Augustus se deitou de costas, Candid é claro, aquele idiota, tinha de reclamar.
"Cara! Qual o seu problema? O que custa vestir uma cueca?"
Augustus não respondeu. Eles estavam ali tentando vencê-lo pelo cansaço, mas Augustus não se cansava facilmente e logo iriam embora, então ele apenas abriu os olhos e os concentrou no teto da caverna. Ele sentia falta de Augie. Nesses poucos dias em que Augie lhe fez companhia, foi mais fácil suportar a falta de Violet. Mas como ele ficaria ali até morrer, Augie ter sido morto foi um obstáculo a menos.
"Só me diga se ele é mesmo um clone." Simple disse. Augustus nem mudou o ritmo de sua respiração. Caim era um deles, assim como Gift era. Eles eram da família e não importavam os motivos para a mentira, Augustus não iria dizer a verdade.
"Se ele não fosse um clone, o que ele seria? Seu filhote? Com quem?" Honest perguntou. Augustus percebeu um padrão em algumas rochas e se concentrou nisso. A cor delas. Marrom claro, marrom escuro, verde musgo...
"Ele alega ter sido feito a partir de um embrião. Como o tal doutor poderia conseguir um embrião meu?" Augustus pensou no que seria um embrião. Um bebê pequenininho? Violet com certeza sabia o que era. Ela era tão inteligente! E uma das coisas que ele mais amava nela era a humildade. Por que Augustus era um burro, sempre se viu como burro, mas nas conversas deles, Violet se mostrou interessada em algumas coisas que ele sabia, ela não e tinha pedido para que Augustus explicasse. As fases da lua e como elas atingiam a família de Augustus, por exemplo. Ou como dividia sua mente. Ou ainda como seu tom de voz era sua principal ferramenta de Alfa. Augustus quase sorriu ao se lembrar de ter usado sua voz para fazê-la abrir as pernas para ele. Violet o encarou com os olhos azuis queimando e cruzou as pernas com força, Augustus continuou ordenando que ela abrisse as pernas com a voz cada vez mais baixa e carregada de autoridade. Violet resistiu, os olhos dela avermelharam e aquilo o mostrou o que seu coração já sabia. Que ela era dele. Ela tinha um poder de resistência muito forte, Violet era completamente dela mesma e ele teria de usar seu poder ao máximo com ela. E quando ele baixou mais o tom, ela o beijou. Ela escolheu ser dele. Ela se doou a ele.
Os trigêmeos continuavam falando, mas uma lágrima rolou pelo rosto de Augustus então eles se calaram.
"Por que vocês trocavam de lugar? De quem foi a idéia?" Augustus perguntou com a voz falhando, não havia nada que pudessem dizer para minimizar a dor dele, então, já que aqueles pestinhas não sairiam dali, Augustus resolveu conversar.
"Não foi uma idéia no início. Era divertido ganhar os presentes que nos davam, mas Simple sempre teve um faro melhor. Não que o nosso não fosse extraordinário. Hoje eu vejo que falávamos uma coisa e entendiam outra." Honest disse.
"Quando diziam que o faro dele era melhor não estavam dizendo que o de vocês era normal, mas as pessoas entendiam isso."
"É. E sempre queriam Simple, sempre. Então dávamos Simple a elas." Simple completou.
"Depois foi ficando divertido lutar. Se provar mais forte. Pelo menos pra mim. Para Hon, o incentivo era mandar na gente, esse cuzão adora mandar." Candid disse.
"Violet me disse que você, Honest é o coração, Você, seu idiota, os músculos e Simple a mente. Um corpo perfeito em plena sintonia. Eu..."
Ele tinha dito que ela era perfeita. Perfeita para ele. Dele.
Augustus engoliu em seco, as lágrimas não queriam parar, sua garganta estava se fechando. Ele desejou morrer, desejou com tanta força que sentiu seus olhos aquecerem.
"Os lobos morreram, Augustus, e vocês estão aqui, vivos. Por que continuar se torturando? O avião vai chegar, iremos embora. Iremos para a Reserva, vão ficar depois das terras do Tio Lash, até uma área nova ser anexada. Justice estava a tempos tentando comprar, mas a cidade alegava que não havia necessidade. Assim que Romulus ligou, ele mandou dizer que já estava acionando Peter. Seu primo. Tudo ficou para trás, Violet está a sua frente, ela é o seu futuro." Honest disse.
"Até quando?" Augustus disse. Não era uma pergunta. Era uma afirmação, a afirmação que permeou a vida de todos na família dele.
Até quando?
Mesmo Lazarus teve um quando. Sabine teve seu quando no parto de Angela. Bob teve seu quando num tiro de Leotie. Caius teve seu quando nos dentes de Augie.
"Isso realmente importa? Quando o fim virá? O fim não pode ser evitado, Augustus, mas isso nos faz..." Simple parou de falar quando Caim e os bebês entraram na caverna.
Augustus se levantou, esperou ele se aproximar e se ajoelhou. Caim juntou sua testa a dele, Augustus se lembrou de quando o viu pela primeira vez e se encantou. O encanto ainda estava ali.
"Viemos nos despedir. Daqui a pouco seus parentes entrarão aqui e vai triste, muito triste, então viemos primeiro." Ele disse. Augustus lhe beijou a testa. Caim o entendia, Caim o apoiava.
"Eu vou cuidar dela." Caim prometeu.
"Eu também." Abel4 disse sorrindo. Ele, como sempre estava nu e os cabelos estavam uma bagunça. Adorável.
"Eu amo você, Caim. E te respeito. Espero que você seja muito feliz. Você merece."
Augustus disse o fundo de seu coração.
"Eu também vim me despedir, Augustus. Eu voei sobre esse lugar durante muitos anos. Você sempre foi a criatura mais extraordinária dentre os que herdaram os poderes do meu pai. Mas curiosamente é a mais burra. Isso é estranho." O outro bebê disse.
Augustus o encarou, havia uma placitude nos olhos dourados dele, uma passividade que só podia ser reflexo de todos os anos que ele viveu. Uma alma antiga, mas que ainda queria agarrar o que pudesse, sentir o que pudesse. Mas isso era injusto. Viver as custas da vida de um bebezinho indefeso era um crime.
"Por que rejeitou o oferecimento de Darius? Que diferença faria para você?" Augustus perguntou.
O bebê sorriu. Um sorrisinho de lado, malandro. O sorriso de Candid.
"Poder. Como um clone meu ele pode fazer muito mais que no corpo de Darius. Dentre vocês, Darius é o que tem menor poder mental." Simple explicou. Caim, que tinha aberto a boca para responder, só acenou. Honest sorriu, como se dissesse que os dois eram dois sabes-tudo irritantes. A cada interação de Simple e Caim a idéia de que Caim era um clone iria ficar cada vez mais plausível para todo mundo. Pais e filhos tinham diferenças entre si. Pais e filhos comuns, não um pai como Simple.
"Então se alguém poderoso se oferecer..." Augustus disse, Adriel arregalou os olhinhos. Era difícil imaginar que aquele bebê tão bonitinho, pudesse abrigar dentro de si uma alma tão indiferente e sedenta de poder.
"Você. Apenas você." Ele disse.
"Não! Você tem um acordo comigo." Caim disse.
O bebê riu. Uma risada baixa, seca.
"Um acordo com o próprio demônio. Não é assim que seus irmãos chamam você, Simple?" Ele disse olhando para Simple, Augustus entendeu o quanto Simple estava debilitado. Encontrar um clone dele o derrubou, o fez sofrer como nunca tinha sofrido e os olhos dele mostravam que ele já vivia em sofrimento. Gift tinha um coração bom e dedicado. Gift sabia o que fazia ao tirar de Simple aquela alegria. Mas era triste.
"Sim. Mas clones tem uma alma própria. Caim é novo, ele é melhor que eu." Simple disse.
"Não, eu não acho. Caim quis fazer o acordo assim que nós nos encontramos. Ele esperou um momento em que pudesse fingir desespero, para que eu aceitasse. Para me enganar. Mas o plano dele deu errado. Não foi?"
Augustus fechou os olhos se concentrando na mente do bebê. Adriel tinha uma mente fechada, o bebê também, mas as ondas estariam ali, ele só não teria acesso. Apenas um conjunto de ondas o saldou. O de Adriel.
"Eu não sinto Abel5." Augustus se levantou e se esticou. A ira o tomou, ele rosnou.
"Por que Abel5 não está aqui mais. Ele está na coruja." Adriel disse.
Augustus piscou tentando se acalmar, as lágrimas de sangue que lhe brotaram nos olhos estavam lhe embaçando a visão.
"Você não achou que eu iria ficar vulnerável, achou?" Adriel perguntou.
"Eu vou cumprir minha palavra, não precisava afastar meu irmão assim." Caim disse.
"Então você está dizendo que o outro bebê está na coruja? E você o escondeu?" Candid perguntou, o bebê sorriu.
"Adriel mau." O outro bebê disse, Candid o pegou. Ele o ajeitou no ombro.
"É. Adriel é mau, mas nós somos mais. E eu estou ficando de saco cheio dessa história de merda." Candid disse.
"Traga a coruja. Ou iremos encontrá-la e quando fizermos isso, você vai morrer." Honest disse, mas Adriel se aproximou de Simple. Simple se ajoelhou e alisou o cabelinho perfeitamente penteado, amarrado na nuca, exatamente como o dele.
"Se Augustus aceitasse seu acordo, o que aconteceria?" Simple perguntou.
"Assim que minha mente migrasse para a dele, a de Abel5 voltaria. Mentes tem um elo de ligação muito forte com seus corpos. Mas Augustus morreria. É o que ele quer mesmo." O bebê deu de ombros.
"Faça." Augustus disse.
"Não! Mas que porra, Augustus! Violet te ama! Você a ama! Como pode dar as costas a isso? A algo que todos nós perseguimos, a algo que alguns de nós pode nunca chegar a ter? Como pode deixá-la? Acha que ela não vai morrer? Como pode colocar a vida dela em risco? Que tipo de filho da puta você é?" Candid explodiu, o bebê chorou, Simple o tomou dele.
"Titio feio." O bebê disse chorando.
"Você não sabe de nada, Candid Maximilian! De nada! A cerimônia não foi só para Violet! Violet passou, eu não!" Augustus gritou, deixando que vissem o homem deprimente e patético que ele era. Pequeno, insuficiente.
"Era uma via de mão dupla, a fêmea podia se deixar subjulgar, mas esse não era o teste principal. Violet não é canina, ela não pode ser uma loba, ela é uma leoa! Imponente, indomada! A minha Alfa! Mas eu tinha de impedir Augie de chegar até ela, minha parte na cerimônia era protegê-la! E eu falhei." Augustus voltou a ficar de joelhos e segurou a cabeça. Ele começou a puxar seus cabelos, se lembrando da dor que Violet sentiu ao ser despedaçada, tudo porque Augie era ele e como ele, Augie era invencível. Augustus se dividiu e a parte que estava em Augie foi mais forte. Ele falhou. E sabendo disso, como ficar com ela? Como expô-la ao perigo de sua parte ruim deixar a mente de Augie, tomar a dele e matá-la?
"Augustus..." Honest começou a falar, mas Augustus estava cheio. O sofrimento estava se tornando insuportável, a dor lhe tomava o peito e lhe tirava a razão. Então ele deu o último passo como o covarde que era e disse:
"Eu não sou digno dela. Faça, Coruja."
"Violet está grávida! Vocês vão ter um filhotinho. Pare de..." Honest disse, mas Adriel, a Coruja, sorriu e disse:
"Feito."
Augustus uivou de dor, uma dor que ele nunca imaginou que pudesse existir e seu último pensamento foi o desejo de que seu filho tivesse os olhos de Violet.

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Fiksi UmumQue tal não dizer os protagonistas dessa história? Talvez ir escrevendo e deixar que eles assumam o protagonismo? Ou deixar vocês escolherem? Bom, essa é a proposta dessa história. Eu tenho dois personagens os quais /adoraria escrever, mas vou deix...