4º Capítulo "Separando as calcinhas"

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"Separando as calcinhas"

Dormi muito pouco.
Estava sem paciência, tudo parecia me incomodar dentro do quarto.
Kaio não roncava, mas respirava alto de um modo irritante.
Não gosto de dormir com o quarto todo escuro, é mania minha.
Também prefiro cama de casal, pois fico me remexendo o tempo todo.

Como já era dia, estava um pouco quente no quarto, apesar de dois ventiladores grandes trabalharem incansavelmente.

Antes das sete da manhã, decidi tomar um banho e ver se o Marlos precisava de mim para alguma coisa. Vesti uma sunga preta e uma camiseta branca, estava morrendo de calor.
Acabei encontrando o Edu na cozinha, tinha acabado de chegar.

-Ela é... demais! - falou, animado. - Estou morto, cara! Ainda bem que a Fabrícia não vai acordar tão cedo. Preciso dormir.

-Viu o Marlos? - perguntei sem dar muita bola.

-Deve estar dormindo ainda. Você já acordou? São seis e... - Edu conferiu o relógio de pulso. -Quarenta e dois.

-Estou sem sono, acho que vou dar uma volta na praia.

-Ah, beleza.

Havia dois seguranças perto dos portões. Ambos estavam cochilando, sentados debaixo de uma tenda pequena.

Fiquei meio desconcertado, mas um deles acabou acordando e abrindo os cadeados para mim. Alertei-o de que não pretendia demorar muito, e ele avisou que era só eu dar algumas batidas no portão quando voltasse.

Alcancei a praia, sentindo-me um pouco melhor. A areia branca estava limpa, e não tinha ninguém circulando naquela região.
A água do mar era de um azul profundo, cintilante nas partes em que os raios solares tocavam. O céu estava livre de nuvens, ou seja, um dia maravilhoso com direito a paisagens de tirar o fôlego.

Meu primeiro instinto foi correr na beira da praia. Comecei devagar, sentindo os músculos se esquentarem aos poucos. Depois de cinco minutos, acelerei o passo e corri o mais rápido que pude. Tentava não pensar em nada e até consegui. O exercício me fez um bem enorme; estava me sentindo um pouco preso dentro daquela casa. Pensar em Maraisa estava me sufocando, e o mar acabou levando minhas dúvidas embora quando resolvi dar um mergulho.

Tudo era muito simples; eu estava trabalhando. Agiria como sempre agi nesses dez anos de experiência, esquecendo-me do surto inicial da noite anterior.

Com as energias recarregadas, voltei para o casebre. Tomei outro banho e vesti os trajes que haviam sido combinados para aquela manhã; sunga e camiseta brancas.

Marlos já estava acordado, bem como alguns dos rapazes. As clientes tinham ido dormir bem tarde, por isso ainda estavam dormindo.

O horário do café da manhã passou sem que houvesse sinal das garotas. Sendo assim, o almoço começou a ser preparado, e eu me prontifiquei a ajudar.

Estava separando alguns talheres dentro do estande, na área externa, quando alguma coisa me chamou a atenção.
Olhei para cima; Maraisa estava na varanda, admirando o mar com uma empolgação notável.
Sorria abertamente, sem desviar os olhos.

Fiquei a observando durante longos minutos. Às vezes ela abria os braços como se quisesse abraçar o mundo. Realmente o dia estava muito bonito, e a vista da sacada devia estar bela. Confesso que fiquei admirado com sua reação.
Parecia tão despreocupada, como se nada pudesse lhe perturbar. Naquele momento, cheguei a invejá-la. Ela ainda trajava o mesmo vestido da noite passada, embora ele agora estivesse amarrotado.

De repente Maraisa pareceu se dar conta de que estava sendo observada. Olhou para baixo, oferecendo-me seus olhos escuros indecifráveis.

Um calor intenso tomou conta do meu corpo; o velho desejo estava de volta, porém o descartei de imediato. Não ia mais dar uma de idiota como na noite passada.

The Trip  "Danisa"Onde histórias criam vida. Descubra agora