Violet e Lazarus andavam devagar. A estrada estava logo adiante, Violet segurou na mão dele, ele apertou. Um sentimento de carinho e também de saudade a tomava, ela não queria ir tão cedo.
"Tio V vai adorar saber que tem um irmão." Violet disse, ele sorriu.
"Eu também gostaria de vê-lo. Mas não é possível."
"Eu não entendo isso." Violet disse.
"Não é pra entender mesmo." Ele disse e ficou tão parecido com o tio dela, que ela parou.
"Ele fala desse jeito. Pelas metades, sem explicar as coisas. É teimoso e mandão. Se você aparecesse na casa dele, ele acharia alguma ordem para te dar."
"Eu sei o que você está fazendo, querida. Tentando despertar em mim vontade de conhecê-lo. Se você soubesse..."
Violet ficou em silêncio. Ela tinha de respeitar a decisão dele e pronto. Sem falar que o Tio V daria um jeito de encontrar Lazarus se quisesse.
A estrada apareceu, Lazarus a beijou na testa como despedida e disse:
"Eu te desejo o melhor, minha querida. E força, muita força. Você vai precisar." Ele disse, Violet o abraçou.
"Espere o terceiro carro. O terceiro, entendeu?" Ele disse, Violet assentiu. Ele se virou e foi embora, Violet ficou olhando as costas poderosas e o cabelo cheio de ondas negras. Um sentimento estranho a tomou.
Ela subiu numa árvore fora da vista da estrada e esperou. O primeiro carro passou depois de uns trinta minutos, Violet aguentou firme. Quase uma hora depois o segundo carro apontou ao longe, Violet não prestou muita atenção, mas o carro saiu da estrada, entrou no meio das árvores e parou. Violet desviou o olhar para a estrada, o próximo carro seria o certo segundo Lazarus.
"Há um mirante aqui perto, vem." Um macho humano disse, Violet achou curioso ele estar mentindo. Ou estava enganado, humanos não sentiam o lugar como eles.
"Eu prefiro ir para o seu apartamento. Estamos muito longe, é melhor seguirmos." Uma fêmea humana disse.
Violet saltou para o outra árvore, para vê-los melhor, afinal ela poderia ver o terceiro carro daquela árvore também.
O humano tinha um tamanho mediano e era forte, atarracado, a fêmea era bem pequena. Ela tinha saído do carro, mas a contra gosto.
O humano a beijou, Violet ia voltar para a outra árvore, mas a humana o empurrou. Ele a abraçou, a fêmea se debateu, mas ela era pequena e o humano muito forte.
Não era problema dela, o terceiro carro poderia estar vindo a qualquer momento.
A fêmea gritou, Violet suspirou e saltou para o chão. Sua cabeça doía um pouco ainda, mas seu braço tinha sarado, Violet ficou surpresa, mas também agradecida de não ter de levar um sermão de Honest.
Ela foi até eles, a fêmea lutava agora para impedir que o macho rasgasse sua blusa.
"Ei! Largue ela agora!" Violet disse, o humano se virou para ela e a encarou. Violet sentiu a fúria chegando, ao olhar para a fêmea juntando as pontas da blusa tentando se cobrir.
"E se eu não largar?" Ele disse indo até ela, Violet sentiu o rosnado vindo, ela rosnou com força. O humano parou.
"Se não largar, eu vou arrancar o seu braço e te esbofetear com ele." Violet disse e realmente queria dizer isso, ela se sentia quente, pronta a destroçar o humano.
O humano porém, deu alguns passos para trás, e ergueu as mãos.
"Olha, foi só um mal entendido, ok? Ela está me provocando a muito tempo."
"Eu aceitei ir para seu apartamento, não fazer..." A humana disse, Violet foi se acalmando.
"Você acaba de descobrir que ele não respeita o que você quer. Quer continuar com ele?" Violet encarou a humana, ela era bonita, jovem.
A fêmea fez que não com a cabeça, Violet a puxou para o lado dela. O humano apertou os olhos, mas ele estava com medo, Violet lhe mostrou suas presas, ele deu um passo para trás.
"Boa sorte em voltar para a cidade." Ele riu, entrou no carro, o ligou e saiu dirigindo. Violet lamentou que era segundo carro, pois seria fácil tomar o carro dele.
"Obrigada. Eu o conheci a pouco tempo, ele parecia um cara legal." Ela disse como se se desculpasse.
"De onde estavam vindo? E como você se chama?"
" Lucy. Passamos o dia num lugar legal perto daqui. Almoçamos num restaurante incrível, com uma vista linda e então ele me convidou ao apartamento dele. Mas aí, ele tirou o carro da estrada e eu fiquei com medo. Se você não tivesse aparecido..."
" Não pense mais nisso. Eu sou Violet e eu ia pedir carona..." O som do terceiro carro passando fez Violet arregalar os olhos.
"O terceiro carro! Vem, vamos correr atrás dele!" Violet disse e começou a correr para a estrada e chegando lá, correu atrás do carro. Mas a humana tinha ficado para trás, muito para trás. Violet deu meia volta, correu até a humana, ela estava parada na estrada. Violet a jogou no ombro, mas os ombros de Violet não eram largos o suficiente para levar uma humana e a fêmea começou a pedir para que Violet a descesse.
Violet a colocou sobre seus pés, ela vomitou.
"Desculpa, mas nós temos de pegar aquele carro." A humana a olhou com a cara um pouco verde.
"Por que tem de... Ser aquele carro? E já deve estar longe."
Violet se concentrou em seus ouvidos, o carro estava longe. Ela teria de deixar a humana na estrada, por que só assim ela conseguiria alcançar o carro, mas ela era uma humana frágil, Violet não iria abandoná-la.
"Estamos muito longe da cidade?"
"Depende de qual cidade. Da minha, estamos, mas há uma cidade aqui perto, quer dizer, eu acho que de carro é perto, andando, eu não sei."
Violet pensou em suas alternativas. Lazarus lhe disse que pedisse carona até a próxima cidade e de lá ela poderia ligar para seus afilhados, ou para James. Talvez ela só tivesse que correr até lá. Lazarus deve ter pensado que ela não era uma corredora.
Todavia, correr estava fora da jogada, já que não iria deixar Lucy para trás, então Violet deu de ombros e elas começaram a andar pela estrada.
"Você tem celular?" Um celular resolveria tudo.
Lucy colocou a mão no bolso, mas sua cara desanimada já dizia tudo.
"Descarregado. Eu vivo esquecendo de carregar essa droga. Eu não tenho parentes aqui ou muitos amigos, então não uso tanto." Violet fez a mesma cara de desânimo que Lucy. Ela também vivia esquecendo de carregar seu celular. Elas andaram por um tempo e Violet perguntou:
"Como conheceu aquele humano?" Violet perguntou, Lucy sorriu.
"Internet. Nós encontramos umas três vezes. Ele parecia legal, como eu já disse. Mas me fala uma coisa: todos vocês falam engraçado assim? E você também é humana, ou não?" Lucy perguntou.
"Sim, uma parte." Violet respondeu.
"É verdade que seus homens só tem uma companheira e que ficam com ela para sempre?"
"Sim, mas só se se vincularem."
"Vincular? Como assim?" Lucy parou, Violet sorriu.
"Acho que é o equivalente ao amor verdadeiro de vocês." Violet disse, Lucy balançou a cabeça.
"Não existe amor verdadeiro. Não pra mim ou para todas as mulheres que eu conheço."
Violet sentiu a tristeza dela e lhe segurou as mãos.
"Que tal mantermos contato? E aí eu te convido para ir a Reserva. Você poderia conhecer um macho de valor lá."
"Você faria isso?" Os olhos castanhos dela brilharam, Violet sorriu, pensando em qual macho a acharia atraente. Todos, ela achava.
"É claro!"
"Ai, meu Deus! Eu vou para a Reserva!" Ela acabou de dizer e caiu para trás. Violet se jogou no chão e olhando para Lucy viu o buraco de bala na testa dela. Um fio de sangue começou a escorrer do buraco, Violet rastejou para a área marginal, enquanto outros tiros acertavam o chão ao lado dela. Um quase lhe acertou a mão, Violet achou melhor correr, então correu. Depois daria um jeito de buscar o corpo da pobre Lucy. Ela não iria a lugar algum agora e a culpa era de Violet, mas agora não era hora de lamentar, era hora de sobreviver.
Violet correu para as árvores, um tiro acertou uma árvore próxima, ela aumentou a velocidade. E depois de correr sem direção por entre as árvores, ela sentiu o cheiro do acampamento de Lazarus, então voltou para lá, mas não havia ninguém. Ela entrou na caverna e achou melhor ficar escondida lá. Só que as roupas, as cadeiras e os colchões continuavam lá. Ela apurou os ouvidos e ouviu rosnados. Os lobos!
Violet não sabia o que fazer, se saía ou ficava. Se saísse talvez pudesse correr deles, mas se ficasse dentro da caverna e eles entrassem..
Ela inspirou e sentiu o cheiro de três lobos. O que a atacou, Augie, como Lazarus o chamou não estava lá. Violet foi saindo devagar, ela tinha de ver os lobos, ver se... Um tiro soou, um lobo fez um barulho estrangulado. Violet saiu da caverna. Um lobo estava caído, os outros três rosnaram para ela, Violet olhou para cima tentando calcular onde o atirador estava. Longe. Numa árvore. Um lobo a atacou, ela desviou e correu na direção do atirador tentando se esconder atrás das árvores. Os lobos ficaram em volta do lobo caído, ele gania, era triste.
Violet continuou tentando chegar até o atirador e ouviu que ele tinha acertado outro lobo. Eles tinham de sair da frente da caverna! Por que ficavam lá? Por que eram uma matilha. Por isso.
Violet parou atrás de uma árvore, o atirador ainda estava longe. Por que alguém atiraria naqueles lobos? Como podiam ser tão cruéis?
Violet continuou avançando, vez ou outra o atirador atirava numa árvore próxima tentando acertá-la, mas como sabia a posição dele, ela estava bem coberta. Três árvores depois, ela se viu na área descoberta perto da estrada, a área em que o lobo a tinha pego. Ela voltou para as árvores, um tiro quase a acertou. E agora?
Ela ficou atrás de uma árvore, tentando se acalmar, seu coração batia desesperado, a tensão estava acabando com ela. Suas mãos começaram a tremer, ela se sentiu aquecer.
E então o atirador sumiu. Violet tinha olhado a alguns minutos atrás, se escondido atrás da árvore e quando foi olhar novamente, ele tinha sumido. Violet inspirou, mas não o sentiu. Ela não tinha pegado o cheiro dele, como o tinha visto, não se preocupou com seu cheiro. Ele estaria usando valeriana? Mas valeriana era produzida na Reserva!
Não. Michael Marshall inventou a valeriana. Ele não deve ter só enviado para Gabriel, valeriana devia até ser vendida na internet nos dias atuais.
Violet se concentrou, não era fácil sentir o cheiro por trás da valeriana se não fosse um cheiro familiar. Os trigêmeos faziam isso, a força tarefa treinava isso, mas ela não era da força tarefa, nem como seus irmãos.
E enquanto pensava isso um tiro vindo da esquerda a acertou no ombro. Violet se dobrou com a dor, se abaixou e procurou. Agora era tudo ou nada.
O atirador estava perto, ela foi para trás de uma árvore e quase tomou outro tiro. Eram dois! Violet se abaixou, colou o rosto no chão e rastejou para a frente. Um rosnado, porém, lhe fez levantar a cabeça a tempo de ver Lazarus saltar na árvore em que o atirador que a acertou estava. Ele o mordeu no pescoço do humano com tanta força que a cabeça dele caiu. Os olhos dos dois se encontraram a distância, Violet ia gritar que haviam dois atiradores quando ele lhe sorriu. Ela sorriu de volta, não era possível vê-lo sorrir e não retribuir, era o sorriso lindo do Tio V, igualzinho.
"Seja forte, querida." Ele disse, uma bala explodiu a cabeça dele, seu corpo caiu da árvore. O atirador mirou em Violet, mas o lobo branco gigante num salto espetacular o alcançou na árvore e o derrubou. Violet escutou os gritos do atirador ao ser dilacerado e desejou que demorasse, mas logo o lobo corria para longe.
Violet se levantou, seu ombro doía horrores e o sangue jorrava da ferida, mas ela tinha de ir até Lazarus.
Ela porém, não conseguiu, desmaiou perto de onde o corpo dele e do atirador estavam.

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General FictionQue tal não dizer os protagonistas dessa história? Talvez ir escrevendo e deixar que eles assumam o protagonismo? Ou deixar vocês escolherem? Bom, essa é a proposta dessa história. Eu tenho dois personagens os quais /adoraria escrever, mas vou deix...