CAPÍTULO 63

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"E é isso, Gift. Agora você é como eu. Em teoria, é claro. Mas eu sei que você será diligente e pode até me passar."
Gift e Caim assistiam ao vídeo gravado por Benson, alguns caninos olhavam admirados por estarem vendo Benson na tela do laptop. Gift ia pausar o vídeo, Caim fez um sinal para que ele continuasse a assistir.
"E é claro que agora você está nas minhas mãos, Gift. Eu não sei quais serão as circunstâncias em que eu vou te dar esse material, mas de uma coisa eu sei: é uma via de mão dupla, Gift. Não vou dizer como você está nas minhas mãos, mas você está." Ele sorriu, depois riu e depois gargalhou.
Gift olhou para Caim.
"Alguma idéia de como eu poderia estar nas mãos desse filho da puta?"
"Ele fez esse vídeo antes, Gift. Provavelmente ele escondeu alguma informação que só iremos saber que está faltando quanto chegar o momento." Caim disse, Matilda o chamou, ele foi ajudar a dar banho em Abel4. Abel5 já estava todo arrumadinho, vestindo uma calça jeans de bebê, camiseta vermelha de super herói e com os cabelinhos amarrados na nuca. Péricles estava com ele no colo, ele passava as páginas de um livro infantil, Abel5 falava o nome dos animais das ilustrações.
Gift ficou observando Abel4 espernear enquanto Caim tentava convencê-lo a lavar os cabelos, muitos caninos tiraram a roupa e entraram no rio para ajudar, logo virou uma festa com Abel4 pulando de colo em colo, Caim ria feliz. Gift suspirou e foi até a caverna dos lobos, Augustus estava lá.
Ele entrou, Sônia o viu, foi até ele lhe alisou o rosto e saiu. Gift foi até onde Augustus estava deitado e se sentou.
"Eu vou ligar para a força tarefa hoje, não vai demorar e estarão aqui." Gift disse.
Augustus não respondeu, ele não tinha falado com ninguém desde que recobrou a consciência e descobriu que tinha matado seus irmãos e todos os lobos.
"Eles não irão se você não ir, você ainda é o alfa." Gift disse.
Augustus se deitou de costas, ele estava nu, ninguém ali ligava muito para roupas, mas Gift desviou os olhos.
"Eu sei que você pensa que é diferente de Pride, mas você não é. É possível controlar, vocês não precisam dos lobos. O que eu posso fazer para que você acredite, porra?"
Gift ainda tentou argumentar, mas Augustus não se moveu. Ele entrou ficou parado lá, mas todos os outros caninos também tentaram isso, então depois de um tempo, ele saiu.
Lá fora, Caim cozinhava, Abel5 desenhava e Abel4 mamava. Matilda alisava os cabelinhos dele, soltos, uma vez que ele não gostava de prender os cabelos. Ele também estava nu, as fraldas que eles levaram tinham acabado e ele não gostava de usar roupas.
A comida ficou pronta, Gift provou e estava muito bom. Os caninos comeram agradecendo a Caim a cada mordida, Gift teve de revirar os olhos.
Depois da refeição, Gift e Caim levaram carne para Augustus, é claro que ele não comeu.
Eles se sentaram, Gift começou a comer a carne, Caim o encarou.
"O quê? Ele não vai comer." Caim deu de ombros e depois que Gift devorou a carne, Caim limpou a garganta.
"Augustus. Eu posso provar que vocês não precisam dos lobos." Ele disse, Gift se encostou na parede de pedra da caverna, esperando Caim se dar por vencido para dizer a ele que por mais que fosse um gênio, Caim também falhava.
"A sede de vocês é uma parte de suas mentes independente. Uma parte irracional, uma parte que os cientistas não conseguiram extirpar então acharam mais fácil matar os produtos que tinham essa parte aflorada. Mas não tem de ser assim, há uma medicação feita a partir do veneno de Gift." Ele disse, Gift o encarou com raiva. Ele estava mentindo, não era assim que deviam proceder. Augustus ficaria puto se acreditasse nele e depois descobrisse que era uma mentira.
"Gift trouxe o mal para nós. Todos iremos morrer mais rápido agora. E tudo bem pra mim, eu já estou morto." Augustus disse, Caim o olhou com o sorriso de seu pai, aquele desgraçado.
"Gift trouxe um tratamento. Foi por isso que Benson foi criado. Eu posso provar." Caim disse.
Augustus se virou de bruços, Gift torceu a boca. Olhar para a bunda dele era tão ruim quanto olhar para o pau.
"Você quer fazer o que Benson fez com Augie. Gift nos morde e por amor a ele controlaremos o espírito ruim. Eu não tenho vontade nenhuma de me apaixonar por ele, meu coração é de outra." Ele disse olhando para a pedra a sua frente, Caim riu.
"Acha engraçado? Eu divirto você?" Augustus se levantou de um salto e se esticou. Gift deu um safanão na cabeça de Caim.
"Idiota." Gift disse.
"Augie não estava apaixonado por Benson, Augustus. Ele tinha seus próprios planos, Adriel me contou." Caim disse e foi aí que Gift se lembrou do tal Adriel, a coruja.
"Como você conheceu a tal coruja?" Gift perguntou.
"Um desenho. Pra mim." Caim disse, Gift rosnou.
"Você mexeu nos desenhos de Harry? Você entende a merda que fez? Que porra, Caim! Eu te expliquei milhares de malditas vezes, Caralho! Não era para mexer na porra dos desenhos!" Gift queria muito puxar os cabelos, mas ainda estavam curtos. Ele tentou, mas não deu.
"Harry sabia que eu ia mexer. Você dormiu e eu fui até sua calça, os desenhos estavam lá. Um deles estava dobrado de uma forma diferente. Era a coruja. E onde eu poderia encontrá-la. Era para mim."
Gift uivou de frustração! Um plano dentro de outro. Ele tinha mesmo de dar um soco em Harrison. Um só com toda a sua força, bem no meio da cara.
"Por que quer bater no meu primo se você obedeceu tudo o que ele mandou?" Augustus perguntou.
Gift arregalou os olhos, a mente dele era fechada!
"Como..."
"Não existe isso de mente fechada, Gift. Existem mentes com frequências únicas que demoram muito para serem decifradas, mas Augustus está num outro nível. Não existe nada que ele não possa fazer."
Augustus se sentou, encolheu as pernas e repousou a cabeça nos joelhos.
"Mas como não fomos atingidos quando ele..." Gift não devia perguntar aquilo ali.
"Por que eu não tinha conexão com suas mentes, nem com a do homem cobra. E foi tentando forçar minha mente a acessar o coração dele, para vingar o que ele fez com Augie que eu..."
Que ele tinha matado seus irmãos. Gift pensou.
"É." Augustus confirmou.
"Use sua mente então, Augustus e veja que o que eu disse é verdade." Caim disse.
"Eu não tenho conexão com a sua mente. E mesmo que você não esteja mentindo, você é só uma criança. Pode estar enganado." Augustus disse.
Caim sorriu para ele quando Augustus disse que não tinha conexão com a mente de Caim, mas parou de sorrir quando Augustus disse que ele poderia estar enganado.
"Ok. Eu te dou isso, você não tem porque acreditar em mim, mas liberte os que quiserem ir conosco."
Caim disse, Augustus fechou os olhos.
Eles esperaram um bom tempo pela resposta de Augustus, ele não voltou a abrir os olhos.
"Bom, você vai ter de ligar, Gift. E terá de me morder. Aqui é o melhor lugar."
"Seu cheiro vai mudar, eles vão perceber." Gift disse.
A verdade era que Gift estava se borrando de medo.
"Não, não vão. Meu cheiro é diferente do deles e vai continuar sendo diferente." Caim disse.
Gift olhou o desenho onde ele mordia Caim, tentando ver algo diferente de todas as outras vezes que examinou o papel.
"Eu deixei o cabelo de Honest na minha calça, vou pegar." Ele disse e se levantou.
"Não há nada sobre Honest aqui, Gift."
Caim disse. Gift sabia que ele não queria ser filhote de Honest, mas Harrison tinha colocado uma mecha do cabelo de Honest no meio das folhas dobradas e só podia significar que era para Gift mudar o DNA de Caim para que ele se tornasse filhote de Honest.
"Olha só, Caim. Honest é um ótimo macho. Eu acho ele muito..."
"Acha que eu não quero chegar lá como filhote dele por que eu acho que Simple é melhor? Acha que estou sendo um babaca?" Ele perguntou, Augustus não abriu os olhos, mas curvou um cantinho da boca.
"E então é por quê?" Gift perguntou.
"Por que Simple é o pai dele. O sangue sempre fala mais alto. Mesmo que Simple fosse um idiota, Caim ainda iria querer ser filho dele." Augustus disse.
"Está lendo a mente dele também?" Gift perguntou.
"Não. Mas eu passei minha vida toda chamando meu avô de pai, porém nunca foi a mesma coisa." Augustus disse, Gift sentiu a dor excruciante que lhe habitava o peito.
"Está decidido então a explodir tudo?" Gift perguntou.
"Manteremos o que eu disse para Benson, que eu sou um clone." Caim disse.
"Mas que cheiro um clone tem?" Gift perguntou.
"O cheiro do homem do qual eu fui clonado." Caim disse.
"Qual a diferença entre ser filhote de Honest ou um clone dele?"
"Acha mesmo que iriam clonar Honest?" Caim disse.
Gift bufou.
"E como fariam um clone de Simple?"
"Não precisamos saber, Gift. O doutor..." Ele apertou os olhos. Como ele podia amar quem o prendeu? Quem o afastou de seus pais?
"Não precisamos saber, basta que eu tenha o cheiro certo." Caim disse.
Sim, era isso. Quando os clones do Tio V apareceram ninguém se preocupou em como eles foram feitos. Assim como Quinze não ser um clone, mas sim um filhote do Tio de Gift com Marianne, algo praticamente impossível, mas que estava ali.
"E qual é o cheiro certo? O que eu devo fazer Caim?" Gift perguntou, Caim travou o maxilar, mas respondeu:
"Tirando de mim o cheiro da minha mãe. Todo ele. Não é como se eu fosse conviver com ela mesmo." Ele disse baixinho.
Gift entendeu. Harrison via o futuro, mas nem sempre esse futuro partia daquilo que ele planejava. No fim das contas ele conseguia o resultado desejado, mas as consequências poderiam ser muito graves.
"Como a morte de Tadeus. E de Caius. Ele era filho de Lazarus e Sabine, o mais novo depois de Angela."
Augustus disse. Gift não estava gostando nada dele sondando seus pensamentos.
"Eu estou pronto." Caim disse.
Gift se concentrou se lembrando do que viu no vídeo. Ele tinha que morder e ao invés de injetar veneno, tinha de sugar o sangue com as presas. Não era fácil. Não era mesmo.
Mas acabou conseguindo, Caim caiu mole em seus braços, ele segurou o pânico, pois ele tinha certeza de que não tinha injetado veneno nele.
Gift colocou Caim no colo e ficou um tempo esperando o sangue que sugou com as presas se misturar ao veneno que tinha nas bolsas em seu pescoço.
Ele esperou e mesmo sentindo que não havia mais veneno puro em seu pescoço, ele estava receoso. Com medo mesmo.
"Faça." Augustus disse simplesmente, Gift estava tremendo, suando e o calor em seu pescoço estava o deixando enjoado.
Gift fechou os olhos e fincou uma presa na língua. O gosto do sangue de Caim o atingiu, ele mexeu sua língua rolando o sangue de Caim em sua boca e percebendo cada detalhe do DNA dele. E então ele inspirou, era o cheiro de Caim, uma mistura do cheiro de Simple, de Flora e o dele próprio. Gift inspirou mais profundamente cada componente do cheiro de Caim foi separado e ele cuspiu uma parte da mistura. A parte do cheiro de Caim e de Flora.
Gift abraçou Caim com força e lhe mordeu bem na jugular, injetando todo o veneno que havia em seu pescoço. Caim começou a convulsionar, Gift o abraçou ainda mais apertado, até que ele abriu os olhos e estavam amarelos. Tão amarelos que brilharam na escuridão da caverna.
"Tudo bem?" Gift sussurrou alisando o rostinho gorducho.
"Está doendo, meu corpo parece em chamas. E meus olhos..."
"Eu estou aqui. Ficarei o tempo que for preciso." Gift ajeitou o filhote no colo, Caim o abraçou.
"Posso morar com você, Gift? Quando formos para a Reserva?" Caim perguntou.
Gift colou sua testa na dele e sorriu.
"Pode. É claro que pode. Vai ser divertido." Caim sorriu, precisando de muito esforço para sorrir, Gift lhe beijou a bochecha
"Eu te amo, Gift." Caim disse e ficou mole de novo, Gift o segurou mais apertado.
"Eu também te amo, pestinha." Ele disse, mas Caim já dormia.
"Bom, quero ver você dizer isso para o pai de verdade dele." Augustus disse:
"O pai dele é um idiota." Gift bufou.
"Eles estão chegando. Romulus está com eles." Augustus disse.
Gift sabia que isso era uma possibilidade, aqueles idiotas tinham o dom de estarem sempre por dentro de tudo, o vovô disse algumas vezes que devia ser um demônio que soprava as coisas no ouvido de Simple.
"Quem é o vovô?"
"Ele morreu. O melhor humano que eu já conheci. Eu... Eu o amava muito. Meu irmão era um artista, mas o vovô me fez ver que não é por que eu não era tão bom quanto ele que eu fosse inferior. Ele me ajudou a não ligar para o fato de John ser perfeito e eu não."
"Eu acho que eu poderia ser o John daqui. Isso não me ajudou em nada." Augustus disse. O barulho do helicóptero soou aos ouvidos dele, ainda estavam bem longe.
"Vai dar permissão de ir aos que quiserem?" Gift perguntou.
"Sim. Eu só não quero sair daqui. Diga que todos podem ir. Diga que é uma ordem minha." Ele disse e se deitou de costas, Gift suspirou.
"Deixaremos caça e comida pronta."
"Não há necessidade." Ele disse e se virou, Gift não iria olhar para aquela bunda enorme, então saiu.
Lá fora, todos já estavam fazendo as malas. Como tinham poucas coisas, a maioria já segurava sacos de tecido nas mãos. Annabeth tinha até laços no cabelo.
"Cadê o papai?" Ela perguntou a Gift, Gift sorriu.
"Ele já vem. Teremos de fazer várias viagens, ele deve embarcar por último." Gift disse. Caim abriu os olhos que ainda estavam amarelos, Gift ergueu as sobrancelhas.
"Inventamos alguma coisa. Vá fazer o mesmo com os Abels." Gift assentiu e foi para a casa de Matilda. Ela estava tentando vestir alguma roupa em Abel4, Abel5 ajudava.
"Deixa que eu faço isso, Matilda." Ele disse, Matilda sorriu e foi juntar suas poucas roupas, sem tirar os olhos de Gift. Abel4, é claro começou a espernear e a gritar:
"Mamãe!" Matilda o colocou no seio, Gift a encarou.
"Eu tenho de fazer uma coisa, Matilda. Para a segurança de Abel4." Ele disse, Matilda o encarou.
"Mas não estamos indo para a Reserva para sermos livres e estarmos seguros? Caim disse que o homem cobra pode dar nossa localização, disse que humanos maus podem aparecer aqui agora."
"É complicado, Matilda. E você não deve saber mais que o necessário."
"Você os ama, Gift? Os ama como ama Caim?" Ela perguntou, seus olhos violetas ficaram um pouquinho mais lilases.
"Sim. Eu daria a minha vida por eles, mas não posso dizer o que eu vou fazer." Ela assentiu e começou a cantarolar, Abel4 dormiu. Gift o pegou dos braços dela, ela suspirou e saiu da casinha.
"Eu dou um jeito nela depois." Abel5 disse, Gift estreitou os olhos para ele. Aquilo o irritava tanto!
Gift se concentrou, mas dessa vez foi mais rápido e mais fácil, ainda que demorou bastante. Ele, porém já tinha os dois bebês no colo quando Caim entrou na casa junto de Matilda.
"Meus olhos, Gift, como estão?"
"Amarelos ainda. Nós demoramos demais. Eles vão perceber."
"Não se eu estiver dormindo. Vamos para a caverna, Augustus pode fazer..." Ele disse, mas acabou por cair no chão. Gift o pegou e o colocou na cama junto com os bebês.
"De nada."
Augustus disse na mente dele, Gift se perguntou como ele conseguiu acesso a mente de Caim.
"Ele permitiu. Caim tem muito poder e parece que tirar o DNA de sua mãe dele, lhe tirou algumas amarras. Cuide bem dele, ele é muito novo para ter tanto poder assim."
Matilda vestiu uma camiseta em Abel4 e se deitou. Ela passou o dedo pelo rostinho dele, Gift podia sentir sua tristeza por Caius ter morrido.
"Ele fez aquilo por eles. Eu... Eu estou orgulhosa dele." Ela disse.
"Ele matou Augie. Ele nos salvou." Gift disse, Matilda sorriu.
Gift se sentiu exausto de repente, acabou se sentando num tamborete e se apoiando contra a parede da casa. Os idiotas dariam conta de embarcar os caninos, ele podia descansar um pouquinho.
O helicóptero pousou e ele ia se rendendo ao sono quando sentiu o cheiro dela. Gift pulou e correu. Como se sua vida dependesse de vê-la. E dependia.







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