CAPÍTULO 33

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Gift ficou olhando Tempest levar Mony. Ou o outro, afinal eles se vestiam igual e ele nunca se importou em diferenciá-los e o fato era que um dos gêmeos estava levando Harmony embora.
Ele a segurava no colo, ela era quase do tamanho dele, o coração idiota dele bateu um pouco mais forte ao pensar no quão alta e linda ela era e que era dele. Ou seria dele.
Gift tentou ligar para Matt, o desgraçado não atendeu. Gift acionou Joe para rastreá-lo, o filho da puta estava na Índia!
"Agora somos só nós dois, Gift. Se quiser chamar seu pai, eu espero, mas iremos conversar." Torrent disse.
Chamar o pai dele!
"Não tenho por que chamar o meu pai. E não tenho nada a conversar com você." Gift se esticou e o encarou. Torrent era um dos maiores caninos da primeira geração e sim, Gift sentia que ele era muito forte.
"Será que podiam ir conversar em outro lugar? Eu estou muito cansado, essa porra de corpo primata é muito mole! Vão embora." Collin saiu pela porta, Gift se virou para ele e disse:
"Saia você, essa cabana é minha agora." Collin juntou as sobrancelhas brancas e franziu o nariz, Gift não se abalou.
"Dá pra acreditar nesse cara? Essa cabana é minha, imbecil. E saiam daqui, eu ainda tenho de limpar tudo, você e..." Torrent rosnou.
"Há cheiro de sexo por toda parte." Ele consertou o que disse.
"Vamos para sua casa, Gift. Eu não me sinto bem chutando a sua bunda sem falar com Brass."
Gift ignorou o que Torrent disse e se voltou para Collin:
"Eu entendo que você não é Honest, mas em algum lugar em sua mente..." Collin reagiu exatamente como ele esperava:
"Eu sou Honest! E se dúvida disso vou te mostrar!" Ele rosnou com os olhos arregalados. O corpo que ele habitava era enorme e forte, sua alma era felina, violenta. Gift sorriu, seria uma boa forma de passar o tempo.
"Se você fosse mesmo Honest se lembraria de que Simple sempre tomava as responsabilidades dos três para si e isso se devia ao fato de que Honest na maioria dos meses era Simple." Gift disse, Collin foi até ele, a fúria fazia os olhos dele ficarem meio dourados, será que alguém já tinha reparado nisso?
"Eu era Simple, você quer dizer." Ele mais rosnou que falou.
"É mesmo? Eu não sabia disso." Torrent disse, Collin o olhou e na hora seu olhar mudou. Ternura. Eles amavam Torrent. Interessante, mais uma coisa que ele não sabia. E que poderia ser usado mais tarde.
"Você nos viu lutando. Eu quase sempre ganhava." Torrent sorriu, a ternura também estava nos olhos dele. Gift queria bufar, mas não iria provocar demais.
"É, e se você é Honest mesmo, então saia da cabana, pois Candid me deve. Muito." Gift disse, Collin piscou.
"Se eu sair, as dívidas dele estarão pagas?" Ele perguntou, Gift acenou.
Collin franziu o nariz, era esquisito, o nariz dele era muito delicado, não franzia direito, mas ainda assim era a marca registrada de Honest.
"E Candid tem uma casa novinha. Se ele ficar livre de mim, fica nas suas mãos." Gift adicionou.
Collin sorriu e voltou para dentro.
Torrent olhou para Gift, Gift suspirou. Não demorou muito Collin saia com vários sacos de lixo nas costas.
"Os livros são de Gabriel, você decide o que fazer com eles." Ele sorriu e saiu já falando com Lunna no telefone dizendo que agora eles tinham uma casa.
"Isso foi esperto. Mas preocupante." Torrent disse, Gift deu de ombros.
"O verdadeiro Honest iria te chutar daqui. Ele consideraria que uma cabana seria muito por simples dívidas. A menos que você tenha mesmo Candid nas mãos, o que eu duvido. Candid não fica nas mãos de ninguém." Ele tinha razão.
"Ele não é só Honest." Gift disse, Torrent o encarou:
"Como assim?"
"Eu te conto se for embora e me deixar arrumar a cabana. No quesito bagunça, ele é mesmo Honest." Gift disse, Torrent ficou em silêncio.
Todos sempre se preocuparam com Honest, o apelo a ajudar era grande, e o afeto que Gift tinha visto nos olhos de Torrent era genuíno.
"Não posso sair daqui sem te falar que isso, você e Harmony, não pode continuar." Torrent o encarou e Gift viu que ele falava a sério.
"Não é você quem decide isso."
Gift disse, Torrent se esticou todo e o encarou com olhos maus.
"Você a viciou, isso é inaceitável. E mostra o tipo de filhote que você é: um desonrado." Ele praticamente cuspiu a última palavra.
Gift assentiu:
"Se é o que você pensa, não vou perder meu tempo te provando o contrário. Sua opinião sobre mim, não me importa. Mas ela será minha. E vou fazer o que tiver de fazer para tê-la." Gift disse. Ele encarou Torrent, Torrent deu um passo para trás.
Machos de primeira geração não sabiam lidar com o mal. E Gift era mal.
"Você está sendo sincero, então também vou ser: ela não te quer. A prova disso é que você a envenenou." Gift sorriu, ele pensava que Torrent podia dizer algo diferente, mas não, ele disse o mesmo que todos.
"Vai me impedir de vê-la? Ou melhor, tentar impedir?"
"Sim. E acho que todos irão ajudar. Vengeance. Dusky. Os clones. Todos vão ir contra você e sua pouca honra."
Gift assentiu.
"Se não for difícil, não tem graça é como eu sempre digo." Ele disse.
Torrent assentiu também, deu as costas a Gift e correu.
Gift foi até a pedra e esperou. Noah foi o primeiro a chegar. Aquilo seria ruim, mas ele cresceu sem amigos mesmo, todos sempre amaram Brave e só o toleraram.
Noah se sentou ao lado dele, Gift não tirou seus sentidos do sono de Harmony.
"Eu não posso te ajudar nisso, Gift. É errado." Ele disse.
"Viu alguma coisa? Seja sincero."
Noah não falou por um bom tempo, Bravery chegou e se sentou do outro lado de Gift em silêncio.
"Algumas. Ela morta é o mais recorrente. Mas também você matando Matt. E você lutando com John."
"Isso foi hoje mais cedo."
"Eu não vi hoje." Noah explicou.
"Não viu os dois juntos?" Bravery perguntou, Gift não desviou o olhar mas travou o maxilar.
"Sim. Mortos lado a lado. Ou vivos, não deu pra entender. E quando eu não entendo..."
"Não é para entender." Gift completou por ele. Havia uma chance. Uma. E ele se agarraria a isso.
"Obrigado, eu sei o quanto custa." Gift disse, Noah suspirou.
"Vai seguir em frente?"
"Sim. Contra todos, contra você." Gift o encarou dessa vez.
Noah olhou para Bravery, Bravery baixou os olhos. O que ele fazia no grupo deles era um mistério para Gift.
"Eu acho que se você não envenenar ela, eu ainda ajudo. Luto com quem tiver de lutar, vigio quem você mandar." Bravery disse.
Gift engoliu em seco.
"Você subestimou Matt, Gift. Eu o vi com Bronzy, mas havia algo que não se encaixava e foi onde ele agiu."
Gift entendia. E sim, Matt o envolveu.
"Acha que ele sabia do seu dom?" Bravery perguntou.
"Anderson era um dos maiorais de Mercille. Bishop era melhor que ele, mas Bishop era esperto demais para jogar isso na cara dele. Ele não escondia que tinha a nós, é claro que devia se gabar de nossa vidência. Ele deixou muito dinheiro pra nós e isso pode deixar rastros. E não sabemos a história de Benson."
"Mas Benson não estava viciado na fêmea humana, ela estava viciada nele! Se encontrarmos Matt, ele pode me fazer reverter o vício da minha parte." Gift disse, mas assim que as palavras saíram a dor veio.
"Eu não sei, Gift. Você já a amava antes de mordê-la." Noah disse.
Gift balançou a cabeça. Não! Ele não amava Harmony!
"Não. Eu estava atraído e você concorda comigo que ela é muito atraente. Tanto que há nela um instinto para ser invisível, ela está sempre encolhida, sempre usa roupas largas."
"Nossa! Eu nunca pensei isso, mas... Sim, ele tem razão, Noah." Bravery disse.
"Iremos atrás de Matt. Se ele confirmar que sabia que você se viciaria nela assim como ela se viciaria em você, ele deve saber como reverter. Isso é o máximo que faremos." Noah decretou, Bravery sorriu, aliviado por ainda serem um grupo.
"Obrigado." Gift disse, eles foram embora, Gift suspirou olhando para as cores do crepúsculo.
Ele não tinha tanta certeza de que estava viciado em Mony. O desejo doía, mas os machos vinculados ficavam desesperados longe de suas parceiras. Seu pai mesmo inventou uma história idiota para construírem uma sala para ele na direção da casa deles, na direção da janela do quarto dele e da mãe de Gift. Como o faro dele era absurdo, Brass conseguia sentir Sophia durante todo o tempo em que estava naquele escritório. E só saía quando a mãe de Gift estava visitando alguém. Ele marcava reuniões e outras coisas para esses momentos e ficava uma fera quando a mãe de Gift mudava algum horário.
Ninguém sabia disso, todos acreditavam que Brass era controlador. Gift sorriu. Seu pai dependia de Sophia. Muito.
Ele estaria vinculado, então?
Se não sabia essa era sua resposta. Mas o veneno seria assim? Ele estava só envenenado? Só isso?
E todas as imagens dela sorrindo, seu sorriso contido, escondendo as grandes presas? E todas as raias dos olhos dela que ele decorou? Todos os tons que faziam as pessoas acreditarem que os olhos dela eram azuis escuros, mas que olhando bem mostravam que o verde claro dos olhos de Grace também estava lá? Três raias verdes no meio das azuis. Gift comeria seus sapatos se alguém soubesse desse detalhe insignificante.
Ou de como ela se esticava quando era contrariada. E de como a natureza conciliatória dela aflorava e então ela voltava a se encolher. Ela era uma guerreira que escolhia suas batalhas. E na maioria das vezes não lutava e conseguia ficar bem com isso.
Gift inspirou, o cheiro dela lhe veio ao nariz. Ele se concentrou e caminhou até ela. Melody estava no quarto, mas Melody dormiria.
As horas se passaram, Gift continuava na árvore em que subiu.
Ele ouviu Grace fazer uma prece, ouviu River dizer que tinha visto sua irmã morta e ouviu Grace e Melody chorarem. Ouviu os gêmeos jurar que ficariam a noite toda na porta do quarto. Ouviu ela acordar e dizer que estava bem. Ouviu Forest e Niyati irem ao quarto dela, ele sentiu pânico quando Niyati disse que não conhecia aquele veneno, mas que tudo em Harmony estava bem. Niyati disse que Harmony voltaria ao normal.
Eles foram embora, Torrent e Grace se recolheram ao quarto deles, Tempest ficou com a primeira hora de ronda. Melody adormeceu. Gift se preparou.
Ele não ficava invisível, claro, mas Novas Espécies dependiam muito do faro e isso era sua vantagem. Tempest saiu, rodeou a casa, Gift praticamente andou às costas dele, ele não o percebeu. Gift escalou a janela, Harmony dormia, ele se deitou ao lado dela. Suas presas coçaram para mordê-la, mas ele resistiu.
Ele não ligava para essa merda de honra, mas ele não a queria contra a vontade dela.
Havia uma forma de se conseguir tudo o que se queria, foi o vovô que lhe disse isso e ele concordava. Ele teria Harmony sem o veneno.
Gift inspirou, o cheiro dela o acalmava e inflamava, mas ele não sairia dali até que a alvorada chegasse.



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