23º Capítulo "Eu estava perdida"

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                 "Eu estava perdida"

Nem sei dizer como consegui dirigir até o meu apartamento. Meu corpo inteiro tremia de medo, tristeza, angústia e tudo de ruim que você possa imaginar.

Deixar o Danilo foi a coisa mais difícil que já fiz, vencendo de lavada até mesmo da minha fuga à igreja. Realmente, fugir de um casamento foi mais fácil do que fugir do homem que eu amo.
Ver toda dor em seus olhos sem nada poder fazer para consolá-lo foi como uma facada certeira no meu coração.

Entrei no meu apartamento chorando como se estivesse em um enterro.
O ambiente estava meio empoeirado, afinal, fazia quase dois meses que eu não marcava presença ali, mas quem ligava?

Corri até meu antigo quarto e pulei na cama. Chorei. Chorei de todas as formas até que não consegui mais ficar de olhos abertos. Praticamente desmaiei, e acordei chorando várias vezes durante a madrugada. Tive muitos pesadelos. O pior, o único do qual me lembro bem, mostrava Fernanda e Danilo juntos, em cima de um altar. Ambos diziam sim e sorriam um para o outro, visivelmente felizes.
Era loucura, claro.

Minha mente pregava peças, reunia meus medos e os intensificava com pensamentos tolos e ideias impensáveis.

Não me lembro de ter sentido tanto medo como naquela longa noite. Até o ruído da minha respiração ofegante me deixava assustada. As sombras do quarto pareciam monstros, e o frio que fazia jamais pôde ser aplacado.

Senti falta da canção de ninar que Danilo cantava para mim antes de dormir. A da princesinha. Eu também cantava para ele... E não deixei de cantar. Cantei de um modo sussurrante, cortando o silêncio e deixando a solidão escorrer como sangue.

Esperava alguma ligação dele, mas só me restava ouvir o vazio. Meu mundo foi atirado num poço escuro, repleto de incertezas. Só queria ouvir a voz do meu lindo príncipe, em contrapartida sabia que era perigoso demais.

Amanheceu e eu não saí da cama. Bem que tentei, mas meu corpo doía como se eu tivesse levado uma surra. O ferimento no meu braço latejava: desenhos das unhas da ministra estavam visíveis e ainda meio ensanguentados.

Morri de raiva com a ideia de não tê-la feito sangrar também.

Maiara me ligou por volta das dez horas da manhã. Informei que tinha pegado uma gripe forte – não estava a fim de dar satisfações –, e ela acreditou.
Também disse que Danilo tinha ligado procurando por mim, perguntou se estava tudo bem entre nós. Expliquei que havíamos brigado e só. Ela entendeu que eu não queria dar detalhes.

Recebi uma ligação anônima no meu celular às onze horas da manhã. Ainda estava chorando na cama, com uma garrafa de café forte e uma caneca grande. Era o que tinha para aquele triste dia.

– Alô? – minha voz rouca era irreconhecível.

–Fez a escolha certa, querida. Parabéns!

Nem me dei o trabalho de perguntar como Fernanda Pires havia descoberto qual era o meu número. Pelo visto ela estava completamente infiltrada na minha vida.

Senti-me exposta, vulnerável.

– Vá pro inferno.

–Vou ao paraíso, Maraisa. Seu ex-namorado é o meu paraíso particular.

Rangi os dentes.

–Ele nunca vai te querer de novo. Aliás, ele nunca te quis.

–Você é tão bobinha! É claro que ele sempre me quis. Como acha que comprou aquela BMW? Foram três anos de encontros semanais, eu sempre paguei bem, querida. Eu o conheço mais do que você.

The Trip  "Danisa"Onde histórias criam vida. Descubra agora