CAPÍTULO 37

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Harmony desceu do helicóptero, os olhos avermelhados de Smy foram a primeira coisa que ela viu. Sérios, mas a doçura e a bondade inerentes nele também estavam lá.
Ele lhe ajudou a descer do helicóptero, ela sorriu, ele só acenou.
Eles foram até o jipe, ele colocou a mala dela no banco de trás, Harmony sentou no banco do passageiro. Ele entrou no jipe e deu a partida.
"Doutora Alli, não é?" Ele perguntou, Harmony fez que sim, ele dirigiu em silêncio até a casa da doutora.
Harmony desceu, Opal veio correndo pegar as malas dela, Smy não saiu do jipe.
"Posso passar aqui a noite?" Ele perguntou, mas não era bem uma pergunta, Harmony assentiu, ele foi embora.
"Mony!" A doutora Alli veio andando com dificuldade devido a imensa barriga de quatro meses de gravidez. Gêmeos. Mony se deixou abraçar e a segurou um pouco mais. Doutora Alli era boa, algo nela fazia Harmony se sentir bem, mesmo nessa embrulhada toda em que ela havia se metido.
"Então é você que vai ficar no meu quarto me obrigando a ir dormir no prédio dos machos." Opal disse com a cara fechada, Harmony abriu a boca sem saber o que dizer.
"Como se você não tivesse pedido milhares de vezes para ir morar lá!" Obsidyan, o pai dele, bufou, Opal riu.
"Será só pelo tempo em que os pestinhas comecem a andar, aí eu volto." Ele disse, a doutora Alli e Harmony entraram na casa. Harmony a ajudou a se sentar, Obsidyan ajeitou um puff debaixo dos pés dela.
"Todo dia eu acordo achando que eles vão nascer. Hoje eu quase fui ficar..." ela não terminou de falar, pois gemeu e fechou os olhos.
"Querida? Vamos, vou te levar no colo." Obsidyan disse, Alli fez que não.
"Foi só alguns chutes. Minha bolsa está intacta, meu colo do útero, está fechado." Ela disse, Harmony se sentou ao lado dela e lhe segurou a mão.
"É por isso que estou aqui. Para ajudar. E agradeço muito por ter feito o convite." Ela disse.
"Sua mãe me ligou, querida. E você ajudou Kat, eu achei muito bonito na época." Ela sorriu alisando a mão de Harmony.
"Eu basicamente só afastei Cherry e Poppy dela." Harmony disse, Obsidyan riu.
"Exato. E você devia ter vindo antes. Precisa ver o quarto dos gêmeos como está. Poppy jura que não foi ela que cozinhou as mamadeiras novas. Cherry simplesmente limpou os armários com as fraldas dos bebês, dizendo que fraldas eram absorventes e fariam um bom trabalho. Tinha acabado com um monte de fraldas quando eu cheguei do hospital." Ele disse, Harmony sorriu com carinho se lembrando de Cherry e Poppy. Todos adoravam elas. Menos Simple, ele corria delas como o diabo corria da cruz.
"Vou deixar vocês conversarem." Obsidyan disse beijando a doutora na boca. Foi um beijo sedento, Harmony baixou os olhos.
"Estamos sem sexo a alguns dias, eu basicamente estou sendo carregada de um lado a outro. E estou sem energia também." Ela disse quando seu companheiro saiu da casa.
"Mas você não é só humana mais, não é? Não devia estar mais forte?" Harmony perguntou.
"Não é assim que funciona, querida. Eu tenho estudado a gravidez Nova Espécie desde que tive Opal e meus estudos chegaram naquele estágio onde parecemos que estamos num impasse e o próprio impasse é a resposta. Você entende?"
Harmony fez que não. Ela nunca tinha ouvido falar nisso.
"Vou te dar um exemplo: a história de quem veio primeiro, ou ovo ou a galinha. É um impasse, não é? Os criacionistas acreditam na galinha criada por Deus, os evolucionistas acreditam num ovo botado por algo que não era uma galinha, mas que quando o ovo eclodiu era uma galinha."
"Evolução." Harmony disse.
"Exato. E aí temos um impasse. Todas as duas vertentes tem seus méritos. Mas aí você pode argumentar que poderia ser que as duas estão certas. Que Deus, ao criar as coisas, as criou através de uma evolução. Então o impasse acaba se tornando a resposta, mesmo que sejam duas idéias opostas."
Harmony pensou no que ela disse, se lembrando dos versículos do Gênesis, da criação acontecendo em dias. E que para Deus mil anos poderiam ser como um dia.
"Eu acho que continua sendo uma questão de fé contra teoria."
"Sim, querida e acho que será sempre isso, mas o que eu quero dizer é que juntar as duas vertentes, nos ajuda a não desprezar o que os outros construíram, com estudo ou fé. Nós faz absorver as contribuições e não ir para uma ou outra."
Harmony sorriu.
"E se nesse caso, juntar as vertentes criacionistas e evolutivas seja apenas uma outra vertente?" Alli riu.
"É. Tem isso também. Mas você há de convir que isso apaziguaria muita gente." Harmony riu com ela.
"Bom, mas vamos lá. Meu impasse consiste no quanto de humano há nos filhotes. Qual a porcentagem humana em Opal? E em você?" Ela disse, mas Harmony olhou bem nos olhos dela, haviam pequenas ruguinhas, coisa que não se via na doutora Trisha que já tinha passado dos sessenta anos.
"Você acha que há menos genes Nova Espécie em você que nas outras?"
"Eu não diria isso. Mas sim, eu e Obsidyan estamos a muito tempo juntos para que esses dois levadinhos estejam me sugando como estão." Ela disse alisando a barriga e gemendo logo em seguida. Deu pra ver o pezinho que a chutou. Harmony pensou em Gift saindo de dentro dela e indo colocar uma camisinha no pênis. Ele não queria filhotes, de jeito nenhum.
Mas ele sabia exatamente o que estava fazendo, Harmony estava totalmente envolvida no prazer.
"O impasse seria o fato de que alguns Novas Espécies parecem ter algo das mães e outros não?" Harmony pensou em Pride. Nas feições delicadas, nos olhos azuis e cabelos vermelhos escuros. Ele não parecia filhote do Tio Valiant.
"Sim, querida. Não há nada de mim em Opal. Nada. E esses dois aqui parecem que vão pelo mesmo caminho. Sempre há algum pequeno detalhe, o velho doutor Harris era quem observava isso. Já reparou no sorriso dos Trigêmeos?" Harmony sorriu. O sorriso da Tia Tammy.
"E nos cabelos de Forest?" Harmony franziu as sobrancelhas. Os cabelos de Forest eram exatamente como os do Tio Slade.
"Ninguém repara muito, mas os fios loiros são mais claros." Harmony deu de ombros. Isso era algo que ela repararia assim que olhasse para Forest.
"E temos milhares de exemplos. O sorriso de Virtue, igual ao de Jessie, os olhos de Sage ou os de Kismet. As mechas vermelhas no cabelo de Angel, as de Tiger são mais claras. E aí temos Noble. Ou Gi..." Ela parou abruptamente.
"Pode falar, doutora. Gift é idêntico ao Tio Brass. Mas ele é muito diferente em todas as outras coisas."
"Eu sinto muito, querida. Você veio esquecê-lo e eu faço a burrada de te fazer pensar nele." A doutora disse, Harmony apertou a mão dela.
"Não é possível esquecê-lo. Eu não vim fazer isso, eu vim tentar entender o que aconteceu comigo. Aqui eu não sinto o cheiro dele, aqui não dá para correr atrás dele."
"Me disseram que ele te viciou nele, que ele fez isso e não deu explicações para ninguém." Harmony balançou a cabeça devagar.
"Gift não explica nada para ninguém." A doutora riu, Harmony a encarou.
"Obsidyan também não." Harmony sorriu sem vontade de dizer que Obsidyan era bom e correto, Gift não.
"Eu perguntei por que ele tinha feito aquilo, ele disse: 'Por que não?'. Esse é o Gift." A doutora acenou.
"Entendi. O que você precisa é se entender."
"Sim." Harmony respondeu.
"Então eu espero poder ajudar." Ela sorriu. Doutora Alli era muito bonita, havia uma joviedade nela, o sorriso era franco, suave.
"Estar aqui vai me ajudar, eu adoro ser útil."
"E já vai ser." Ela disse, a campainha tocou. Cherry.
"Pelo menos é só ela." Alli sussurrou.
Harmony abriu a porta e o turbilhão começou. Como alguém tão pequena podia falar tanto?
Cherry desfez as malas dela e haviam muitos presentes da Reserva, o resto do dia foi consumido nisso. Elas almoçaram no meio dos presentes, Cherry abriu tudo e misturou tudo. Os enfeites da vovó Ann com as estatuetas de Bells, as roupinhas feitas a mão por Megan foram parar nos armários da cozinha, os remédios que Candid tinha mandado sumiram. Ela comeu os doces que a tia Mary tinha mandado, Alli disse que não gostava muito. Quando Harmony praticamente a carregou dali, seus ouvidos doíam.
Ela tomou um banho, Opal fez o jantar, mas a doutora comeu no quarto, então só os dois estavam a mesa.
Os olhos de Harmony examinaram o rosto dele, afinal, depois do que a doutora tinha dito, ela faria aquilo com todos os filhotes. As feições dele eram másculas, o queixo quadrado, os malares altos. Os olhos eram perfeitamente separados, castanhos, quentes. Os cabelos marrons, de um tom bonito, brilhantes. As sobrancelhas grossas, mas perfeitas. Os cílios longos, o nariz característico dos caninos, um pouco achatado, mas perfeito, totalmente harmonioso com os traços do rosto.
"Tire uma foto, que tal?" Ele disse.
Harmony sorriu sem graça.
"Eu e sua mãe tivemos uma conversa sobre os filhotes. Me desculpe se eu o olhei demais, mas não deu para evitar."
Ele acenou. Opal era sério como o pai dele. Lhe lembrava seus irmãos.
"Eu fui poucas vezes lá, sabe? Mamãe está sempre muito ocupada aqui e então, eu e papai não saímos daqui. E eu não gostei muito da violência dos filhotes de lá."
"Violência? Não somos violentos." Harmony disse.
"Eu vi John tentar bater em Harry e Harry era só um filhotinho. Ele retalhou o rosto de Forest e mordeu Joe." Harmony fez que não.
"John é bom. Ele é um dos mais calmos agora."
"Sim. Eu sei. Mas ninguém achou estranho ele atacar Harry. Como se fosse algo comum lá. Eu não acho isso uma coisa boa, eu acho que devemos nos afastar desse nosso lado selvagem." Ele disse.
Harmony se lembrou de John se jogando em Gift para que seus irmãos a levassem para casa. Selvageria pura. Talvez Opal tivesse uma certa razão, afinal, se John não se jogasse em Gift, ela não iria embora. Eles poderiam voltar para dentro e...
Opal inspirou e a encarou, Harmony sentiu as bochechas esquentarem.
"Pensando nele?"
"Sim. Lembrando do que..." Ela se calou.
"Fiquei sabendo que ele te viciou. Com o veneno. Isso é muito desonrado, como você pode ainda querê-lo?"
"Meu corpo não se importa com a honra." Harmony disse, ela não se sentia a vontade para conversar com ele sobre sua vida.
"Mas sua mente sim?" Ele perguntou, ela ficou um tempo pensando.
Gift foi sincero, ele a quis, ele a teve. O veneno não a fez querê-lo, ela já o queria. Não pareceu ser desonrado.
"Eu não sei."
"Smile Two está arrasado. Ele chegou aqui todo sorridente, todo motivado e então ele ficou sabendo de você com Gift na cabana de Collin. É melhor que você saiba quem você quer, Mony, acho que é o mínimo que você pode fazer." Ele disse com os olhos cravados nela. Harmony engoliu em seco, seria uma conversa difícil, pois ela teria de... O barulho de um jipe estacionando na frente da casa lhe cortou os pensamentos.
"E falando no diabo..." Opal sorriu, Harmony rosnou para ele e saiu da casa. Smy estava ainda dentro do jipe. Ela subiu no jipe, ele arrancou. Eles continuaram em silêncio. Ele entrou por uma estrada secundária até uma casa afastada, ele parou o jipe, eles desceram e entraram na casa, tudo em silêncio. Harmony ficou meio sem jeito, Smy era muitas coisas, menos silencioso. Ele sempre estava sorrindo e era um ótimo conversador, olhar para seu rosto sério era uma novidade.
"Sente-se, Mony. Eu quero entender, sabe? Porque de manhã você tinha uma lágrima nos olhos quando se despediu de mim. Você consegue imaginar o que eu senti ao saber que no outro dia você estava na cabana de Collin com Gift?"
"Eu não tenho como justificar..."
"Eu não quero uma justificação. Eu quero entender. O que mudou? Eu não consigo pensar que você estava comigo querendo ele. É isso? Se for, pode dizer." Ele disse isso com uma dor estampada nos olhos, o que fez Harmony odiar Gift. Como ele podia ser tão alheio aos sentimentos de Smy? Eles eram amigos!
"Nada. Nada mudou! Pelo menos não meus sentimentos!" Ela disse, ele apertou os olhos.
"Como assim?" Harmony arregalou os olhos. O que ela tinha dito? Que droga! Ela não sabia pensar antes de falar e tinha acabado de se mostrar a fêmea inconstante que era.
"Eu... Eu..." Harmony tentou, ele cruzou os braços, os olhos estavam mais vermelhos e ela entendeu o que queriam dizer quando contavam que antes as fêmeas tinham receio de Jericho e se afastavam dele. Todo o ar doce tinha sumido do rosto dele.
"Comece do início. Quando nos encontramos na casa de Sunny, ele apareceu. Comece daí." Ele praticamente exigiu. Harmony assentiu e decidiu se desnudar ante ele. Smile Two não merecia menos.
"Ele me agarrou. Eu lhe acertei as bolas e corri, ele me pegou e me beijou. Eu mordi os lábios..." Harmony arregalou os olhos. Ela o mordeu, ela arrancou sangue dele. Seria isso?
"A força? Ele te beijou à força?" Smile perguntou, mas Harmony tinha algo em sua mente, algo inquietante.
"Sim, mas isso não importa mais. Eu tenho que falar com alguém, mas quem?" Harmony disse para ele para si mesma.
"O quê?" Ele perguntou, Harmony pegou seu celular e discou, ela tinha de falar sobre isso com alguém.
"Mony?" Seu Tio Noah atendeu, ela fez sinal para Smy esperar, ele apertou os lábios mas não fez nenhum barulho.
"Tio, eu estou com uma dúvida, uma muito grande e talvez você possa me ajudar." Ela começou.
"Sim, querida, eu te..."
Harmony não entendeu por que ele não terminou de falar até que a voz de Gift lhe soou nos ouvidos.
"Você fugiu!" Harmony olhou para Smy, é claro que ele ouviu, então ela desligou o telefone. O coração dela estava disparado, todo o corpo dela tremeu.
"Você só ouviu a voz dele e fica assim. Acho que não importa muito como começou." Ele disse, Harmony segurou nas mãos dele.
"Eu quero explicar, Smy! Por favor, me ouça!" Ela implorou arrependida de ter pensado que por ter mordido os lábios de Gift, ela poderia ter se viciado antes de qualquer coisa, antes dele a morder no hospital.
"Ok." Ele soltou suas mãos das dela, se sentou no sofá, ela também. Harmony inspirou profundamente e começou:
"Como eu disse, ele me agarrou. Eu bati nele, o mordi e fugi, mas aí ele passou a me perseguir. E você me convidou para ir na Nancy."
"E ele apareceu lá e quase me matou." Ele disse baixinho.
"Sim. E eu sinto muito por isso. Sinto mesmo."
"Você ia me visitar por culpa?" Ele perguntou.
"Não! Claro que não! Eu adorei cada tarde, cada conversa! Eu adorei tudo." Ela disse, ele a encarava e ela teve de completar:
"Mas eu não conseguia parar de pensar nele. Eu fugia dele, eu juro, mas no dia em que você me convidou para a Nancy, quando você realmente se mostrou interessado, meu coração sentiu tanta pena!" Ele rosnou, Harmony correu para explicar:
"Pena de mim, Smy! Lástima por tudo o que eu sonhei ter acontecido depois que Gift me agarrou. Depois que ele me beijou! Eu sonhei com você durante anos! Seu sorriso, suas mãos!" Ela começou a chorar por tudo o que Gift tirou dela. Ou tudo pelo que ela e Smy perderam, afinal, Gift não sabia, Gift não a percebeu antes e era algo normal, Harmony era meio invisível e gostava muito disso.
"Você está dizendo que me amava, mas Gift te beijou e tudo mudou?" Ele perguntou, ela soluçou, Smile lhe limpou o rosto com a mão.
"Sim. Mas eu não quis aceitar que meus sonhos não iriam se realizar por causa de uma simples atração. Por que é só isso, Smy! Eu não o conheço, eu não gosto dele! Eu admiro você, eu quero você." Ela disse.
"Você passou três dias compartilhando sexo com ele, Mony. Você o quer, não a mim." Ele observou, Harmony acenou.
"Meu corpo o quer e por causa de um vício. E um que pode ter se iniciado quando eu mordi a boca dele e engoli seu sangue. Meu coração..." Harmony não conseguiu terminar. O coração dela queria Smile Two? Queria mesmo?
"Essa é a sua teoria? Você engoliu o sangue dele e depois quando..." Smile Two a encarou, ele queria alguns detalhes.
"Eu estava no hospital com meus irmãos. Eles sofreram muito, suas pernas esquerdas se quebraram de uma forma muito feia e foi muito difícil arrumar tudo, doeu muito e a anestesia não funcionou. Eu não quis que eles corressem o risco de acordarem com dor e não haver ninguém no quarto, mamãe estava exausta, Mel estava mal também, eu fiquei lá. E ele chegou, me pressionou contra..." Ela começou a aquecer, seu meio das pernas umedeceu, seu coração disparou. Mas ela tinha de continuar.
"Contra a parede. Eu resisti e aí..." Ela engoliu em seco. Como falar da sensação mais deliciosa que ela sentiu?
"E aí..." a voz de Smy estava rouca, baixa. Harmony olhou para ele, ele suava. Um volume muito grande repousava em seu colo, ele apertou o volume com a mão grande e gemeu. Havia uma onda de desejo os envolvendo, mas Harmony só conseguia pensar em Gift.
"Ele me mordeu. Doeu muito, ardeu, mas aí, eu comecei a aquecer. A dor se transformou em prazer. O prazer de um beijo, ou de..." Ela inspirou, a atmosfera estava quente pesada.
"Ou de uma lambida em um mamilo? Ou em seu clitóris?" Smy disse tão baixinho que ela quase duvidou de que o ouviu mesmo.
"Smile..." Harmony disse, ele lhe atacou a boca, Harmony se entregou. Smile Two sugou seus lábios, enfiou a língua na boca dela com tudo, Harmony o agarrou, mas algo estava errado. Ele lhe mordeu o queixo e faltou alguma coisa. Ela o afastou, estavam ali para que ela explicasse que nunca quis magoá-lo.
"Smy! Não!" Ela disse, ele se afastou. Harmony se levantou e ficou rente a parede mais distante do sofá. Smile, ainda sentado no sofá, repousou a cabeça nas mãos. Ele respirava com dificuldade.
"Eu sinto muito." Ela disse.
"Você disse que não gosta dele. Disse que gosta de mim, está achando que ter mordido ele foi a causa de ter ido para a cabana com ele. Tem certeza disso?" Ele perguntou.
Ela tinha?
"Eu não sei. Eu estou dividida. Eu gosto de você, saber que te fiz sofrer me dói profundamente. Mas eu quero Gift. Eu estou sendo sincera, Smy. Eu o quero, eu anseio por ele. Você me beijou e tudo o que consegui sentir foi que estava errado. Que você não era ele." Ela disse, a cada palavra seu coração se partia um pouco. Não eram só seus sonhos ruindo, era o fato de querer alguém que não a amava de verdade, alguém que a queria sexualmente, mas só assim. Gift não se importava com quem ela era.
"Eu não consigo aceitar, mas agradeço sua sinceridade. Gift vai se ver comigo."
"Não, por favor! Não lute com ele! Ele pode..."
"Me matar? Confia tão pouco assim em mim, Mony? Ou está com medo de que eu o mate?"
Harmony piscou. Gift era venenoso. E era cruel.
"Ninguém venceria numa luta assim." Ela disse, ele rosnou.
"Por que você veio pra cá?"
"Vim entender, também quero saber se a distância pode ajudar a me controlar."
"Ok. Vou esperar, Mony. Se o que você disse sobre eu e você termos tido apenas o azar do veneno de Gift ter estragado nossa história, pode haver um antídoto ou algo do tipo e, se você me quiser, eu te quero. Mas tem de ser sincera comigo, querida."
Ele lhe tocou o rosto, Harmony se sentiu triste.
"Eu vou ser. Eu sou sincera." Ele sorriu. Um lindo sorriso triste, tão triste!
"É. Você é. E se sentir que o deseja mesmo a distância, mesmo depois de ficar longe, mesmo se houver um antídoto, mesmo se ele continuar a ser o pau no cu que é, se ainda assim você o quiser, Mony, me conte." Ela assentiu, não dava para dizer nada.
"Eu vou me afastar e vou torcer para que você seja feliz. Eu vou, mas só se você tiver certeza de que não me quer."
"Mas..." Ele colocou um dedo sobre os lábios dela.
"Você tinha sonhos, sonhos lindos, sonhos que Gift não pode realizar, pois você sonhou comigo e eu e ele somos como água e vinho. Mas sonhos às vezes não são para serem realizados, as vezes são algo para guardarmos no coração, algo que nos lembra de um tempo inocente, um tempo onde pensamos que tudo o que sonhamos pode virar realidade se nós nos esforçarmos muito. Mas a realidade é cruel, Meu Bem. A realidade nos joga em direções totalmente inesperadas e acabamos por nunca realizar alguns sonhos. Talvez seja o nosso caso, e se for, será por minha culpa, não sua, tá bom?"
Ele beijou Harmony com carinho, ela acabou por chorar.
"Você sempre correu atrás do seu sonho e eu só me dei conta de que podia também ser o meu sonho, quando eu tomei aquele tiro. Eu vi que a vida é o hoje, Mony. Mas já era tarde demais." Ele disse, Harmony assentiu.
"Eu sinto muito." Ela disse.
"Eu sei." Ele disse. Smile Two abriu a porta, Harmony saiu com ele. Eles subiram no jipe, voltaram para a casa da doutora Alli, ela desceu do jipe, entrou na casa, ele se foi.
"Pela sua cara, foi bem ruim." Opal disse. Ele lia num canto, no escuro.
"É." Harmony não tinha mais energia para falar qualquer coisa a mais que isso.
"Gift me ligou. Parece que ele acha que pode me subornar para que eu te leve em algum lugar para que vocês se encontrem." Ele disse virando uma página do livro.
"E o que você respondeu?"
"Eu desliguei na cara dele. Mas o que ele ofereceu me tentou."
"Vocês se conhecem? Quer dizer, são amigos?" Será que ela foi justamente parar na casa de um amigo de Gift?
"Não muito. Eu não sou muito amigável. Eu gosto de estudar, de ler, de silêncio."
Ela assentiu.
"E posso continuar batendo o telefone na cara dele, mas se mudar de idéia e quiser vê-lo, só me diga e eu dou um jeito."
Harmony foi para o quarto dele, o lugar estava uma bagunça.
"Quando souberam que você vinha e que eu iria me mudar para o prédio dos machos, Poppy e Cherry vieram me ajudar na mudança. Foi uma confusão tão grande que eu preferi comprar roupas novas e só levei meus livros e algumas coisas. Pode queimar tudo o que ficou." Ele disse.
"Mas está uma zona! Elas não arrumaram nada!"
"Exato. Elas vieram e quando ficaram soterradas de coisas, papai disse que podiam ir embora que eu arrumaria tudo."
"E você não arrumou."
"Eu não moro mais aqui." Ele riu e foi embora, Harmony pensou que ele ficava lindo rindo, mas que ele era um pouco malvado. Ela jogou no chão uma pilha de roupas e se deitou. No dia seguinte o trabalho de arrumar aquele quarto ajudaria. Afinal, a vida dela parecia aquele quarto.





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