Trinta e Dois

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Bruna Dias

Acordei no meio da noite, tudo escuro e o braço do Kaio em cima de mim, olhei pela janela aberta do quarto e a lua iluminava o ambiente, me levantei devagar e peguei a camisa dele jogada e me vesti, fui até a janela olhando para fora.

Estava vazia a rua a não ser pelos vapores na frente da casa, um silêncio enorme ali, e eu podia ouvir o barulho dos grilos vindo do mato na parte de cima do morro.

Eu nunca parei para olhar a paz que é esse lugar assim, sem os barulhos de tiro, sem gritos, se as pessoas entendessem, se olhassem para a gente com outros olhos. Ouvi passos e senti o Kaio me abraçar e beijar meu pescoço.

- O que foi? - Ele perguntou e eu sorri.

- Nada, só olhando para tudo isso. - Ele sorriu e me virou.

- Tava pensando nessa parada de filho, e eu nunca pensei em ter. - Olhei para ele. - E de verdade, eu não quero te magoar por causa da gravidez da Aline.

- Tudo bem, eu só queria que você tivesse me contado. - Passei os dedos na corrente dele. - Mas já foi, vou amar seu filho como amo você, nada muda.

- To ligado, mas você quer ter filhos? - Ele perguntou e eu ri.

- Uma hora dessas e você pensando em filhos? Ja vai ter um. - Enrolei a correndo dele nos dedos. - A gente pode ir praticando.

- Quero ter um moleque com você Bruna. - Revirei os olhos enquanto ele falava. - Ter um mini Kaio.

- A gente vai praticando. - Puxei ele e fui dando beijos no seu pescoço e mordendo.

- A gente ja pratica e muito. - Ele me parou e me olhou, estava sério. - Eu to falando sério, você não quer filhos?

- Por que esse assunto do nada? - Soltei ele e sai da janela voltando para a cama. - Poxa não tá bom assim só a gente?

Ele se virou me olhando e encostou na janela, cruzou os braços e me encarando. Eu de verdade nunca parei para pensar em filhos, eu ainda sou nova, tenho muito o que viver e ser mãe não é algo que eu queira com tanta urgência.

- Deixa quieto. - Ele falou e foi para o banheiro, não demorou muito e voktou ja vestido e pegando a arma e rádio colocando na cintura. - Vou descer la pra boca, depois eu volto.

Ele me deu um beijo e saiu, me deitei de novo e fiquei pensando no que ele disse, qual o problema de não querer ter filho, por que por uma criança no mundo pra sofrer?

Fiquei emburrada e me virei tentando dormir de novo, mas esse assunto mexeu de verdade com a minha cabeça, e se ele terminar comigo por isso, por causa de filho, e se ele decidir que vai ficar com a Aline por causa desse bebê.

Não Bruna, pode parar com essas ideias malucas, ele ja disse que nada muda, que não é por causa de um bebê que as coisas serão diferentes, pode ser só algo na cabeça dele, sei la.

Mas será que ter um filho seria uma ideia ruim, o que ru to pensando, eu não sei nem cuidar de mim direito, como vou criar um bebê no meio de toda essa loucura que é a minha vida.

Quer saber, vou dormir e quando eu acordar penso direito sobre, eu ainda não estou maluca de ficar me remoendo por causa dessas ideias.

Passei a pensar em outras coisas para tirar tudo isso da cabeça e depois de muito insistir eu dorme, meu corpo ficou pesado e eu me deixei levar pelo peso dos meus olhos.

...

Horas depois.

Dispertei ouvindo vozes em casa e me espreguicei, okhei para o quarto vazio e me levantei oindo ao banheiro, fiz minhas necessidades e me troquei.

Desci ouvindo a voz da Aline e do Kaio na sala e fui até eles que estavam discutindo alto pra caralho, os dois olharam para mim e não estavam muito bem.

- Bom dia vida. - Ele me beijou.

- Bom dia. - Retribui o beijo e o encarei. - O que tá acontecendo?

- Aline quer vim morar aqui. - Comecei a rir quando ele falou.

- Sonha piranha, na minha casa não. - Falei e ela cruzou os braços. - Tu fica lá no teu muquifo com tua mãe mesmo, a gente nem sabe se é do Kaio mesmo.

- Claro que é dele, e eu nem sei por que você tá se metendo Bruna, não te diz respeito. - Ela falou quase gritando.

- A casa é minha, o marido é meu e se você acha que por estar gravida vai mandar em algo ta enganada. - Parei na frente dela. - Já ouviu quando falam que em grávida a gente dá na cara?

- Você não é nem maluca. - Ela me desafiou.

- Testa pra você ver piranha de quinta. - Medi ela dos pés à cabeça. - Sai da minha casa, e se eu ver você aqui de novo, tu vai precisar passar o resto da sua gravidez em um quarto de hospital, vaca do caralho.

- Vamos ver até quando você vai me tratar assim, porque quando meu filho nascer, eu vou ser a mãe do filho do Dono desse morro. - Ela falou me dando as costas.

- A vai? - Peguei ela pelos cabelos e puxei fazendo ela voltar. - Vou falar pela última vez, se você tem amor a sua vida de merda, tu vai sair daqui e vai focar quieta lá no seu muquifo.

Soltei ela que olhou para o Kaio que não moveu um dedo para defender ela e saiu batendo os pés. Virei olhando para ele bufei indo para a cozinha.

Eu juro que eu vou acabar matando essa piranha, ela acha que eu to brincando, não é possível que eu vou ter que ficar aturando isso, eu vou surtar logo logo.

- Vai querer terminar o serviço com o verme ou posso acabar com aquilo logo. - Virei olhando para ele. - Agora vai ficar de cara emburrada?

- To de boa, pode acabar com ele logo, eu só vou ter paz quando eu souber que ele não tá mais aqui.

- Ta bem. - Ele se aproximou. - Sobre o assunto de mais cedo.

- Depois a gente fala disso, pode ser? - Falei e ele concordou.

Dama da Maré (Morro)Onde histórias criam vida. Descubra agora