
"Para tirar o gosto." Ele disse.
"O quê?" Violet perguntou, mas tomou, era suco de laranja.
"Sua mãe nunca lhe fez isso? Lhe deu algo gostoso para tirar o gosto ruim do remédio?" Ele perguntou, Violet negou com a cabeça.
"Eu acho que nunca tomei algum remédio. Já me aplicaram injeções, é lógico, mas remédios com gosto ruim, nunca. Nem com gosto bom."
"Você não fica doente." Ele afirmou.
"Não. Você fica?" Ele fez que não com a cabeça. Que tipo de conversa era aquela?
Ele foi até uma poça de água no chão de pedra e pegou um pouco.
"Água. Tem de se hidratar. É um poço, é água limpa." Violet sentia sede então tomou toda a água e pediu mais. Sua cabeça ainda doía muito.
Ela olhou em volta, era uma grande caverna. Haviam algumas roupas penduradas numa estrutura de caibros de madeira, cadeiras de armar, colchões infláveis no chão e só.
"Essa é sua casa?" Ela perguntou.
"Sim. Por enquanto." Ele sorriu. O sorriso do tio V, cheio de dentes e presas. Lindo.
Violet se deitou, mas logo se levantou. Ela não podia dormir. Não quando teve os piores sonhos que alguém podia ter.
"Os sonhos vão parar, mas se conseguir ficar acordada por um bom tempo, será melhor." Ele disse.
"Eu fico." Violet disse, ele sorriu. Uma grande cicatriz cortava o lado de seu rosto e ia até o seu pescoço.
"Foi um lobo que fez isso?" Violet apontou para a cicatriz.
"Sim, ontem quando te salvei. Amanhã vai ter sumido."
"Obrigada. Eu nunca vi um lobo daquele tamanho." Ela disse, ele acenou.
"Ninguém nunca os machucou como você fez. Mas nunca um de vocês chegou tão perto."
"Eu vim dizer que vocês são nosso povo e que podemos cuidar de vocês. Lhes proporcionar casa, trabalho e família. Nós somos uma família e isso é nosso maior dom." Violet disse, ele riu.
"Eu tenho uma família. E o que você está oferecendo é simplesmente uma jaula grande." Ele disse.
"Não. Nós podemos sair, eu estudei e trabalhei fora." Ela disse.
"Bom, vendo como você enfrentou Augie eu até posso imaginar que os humanos mantiveram distância de você, mas não houve nenhuma ameaça? Insultos?" Violet baixou os olhos para o grande curativo no braço. Iria ficar feio, o lobo arrancou...
"Augie? Ele tem nome? O lobo?"
"Sim. Ele tem. É o chefe da matilha, tem que ter nome."
"Ele e os outros protegem vocês, é isso?" Violet perguntou.
"Sim." Ele disse de um jeito definitivo, como se dissesse que não ia falar mais naquele assunto. Exatamente como o Tio V fazia.
"Você sabe se você é um clone?" Ela perguntou, mas algo dentro dela sentiu que ele não era um clone. Ele não era idêntico ao Tio V como os clones eram. Ele tinha pequenas rugas de sorriso nos olhos, coisa que nem o Tio V nem os clones tinham.
"Eu sei que eu não sou." Ele disse.
"É que você se parece demais com meu tio. Muito mesmo, embora eu ache que você é mais velho."
Ele assentiu devagar com a cabeça.
"Muito mais velho, querida. Muito mais." Violet assentiu também.
"Será que você é que é a matriz? Será que meu tio é um clone?" Ela arregalou os olhos, ele riu.
"Não, criança, eu não sou uma matriz. Na verdade..." Ele suspirou e olhou intensamente para Violet, Violet sentiu que ele examinava sua alma. Exatamente como o Tio V fazia.
"Eu vou te contar a minha história, criança, mas vou fazer isso para que quando você ir embora, você nos deixe em paz." Ele disse e Violet entendeu que ele queria firmar um acordo.
"Mas você não está sozinho. Eu vi mais pessoas. Elas tem o direito de..."
"Eu falo por elas. Eu sou o líder." Ele disse se esticando.
Violet não disse nada. Ela estava debilitada ainda, não era hora para bater de frente com ele.
"Bom, começaremos por seu tio. Como ele se chama?"
"Tio V. Vengeance." Ele sorriu.
"Vocês tem nomes tão estranhos! Bom, você o chama de tio, mas não é parente dele, é?" Ele correu os olhos pelos cabelos de Violet.
"Não. Não de sangue. Mas nossas familias estão entrelaçadas por acasalamentos."
"Vocês acasalam? Curioso."
"Sim. Casamento humano não é para sempre como o nosso é."
"Sim, nisso você tem razão. Então você tem irmãos e eles acasalaram com os filhos de Vengeance."
"Sim. Meu irmão Honor é acasalado com Livie, que é filhote dele. Meu irmão Pride..." Violet pensou se dizia que Livie teve filhotes com dois dos irmãos dela.
"Seu irmão Pride..." Ele sorriu da indecisão de Violet.
"Meu irmão Pride também teve filhotes com Livie. Minha irmã Daisy está namorando com um dos..." Violet parou de falar de novo, ele riu.
"Parece que a família de Vengeance é bem peculiar."
"É, é sim. Bom, tudo bem, minha irmã Daisy namora Romulus, que é um clone do meu tio. Mas Tio V o trata como filhote."
"Quantos... Quantos filhotes Vengeance tem?"
Violet sorriu se lembrando da briga de seu pai e seu tio.
"Oito filhotes e três clones que são como filhotes também." Ele apertou os olhos.
"E todos são... São perfeitos, saudáveis?" Ele perguntou Violet assentiu.
"Sim. Os filhotes dele com Tia Mari são maiores e mais fortes que a maioria dos machos. Quinze é um gigante e Peace está indo pelo mesmo caminho."
"Tia Mari é a esposa. Ela é Nova Espécie?" Violet fez que sim com a cabeça.
"Sim. De segunda geração como eu. Primata." Ele torceu os lábios.
"Um canino e uma primata. E eles se parecem com ele?"
"Sim, mas tem os olhos dela, quer dizer, Peace tem os olhos do Tio V, mas acabamos por esquecer disso por que até agora ele não parece ter vidência nenhuma."
Ele se levantou da cadeira de praia e andou pela caverna.
"Ele é bom? Um grande vidente? Poderoso?" Ele perguntou depois de um tempo.
"Sim, de certa forma. O mais poderoso deles é Noah, um dos clones. Ele vê o futuro com tanta clareza que pode mudá-lo, ou contorná-lo."
"Se ele é um clone, o poder vem de Vengeance."
"Sim. Você é um vidente também, não é? É por isso que é quase impossível achar vocês."
"Sim. Eu sou." Ele disse com um tom estranho. Violet quase achou que ele usou um tom de derrota.
"Você disse oito filhos e três clones. Todos moram com ele?"
"Peter, Livie, Grace e Adam são acasalados e moram perto. Quinze está quase acasalando com Rebbeca e quase não fica na casa deles. O resto mora na grande casa do tio V, incluindo Dezesseis e Dezessete que são filhotes de Quinze."
"Quinze, Dezesseis e Dezessete. Por que são chamados por números?"
"Quinze foi feito por inseminação e criado numa ilha do outro lado do mundo. Não lhes deram nomes, deram números e eles continuaram a se chamar assim."
"Mas Quinze é filho de Mari."
"É. A maioria dos filhotes dele foi por inseminação. Não. Eu estou errada. São quatro por cópula normal e quatro por inseminação."
"Certo, eu já tenho um panorama geral. Vengeance tem muitos filhos. Seu pai tem quantos? Você tem quantos irmãos?"
"Meu pai tem dez filhotes, eu tenho oito irmãos e uma irmã." Ele ergueu as mãos para o alto.
"Meu Deus! Todos de uma mesma mãe?"
"Sim." Ele riu.
"E todos saudáveis? Vocês são felinos, não é?"
"Sim, somos felinos."
"Você tem olhos azuis. Todos os seus irmãos têm também olhos assim? Dessa cor?"
"Não. Eu tenho os olhos da cor dos de minha mãe. Eu, minha irmã gêmea e um dos meus irmãos, Pride, tem os olhos assim, os outros tem os olhos castanhos."
"Castanhos?" Ele perguntou, Violet se ajeitou no colchão.
"Dourados. Amarelos escuros. Eu não sei. Acho que dourado é a cor que mais chega perto."
"Cabelos ruivos e olhos castanhos dourados. Algum deles é chamado de leãozinho?" Ele perguntou, Violet bufou.
"Sim. Eles são famosos. Embora eu nunca pensei que alguém daqui os conhecesse."
"Um sussurro aqui, outro ali. Nós precisamos estar de olho nos nossos inimigos. E eles falam em seus irmãos. Eles os temem. E há até muito dinheiro pela cabeça de um deles." Ele disse, Violet deu de ombros.
"Eles podem tentar. Mas não acredito que consigam." Não era uma fala a toa. Violet conhecia bem seus irmãos, eles eram poderosos.
"Bom, então vou te contar minha história, mas não se esqueça do que eu disse. Porém, coma primeiro."
Ele disse indo até uma mesa de armar que estava num canto e Violet não tinha visto. Lá havia um fogareiro, ele o ligou e logo o cheiro de carne chegou ao nariz dela, seu estômago roncou.
Ele ainda virava os bifes quando uma filhote entrou na caverna.
"Ela acordou? Phil disse que ela iria morrer, eu sei que não." A filhote disse enquanto entrava. Quando viu Violet sentada contra a parede de pedra da caverna ela estacou.
"Nossa! Você é muito linda!" Ela disse, Violet sorriu.
"Você também é muito bonita." Violet observou e era verdade. Ela era loira, os cabelos eram bem claros e os olhos!
Violetas. Uma cor muito incomum mesmo entre os Novas Espécies. Snow, um macho da força tarefa, tinha olhos azuis com algumas raias lilases, mas ainda assim eram azuis. E tirando ele e seu Filhote, Blank, ninguém mais tinha olhos com esse tom.
"Seus olhos são lindos." Violet disse, a filhote baixou os olhos.
"Todos aqui tem olhos assim." Ela disse num tom de tristeza.
Violet achou melhor sorrir e bater no colchão inflável para que ela se sentasse.
A menina fez que não e olhou para o macho. E só nesse momento é que Violet se deu conta de que não sabia o nome dele. E que nem tinha dito seu nome.
"Eu me chamo Violet. Qual é o seu nome?"
"Sou Annabeth. Pode me chamar de Anna." Ela disse.
"Seu nome é bem bonito, assim como você." Violet disse de volta.
"E o seu?" Violet perguntou para o macho. Ele sorriu, mas um rosnado vindo da entrada da caverna o fez rosnar de volta. Eles eram Novas Espécies afinal.

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