CAPÍTULO 67

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Violet corria em círculos brincando de pega-pega com seu filhotinho e Augustus na clareira de acasalamento. O lugar estava todo florido, eles riam, seu filhotinho tinha os mesmos cabelos loiros e os olhos violetas de Augustus, mas tinha o sorriso de Violet e a bravura do pai dela.
"Te peguei!" Augustus a jogou no ombro, Violet gritou.
"Solta ela!" Valiant Neto gritou e cravou os dentinhos na coxa de Augustus, Augustus riu.
"Eu me rendo! Eu me rendo ao Pequeno Leão!" Ele disse, Violet ria sem parar. Augustus a colocou sobre seus pés, Valiant disse dando pulinhos:
"Te salvei, mamãe!" Violet olhou para ele, para seu rostinho gordo, para as bochechas rosadas. Seu filhote, sua vida. Ela se sentiu tão feliz, mas tão feliz que teve medo.
E tudo ficou escuro do nada, como se o medo que Violet sentiu, escurecesse o sol. A escuridão aumentou, Violet gritou por Augustus, mas ela estava sozinha. Sua barriga estava chapada como era antes, ela estava totalmente sozinha.
"Oi, Letty." A voz ameaçadora a saldou, Violet olhou para o chão e viu que ela era Letty novamente. Viu também que não estava na Reserva. Violet correu aguçando os ouvidos, mas não ouviu nada, só a terra debaixo de suas patas ao correr.
"Augie?" Ela parou o procurando, pois ainda que se lembrasse da dor de cada mordida que lhe deram da outra vez, ainda assim, ela não iria abaixar sua cabeça. Ela poderia morrer de novo, mas não seria fugindo, seria lutando.
"Se você soubesse, Letty, o quão especial você é..." Augie disse, Violet se virou e ele estava lá. Grande, imponente, seus olhos brilhavam, vermelhos, seus dentes estavam arreganhados. Violet o encarou com o focinho erguido.
"Ah, Letty! Eu sinto tanto por ter me rendido ao ódio quando você me rejeitou! Eu devia ter aceitado seu fogo interior, sua alma indomada. Eu fui um idiota e paguei por isso perdendo você."
"Eu não sou Letty. Como você disse, ela morreu, você a matou. E não foi sozinho. Você foi um covarde." Violet disse.
Augie a rodeou, Violet não lhe deu as costas, ela deu um giro sobre seu corpo, ele rosnou.
"Letty não morreu, assim como eu também não. Ela ainda está sob sua pele, assim como Augustus inconscientemente me sugou para a mente dele. Eu quero que..."
"Você não quer nada! Você é um assassino! Eu não te devo nada!" Violet gritou.
"Violet!" A voz de Daisy a trouxe de volta, Violet passou a mão na barriga e quando viu o volume lá, Violet deu graças.
"Graças a Deus! Meu bebê ainda está aqui. Graças a Deus!" Ela disse.
"E à virgem." Daisy completou.
A virgem Maria era alguém muito especial para a mãe delas e isso fez com que Violet e Daisy crescessem a sentindo próxima. Uma ou outra vez, enquanto rezava, Violet esticava a mão esperando que a virgem segurasse. Ela fez isso e Daisy segurou sua mão e beijou.
"Pesadelo? Você tinha dito que tinham parado." Daisy disse.
"Tinham. Mas eu estou bem. Tudo está bem."
Violet disse.
Eles tinham chegado a Reserva no dia anterior, Augustus ainda estava inconsciente. Seus irmãos, porém asseguraram a ela que ele acordaria, então, depois de passar todo o dia no hospital, Violet deixou que Pride a levasse para casa. Ela foi até a janela e viu que era madrugada, que ainda demoraria até que pudesse voltar ao hospital. Ela suspirou.
"Tudo bem?" Daisy perguntou.
"Sim, eu só estou impaciente para dar a hora de voltar para o hospital, só isso.
"Ann disse que ele foi impressionante. Ela estava sonhando com uma praia deserta, onde o mar estava calmo e várias crianças corriam em volta dela e de Cam quando ele apareceu. Dentro do sonho. Pelado. Enorme."
Violet travou os dentes, segurando a onda de ira.
"Vamos matar essa tal de Ann! Vamos arrancar o coração dela do peito!"
"Vi?" Daisy disse, Violet ergueu as sobrancelhas. Ela teria pensado alto?
"Continue." Violet pediu.
"Ele sorriu e disse que era hora de parar de sonhar e de encarar a realidade. Que era hora de crescer e de lutar pelo que ela queria. E a mandou abrir os olhos. Ann Sophie abriu os olhos e viu que era Rom quem a segurava. Ela olhou para a entrada da caverna e Candid acabava de sair correndo."
"E Augustus?" Violet perguntou.
"Isso foi o mais estranho. Ele estava deitado de bruços, eu não vi direito por que é claro que Rom não iria deixar eu me aproximar, mas ele não mudou de posição, nem falou nada."
Violet também achou estranho. Augustus não era como Livie, ou como outro telepata que ela conhecia. Ele parecia mais agir nos processos mentais do que interferir em pensamentos e sonhos.
"O quê?" Daisy perguntou, ela voltou para a cama.
"Augustus é muito diferente de Romulus, ou Livie. Enquanto eles lêem pensamentos, plantam ilusões, ou comandam o corpo de qualquer um, no caso de Livie, claro, Augustus consegue ir além disso. Cam me disse que ele age nas sinapses, nas transformações... Como ele disse mesmo?" Violet se perguntou, Daisy deu de ombros. Ela se deitou na cama de Violet e alisou o rosto dela.
"Ele não lê mentes?" Daisy perguntou.
"Lê, mas não como o Rom." Quando Violet disse o nome de Romulus, Daisy apertou os lábios, então, Violet perguntou:
"Daisy, e vocês? Acabou que nós não conversamos." Violet disse.
"Aconteceu muita coisa. E ele ficou muito mal com o que quer que tenha acontecido na caverna. Eu fiquei muito assustada, ele começou a segurar o peito e a uivar, foi..." Daisy escondeu seu rosto no pescoço de Violet e ficou em silêncio.
"Eu sinto muito por você ter se assustado tanto, Daisy." Violet disse. Daisy afastou o rosto.
"Esses caninos são muito diferentes dos caninos daqui, Vi. Muito mesmo. Acho que Romulus não está bem, mas ele não vai admitir que não deve ficar próximo deles. E tem Livie, grávida. Honor está muito preocupado."
Violet pensou em tudo o que aconteceu desde que o helicóptero pousou, ela desceu e entrou na casa de Augustus. Ele dormia, estava limpo, cheirando a sabonete.
Até que o avião pousasse, ela não saiu de perto dele, não conversou com ninguém. Quando voltou foi para o hospital e foi isso.
"Eu acho que ela deve manter distância deles." Violet disse.
"É. Honor pensou em ir para Homeland até o bebê nascer. Papai não gostou nada, mas todo mundo concorda que ele é perigoso." Daisy disse.
"Não! Ele não é perigoso!"
"Você o ama, Vi, não podemos levar sua opinião a sério. Você não estava lá quando Simple saiu da caverna correndo com aqueles bebês clones dele no braço mandando a gente correr. Rom uivou, um dos caninos o jogou no ombro e correu. Todos nós corremos e foi tão estranho! Como se minhas pernas tivessem vontade própria." Daisy disse, Violet lhe beijou a testa.
"Já passou, D. Augustus vai acordar e eu sei que tudo vai dar certo. Durma, querida." Violet alisou o rosto de sua irmã, Daisy sorriu e fechou os olhos.
Violet se levantou da cama surpresa pelo que tinha acabado de fazer. Ela sugestionou Daisy? Violet se afastou da cama, Daisy suspirou dormindo. Violet tirou a camisola, vestiu um vestido e saiu de seu quarto.
Todos na casa dormiam, ela não conseguiria, então resolveu voltar para o hospital. Candid estava lá se passando por Honest, ela o chantagearia se ele não a deixasse ficar com Augustus.
Ela saiu andando devagar pela estrada, era um pouco longe, mas ela não sentiu vontade de correr. Não pela gravidez, Violet se sentia bem, muito bem, mas por simplesmente estar na sua amada Reserva, por querer inspirar o cheiro de...
Violet se virou, um dos parentes de Augustus a seguia.
"Oi." Ele disse sem parar de andar, Violet acabou andando ao lado dele.
"Eu não sei quem você é, vocês são todos parecidos." Violet disse.
"Sou Augustus." Ele disse, Violet parou.
"Não. Você não é." Ela retrucou e o examinou bem. Cabelos loiros claros, olhos violetas, queixo quadrado, nariz perfeito, lábios cheios. Muito parecido com Augustus, mas não era ele.
"Pensei que fossemos parecidos." Ele disse com um sorriso, Violet sorriu.
"Não a esse ponto. Você é menor, por exemplo."
"É, eu sou um dos menores." Ele disse, mas ele com certeza tinha mais de dois metros, devia ser da altura dos trigêmeos que mediam dois metros e quatro centímetros. Isso não era ser menor.
"Qual é o seu nome?" Ela perguntou. Violet conheceu todos eles, mas não se aproximou muito, nem eles se aproximaram dela.
"Péricles." Ela assentiu.
"Não foi você que..."
"Que foi adotado por Harmony e Gift? É, fui eu. Sou filho deles agora." Ele disse com um sorriso.
"Filhote? Filhote de Gift e Harmony? Quantos anos você tem?" Violet perguntou. Eles tinham voltado a andar.
"Sei lá, uns setenta, por aí. Mas Gift adotou Matilda que é mais velha do que eu."
"Você pediu para ser filhote deles?" Violet perguntou.
"Não, eu pedi para ser da família deles, Gift disse que eu podia. Eles são um casal, então só podem ser meus pais. Assim como são de Caim, de Abel4 e Cinco."
"Era para Simple ser pai de Caim e dos gêmeos."
"Eu não acho. Gift os salvou, Simple não." Ele disse com uma certeza na voz que Violet não teve vontade de contradizê-lo.
"Por que quer ter pais?" Violet achou aquilo muito estranho.
"Eu não durmo. Mas quando eles vem me colocar para dormir e me beijam eu sinto vontade de dormir. Eu me lembro do meu pai. Ele não fazia isso, mas eu sempre quis que ele fizesse." Ele disse com os olhos violetas bem tristes. Violet se sentiu como as vezes ela se sentia quando pensava no quando fez mal a eles. Eles estavam bem, ela apareceu e...
"Não estávamos bem. Só tentávamos viver o melhor que pudéssemos até a morte chegar. Eu só queria não morrer como o meu pai, esse era o meu objetivo de vida. Ele bateu a cabeça no paredão de pedra da montanha até seu crânio explodir." Violet arregalou os olhos e seu coração disparou.
"Calma. Eu sinto muito por ter dito isso. Calma. Você nos salvou, Violet. Nos salvou de tantas formas que eu nem sei como agradecer." Ele disse com um pequeno sorriso no rosto.
"Me ajude a passar por meu irmão chato e estaremos quites." Violet disse.
"Isso é muito fácil. Vem." Ele aumentou o sorriso, Violet riu quando ele a pegou no colo e correu até chegar perto do hospital.
"Perto demais." Violet disse.
"Só pense. Eu te ouço."
Ele disse na mente de Violet
"Meu irmão tem um faro impressionante, ele já deve ter nos sentido aqui."
"Então vamos usar isso. Fique em silêncio e não toque em nada."
Era divertido pensar que ela enganaria Candid. Afinal era ele que estava no hospital se passando por Honest. Ele estava sob algum tipo de castigo e como odiava o hospital, estava lá. E como Honest, que adorava trabalhar lá, o que fazia com que ele tivesse de ficar totalmente dentro das regras.
Eles andaram até o complexo, entraram e chegaram na recepção do hospital.
"Candid tem a mente fechada. Não dá pra sugestioná-lo."
"Não existe isso de mente fechada. E sugest... Isso aí que você falou, eu nem sei o que é. Só confie em mim."
Violet queria muito ver Augustus, então ela confiou. Eles pegaram um corredor, mas é lógico que Candid apareceu.
"Ei! Seu... O horário de visitas já acabou faz muito tempo."
Violet o olhou, ele tinha olheiras, parecia cansado. Os cabelos estavam muito mal trançados, como alguém poderia pensar que ele fosse Honest?
Péricles o ignorou, Candid rosnou e o segurou pelo braço.
"Estava com Violet?" Ele perguntou.
"Sim." Péricles respondeu.
Candid inspirou, olhou em volta e apertou o braço de Péricles com mais força. Ele não estava com paciência. Não verdade, Cam nunca foi paciente.
"Ela não devia estar fora da cama." Ele disse olhando em volta com o cenho franzido.
"Eu vou ver meu primo." Péricles disse.
"Não. O horário de visitas já acabou e se eu tiver de dizer isso de novo, você vai se arrepender." Péricles sorriu para Violet, Violet sorriu de volta e continuou pelo corredor, pensando no que Péricles fez para que Candid não a visse. Era extraordinário, mas também perigoso.
"Eu só quero vê-lo." Violet continuou escutando a conversa.
"Você o vê amanhã. Dê o fora." Candid respondeu.
"Não. Você não pode me tirar daqui."
"Não posso?" Candid riu.
Violet pensou se não devia voltar e levar Péricles dali. Candid estava de muito mau humor, ele quebraria algum osso de Péricles antes que Péricles pudesse fazer alguma coisa.
"Onde se encontrou com Violet?" Candid perguntou.
"Na floresta."
"Isso é muito vago, bocó, onde exatamente?"
"Eu não sei."
"Você a carregou?"
"Nossa, seu faro é mesmo bom!" Violet sorriu do tom admirado de Péricles. Ele era meio esquisito, mas tinha uma alma boa.
"Onde a deixou?" Candid continuou interrogando Péricles.
"Na casa dela."
"Ah, tá bom então. Agora dê o fora."
"Quero ver meu primo." Péricles disse.
"Não." Candid respondeu.
Violet chegou até o quarto de Augustus. Ela entrou e se sentou na cadeira que ela tinha ocupado durante todo o dia. Ela baixou a cabeça e a apoiou na barriga dele e fechou os olhos. Agora sim, ela poderia dormir em paz.

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