Vinte e Nove

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Bruna Dias.

A voz dele cantando aquela música, deve ser outro sonho bom, todos os dias quando ele chega eu sonho com nos dois na praia, correndo pela areia e de fundo a nossa música preferida, e sempre na voz dele.

Sinto uma sensação estranha, como se estivesse emergindo de um longo e profundo sono. Minha mente lentamente se aclimatando à luz, aos sons e às sensações ao meu redor. As sombras e os murmúrios se transformam em formas definidas, e consigo finalmente ver o rosto de alguém bem próximo a mim.

É o Kaio, seus olhos estão cheios de lágrimas de alívio, e ele segura minha mão com ternura. É como se ele fosse um farol de esperança que me guia de volta à realidade.

Tento falar, mas minha garganta está seca e minha voz é apenas um sussurro fraco. Kaio percebe e segura um copo d'água para eu beber.

Os sentimentos de confusão e desorientação ainda estão presentes, mas também há uma imensa gratidão por estar de volta. Nesse momento, nossos olhos se encontram, e nossos corações parecem se comunicar silenciosamente.

Ele chamou os médicos que logo apareceram, o quarto que estava vazio quando abri os olhos agora está cheio, muitas vozes ao meu redor e a única que eu queria ouvir era a dele.

Eu não tirava meus olhos do Kaio, e nem ele dos meus, sorri fraca para ele, meu corpo todo dói, minha cabeça está pesada, e os médicos e enfermeiros estavam ali falando comigo, fazendo exames e eu não conseguia prestar atenção em nada.

Depois de longos minutos todos se afastaram e saíram do quarto, fiquei novamente sozinha com ele, me forcei a falar e minha voz está fraca.

- A quanto tempo... - Respirei fundo. - eu to aqui.

- Quase duas semanas. - Ele beijou minha mão. - Mas o importante é que você está bem agora.

Balancei a cabeça concordando, tentei me levantar um pouco e senti uma pontada na barriga, e foi então que lembrei do tiro, gemi um pouco e fechei os olhos.

- Que horas é agora? - Perguntei.

- Quatro da manhã, jaja seus pais chegam e a Carlinha também. - ele ficou alisando meu cabelo e depositou um selinho em mim. - Nunca mais você faz isso, entendeu?

- O que seria da vida sem dias agitados? - Ri ele riu junto comigo. - E ele?

Eu no fundo queria que ele ja não estivesse mais entre nos, por que saber que ele ainda estaria vivo me da medo, por que ele não vai parar até me matar.

- A gente fala disso depois. - Neguei com a cabeça e ele suspirou. - Teimosa, ele está passando por alguns dias de férias só esperando você sair daqui para decidir o que fazer com ele.

- Vai me deixar escolher? - Ri colocando a mão na barriga. - Só quero ele longe, bem longe. - Falei e senti meus olhos pesando.

- O que a minha Dama quiser. - Ele se inclinou e encostou o lábio no meu ouvido e sussurrou. - Mas vou querer algo em troca, to morrendo de saudade.

- Safado, respeita a doente. - Bati no braço ele e rimos juntos, ouvi passos vindo da porta e olhamos ainda rindo, um médico entrou.

- Olá Bruna, sou o Doutor Carlos. - Assenti. - Assim que mudar o plantão vamos pedir para colocarem você no quarto, mas se continuar a responder bem as medicações até o final da semana você vai para casa.

- Sério? - Kaio perguntou e eu ri no desespero em sua voz.

- Sim, a recuperação em casa é mais tranquila, e se la ela tiver tantas pessoas para cuidar como foi aqui, não vejo problemas.

Ele terminou de falar mais algumas coisas e saiu nos deixando sozinhos de novo, ficamos conversando, Kaio me contou sobre tudo, até sobre a Arlequina que não resistiu e morreu.

Ela fez de tudo pra me proteger e eu não pude fazer o mesmo por ela, e é o que mais me dói, sabe que eu não fui capaz de fazer por ela o mínimo.

Quando já eram mais ou menos umas nove da manhã ouvi vozes no corredor e olhei para a porta, meus pais e a Carlinha entraram se assustando ao me ver acordada. Kaio estava dormindo ao lado e não avisou a ninguém para fazer surpresa.

- Meu Deus, filha. - Minha mãe correu para a cama e me abraçou, eu retribui e começamos a chorar junto da Carla que veio até mim. - Eu orei tanto para Deus te deixar aqui comigo.

- E ele atendeu mamãe. - Sorri e limpei as lágrimas. - Agora ta tudo bem.

Depois de algum tempo delas, ali o Kaio acordou, disse que precisava ir para o morro resolver algumas coisas e me prometeu que voltaria para dormir comigo, pedi algumas coisas e ele vai trazer.

Carla me contou todas as fofocas la do morro, mamãe falava o quanto o Kaio era gentil e bonzinho com ela e meu pai, que os dois até estavam se dando bem.

- Como assim, e ela sabe quem é o pai? - Carla me contou que a ex do Kaio, Amanda disse estar grávida e que na hora do nervoso falou que era do Kaio, mas ele fez ela desmentir para todo mundo. - Não fui com a cara desse piranha desde o início.

- Ela traiu o Kaio, Bru, por isso terminaram, e na época ele era bobinho e não fez nada com ela.

- E eu ele ameaça deixar careca? A ele vai ver quando eu sair dessa cama.

Rimos e elas ficaram comigo até ele chegar, quando ele chegou elas foram embora e nos deixaram ali.

- Juro que se não fosse esse ponto na sua barriga eu te comia agora. - Eu ri e soquei o braço dele. - Qual foi novinha? Porra muito tempo ja sem sentir você.

- Nem nessas horas você para. - Ele me deu um beijo e no mesmo instante meu corpo pegou fogo, e eu juro que até eu mesma já estava pensando em como dar para ele em Varias posições nessa cama.

Dama da Maré (Morro)Onde histórias criam vida. Descubra agora