CAPÍTULO 66

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Gift encarou Harmony quando ela se sentou sobre ele, os olhos dela estavam amarelados, ela uivou com tal poder que a casa pareceu tremer. Ou era seu mundo, ele não sabia direito. O prazer o tomou de uma forma tão intensa que ele pareceu flutuar numa dimensão desconhecida, feita apenas de sensações. Gift fechou os olhos, Harmony baixou a cabeça em seu ombro e ficaram imóveis. Havia uma teoria de que quando dois caninos de segunda geração compartilhavam sexo, o pênis do macho inchava e a vagina da fêmea se contraía. Era como uma lenda urbana deles, como os tais jacarés do esgoto de Nova York ou uma tal loura banheiro no Brasil, algo que ninguém pensava muito, algo que não mudava a vida de ninguém. Era assim que essa teoria era encarada, e talvez poderia ter continuado assim, se Gift não tivesse pensado nela naquele preciso instante. Ele beijou Harmony e tentou se mexer, mas estava preso. Totalmente. Um milésimo de segundo que passou e a sensação gostosa de estar inchado dentro de uma buceta molhada voltou. Dava para se mover devagar, não tirar, mas dava para se mexer. E ele desinchou.
Gift poderia deixar aquilo para lá, mas tudo acerca de Harmony era especial e único, então ele disse:
"Ficamos presos. Totalmente. Pena que foi só por um curtíssimo tempo."
Ela sorriu e o beijou, Harmony estava sedenta por ele, o veneno só amplificada isso, Gift retribuiu o beijo, sentindo seu pau enfurecer dentro dela. Como tinha de ser.
"Mamãe e papai dizem que com eles é assim. Não sempre, mas na primeira vez deles aconteceu isso. Só mamãe que se lembra." Ela disse.
"É. Seu pai é de segunda geração, papai sempre disse isso."
Gift se lembrou de que muitos Novas Espécies eram de segunda geração e não sabiam disso. Honor contava de ter conhecido um canino muito parecido com o Tio Slade e isso foi assunto durante um bom tempo.
"Então, eu sou de terceira?" Ela perguntou com um sorriso.
"Você é minha." Gift disse a encarando com todo seu amor transbordando de seus olhos.
Harmony lhe alisou o rosto e a barba, aquilo incomodou Gift durante muitos dias, mas Harmony pareceu gostar, então, como o idiota que era, ele deixaria sua cara como a bunda de um cachorro peludo, se ela pedisse. Eles se beijaram, Gift só conseguia pensar numa forma de ficarem ali por pelo menos umas duas semanas sozinhos. Ele tinha de chantagear John de alguma forma, para que ele viesse lhes buscar depois, mas John era a porra de um filhote perfeito.
Ficar ali seria uma espécie de Lua de mel para eles já que quando voltassem teriam uma família grande para cuidar. Caim, Matilda, Abel4 e até Péricles, que pediu para fazer parte da família deles e Gift não conseguiu dizer não. Adriel, a Coruja, era outro problema. Gift e Harmony precisavam desse tempo só deles.
"Gift!" Caim gritou. Harmony sorriu e saiu de cima dele, Gift se levantou da cama, vestiu uma bermuda, a beijou na boca e correu para a caverna.
Enquanto corria, ele agradecia o fato dela ser tão boa, tão altruísta. Harmony nem mesmo disse nada quando Caim o chamou, ela entendia que Caim era uma prioridade dele. E dela também.
Quando entrou na caverna, Augustus tremia no chão, nu, Honest e Candid tentavam imobilizá-lo, Simple segurava os bebês e Caim estava de joelhos com as mãos na cabeça.
"Que merda é essa?" Gift perguntou para Simple, Simple o encarou e disse como se não fosse o companheiro vinculado de sua irmã ali, morrendo:
"Adriel, a coruja quer tomar o corpo de Augustus, mas não é tão fácil assim, então ele está tentando destruir a mente de Augustus. Se ele conseguir, Augustus morre."
"Como deixou isso acontecer? Pensei que fosse a porra do líder!" Gift disse para Honest antes de se ajoelhar ante Caim.
"Caim? O que está fazendo?"
Caim encarou Gift e Gift viu que o veneno tinha apenas mascarado o DNA de Flora dele, pois seus olhos estavam castanhos claros da cor do mel, exatamente como os dela.
"Precisamos ajudar Augustus. Morda ele. Com muito veneno. No pescoço. Honest vai massagear para que o veneno suba para a cabeça dele e mate Adriel."
"Isso fazia parte do seu plano?" Gift perguntou baixando o rostinho dele.
Caim balançou a cabeça negando.
"Como o veneno de Gift pode matar apenas Adriel e não Augustus?" Simple perguntou.
Fazendo Augustus ficar venenoso, como Benson fez com Augie. Mas isso mudaria o DNA de Augustus e denunciaria para Simple o que Gift fez.
"Não podemos deixar ele morrer, Gift. Ele é bom. E há o bebezinho dele a caminho. Nenhum bebê deveria perder seu pai." Caim disse, Gift assentiu.
"Se der certo, se Gift conseguir uma morte cerebral com o cérebro de Adriel no controle, podemos aplicar um antídoto e torcer para ser suficiente." Candid disse.
"Não vai dar certo. Augustus tem de migrar sua mente para algum ser vivo, assim seria mais seguro." Simple disse.
"Acha que eu não pensei nisso? Está vendo algum ser vivo a não ser nós aqui?" Caim disse para Simple, Simple correu para fora.
"Não há nada lá. Nada que seja útil. Morda ele, Gift." Caim disse. Augustus tremia, batendo a cabeça no piso de pedra, o sangue já escorria de sua nuca.
"Como assim, nada que seja útil?" Gift perguntou.
"Isso não importa, porra! Morda ele!" Candid disse rosnando. Ele e Honest usavam toda a força que tinham para segurar Augustus contra o chão, estavam suados e sangrando onde Augustus conseguiu acertá-los.
"Augustus pode entrar em qualquer mente por um tempo, mas nesse caso ele precisaria de um animal grande. Adriel não vai morrer facilmente." Caim explicou.
"Então, que porra Sim foi fazer lá fora? Não há nada por aqui, apenas alguns pardais." Candid disse.
Gift inspirou e era verdade. Caim tinha razão. Ele se aproximou e ajudou Honest a segurar a cabeça de Augustus, mas os olhos de Augustus ficaram vermelhos e ele lançou os três longe.
"De novo, não!" Caim disse e Gift entendeu o que Simple foi fazer quando ouviu todos correndo da vila. Adriel iria matar todos quanto conseguisse.
Augustus ficou em pé, Honest caiu sem sentidos, Candid arregalou os olhos.
"Leve ele daqui!" Gift disse, Candid ainda abriu a boca para retrucar, mas Honest se esticou todo, Candid o pegou, jogou em seu ombro e correu.
"Gift, fique na porta. Não deixe ninguém passar." Caim comandou, Gift fez que não.
"Não vou deixar você aqui. Ou saímos os dois, ou morremos os dois."
"Tudo bem então. Eu te amo."
Caim disse e Gift se sentiu fraco. Muito fraco. Ele se deixou cair e concentrou sua força em manter os olhos abertos, só isso.
Caim sorriu, aquele sorriso que era só dele, o sorriso que era uma mistura do sorriso de Simple e de...
"O quê..." Augustus disse rosnando, mas logo arregalou os olhos.
"O que é isso? Terror, Adriel. Teria sido mais rápido Gift ter te mordido. Mas você é um idiota que passou tempo demais observando os outros, acreditando que estava acima de todos, que estava acima de paixões mundanas. Que era o ser perfeito e que precisava de um corpo perfeito para governar os imperfeitos. Mas no fim, você não é nada mais que uma parte. Uma parte de um todo extraordinário, mas esse todo não existe mais." Caim disse e Augustus se ajoelhou uivando, Gift sentia a agonia em que a alma dele estava, mas isso não o machucava.
"Eu sou a única parte viva! Eu!"
"E vai morrer." Caim disse com um sorriso doce, Augustus uivou tão alto que os ouvidos de Gift sangraram, os de Caim também, mas o filhotinho continuou firme.
"Não! Eu sou mais forte! Eu sou!" Augustus gritou.
"Sim, eu te dou isso, mas é exatamente por você ser tão forte que as sensações são igualmente fortes, igualmente letais. A decisão é sua. Morra, ou saia." Caim disse.
Gift se esforçou para se levantar, quando conseguiu, segurou na mãozinha de Caim e se sentiu melhor, mais forte. Augustus estava puxando os cabelos e seus olhos estavam azuis agora, azuis bem claros como os de...
Gift franziu as sobrancelhas.
" A mente pode ser muito forte, mas os sentidos sempre vão governar o corpo, Adriel. E eu posso não controlar sua mente, mas posso te fazer sentir o que eu quiser." Caim disse, Augustus mostrou suas presas impressionantes, seu rosto era uma máscara de dor, ele tentava a todo custo controlar seus sentidos.
"O que está fazendo com ele?" Simple disse da entrada da caverna, Caim baixou a cabeça.
"Um último acordo, Caim. Ou..."
Simple deu alguns passos na direção deles, seus olhos estavam confusos, Gift nunca o tinha visto assim. Adriel, por outro lado usou sua última jogada.
"Por que..."
"Ok." Caim disse, Augustus caiu no chão, Caim se jogou e Gift também. Eles ficaram imóveis no chão, Simple correu até Caim e lhe soprou ar pela boca. Caim tossiu e se apoiou nos antebraços. Gift se sentou segurando a cabeça. Ele foi muito atingido, Caim não, então por que fingiu ter quase perdido os sentidos?
"O que estava acontecendo aqui?" Simple exigiu saber.
"Ele aprendeu algumas coisas. Nos atacou usando uma estranha onda de sentimentos, algo que eu nunca soube que existia. Você não sentiu?" Caim perguntou.
Simple se levantou e inspirou, Gift não disse nada. Todo mundo dizia que era impossível enganar Simple e Gift cresceu convicto disso. Quando mudou o DNA de Caim com veneno, foi a primeira vez que Simple foi enganado, ou quase enganado, uma vez que se via em seus olhos que não estava cem por cento convencido de que Caim fosse um clone dele.
Simple foi até Augustus no chão, ele estava inconsciente.
"Adriel não teria capacidade de emanar sensações ou controlá-las. Isso não é algo que se aprende."
Simple disse jogando Augustus nas costas.
Eles saíram da caverna, Simple deitou Augustus no chão e pegou seu telefone por satélite.
"Podem voltar." Ele disse.
"Adriel não aprendeu. Ele conhece alguém que pode fazer isso, pelo que eu entendi. Amália manipula plantas com muita perícia, mas não acho que seria ela. Mas poderia ser..."
"Ele voou sobre as nossas cabeças durante mais de um século. E existe uma fêmea que ele pode ter entrado na mente sem que ninguém soubesse, uma vez que ela tinha a irritante mania de sair da Reserva." Ele disse travando o maxilar.
"Eu não entendi nada, só me senti fraco, triste e vazio." Gift disse. Harmony tinha corrido com os outros, ela estava voltando e ele só queria estar dentro dela de novo. Quando os olhos de Augustus ficaram vermelhos...
"Se sentiu como você mesmo, se quer saber minha opinião." Simple disse, Caim riu.
"Qual foi o acordo? E se era Adriel emanando aquela onda sensorial densa e letal, por que ele é que saiu?" Simple perguntou.
"Ele quer a mãe dele. Eu vou encontrá-la." Caim disse.
"Só eu sei onde ela está. Não devia fazer um acordo com ele sobre isso, é perigoso. E devia falar comigo antes de aceitar." Simple se esticou. Gift se levantou, ele se sentia fraco e doente, mas era apenas para ficar de pé, afinal Simple não bateria em Caim.
"Eu não tenho que falar nada com você. Se quiser me dar as coordenadas de onde a mente original de Fiona está, eu agradeço, se não eu consigo sozinho." Caim disse.
Simple piscou confuso. No mundo dele todos os filhotes o idolatravam, era estranho que justo Caim o enfrentasse.
"Se conseguir encontrá-la, me peça o que quiser, mas o que quiser mesmo, Caim. Eu farei."
"Prepare-se para passar um mês morando com Poppy e Cherry então." Caim disse, Gift começou a rir. O absurdo da idéia era tão genial que ele gargalhou.
"Como sabe sobre elas?" Simple perguntou.
"Eu contei. Eu contei e se Caim conseguir, eu ficarei em Homeland junto com você. Acho que todo mundo irá para lá. As apostas serão astronômicas." Gift não conseguia parar de rir.
"Não vai achá-la." Simple disse, mas estendeu a mão. Caim foi até ele e apertou a mão grande com sua mãozinha. Simple suspirou.
"Vai ficar mesmo com Gift?" Simple perguntou, Gift olhou para Caim.
Gift tentou dizer com os olhos que estava tudo bem, que ele o visitaria todo dia, que Simple era um ótimo macho e seria um ótimo pai, ele tentou expressar tudo isso com os olhos, ainda que não sabia por que doeu pensar que não iria morar com aquele pirralho super inteligente.
"Vou. Mas posso te visitar se você quiser."
"Posso te ensinar a caçar." Simple disse.
"Valiant vai fazer isso. Ele deve ser melhor caçador que você." Caim disse, Simple riu. Riu muito, tanto que o coração de Gift se aqueceu. Simple era importante para todos na Reserva e ainda que Gift não morresse de amores por ele, Simple era importante para Gift de alguma forma. Foi bom vê-lo rir.
"Não diga a ele que eu sugeri isso. Ele vai trovejar que eu sou uma decepção caçando." Simple disse e foi a vez de Caim rir.
"Você me deve então." Caim disse, um barulho de helicóptero soou, eles viram outro helicóptero indo pousar perto do precipício.
"Seu pai, o meu, Violet, nosso tio..." Gift disse.
"Os gêmeos, Sheer e até Proud!" Simple disse surpreso.
Caim alisou o rosto de Augustus no chão.
"Vamos colocá-lo na cama, Gift. Quando Violet chegar, será melhor vê-lo limpo."
"Papai iria chutar as bolas dele se o visse nu assim." Simple disse.
Gift jogou Augustus no ombro e o levaram até a casa dele. Lá Caim deu-lhe um banho com uma toalha úmida, o vestiram com uma de suas bermudas horrorosas e esperaram.
Do lado de fora, muita gente falava ao mesmo tempo, Gift segurou a mãozinha de Caim.
"Tudo bem se quiser ficar com ele."
"Eu vou. É só que há muita coisa a ser consertada, Gift. Mas eu vou, olha!" Ele tirou um desenho surrado do bolso da calça, um desenho que parecia ter estado ali a muito tempo e não era de Harrison.
Era Caim sorrindo. Um grande sorriso, seus olhos estavam brilhando.
"Quem desenhou isso?"
"Abel2. Ele era diferente. Tinha os olhos azuis. Como os de Romulus." Gift estreitou os olhos.
"Como assim?"
"Abel, o primeiro era um clone meu. Abel2 não." Gift balançou a cabeça.
"Outro clone do meu tio?"
Caim sorriu
"Ele era carrancudo e adorava dormir. E desenhava. Muito bem. Ele me prometeu que eu teria minha família completa, eu..." Uma lágrima brotou nos olhinhos dele, Gift a enxugou.
"Eu não acreditei. Não havia porque acreditar."
"Mas agora você acredita?" Gift perguntou.
"Sim. E por sua causa. Obrigado, Gift." Ele abraçou Gift com força, Gift sentiu o cheiro de Harmony se aproximando, ela os abraçou, Caim lhe beijou os lábios, Gift rosnou, Harmony e Caim riram.
"Pestinha!" Gift disse.
"Então, você é o clone?" Violet disse, Gift, Harmony e Caim se viraram para ela.
"Eu cuidei dele. Ele está bem, vai acordar e vocês serão felizes." Caim disse quando desceu dos braços de Gift e Harmony e se postou a frente de Violet como um cavalheiro inglês dos filmes. Ele até se curvou.
"Obrigada. Meu filhotinho tem madrinha, mas não tem padrinho, uma vez que Harmony não é acasalada com Gift. O que acha? Eu penso que você será um ótimo padrinho." Violet disse.
Gift fechou a cara.
"Eu te amo, Gift, mas não posso deixar isso passar." Caim disse com um sorriso bem grande.
"Pestinha!" Gift disse, jogou Harmony no ombro e saiu correndo.
"Gift!"
"Temos tempo para uma rapidinha pelo menos." Ele disse entrando na primeira casa que viu.
"Esse é o meu filhote!"
Gift riu ao ouvir seu pai se gabando dele no meio da vila.
"Ouviu? Eu tenho de deixar meu pai orgulhoso." Ele disse, Harmony o beijou.







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