Treze

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•••Esse capítulo contem violência física•••

Bruna Dias

Cinco anos antes.

Ele estava tão chapado que não conseguia nem perceber o que estava na sua frente, eu tentei conversar, explicar mas nada adiantava.

- Amor é só um trabalho. - Ele cheirou mais uma carreira que estava pronta na mesa da sala e me olhou, seu olhar era furioso. - Eu preciso trabalhar Allison, não vou ficar dependendo de você.

Ele se levantou enquanto passava os dedos no nariz respirando todo o pó que estava ali e veio em minha direção, eu me afastei, e desviei do primeiro soco que ele tentou me dar.

- Tá pensando o que sua piranha, eu não te apresentei como minha primeira Dama nessa porra para você aair mostra do o que é meu. - Ele veio para perto de mim novamente, eu olhar era de ódio.

- É meu trabalho, e mesmo que olhem, só você quem me tem. - Ele chegou mais perto e apertou meu pescoço me encostando na parede.

- Eu vou matar você Bruna, te avisei que eu não ia tolerar essas suas graças.

Foi aí que eu senti o primeiro soco, e depois o segundo, o terceiro e quando eu percebi já estava caída no chão, chorando e com sangue escorrendo no canto da boca. Ele nunca tinha encostado em mim dessa forma.

Os dias se passaram, as marcas sumiram do meu rosto, ele passou a ser mais possessivo a cada dia, eu me afastei dos meus pais, a única com quem eu ainda falava era a Carlinha, mas nunca contei a ela o que estava acontecendo.

Eu estava tentando aguentar tudo calada, porque na minha cabeça ele era o meu grande amor, o Allison era o homem da minha vida, o cara com quem eu queria ter filhos, casar.

Mas a realidade era outra, eu estava com um traficante de facção rival ao que eu nasci, eu estava apanhando praticamente todos os dias, tinha que conviver com mulheres entrando e saindo da minha casa todos os dias, ele me obrigava a transar, me prendia e me batia.

Fiquei aguentando isso por um ano e meio, até o dia que eu não aguentei mais, pedi ajuda a uma vizinha que sempre me socorria quando eu estava jogada pela casa sangrando, ela me ajudou a fugir dali, e eu voltei pra casa.

Contei tudo aos meus pais e prometi que nunca mais ia me envolver com traficantes, que eu não queria mais aquela merda de vida para mim, porque não era o que eu merecia.

Os anos foram passando e ele continuava a me procurar, me ameaçava, dizia que se eu não fosse dele, não seria de mais ninguém e aquilo só se encerrou quando o Babilônia o ameaçou.

Mas até hoje eu ainda tenho medo, medo dele me encontrar e me obrigar a voltar, medo de apanhar de novo, medo de ser tratada como uma piranha e vagabunda, como ele mesmo dizia.

As marcas no corpo sumiram, não tinha mais nenhuma, mas a marca na minha alma e no meu coração ainda estavam aqui, e elas não iam embora, não se curavam.

Eu achei que aquilo era amor, acreditei que amar era aguentar qualquer coisa em silêncio, mas eu estava tão enganada, eu fui burra, inocente e fraca, me deixei levar pelas palavras bonitas e no final a única coisa que me restou foram traumas.

Hoje.

Me espreguicei na cama, acabei dormindo, meus olhos estavam ardendo, pesados, me levantei indo para a frente do espelho. Chorar até dormir não foi uma boa ideia, meus olhos estavam enormes e meu rosto todo inchado.

Lavei o rosto e escovei os dentes, coloquei uma roupa simples de ficar em casa mesmo e sai, fui direto para a padaria do senhor Antônio, pedi dois pães e comprei mais algumas coisas que faltavam em casa, passei no caixa e paguei pegado minhas sacolas, voltei para a rua indo para casa.

Virei na rua da minha casa e ele estava la parado no portão, eu só queria poder voltar a andar nesse morro e não olhar na cara dele, sério, bufei e passei por ele empurrando o portão e entrei em casa.

Kaio veio logo atrás e fechou a porta, coloquei as coisas sobre a mesa e comecei a tirar ela da sacola e organizar no meu armário, ele ficou alguns minutos em silêncio e então falou.

- Por que você chorou? - O ignorei e continuei fazendo as coisas. - Bruna, eu to falando com tu po.

Fui para a tia, enchi uma caneca de água e coloquei no fogo para esquentar, peguei as coisas para fazer um café e permaneci em silêncio.

- Desculpa por ontem, se eu te machuquei, eu só não estou acostumado a me sentir assim, não to acostumado a ter alguém me…

Ele ficou quieto e então me virei o olhando, ele estava parado ao lado da geladeira, seus olhos estavam confusos e distantes.

- Ter alguém te negando, te tratando como um qualquer? - Ri sem humor. - Olha Kaio, eu não vou passar por tudo de novo, me envolver com traficante é um pé na cova e de verdade, eu mereço muito mais que isso.

Ele ficou quieto me ouvindo.

- Eu não tenho vocação pra ser mulher de bandido, muito menos para ficar apanhando enquanto a pessoa que eu amo leva mulher para dormir na minha cama e no momento que ele se droga, me enche de porrada e abusa de mim como se fosse algo normal.

Parei de falar tentando respirar normalmente de novo, até  que ele se aproximou de mim e tocou meu rosto com leveza.

- De onde você tira essas ideias de tilt novinha? Eu nunca bati em nenhuma mulher, e não foi isso o que minha mãe me ensinou.

- Não quero correr o risco de novo, você é tudo aquilo que eu to evitando a anos. Você é a porra do meu trauma em forma de pessoa, você é lindo, gostoso e no fundo eu sei que só quem vai se machucar sou eu.

- Você é exatamente o que eu não quero Bruna e mesmo assim eu to aqui, por que você não mexe só com o meu pau, você tá mexendo com a minha cabeça, e eu como essas marmitas pensando em você. Tu tá me deixando maluco.

Ele falou aquilo e eu não me aguentei e comecei a rir, o filho da puta não sabe nem ser romântico, so fode com o clima.

- Qual foi cara, to tentando falar uma parada legal pra tu. - Ele riu comigo e ficamos nos olhando. - To com fome, deixa eu comer com você.

Balancei a cabeça concordando e voltei a fazer o café, eu estava tentando de todas as maneiras me afastar e evitar ele, mas minha cabeça não deixa e eu coração sempre se acelera só de olhar pra ele, qual o feitiço que ele fez.

...

Allison Braga - 30 anos
Vulgo Manchinha

Allison Braga - 30 anosVulgo Manchinha

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Dama da Maré (Morro)Onde histórias criam vida. Descubra agora