2º Capítulo "24 horas depois"

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"24 horas depois..."

Foi um dia preguiçoso, mas intenso. Maraisa dormiu comigo e passou o dia inteiro no meu apartamento. Ela não queria voltar para casa, e eu a apoiei. Na verdade a apoiaria em qualquer coisa que me propusesse.

Estava tão preocupado com seu estado emocional. Às vezes ela ria e parecia se divertir comigo, porém, em alguns momentos, ficava altamente reflexiva. De um jeito que me tirava do sério.
Não estava sendo fácil para ela, sabia bem disso. Largar um casamento – e ainda mais deixando o noivo no altar, isso sem contar os convidados – era no mínimo constrangedor. Maraisa chegou a ligar para suas amigas e mais uma vez para a dona Isabel. A mãe dela estava possessa, ainda mais porque Maraisa confessou que estava comigo.

Eu sabia que isso ia acontecer, não devia estar tão irritado.
Os pais dela me odiariam por um longo tempo, talvez jamais chegassem a gostar de mim ou a me aceitar. Se descobrirem o que fui então... Quero nem imaginar. Certamente tentariam convencê-la a se afastar de mim, e eu não saberei o que fazer. Talvez simplesmente a deixasse partir. O problema é que cheguei muito longe para não lutar. Maraisa havia me escolhido. O que pudesse fazer para merecer a aceitação da sua família, eu faria.

-Acho que estou pronta para ir pra casa – ela falou em certo momento, quando terminamos de jantar.

Havíamos cozinhado juntos o dia todo; fizemos o café da manhã, o almoço e o jantar. Escutamos músicas. Assistimos a mais um filme. Jogamos um pouco de videogame. Aliás, descobri que ela era uma negação no videogame, mas pelo menos era empolgada, não desistia fácil.

Ah, também fizemos amor.
Umas três vezes, pelas minhas contas.


-Tudo bem, vou te levar – respondi.

Emprestei uma camisa e um short de academia para Maraisa. Seu vestido de noiva ainda estava em uma caixa, em cima do sofá, junto com todos os acessórios que ela estava usando quando apertou a minha campanhia no dia anterior.

Apenas dois minutinhos de carro separavam nossos apartamentos – era uma coincidência incrível morarmos no mesmo bairro.
O prédio dela era incrível, eu já o conhecia de vista. A fachada toda de vidro e mármore sempre me impressionou.

Quem diria que o amor da minha vida morava exatamente ali?

Maraisa pegou as chaves com o porteiro e voltou para o carro, que eu havia estacionado mais ou menos em frente à portaria.

-Quer subir? – ela perguntou.

E eu achei que havia sido apenas por educação.
Talvez quisesse ficar sozinha, mas estava com vergonha de dizer.

-Tem certeza?

-Se você não quiser... – murmurou, desviando os olhos dos meus de um jeito triste.

Franzi o cenho. Odiava quando fazia aquilo.

-Maraisa, não é por mim, é por você. Por mim eu ficaria contigo vinte e quatro horas pelo resto dos meus dias, mas entendo que você precisa de espaço.

-Eu não quero espaço – disse ela seriamente. – Preciso resolver a minha vida, mas não preciso te afastar por causa disso. Não tenho vergonha de você, nem medo do que vão falar ou pensar, Danilo.

-Você se faz de forte, mas sei que está magoada. Sei também que está com medo.

-Não estou magoada, só não posso dizer que estou alheia ao que aconteceu. E bem... Você também está com medo, não me julgue.

-É claro que estou. Não quero te perder.

Maraisa sorriu um pouco, mas voltou a ficar tensa.

The Trip  "Danisa"Onde histórias criam vida. Descubra agora