CAPÍTULO 39

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Simple estava no quarto dele, Harrison o ignorou. Ele quase não desenhava mais, Simple procuraria e desistiria.
"Harrison?" Simple se sentou numa cadeira, Harrison não abriu os olhos.
"Quando parou de desenhar?" Ele perguntou.
"Quando idiotas como você começaram a mexer nas minhas coisas." Ele disse ainda com os olhos fechados.
"Eu acho que Candid não quer Ann de verdade. A preciosidade dela é justamente sua inocência. Cam não quer que ela perca isso. Posso te ajudar."
Harrison sorriu ainda sem abrir os olhos. Simple pegava as coisas no ar, se ele o encarasse, ele saberia. Se ele soubesse, aconteceria uma merda muito grande.
Ele simplesmente mataria Brian. E Flora morreria. E Jacob cresceria sob a força de seu desejo de vingança, até que matasse Simple e Caim.
Merda. Merda por todos os lados. Ele, Harrison, era a melhor chance. Ele acharia Caim e o levaria para a Reserva. Gabriel mudaria o DNA dele para o de James ou Joe e eles o criariam. Uma situação complicada nunca teria uma solução simples, mas poderia ter uma menos dolorosa, menos trágica.
"Abra a porra dos olhos, Harry." Ele disse o apelido dele com desprezo, Harrison riu.
"O que você quer, Sim?" Harrison devolveu o mesmo tom de Simple ao chamá-lo pelo apelido.
Simple suspirou, ele conhecia bem Harrison, sabia da vontade de ferro dele.
"Eu consegui um pouco do veneno de Gift. Meu plano é beijar Jenny. Veja pra mim se vai dar certo."
Harrison se deitou de bruços e escondeu a cabeça debaixo de um travesseiro.
"Me mostrar sua bunda não vai me fazer sair daqui, Harry. Por mais feia que ela seja."
"Eu só não gosto de me gabar. Não estou te mostrando minha bunda, estou evitando que fique depressivo ao saber o tamanho do meu pau." Harrison disse, Simple riu.
"Só nos seus sonhos, idiota!"
"Não deviam ter trazido Tiberius. O lobo dele não é como os outros, mas quando o bebê de Livie nascer ela irá ao Alasca atrás do lobo e vai matá-lo."
"Foda-se o lobo de Tiberius. Eu não ligo. O trouxemos por causa de Violet." Harrison suspirou. Pobre Violet!
"E por que ele ensinou Honest a colocar a mente dele num lobo? O que ganham com isso?"
"Honest precisava desenvolver a parte de Gabriel em sua mente. Se não, essa parte podia dominá-lo. Mas já se passou muito tempo e ele não conseguiu, então que essa parte fique num lobo."
Fazia sentido, mas era arriscado.
"Você quer seu irmão de volta, mas ele nunca mais será ele mesmo. Collin é melhor que nada." Harrison disse.
"Tá! Me responda e eu vou embora."
Jenny. Ela tinha se tornado uma cidadã Nova Espécie e trabalhava em Homeland agora. Os trigêmeos de Joe a adoravam, eles sempre ficavam alguns dias na casa dela e era isso. Ela era solitária. O tio de Harrison e a Tia Tammy tinham tentado milhares de formas de convencê-la a morar com eles, ela não quis.
"Você não precisa de veneno, Jenny gosta de você."
"O veneno é pra mim, imbecil. Vai funcionar? Só me diga isso e eu vou embora."
Harrison sorriu debaixo do travesseiro. Só isso! Com Simple nunca era 'só isso'!
"Não. Não vai funcionar." Simple suspirou, o coração de Harrison doeu. Harrison amava Simple assim como Simple o amava. Era triste.
"Obrigado, Harry. E sobre Ann Sophie, eu falei a sério. Eu acho que ela merece alguém como você."
Harrison sorriu.
"Não precisa me evitar desse jeito, eu confio em você, eu sei que se me contar fosse o melhor, você faria. É só que saber algo nem sempre é suficiente. Eu sou um esperançoso, Harry! Eu não sei cruzar os braços e esperar."
"Tem de aprender a esperar que aqueles que amam você façam o que você não pode fazer." Harrison sussurrou.
"Você é amado, Simple. Não existe alguém mais amado no mundo que você e há um monte de gente por você. Tente se lembrar disso quando o sofrimento ficar insuportável."
"Já passou disso. Minha alma está quebrada, Harry." Ele sussurrou, Harrison deixou uma lágrima escapar de seus olhos molhando o lençol.
Então a hora tinha chegado. Uma alma quebrada doía tanto que a Razão se dobrava e Simple era feito de Razão. A Razão era a essência dele e isso o prejudicou durante toda a sua vida. Agora, a Razão se foi.
Harrison se ergueu e o encarou, os futuros dele, muitos, começaram a se formar na mente de Harrison, a dor veio. Seu pai, Peter, Dezesseis, Noah, Melody, River, Grace, Lily, todos sentiram também. Cada um um futuro, mas não sabiam de quem, não viram direito, não era uma visão deles, era de Harrison.Só sentiram que deveriam estar a postos. Amor.
Harrison sorriu. O Amor era um filho da puta, mas sempre se podia confiar nele.
"Harrison?" Simple também sentiu, é claro.
"Começou, Simple. Seu futuro acaba de começar para o bem ou para o mal." Harrison sorriu.
"Ok. Obrigado." Harrison assentiu, ele saiu.
Harrison se levantou, se vestiu. Era um dia como qualquer outro, o universo nunca parava, mesmo se um ser complexo como Simple finalmente entrasse na roda da vida, do tempo. Nada mudava, o Universo era absoluto. Harrison pegou seu telefone e foi para o telhado. Os futuros de Simple estavam embaralhando o entendimento da sua família, era uma boa oportunidade.
"Harry." Ela atendeu no primeiro toque.
"Não posso falar por telefone."
"Onde?"
"Na igreja abandonada."
"E Ananyia?"
"Ela também vai."
"Só chego aí amanhã."
"Tudo bem."
"Nós somos uma equipe?"
Harry sorriu.
Já haviam equipes demais na opinião dele. Os trigêmeos. Os fodidos. Os Dissimulados. Os hackers. Os cientistas. Grupos de três, sempre. Três era o número dos números, ninguém pensava nisso, era engraçado.
"Qual seria o nosso nome?" Ele perguntou se rendendo à idéia, ela bateu palmas, Harrison revirou os olhos.
"Os alados. Eu acho legal."
Fêmeas!
"Ok."
"Vovó vai adorar saber." Ela estava mesmo animada.
Harrison desligou o telefone, seu pai apareceu no telhado.
"Começou?" Ele perguntou.
Todos sentiriam dor e veriam imagens desconexas, mas não seu pai.
"É." Harrison disse.
"E você faz parte de uma equipe agora." Seu pai sorriu um grande sorriso.
"Pelo amor de Deus, pai!"
"Eu estou numa equipe? Os pais. Eu, o grande leão e Brass. Ninguém tem tantos filhotes como nós."
"Brass age sozinho. Ele não se encaixa numa equipe. Depois dele há o Leo." Harrison disse.
Seu pai balançou a cabeça.
"Não. Temos de nos amar e brigar. Leo não é páreo para mim, Valiant chutaria a bunda dele sem nem suar."
"Dusky?" Harrison disse.
"Ele só tem fêmeas!" Harrison riu.
Seu pai queria animá-lo, afinal não seria fácil.
"Duas dessas fêmeas te deram filhotes, eu incluído." Harrison disse.
"Eu sei, mas Dusky não."
"Torrent?" Seu pai sorriu mostrando até as raízes de suas presas.
"Pode ser. Vou falar com ele. Mas eu prefiro Brass. Acha mesmo que não tem jeito?"
"Não." Brass tinha uma mente analítica demais, ele elencava tantas possibilidades de um evento que seu cérebro ficava cansado e ignorava. Era um mecanismo de defesa de sua mente, então, ele não servia muito.
"Tá bom."
"Eu sei que você vai fazer tudo certo. Eu te amo." O pai de Harrison disse, ele assentiu.
Eles desceram do telhado, Peace estava na piscina nadando para um lado e outro, numa velocidade impressionante. Ele sempre invejou Peace, afinal ele não tinha vidência nenhuma, nada. Mas depois de um tempo, Harrison se resignou ao seu destino. Havia um porquê para tudo, ele iria descobrir o dele.

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