CAPITULO 22

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Tia Elizabeth o olhou com uma certa frieza quando abriu a porta, Tio Jericho o abraçou. Primatas! Gift sorriu com os olhos baixos, afinal era o que se esperaria dele, mas aquilo era uma mera formalidade, Smile Two o perdoaria, isso era mais certo que o nascer do sol.
"Eu vim ver Smy. Vim pedir desculpas." Ele disse, seu tio lhe bateu nas costas. Forte, mas ele era muito forte, era normal.
"Ele está no jardim." Gift olhou para Tia Elizabeth e sorriu.
"Tia, eu sinto muito se te preocupei. Eu sei que para nós, uma lesão não preocupa muito, mas a senhora é humana."
Tia Elizabeth suspirou.
"É, você disse tudo. Eu nunca vou me acostumar com isso, onde eu cresci, uma briga de adolescentes acaba com um nariz quebrado no máximo. Mas eu não posso negar que senti muita falta de Smy nesses meses em que ele ficou em Homeland, então, só quero pedir para não lutarem de novo." Ela disse.
"Sim, Tia. Eu prometo." Gift disse, já lamentando. Uma promessa era algo muito sério. Mas Smy não era páreo para ele, nem tinha graça. Tamanho sem crueldade era uma desvantagem muito grande para eles.
Ele atravessou a sala e saiu no jardim, um lindo lugar, cheio de flores. Tio Ben tinha sua marca nas casas ali e Gift pensava se ele era lembrado nas conversas dos outros. Provavelmente não, e não o importava.
"Gift." A voz rouca e baixa de Smy o incomodou, ele tinha mesmo ferrado com as cordas vocais dele. Assim como Kit fez com sua mãe. Se havia algo que o fez se sentir mal foi o olhar dela. Ela sabia exatamente como Smile Two estava se sentindo.
"Oi, Smy." Gift o examinou, o rosto estava corado, os cabelos negros e os olhos avermelhados estavam brilhando como sempre. Ele sorriu seu sorriso de dentes e presas enormes. Gift se lembrou de sua mãe explicando que quando John era bebê, ele começou a chamar Jericho de tio por causa das presas grandes. As presas dos primatas não eram tão grandes, as maiores eram as dos felinos, mas Jericho era uma excessão. Assim como John e Gift. Eles eram os maiores filhotes caninos.
Smile Two bateu ao seu lado no banco convidando Gift, Gift sorriu, mas não se sentou. Primatas abraçavam muito, ele não gostava de abraços.
"Vim me desculpar. Eu acho que a adrenalina me subiu à cabeça e você levou a pior. Me perdoe." Smy sorriu, um sorriso um tanto quanto malicioso.
"Você não se arrepende, Gift. E tudo bem, eu não devia ter lhe dado a chance. Mas mesmo assim eu tenho de te agradecer." Gift não perguntou o porquê de Smile Two estar agradecendo. Ele sabia.
Harmony estava indo na casa dele todos os dias. Eles conversavam e riam naquele mesmo banco. Gift podia sentir o cheiro dela ali, entre as flores.
"Não, eu me arrependo sim, Smy. Eu não deveria ter enfiado minhas garras em seu pescoço."
Ele balançou a cabeça. O pior foi o veneno. Forest fez um ótimo trabalho e até Niyati ajudou.
"Nunca me enfiaram as garras no pescoço, mas pelo que entendi o seu veneno fez doer ainda mais. Porém, eu estou aqui, estou bem."
O veneno de Gift não era mortal como o de Bronzy, mas se Smile Two não tivesse sido levado rapidamente ao hospital e o antídoto aplicado nele imediatamente, ele não sobreviveria.
"E está tendo a oportunidade de conhecer Harmony melhor." Gift concluiu, ele sorriu.
"Sim e tudo graças a você." Smile Two disse com os olhos cravados nos de Gift. Era a vingança dele. Por mais que aquela conversa simples o enfurecia, e Gift tinha de pensar no por quê a conversa o enfurecia, no meio de tudo, daqueles sentimentos confusos, Gift admirou Smy. Ele não era tão bobão como parecia.
"Eu fico feliz em ajudar, então." Ele sorriu usando o seu autocontrole no máximo.
"Cerveja na ilha? Hoje mais tarde? Se seu irmão não estiver fodendo alguém nesse horário, leve-o também."
"Vai levar Joshua?" Gift perguntou, Smile Two riu.
"Não. Miracle." Gift assentiu e saiu pelo jardim mesmo.
Ele andou a esmo pela Reserva, tentando não ir no complexo. Harmony e Smile Two que ficassem juntos ou não, afinal, havia o fato de que River tinha visto Smile Two acasalando dali a trinta anos. Não era problema dele.
Não era problema dele, Harmony era uma filhotinha ingênua. Ela fugia dele, não o encarava e todas as vezes que ele tocou nela, ela deixou bem claro que não o queria, as bolas dele eram prova disso. Mas...
Gift se viu indo até o complexo, chegando lá e parando perto da porta. Harmony e Bronzy conversavam animadas, Bronzy falava algo sobre azul cair muito bem em Harmony.
"Não acham muito óbvio? Mony tem olhos azuis e veste um vestido azul? Talvez algo vermelho ficasse melhor." Ele disse entrando, Bronzy sorriu e olhou para Harmony piscando os olhos considerando o que Gift tinha dito.
Harmony por outro lado fez uma cara de desgosto.
"Eu tenho um vestido vermelho. É bem bonito, Mony. E seus cabelos negros iam se destacar." Bronzy aumentou o sorriso.
"Não, obrigada. Eu não quero parecer arrumada demais. É  só um churrasco no lago."
Gift se lembrou do churrasco daquela semana. Tio V, Tio Valiant e alguma aposta qualquer.
"Um churrasco no lago pede biquíni, não uma superprodução." Ele disse.
"E foi exatamente o que eu disse." Harmony disse e o olhou, Gift sorriu.
"Podemos jogar vôlei na água de novo. Foi legal. Posso contar com você no meu time?" Gift perguntou, ela deixou a caneta cair.
"É..." Ela se atrapalhou, Gift foi até ela e pegou a caneta. Ele ficou bem perto dela, o coração dela disparou.
"Não aceito não como resposta. Eu mesmo vou levar a rede e a bola." Ele disse, ela se afastou.
"Tá bom. Vou falar com Smy, faremos um trio." Ela disse erguendo o queixo.
"Somos um trio, então?" Ele perguntou. Não havia nenhuma possibilidade de dividí-la com quem quer que fosse, mas ele jogou a frase de duplo sentido só para desconcertá-la.
"Você precisa de alguma coisa, Gift?" Sua irmã perguntou, Gift a encarou, ela era tão linda, tão preciosa! O coração dele ainda se sacudia, mas Harmony o intrigava a ponto de começar a pensar em seguir a corrente e esquecer que quis sua irmã sexualmente. E isso era bom.
"Está quase na hora do almoço. Vim te buscar. Harmony pode vir também, mamãe fez peixe, você gosta?" Ele se virou para Harmony, ela fez que não.
"Não muito."
"Sarah está lá em casa?" Sarah era quem gostava de peixe.
"Sim. Haverá carne também, Mony."
"Obrigada, mas não." Ela disse.
As duas começaram a juntar as coisas, separar os papéis. Bronzy foi falar com Joe, Gift e Harmony ficaram na ante sala de James e Joe sozinhos.
"Isaac e Josh não vieram hoje?" Ele perguntou, Harmony se levantou da cadeira e foi até a janela se afastando o máximo dele.
"Não. Algo com Fred. Por isso eu vim ajudar."
Ela disse olhando para fora. Gift a olhou, ela era bem alta. Talvez mais alta que Daisy. Bronzy também era bem alta, mas Bronzy era magra como a mãe deles, atlética. Um lindo e perfeito corpo. Mas Harmony... Alta, com seios cheios, pernas grossas e uma bunda grande, empinada. Deliciosa. Gift não se deu conta de que se aproximava, só quando o cheiro do pescoço dela o atingiu é que viu que quase encostava nela.
"Você gosta de ajudar, não é?"
Ela se esticou, mas aguentou firme, não virou a cabeça, não se mexeu.
"Se eu estivesse precisando de uma ajudinha, você me ajudaria, Mony? Uma mãozinha, como dizem?" Ele pensou nas mãos dela sobre o pau dele e sua temperatura corporal aumentou. Tudo nele aumentou.
"Pare, Gift. Você está invadindo meu espaço pessoal." Ela disse, a voz foi calma e seca.
"Eu adoraria invadir você." Gift sussurrou no ouvido dela, ela continuou estática, fria.
"Se afaste." Ela disse, os passos de Bronzy saindo da sala de Joe o fizeram se afastar.
"Falei com ele, Mony. Só volto na segunda agora. Vamos." Bronzy sorriu para ela, ela sorriu de volta, as duas se deram os braços e saíram, Gift saiu atrás. Ele cravou os olhos na bunda dela naquele jeans apertado e as seguiu. Na porta do complexo, ela beijou Bronzy e correu para longe.
"Gift? Vamos?" Ele pegou no braço de Bronzy e eles andaram por um tempo em silêncio.
"Gift, você gosta da Mony?" Sua irmã perguntou.
"Não. Ela é gostosa e eu adoraria passar uma noite com ela, mas eu não acho que para você isso é gostar." Ele disse, Bronzy parou e bateu no braço dele.
"Como pode dizer isso de uma amiga minha? Uma das mais queridas? Falar dela como se ela fosse..."
"Deliciosa? Ela é." Ele disse, Bronzy parou e o encarou.
"Ela é mais que só um corpo Gift. Eu fico triste por sua visão das fêmeas se concentrar apenas nisso."
Ele ergueu as sobrancelhas.
"Eu não a conheço, maninha. Como saber como ela é, quem ela é? Eu só sei o que eu vejo." Ele disse, Bronzy não respondeu.
Eles continuaram em silêncio até chegarem na casa deles, Gift pensava no que sua irmã perguntou. Ele gostando de Harmony!
Bronzy perguntou a mãe deles sobre o vestido vermelho, Gift se lembrava bem do tal vestido. Bronzy ficou espetacular nele, era um vestido simples, mas que tinha um decote um pouquinho mais atrevido. Os seios de Harmony ficariam bem evidentes nele.
"Ele fica bem justo em você querida, acha que servirá em Mony?" Gift não estava prestando atenção na conversa delas, mas ouvia, é claro. O vestido tinha uma fenda, as pernas bronzeadas e bem torneadas de Harmony ficariam aparentes sempre que ela andasse.
Gift subiu as escadas, Bronzy estava falando algo sobre seu próprio vestido, um bem curto que ela tinha ganhado de Ann Sophie.
Bronzy num vestido curto atrairia todos os olhares, ele deveria impedí-la, mas não foi o vestido lilás que ele pegou quando abriu o guarda roupa de sua irmã. Foi o bendito vestido vermelho. Harmony não iria usar aquilo no dia seguinte, não ia mesmo.
Ele foi até seu quarto, escondeu o vestido debaixo de seu colchão e voltou a sala.
Bronzy e sua mãe conversavam agora sobre cabelos, Bronzy queria fazer tranças no dela.
"Tranças? Qual o problema com seus cachos?" Ele perguntou, Sweet pulou no colo dele, ele a beijou.
"Eu só queria testar um visual novo." Ela disse, Gift assentiu. Tudo por uma festa no lago!
A mãe deles serviu a comida assim que o pai dele passou pela porta, ele estava animado com uma nova aquisição do complexo, drones.
"Você, Slade, Moon e Harley irão testar os tais drones? Precisa de tanta gente?" Sua mãe perguntou com um sorriso no rosto.
"Testar os drones? Essa é a desculpa que vão dar? Todo mundo sabe que estavam contando os dias para que os drones chegassem para brincarem com eles." Gift disse.
"Não iremos brincar com nada, somos machos adultos. Iremos testar, saber até onde vão, saber quanto tempo ficam no ar, quem pilota melhor, essas coisas." O pai dele disse, a mãe dele revirou os olhos.
"Vocês podem usá-los para gravar a hora em que cantaremos parabéns para Harmony!" Gift engasgou.
"Como?" Ele perguntou enquanto tossia e seu pai lhe dava violentos tapas nas costas. Ele não devia ter dito que seu pai e os amigos iriam brincar com os drones.
"Ela não quis festa de aniversário, mas é claro que iremos fazer uma festa surpresa no lago! Tio V e Tio Valiant brigaram de propósito."
Gift pensou no relógio escondido na sua gaveta de cuecas. Um relógio delicado com uma pulseira fina de couro branco. Sheer incrustrou safiras bem pequenas no lugar dos números e o próprio Gift desenhou uma borboleta minúscula no visor. Pride ainda trocou os ponteiros, colocando outros formados por finos arabescos de prata. Tudo feito de forma mínima e bem discreto como ela era. Mas como não houve festa a dois dias atrás, ele ficou sem saber como dar o presente.
"É por isso então que você quer que ela vista o tal vestido indecente." Gift disse a Bronzy, sua irmã fechou a cara.
"Aquele vestido não é indecente!" Ela respondeu ríspida.
"Não estão falando do vestido vermelho, não é?" O pai deles perguntou, seu rosto estava calmo, mas seus olhos estavam alertas.
"Qual o problema com o vestido vermelho, Brass?" A mãe deles perguntou, já com a cara que ela fazia quando queria deixar alguma coisa bem clara ao pai deles.
"Harmony é quem vai vestí-lo, pai, será problema dos gêmeos e de Torrent." Gift disse, o pai deles sorriu.
"É. E eu ainda vou rir da cara dele tentando afastar os filhotes." Os dois riram.
"Afastar que filhotes?" Brave perguntou entrando na sala, Gift e seu pai franziram o nariz com o cheiro de sexo nele. Três fêmeas.
"Chuveiro. Agora." O pai deles comandou, Brave beijou a mãe deles e  sumiu no corredor dos quartos deles.
Gift encheu a boca de carne enquanto a mãe deles perguntava por que o pai deles tinha franzido o nariz, seu pai deu de ombros. Era engraçado ver que como o pai deles não conseguia mentir para a mãe deles, ele ficava calado. Será que algum dia Gift seria assim?
Os ouvidos dele estavam em Brave no chuveiro do quarto dos dois. Será que ele sentiria o cheiro do vestido? Brave não tinha os sentidos como ele e John, mas seu faro não era tão ruim.
O almoço acabou, Gift foi para o quarto. Brave comeria e depois sairia, mas até ele sair, Gift não se levantaria da cama.
"Cara! Tô morto!" Brave se deitou na cama dele nu e fechou os olhos.
"Não vai comer?"
"Não, eu já comi. Muita carne e muita buceta, graças a Deus." Brave respondeu.
"Credo! Se a mamãe te ouve falando isso..."
"Vai contar?" Brave o encarou, Gift achou estranho, os olhos dele estavam meio castanhos.
"O que deu nos seus olhos?" Gift perguntou, Brave piscou.
"Não sei." Ele disse, se deitando de costas e colocando as mãos atrás da cabeça.
"Talvez Collin possa dar uma olhada em você. Pode ser perigoso."
"Hoje não. Eu só quero dormir um pouco, Gift." Ele disse já fechando os olhos.
"Smy nos chamou para tomar cerveja na ilha." Gift disse, Brave não respondeu.
"Brave?" Gift o sacudiu, Brave rosnou.
"Vá você, eu não vou sair dessa cama hoje."
Gift suspirou e colocou as mãos atrás da cabeça. Ele não podia correr o risco de sair e deixar o maldito vestido debaixo da cama.

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