29º Capítulo "Maiara"

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                          "Maiara"

4 meses e 10 dias depois...

As últimas horas haviam sido tão fora de noção que às vezes eu me perguntava se tudo aquilo estava mesmo acontecendo. Não dava para assimilar; fiquei igual a uma imbecil tentando ajudar a Maraisa e me desvencilhar do Kaio.

Ele parecia um bicho no cio, ficava me beijando, pegando nas minhas gorduras horríveis como se não fossem tão horríveis assim.
Na verdade ele parecia sentir desejo o tempo todo, o que era tão esquisito quanto o fato de ver minha amiga beijando outro cara sem mais nem menos. 

Acho que o mundo virou pelo avesso. Ou sei lá, se ele tivesse virado eu devia estar magra, não devia?

Era tão irreal a ideia de beijar o Kaio que só cheguei a uma conclusão: ele estava querendo apenas uma transa. Sim, afinal, soube que tinha largado a vida de garoto de programa recentemente. Claro que estava matando cachorro a grito, pegaria qualquer trambolho facilmente.
Eu era o trambolho ali, disponível, apaixonada e pronta para abrir as pernas na primeira oportunidade.

Só que eu tenho um pouquinho de amor próprio, ouviu bem?
Kaio não podia achar que seria fácil me usar e depois jogar fora. Confesso que não estava conseguindo evitar seus beijos e carícias – também não sei dizer se beijá-lo me fazia bem ou mal, só estava deixando porque era gostoso e arrancava de mim a saudade enorme que sentia de seus lábios –, mas uma trepada ele não teria nem a pau!

Até porque estava usando uma calcinha mais larga do que a da minha avó. E tinha me esquecido de fazer os cantinhos. Ok, não me esqueci, apenas não sinto necessidade de me manter depilada sabendo que ninguém terá o interesse de conferir. Claro que não estava nenhuma Mata Atlântica – não sou tão nojenta quanto pareço –, só que as garotas dos filmes pornôs sempre têm a danadinha toda lisinha como se nunca tivesse existido um pelo ali.
Kaio obviamente estava acostumado com mulheres depiladas. Quero dizer, eu me depilaria perfeitamente se tivesse horário marcado com ele – já estaria pagando pra ser comida, seria humilhante ao dobro se não fizesse nem um agradinho pro sujeito ter mais motivos para se animar além do dinheiro –, por isso acredito que suas clientes o faziam. 

Ah, também tinha os meus peitos. Não sei, mas depois que passei dois meses comendo sem parar enquanto sofria por ele, havia engordado pelo menos uns seis quilos – claro que não me pesei, balanças e eu não ocupamos o mesmo recinto sem que role confusão – e meus seios estavam se rendendo à gravidade. Ficavam o tempo todo apontados para o chão, cabisbaixos. Isso sem falar da minha barriga. Dela nem vou comentar, pois não quero ficar de luto pelos desenhos de bacias hidrográficas que minhas estrias faziam na coitada.

"Mas como eu já disse, tenho amor próprio e não ia dar para o Kaio."

"Ele pensava o quê?"

"Que podia aparecer do nada, num dia totalmente incomum, falar que gosta de mim depois de dois meses me deixando deprimida e ainda querer dormir comigo?"

"Não mesmo!"

Sou uma mulher madura, meus vinte e sete anos me levaram a ter certeza de que nenhum homem presta. Principalmente quando você é gorda. É raro encontrar um cara que aceite que você é imperfeita. E logo uma imperfeição tão óbvia.

Quando Maraisa começou a organizar um quarto para nós dois, quase me atirei pela janela.
Estava disposta a deixar o Kaio dormir ali enquanto eu me esgueirava pelo sofá, mas graças à Nossa Senhora das Gordinhas, santa das dietas impossíveis, ele saiu do quarto dando a entender que ficaria no sofá quando Maraisa nos livrou da saia justa, dizendo que seu sofá magicamente virava uma cama.

The Trip  "Danisa"Onde histórias criam vida. Descubra agora