"3 meses e 18 dias depois..."O cotidiano andava muito corrido.
Eu me envolvi completamente com a proposta de um grande fornecedor para a revenda de seus produtos, que acabavam de chegar à cidade. Minha loja foi escolhida a dedo, o que me deixou tão feliz que não pude fazer nada além de meter a cara no trabalho para atender a todas as exigências.Danilo se ocupou tanto que só conseguia vê-lo tarde da noite. Paramos de ir juntos ao trabalho, pois seu horário estendido não permitia que saísse no horário comercial – eu precisava chegar mais cedo para organizar a casa e preparar o jantar.
Isso me frustrava às vezes, porém a alegria que sentia quando via seus olhinhos brilhando de expectativa por causa de novos trabalhos me fazia manter a paciência. Sabia que o meu apoio era fundamental, portanto comecei a fazer o papel de boa companheira, facilitando sua vida ao acordar mais cedo para fazer o café, separar suas roupas e a mochila que sempre levava com alguns artigos de higiene e demais suprimentos.
Sempre esperava ele chegar para que jantássemos juntos. Às vezes eu não tinha tempo para preparar nada, e então pedia comida para viagem em algum drive thru ou simplesmente ligava para a pizzaria da qual sabia que ele gostava.Tentei acompanhá-lo na academia em nosso horário de almoço, mas desisti. Sentia-me sonolenta após as refeições, totalmente sem forças.
Resolvi começar a fazer caminhadas na praça do bairro, à noite, na semana passada. Estava engordando demais com as guloseimas que ele sempre preparava no tempo livre. A praça era um local arborizado e movimentado, de modo que me exercitava tranquilamente e tirava todo o peso da minha consciência.
Os fins de semana eram sempre muito esperados, pois Danilo definiu que não atenderia a nenhum cliente nas manhãs e tardes de sábado ou domingo – a não ser que fosse um caso de extrema importância –, ficando esta responsabilidade para seus dois funcionários. Mesmo assim, ele precisava cobrir algumas festas à noite e eu acabava o acompanhando, até ajudava com algumas coisinhas. Nunca frequentei tantas formaturas, casamentos e afins em toda a minha vida quanto no último mês.Foi quando voltávamos de um dos casamentos, cujo Danilo havia sido o fotógrafo contratado, que uma ideia fixa surgiu na minha mente. Na verdade não foi bem uma ideia, mas sim um tipo esquisito de obsessão. Depois de ter visto uma cerimônia perfeita e a felicidade clara estampada nos olhos dos noivos, uma depressão sem limites tomou conta de mim, deixando-me reflexiva.
Aquilo simplesmente não passou.
Dia após dia fui alimentando a culpa do que eu tinha feito ao João Pedro.
O sentimento era amargo e me fazia chorar escondida quase todas as noites antes de dormir. Pesadelos horrendos se tornavam cada vez mais reais, trazendo-me um sono turbulento e uma sensação constante de cansaço. Dores de cabeça surgiam do nada, e eu tentava mascarar toda aquela angústia ingerindo grandes quantidades de remédio.Danilo não fazia ideia. Jamais o aborreceria com algo que eu sabia que era proveniente da velha Maraisa; o desespero de ter sido errada e injusta fazia parte de mim há anos. Quem pensava que era para achar que aquilo mudaria, do nada? O fato de estar absolutamente feliz ao lado do homem que amava gerava uma culpa ainda maior, pois sabia que, enquanto minha vida era presenteada com as melhores coisas do mundo, João sofria por causa de toda a humilhação que lhe causei.
Vi a mim mesma procurando o João Pedro: comecei mandando algumas poucas mensagens. Precisava conversar com ele seriamente, um papo aberto e sem rodeios.
O respeito que eu sentia ainda se mantinha, mesmo sabendo que ele havia perdido todo o respeito por mim, visto que sua primeira mensagem em resposta foi um chingamento que me fez chorar calada quase o dia inteiro.
Foi merecido.O pior castigo por tudo o que fiz foi compreender que nunca mais teria a consideração de alguém que sempre me colocou em primeiro lugar. De alguém que, antes de qualquer coisa, era o meu amigo. Uma pessoa que eu conhecia e admirava, alguém com quem construí uma história sólida, repleta de lembranças que eu não podia – nem devia ou queria – esquecer.
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The Trip "Danisa"
FanficTotalmente fora dos seus planos, Maraisa concorda com uma despedida de solteira...